Capítulo 1

1905

Depois de quase vinte anos morando em Toledo, Ohio, meu pai decidiu se mudar  e levar a família para Wisconsin. Ele conseguiu um trabalho em uma usina hidrelétrica que estão construindo em Milwaukee no estado vizinho. Eu ficarei longe de meus tios, mas o que eu mais sentirei será ficar longe de minha prima. Por causa da distância não poderemos mais nos ver com tanta frequencia como acontecia quando éramos crianças.

— Esme, não fique assim – percebo que ela está cabisbaixa e triste. Isso deixa as coisas muito mais difíceis para mim.

— Não quero que você vá embora prima – ela não é teimosa, mas dessa vez parece.

Estávamos ambas em cima de nossa árvore (uma macieira) preferida, a qual imaginávamos como nossa casa.

— Eu prometo que venho visitar você sempre que puder – eu sei que parece, mas não está sendo mais fácil para mim do que para ela. Nenhuma de nós duas tem culpa ou pediu que isso ocorresse. É o destino, não podemos evitar. Ah se pudéssemos, não mudaríamos nada e deixaríamos tudo como sempre foi e era antes. Mas o tempo passa e as coisas inevitavelmente mudam.

Eu sei que minha prima é criança ainda e isso é muito mais complicado e difícil de aceitar para ela do que para mim que sou adolescente. Eu só vou para longe, mas nada vai mudar em nossa relação. Espero que a distância não seja empecilho e acabe nos afastando. Me esforçarei para não perder contato com Esme. Escreverei cartas todos os meses.

— Não vai ser o mesmo que era quando meus tios moravam aqui perto – ela rebate.

De fato, todo final de semana era sagrado visitarmos nossos familiares.

— É difícil para mim também prima, não torne pior, por favor.

— Por que tem que ser assim?

— Papai quer ir para Milwaukee, pois conseguiu um emprego lá.

— Eu preferia que ficassem, ele podia trabalhar aqui.

— Acho que lá pagam muito bem, mas de qualquer forma Esme, nós duas ainda seremos primas, aconteça o que acontecer. Nada vai mudar isso. Nada.

— Você poderia ficar morando conosco prima.

— E os meus pais? Você não faria isso com eles. Nem sei se eles permitiriam, provavelmente não. E eu? Você não acha que eu iria sofrer longe deles?

— E eu prima? Você quer ficar longe de mim?

— Esme, por favor, se eu pudesse escolher é claro que não queria ficar longe de ninguém. No entanto eu não posso brigar com minha família e ficar, ainda sou jovem e tenho que fazer o que meus pais mandarem.

— Quando eu for adulta vou morar com você prima.

— Será muito bem vinda prima. Vou escrever para você todos os meses enquanto isso, e espero que me mande notícias suas também, combinado?

— Combinado.

Esme vem no meu colo e nos abraçamos.

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