Estamos de volta a Nassau, estou jantando com a Phoebe no restaurante do nosso hotel, fica em uma sacada acima da praia. A visão é incrível, privilegiada e sossegada. Gail e Taylor preferiram jantar a sós no quarto, depois ela irá ficar com minha filha para Taylor me acompanhar até Bimini pois terei uma reunião com os meus sócios, não queria muito essa reunião a noite, ainda por cima em outra ilha e mais ainda depois desse dia tão cheio de emoções que me deixaram completamente fora de rumo. Esse foi o dia mais sem definição possível, poderia dizer que foi o melhor e o pior dia da minha vida... o mais conturbado, mais perturbador, mais desolador, esperançoso e arrebatador. Ou seja no fim das contas não tenho como classificar tudo o que aconteceu hoje. Depois do meu encontro com a Anastácia ou Charlote, fiquei o resto do dia zonzo, perdido, aflito, desnorteado. Tentei agir normalmente, mas já não sei mais o que é normal. No final da tarde voltamos para o hotel, tomei um banho demorado na tentativa de clarear a mente, mas nada resolve. Preciso descobrir quem é essa mulher de verdade, mas de uma forma sem possível contestação. Acho que o melhor a se fazer é que eu me aproxime dela primeiro e então já sei o que farei para descobrir quem é ela de verdade.

— Eu posso ir na praia com a tia Gail? – Phoebe me pergunta enquanto dá uma garfada no peixe em seu prato. Estou tão aéreo que creio que já seja a terceira ou quarta vez que ela me fala isso e eu não consigo responder. – Papai!!! – Ela quase grita já impaciente, saio um pouco do transe, apesar de que me sinto dentro de um sonho, uma bolha, sei lá, só sei que estou fora da realidade desde a tarde de hoje.

— Desculpe minha princesa! Nada de praia agora a noite, você não cansa da praia mesmo não é?! – Tento conversar com ela e tomo um grande gole do meu vinho branco.

— Não, claro que não! A praia é incrível, eu amo, amo a praia! – Ela diz empolgada e come mais da sua comida.

— Eu fico imensamente feliz que você esteja se divertindo, mas praia a noite não é lugar para criança. Aqui no Hotel tem uma área recreativa e caso a Gail ainda tenha disposição ela pode te levar! – A explico que me olha seriamente franzindo as sobrancelhas, reparo que mesmo a tendo enchido de protetor solar, ela está levemente bronzeada, com a cor parecida com a tal Charlote que é levemente dourada pelo sol da ilha, dá para perceber, é engraçado isso, como elas estão parecidas até nesse lugar tão distante das nossas vidas.

— Que chato! – Minha pequena diz fazendo careta, com seu rostinho ainda mais rosado do que de costume, acho graça, mas me seguro para não demonstrar. Passam-se mais alguns minutos, nós terminamos de jantar enquanto Phoebe me diz que está ansiosa para ver tartarugas e golfinhos, consigo conversar com ela mesmo que minha mente divague de vez em quando, espero conseguir me concentrar na reunião. Então saímos da mesa, minha filha segura em minha mão, descemos as escadas e nos dirigimos para o saguão, onde nos encontramos com Taylor e Gail.

— Vamos minha florzinha! – A jovem senhora diz abrindo os braços para a minha pequena que solta a minha mão e vai em sua direção, mas depois volta correndo e olhando para mim, me abaixo para ficar em sua altura. Ela me puxa com suas mãozinhas me abraçando pelo pescoço. Dou risada e a abraço de volta.

— Te amo papai! – Diz com sua fofura, a solto e beijo a pontinha do seu nariz, ela sorri.

— Eu te amo mais! – Digo olhando em seus olhinhos, então ela corre para Gail, a filha de Taylor não veio conosco, pois pelo menos metade das férias ela tem que passar com a mãe, pelo acordo que eles fizeram desde que Lisa veio morar com ele. – Se divirtam moças! – Digo e Gail sorri para mim e segura a mão da minha pequena, elas duas saem conversando, posso ver a agitação da Phoebe daqui, logo as duas entram no elevador e eu e Taylor seguimos para fora do hotel.

...***...

— Então Christian, como você vê a agitação noturna dessa ilha é excelente! Apesar dos investimentos que o local já possui, ainda há espaço para novidades. Eu acho que o Resort pode oferecer uma vida noturna ainda mais ativa, isso vai atrair mais hospedes e também os próprios moradores locais. – Pierre fala com seriedade, esse é o seu jeito em todos os momentos, ele é sempre sério apesar de termos a mesma idade ele até parece mais velho do que eu, seus cabelos pretos já estão cheios de grisalhos pelo meio. Estamos em uma balada a beira mar, é um clube noturno onde a maior parte das pessoas ficam a céu aberto, na areia da praia. Tem quiosques de bebida, homens dançando enquanto fazem show pirotécnico e dançarinas que mais parecem “havaianas”. Mas o local é misto, as bebidas são mais ou menos, tudo varia entre classe média e quase alta, eu diria que em alguns pontos é bem baixa. Por isso nós queremos fazer diferente, o nosso Resort será único, totalmente primeira classe e com uma pegada nova, moderna, totalmente diferente do que já tem em outras das ilhas, tudo do melhor e de vanguarda para atrair gente do mundo todo.

— Eu sei, acho que nós devemos investir em espaços diferentes para privacidade e também formas diferentes de diversão. Porque tem pessoas que querem relaxar, outras querem música alta e bebidas. – Digo olhando ao meu redor, estamos mais distantes das pessoas em uma posição que podemos analisar o local, em pé ao redor de uma pequena mesa redonda e alta. Há muitas pessoas dançando na pista e de repente eu vejo descendo as escadas para poder vir para a pista de dança a minha Ana ou a tal Charlote. Atrás dela uma moça loira, magra e com um vestido igual o que ela vestia mais cedo, porém rosa. As duas chegam a pista de dança rindo e tagarelando de mãos dadas. Anastácia, está linda! Com um tope branco de crochê amarrado atrás do pescoço, uma saia branca também do mesmo material, longa até os pés que calçam saltos bem altos, a saia tem uma grande fenda que deixa até o alto de sua coxa a mostra. Ela está sexy, instigante, com um rabo de cavalo alto, seus cabelos grossos e compridos presos dessa forma emolduram o seu lindo rosto. Agora posso ver que ela tem uma tatuagem nas costas, é uma orquídea azul, fica bem no meio da coluna entre as omoplatas. Isso me deixa ainda mais intrigado. Elas duas dançam animadas e eu estou hipnotizado por ela, não consigo ouvir mais nada ao meu redor, não consigo ver mais nada a minha volta. Ouço as vozes masculinas da mesa falarem, falarem, falarem... creio que até me chamam algumas vezes, mas só consigo olhar para aquela figura feminina, linda, leve, fabulosa... é como se ela flutuasse na pista. Eu quero tê-la em meus braços, sentir o seu cheiro, o seu calor, beijar os seus lábios carnudos, sentir o seu gosto, ouvir seus suspiros, gemidos, sentir seu corpo tremendo sob o meu após gozarmos juntos. Mais que tudo quero abraça-la e ouvir o que ela fez nesses três anos longe da minha vida, da nossa filha, da nossa casa, da nossa família. Quero a minha esposa de volta! A razão do meu viver, da minha paz, da minha sanidade! Sinto raiva, ódio toma conta de mim, será que ela nunca teve nenhum flash do passado?! Será que ela nunca sentiu falta de nós de alguma forma?! Será possível que ela nos esqueceria para sempre?! Será que ela é realmente a minha Anastácia?!

— Grey, está tudo bem? – Ouço a voz de Taylor e saio um pouco do meu devaneio. Olho para ele que me olha nos olhos. –  Você está pálido, está se sentindo mal? – Pergunta com preocupação. O mesmo está na mesa conosco, além de pelo fato de sermos amigos, gosto de tê-lo por perto, ele sempre acaba puxando uma boa conversa quando vê que eu já estou cansado de ter que interagir com os outros. Para fazer a minha segurança no local trouxe Sawyer, que está mais distante observando a tudo com atenção. No hotel com Gail e Phoebe ficaram Prescoty e Johnson.

— Estou bem, é que aquela mulher está me perturbando profundamente! – Ao ouvir minhas palavras vejo Taylor fazer uma expressão de choque. Ele sabe como fiquei desde que perdi a Ana, nunca olho para mulher nenhuma, ele deve estar confuso.

— As mulheres sempre me deixam perturbado, principalmente quando estou em viagem a lugares exóticos como esse! – Louis diz animado e bebe mais um gole de seu martini. Ele é mais velho do que eu e casado há uns vinte anos, esses homens sempre me deixam perplexo. Se casam para traírem suas esposas, para que casar assim?! Não consigo entender, melhor seria serem honestos e acordarem um relacionamento aberto, ou então serem solteiros por toda a vida.

— É bom aproveitar essas viagens para diversificar um pouco. – Pierre fala bebendo do seu whisky. Nossa, até o mais sisudo entre nós! Taylor olha para eles intrigado, ele também é doido pela Gail, sei que jamais faria algo para magoa-la.

— Não é nada disso, Taylor olhe aquela mulher de branco e rabo de cavalo e me diga o que acha. – Dou as coordenadas a meu amigo, espero que finalmente tudo se resolva. Ou ele não vai ver nada demais e assim chegarei a conclusão de que estou enlouquecendo, ou ele verá o mesmo que eu e assim eu vou embarcar fundo nisso para desvendar quem é essa mulher. Taylor olha e rapidamente o vejo mudar de expressão, ele está perplexo, boquiaberto, então rapidamente fica sério e olha para mim.

— Quem é aquela mulher? – Me pergunta atordoado.

— Ela disse que se chama Charlote Pontes, mas eu tenho certeza de que ela é a minha Anastácia! Não é possível tanta semelhança Taylor! Olha lá! – Explico a observando e ele faz o mesmo, ela está rodopiando pela pista com a loira e acaba ficando de frente para nós, gargalha e depois cochicha no ouvido da outra mulher.

— Vocês estão falando o que?! – Louis pergunta parecendo interessado e ao mesmo tempo descrente.

— Não tem como Christian! Você acha mesmo que ela poderia ser a sua esposa morta? Como isso seria possível?! – Pierre fala incrédulo.

— Vocês não conheceram a Ana, mas olhem aqui. – Pego meu celular e mostro uma foto em que a minha esposa está em pé no gramado da nossa casa, sorrindo e com os braços para cima. Ela está com um vestido branco leve, por isso escolhi essa foto, acho que fica mais próximo do que estamos vendo pessoalmente. Eles olham a foto e olham para Charlote na pista de dança, intercalam várias vezes o mesmo movimento. Parecem a cada olhada mais atônitos e chocados.

— Caralho! – Louis xinga em francês enquanto olha abismado para a mulher a nossa frente.

— Não é possível! Só podem ser a mesma mulher! – Pierre diz perplexo.

— Taylor eu preciso que você coordene uma investigação extremamente minuciosa e altamente secreta a partir de agora, além de extremamente urgente! Eu preciso saber tudo sobre a vida dessa mulher! Contate Welch com urgência! E vocês não contem isso para ninguém, é pela segurança de todos nós que isso tem que ficar em segredo! – Dito as ordens enquanto todos me encaram com seriedade e compreensão.

— Pode deixar, logo teremos os dados! – Taylor diz olhando em meus olhos com seriedade, confio nele completamente.

— Agora terei que pedir licença a vocês, pois preciso ir falar com ela. – Digo olhando para todos que assentem sem hesitar. Saio de trás da mesa, minhas pernas parecem pesadas, talvez um pouco bambas, não sei... tudo ao meu redor parece uma ilusão, as coisas começam a sumir aos poucos e só enxergo ela a alguns metros a minha frente. A moça loira sai de perto dela, indo para longe creio que atrás de algo, mas ela permanece ali linda, rindo de algo que a outra lhe disse antes de partir e continua dançando sozinha. Vou chegando mais e mais perto, até que ao estar a uma distância de poucos passos ela me vê, acho que por já estar sorrindo continua com o mesmo sorriso lindo e olhos brilhantes me encarando.