A Última Serafim escrita por Mathew Liniker


Capítulo 2
Nova Chance


Notas iniciais do capítulo

"Desde os tempos antigos, duas entidades travaram lutas implacáveis, e suas lutas determinarão o rumo da vida no universo. Não é uma experiência, é uma tentativa de dar à eles a chance de lutarem pelas próprias vidas.

Talvez, dessa vez, haja esperança para os mortais."

A.



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Como eu poderia viver sabendo do que eu fiz? Vocês me ofereceram um lar, carinho e um propósito para lutar, e eu apenas joguei tudo isso fora. Por um momento eu pensei que podia ser capaz proteger alguém, mas, no fim, vocês tiveram que se proteger de mim. Pai, sei que você era reconhecido por ser um estrategista excepcional, mas passar seu título pra mim foi uma mancha em seu histórico de acertos.

 Enquanto a escuridão o engolia, Nathan só conseguia pensar em como conseguiu destruir todas as esperanças daqueles que um dia depositaram sua confiança nele.

                                             ***

Enquanto abria seus olhos lentamente, sentia uma estranha sensação de leveza em seu corpo. Estava deitado de barriga para cima no chão, e o céu estava negro e estrelado. Ao se sentar percebeu que estava em um local completamente estranho, um lugar deserto e um pouco montanhoso. Mesmo estando à noite e com nenhuma fonte de luz próxima, conseguia ver tudo claramente, o que já o deixou intrigado. Não havia sinal algum de civilização ou mesmo vegetação por perto.

— Será que... Eu morri? — se perguntou enquanto esfregava seus olhos — Eu levei um tiro no peito, não tem como eu ter sobrevivido àquilo. Será que aqui é algum tipo de pós vida?

Após pensar um pouco, chegou à conclusão de que ficar parado não responderia suas perguntas. Se levantou e começou a tirar a poeira de sua roupa, que por sinal eram as mesmas que estava usando antes, uma camisa preta de manga curta e uma calça jeans. Porém, notou que não havia nenhum furo de tiro em sua roupa. Mesmo que em sua mente milhares de hipóteses surgissem, decidiu ignorá-las por hora.

Assim que deu meia volta, viu algo que o deixou de queixo caído. Um enorme pilar branco descomunalmente grande se erguia no meio do nada. Parecia até sustentar o céu. Após poucos passos, ele chegou até a estranha construção, esticou seu braço e o tocou, sentindo sua superfície lisa e gélida.

Logo depois que recolheu sua mão, um tipo de aura poderosa surgiu de súbito naquele local. Seres que tem em seu corpo grande concentração de mana, o "combustível" para executar feitiços e selamentos mágicos, tendem a ter uma aura que pode gerar uma mudança atmosférica ao seu redor, que afeta os sentidos de seres com menos mana. Essa aura pode ser usada tanto para intimidar um inimigo como também para se ter uma impressão do quão forte seu oponente é. Em contrapartida, magos mais experientes costumam ocultar essa aura para pegar seu oponente desprevenido.

Entretanto, essa aura que Nathan podia sentir era maior que qualquer outra que ele já tinha presenciado antes. Era como se uma tonelada de concreto houvesse caído sobre seus ombros, fazendo-o baixar sua cabeça e quase cair de joelhos. Após breves segundos, a pressão diminuiu drasticamente, se tornando apenas um leve desconforto. Sem saber onde estava o ser que emanava tal aura com sua presença, ergueu seu olhar novamente para o pilar a sua frente.

Mas o que foi isso? Pelo jeito, eu não estou sozinho aqui.  Pensou, sentindo um calafrio em sua espinha.

Cortando o silêncio daquele lugar deserto, uma voz intensa em um tom de superioridade disse:

— Você é Nathan Cross? 

Não dava para determinar se a voz era de um homem ou mulher. Após engolir em seco, confirmou que aquele realmente era seu nome, e então a voz continuou:

— Você foi morto injustamente na tentativa de salvar uma pessoa inocente. Por que interveio naquela situação?

Aquela pergunta pegou Nathan desprevenido. Nem mesmo ele sabia uma resposta convincente para aquela pergunta.

 Talvez esse seja meu julgamento divino.  Pensou, procurando um significado para tudo aquilo. Acho que o melhor a se fazer agora é apenas falar a verdade e da maneira mais clara possível. Mentir para um ser divino pode ser uma burrice irreversível.

— Na verdade, eu não pretendia ajudá-la — ele começou. — Ao menos, não de início. Eu agi impulsivamente.

— E por que não ajudaria?

Dessa vez, Nathan notou um leve tom de curiosidade naquela intimidante voz. Parecia que o ser por trás daquela voz queria entender realmente entender a intenção por trás do ato heroico dele.

— Não é como se eu não quisesse ajudá-la. Mesmo eu querendo lutar com todas as minhas forças, eu não posso. Faz parte de uma responsabilidade que foi confiada à mim, e por isso eu precisava ficar longe de qualquer tipo de confusão.

Depois de alguns segundos de silêncio, percebeu que o que acabou de dizer não condizia em nada com suas ações, e por isso começou a rir.

— Parando pra pensar, eu fiz completamente o contrário, não é? — perguntou, sabendo que não haveria resposta. Após se recompor, ele voltou a falar. — Sabe se a garota ficou bem?

— Sim. A ajuda logo chegou e ela passa bem.

— Ao menos não foi em vão. — Acabou comentando, um pouco mais tranquilo.

Um longo silêncio se seguiu. Nathan não sabia se falava alguma coisa ou esperava a voz se pronunciar primeiro. Ele parou um pouco para pensar em sua situação, e no que poderia estar acontecendo com seus amigos e na cidade após ter, supostamente, morrido.

Provavelmente estão nomeando outro Paladino à essa hora... Não que isso seja algo completamente ruim...

— Gostaria de uma segunda chance e voltar a vida? — disse a voz de repente, deixando o rapaz com cara de desentendido por alguns segundos, já que teve seus pensamentos completamente quebrados por essa frase.

— Espera, como?!   — Percebendo que havia se exaltado um pouco, respirou fundo antes de continuar. — Mas isso é impossível, não é?

— No seu caso é completamente viável. Sua espinha dorsal foi atingida pelo tiro e você perdeu muito sangue. Neste momento, seu corpo está em estado vegetativo e os danos se tornarão irreversíveis dentro de poucas horas. Porém, eu posso facilmente dar um jeito nisso — explicou a voz, parecendo, de certa forma, satisfeita em citar suas capacidades. — E então, aceita?

Em plenos pulmões, Nathan acabou perguntando:

— Quem é você e por quê está fazendo essa oferta?

Mesmo existindo uma boa chance de ser vaporizado por sua insolência, tinha que ter certeza sobre onde estava se metendo, e qual seria o preço. Afinal, quando a esmola é demais, o santo desconfia.

— Está certo, ainda não me apresentei — disse a entidade estranha, como se o rapaz realmente tivesse a lembrado de se apresentar. — Você está na presença de um dos Serafins da Alta Elite Angelical, Kokabiel, a Princesa das Estrelas. Sua ação altruísta foi louvável e chamou minha atenção. Por essa razão, e só por ela, estou lhe oferecendo a chance de voltar à sua vida de antes.

— Ainda bem. — Diante a explicação, suspirou aliviado. — Pensei que fosse algum tipo de demônio querendo minha alma em troca de me reencarnar.

A entidade deixou escapar uma breve risada. Foi um pouco diferente dessa vez, já que antes sua voz era imponente e dominante, mas esse breve momento de descontração revelou um pouco de... Feminilidade, talvez? Bem, ela se dizia como "Princesa das Estrelas", então, naturalmente, era uma mulher. 

Aproveitando esse momento de menor peso, Nathan aproveitou para responder à proposta da Serafim.

— Bem, senhora Kokabiel. Muito obrigado pela oportunidade, mas acho que terei de recusar.

O silêncio que se seguiu depois disso fez o rapaz pensar que a voz não se manifestaria novamente. Como não podia ver seu rosto, se é que essa tal de Serafim tinha uma face, não dava para dizer como ela havia reagido a uma resposta dessa. Porém, conseguia deduzir que ela, com certeza, não estava dando pulos de alegria. Sabia que era uma grande grosseria recusar uma proposta generosa como essa, entretanto, tinha seus motivos para fazer tal recusa.

— O que disse? — A voz havia voltado ao seu tom imperativo de antes, porém dava pra perceber que estava mais alterada que antes. — Qualquer um em sã consciência aceitaria prontamente tal oferta. Você é um niilista, por acaso?

— Não. É só que... Não tem motivo eu voltar pra à vida. Tenho certeza que tudo se acertou depois que eu morri. — Nathan baixou o olhar após dizer isso, praguejando internamente por suas palavras terem soado tão falsas.

— Ah, entendi... — disse a voz, em um tom quase como compreensível — De qualquer forma, você não tem escolha. Vai voltar sim!

— O quê? E o meu livre arbítrio?

— Acredite, o que estou fazendo já quebrou mais regras do que você possa imaginar.

Após ouvir aquilo, sua visão começou a ficar enevoada e suas forças simplesmente desapareceram, mas antes de apagar por completo, ele ainda ouviu uma última fala da Serafim. 

— Vou enviar alguém para cuidar de você. Obedeça à todas as ordens dela.

Depois disso, Nathan apagou por completo.

                                             ***

Estava um pouco frio, porém aconchegante. Aos poucos, foi abrindo seus olhos, porém a luz do ambiente ofuscou sua visão, o fazendo colocar uma de suas mãos sobre seu rosto. Assim que seus olhos se adaptaram à luz do local, o rapaz pôde observar melhor as coisas ao seu redor.

Ele estava em um quarto, com as paredes e o piso completamente brancos. Um pano azul claro sustentado por uma haste de ferro cercava dois lados da cama em que estava deitado, parecendo servir como divisa. Um som de bipe insistente quebrava o silêncio, e quando olhou para o lado viu um medidor de batimentos cardíacos. Nesse momento, um grande desespero tomou conta dele ao se dar conta de que estava em um hospital.

Hospitais traziam à tona lembranças horríveis que Nathan gostaria muito de esquecer. O rapaz acabou sofrendo um acidente com um Oni, uma espécie perigosa parecida com um ogro, porém menor, e acabou em coma, tendo que passar por uma cirurgia. Entretanto, ele não estava completamente apagado e, no momento dos cortes, estava semiconsciente e a anestesia não fizera efeito. O rapaz sentiu cada toque da bisturi em sua carne, sem conseguir dizer uma só palavra. Após esse trauma, ele adquiriu uma fobia intensa de hospitais.

Em um movimento rápido demais para o estado em que se encontrava, se sentou na cama e quase de imediato se curvou abraçando seu próprio corpo, sentindo uma insuportável dor em seu peito.

— Não se mexa tão bruscamente, seu idiota. Você levou um tiro, esqueceu?

Nathan virou-se para o lado de onde a voz veio, e parada de pé em frente a cama estava uma garota que parecia ter a mesma idade que ele, com longos cabelos negros e olhos violeta. Ela usava uma camisa de manga longa rosa clara e uma saia branca bem longa, quase tocando o chão. Mesmo irritada com a ação brusca do rapaz, ela parecia contente por vê-lo acordado.

— Bom dia! — disse ela com um sorriso. — Como está se sentindo?

— Zonzo. E com dor — respondeu, voltando a se deitar bem devagar. — Eu estou de volta à Providenza?

— Se por "providência" você quis dizer Terra, sim — ela explicou, como se fosse algo óbvio.

— Entendi. Você sabe quanto tempo eu fiquei em coma?

— Dois meses.

A garota respondeu com tanta casualidade que Nathan demorou para processar a informação. Quando a ficha caiu ele se sentou novamente na cama em um salto, se encolhendo de dor do mesmo jeito de antes.

Foi tempo demais! Tempo demais! Deve faltar menos de quinze dias para o fim do prazo. Pensou Nathan, se esquecendo por um momento da intensa dor que percorria seu corpo.

A respiração do rapaz estava muito descompassada. O aparelho de batimentos cardíacos começou a apitar loucamente. A fobia de hospitais junto da descoberta que tinha muito pouco tempo para conseguir resolver um problema que vinha lhe atormentando à tempos deixou-o em estado de choque. 

De repente, Nathan sentiu um toque suave em sua testa e, instantaneamente, sua mente se acalmou. Seus batimentos cardíacos e sua respiração foram voltando ao normal, e até mesmo a dor em seu corpo pareceu diminuir. A garota colocou sua outra mão na parte de trás de sua cabeça e a deitou bem devagar de volta no travesseiro .

— Francamente, acho que vou ter muito trabalho com você, Nathan Cross — resmungou a garota, suspirando pesadamente. — Não foi fácil curar seu sistema nervoso, viu? Um “obrigado” seria um bom começo.

— Não é como se eu tivesse pedido para ser revivido — retrucou, fazendo a garota fazer uma expressão de pura raiva, mas antes que ela dissesse qualquer coisa, ele continuou. — Você é a enviada que a tal Kokabiel comentou?

A garota se recompôs e parou por alguns segundos, parecendo pensar na resposta que daria. Então, colocando as duas mãos na cintura, começou:

— Isso mesmo! Meu nome é Íris, uma jovem prodígio em ascensão dentre as Ordens Angelicais. Sinta-se lisonjeado, pois de agora em diante eu serei seu anjo da guarda!

— Não preciso dos seus serviços, obrigado. — Nathan se virou para o lado oposto de onde a garota estava e se cobriu até os ombros com um lençol.

Uma das sobrancelhas da garota teve um pequeno tique, e antes que explodisse de raiva e destruísse todo aquele quarto, respirou fundo mais uma vez.

— E porque, se ainda nem sabe o propósito de eu estar aqui? — A voz de Íris estava muito alterada, parecia mais que ela estava rosnando.

— Não fui com a sua cara. — Dessa vez, cobriu sua própria cabeça, tentando esquecer o fato de estar em um hospital. — Mas se for como da última vez, não tenho escolha, certo?

— Por que a idiota da Kokabiel tinha que reviver um imbecil como esse? — disse, batendo a mão em seu próprio rosto.

Nathan nem deu muita bola para a ofensa, só queria que alguém o tirasse logo daquele lugar.

— Você disse antes que não tinha motivos para voltar, e que só atrapalharia se o fizesse — continuou a garota, agora em seu tom normal. — Por que acha isso?

— Não é como se você fosse entender.

— Quer saber a minha opinião sobre isso? — Não obtendo resposta, Íris continuou, se sentando na beirada da cama. — O que disse é apenas uma mentira que você já contou tantas vezes para si mesmo que já se tornou uma verdade. Se você gastasse mais tempo procurando uma boa maneira de ser necessário para os outros do que se dando desculpas por ser um fardo, uma hora ou outra alguém te agradeceria por sua presença.

O silêncio que se seguiu depois daquele comentário foi profundo, sendo quebrado apenas pelo som rítmico da máquina de batimentos cardíacos. Após alguns minutos, Nathan tirou o lençol de sua cabeça e se sentou novamente na cama, ignorando completamente a dor em seu corpo que começava a voltar. Ele encarou a garota com um olhar sério, que foi retribuído com igual seriedade. Era como se procurasse algum tipo de hesitação no olhar da garota, o qual não encontrou sinal algum.

Antes que qualquer um dos dois pudesse dizer qualquer coisa, uma enfermeira puxou o pano que correu pela haste para poder entrar, e ficou surpresa ao ver Nathan sentado. Ela era uma mulher de meia idade toda vestida de branco, que não era muito diferente das enfermeiras padrão de qualquer cena de filme.

— Oh, que bom, você acordou! — disse ela, parecendo feliz com isso.

Ela se aproximou de Nathan e começou a fazer perguntas sobre seu estado, as quais ele respondia apenas com “sim” e “não”. Estava mais interessado no fato de Íris estar bem ao lado da enfermeira e, mesmo assim, não parecia ser notada. Em certo momento, a enfermeira quase passou por cima dela que teve que desviar dando um passo para trás.

— Já está no horário de visitas — disse a enfermeira, fazendo-o voltar a sua atenção para ela. — Tem um rapaz e uma garota lá fora. Posso deixá-los entrar?

Nathan ficou por alguns segundos levando seu olhar da enfermeira para a garota, completamente confuso. Já Íris mantinha um sorriso presunçoso no rosto, parecendo se divertir com a confusão dele. Após dizer para a enfermeira que tudo bem em deixar as visitas entrarem, a mulher deixou o quarto, colocando a divisória no lugar.

— Tudo bem. — Nathan jogou seus braços para cima, desistindo de tentar entender a situação. — Por que ela não te viu?

— Porque não quero ser vista. — Ela colocou as mãos na cintura em uma pose triunfante, como se esse fosse um feito digno do prêmio Nobel.

— Eu quero saber como, não o porquê.

— Ah, sim. Sendo um anjo eu possuo habilidades únicas. Uma delas é escolher quem pode me ver. — Ela explicou tudo isso com o dedo indicador erguido e com uma expressão convencida.

— E como você faz isso? Camuflagem? Ou ficando em algum tipo de ponto cego onde não te percebemos? — perguntou, realmente curioso sobre como ela fazia isso, pois já havia visto magos ficarem invisíveis, mas nunca que escolhessem quem pudesse os ver.

A garota simplesmente deu de ombros, deixando-o sem reação. Ela realmente não fazia ideia de como aquela habilidade funcionava, apenas fazia.

— Então, só eu posso te ver?

— De início, eu pensei em não deixar que você me visse também, mas creio que posso atuar melhor como sua guardiã se você me visse e ouvisse.

Com essa informação, Nathan percebeu que teria que ser cuidadoso para não responder Íris em público e ser taxado de maluco. Depois de algum tempo, os dois ouviram passos apressados vindo na direção deles, e então a divisória se abriu de uma vez, revelando uma Isa com os olhos cheios de lágrimas que foi correndo até o rapaz e lhe envolveu em um forte abraço.

— Você me assustou, me assustou pra valer. — Ela chacoalhava Nathan como se fosse um boneco de posto enquanto chorava compulsivamente. — Se você tivesse morrido, eu ia te matar.

Quando Nathan deu um gemido de dor, Isa percebeu que estava se exaltando um pouco além da conta e o soltou. Nesse momento, outra pessoa se colocou junto à divisória, alguém com uma aparência um tanto peculiar. Ele estava trajado normalmente, com uma jaqueta e uma calça jeans folgada, e usava uma touca vermelha que deixava uma franja cair sobre seu olho esquerdo. Mas o que chamava mais atenção era um tipo de máscara que cobria a parte inferior de seu rosto, feita de aço polido.

— E aí! — cumprimentou ele, erguendo uma de suas mãos. — Se sente melhor?

— Estou bem, Drake. Será que já posso ir embora? — Nathan já começava a se sentir desconfortável novamente, cogitando a ideia de saltar da janela mais próxima.

— Algumas coisas nunca mudam — disse Drake para si mesmo, sorrindo por debaixo de sua máscara. — Eu conversei com a recepcionista e você vai ter alta daqui a poucas horas. Parece que o seu sistema nervoso se regenerou por conta própria. Você não fez nenhum pacto, fez?

— Não fala uma coisa dessas! — retrucou Isa, irritada.

— Calma, eu só estava brincando. — Drake deu um passo para trás, com medo do olhar assassino da amiga.

— Drake, me responda uma coisa. — Tanto o rapaz de máscara quanto Isa voltaram sua atenção para Nathan, devido ao seu tom sério. — A garota que estava no beco comigo, como ela está?

— Ela está bem — respondeu Drake. — Eu cheguei naquele beco acompanhado de alguns Cavaleiros vinte minutos depois que você me mandou aquela mensagem de socorro. Ela acordou algumas horas depois de ser resgatada, perguntando sobre você. Neste momento, os Cavaleiros estão mantendo-a segura na sede da Ordem.

— Por que fez algo tão perigoso, Nathan? — perguntou Isa, em tom preocupado. — Você poderia ter ligado para os Cavaleiros e esperado por reforços.

— Eles não chegariam a tempo. Além do mais, se eu não consigo salvar uma garotinha — Nathan apertou com força o lençol. — Como vou conseguir salvar à todos do Lorde Demônio?

Nenhum dos dois disse nada, apenas trocaram olhares entre si. Mas, para a surpresa deles, Nathan jogou o lençol que o cobria para o lado e se jogou suas pernas para a lateral da cama. Depois de lançar um olhar significativo para Íris, que estava encostada em um canto apenas observando, disse:

— Bem, resmungando é que eu não chego a lugar algum. Quanto tempo eu tenho até a temporada de Desafio de Patente?

— Uh... Três semanas no máximo — respondeu Drake, pego de surpresa com a pergunta.

— Acham que conseguem me colocar em forma até lá? — Nathan parecia decidido no que dizia, o que os deixou animados por verem a disposição de seu amigo.

— Já esqueceu o lema do nosso grupo, Nathan? Que vergonha. — Drake balançou a cabeça em desaprovação, fazendo Nathan rir.

— “Os piores se unem para alcançar o topo juntos. Se um tropeça, os outros devem esperar ele se levantar. Se um consegue, os outros tem a obrigação de conseguir também” — citou Nathan, com a voz carregada de emoção. — Como é que pudemos pensar em um nome tão ridículo pro grupo quanto aquele?

— “Cavaleiros Sorridentes” não é um nome ridículo. Foi ideia minha — retrucou Isa, inflando suas bochechas.

— A Academia não é a mesma sem você, cara. — Drake estendeu a mão cerrada em punho, ao qual Nathan também o fez, batendo seu punho contra o do seu irmão.

Ao ver seu protegido com as energias renovadas apenas por reencontrar os amigos, Íris não conseguiu fazer outra coisa além de sorrir. Mal sabia ela que aquele era o início da mais árdua missão que ela poderia ter escolhido.


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Notas finais do capítulo

Acham mesmo que "Cavaleiros Sorridentes" é um nome ridículo?
Por que o protagonista pensa que atrapalharia se voltasse?
O que é esse tal Lorde Demônio?
Farão eles com que Nathan fique em forma antes dos Desafios de Patente?
Íris realmente veio apenas para supervisionar Nathan?
São essas perguntas que serão respondidas nos próximos capítulos!!!

Espero que tenham gostado. Estou aberto a qualquer crítica que tiverem. Que sejam lançadas as pedras!!

Não tenho previsão para o próximo. Pode sair amanhã ou daqui a duas semanas. Depende da minha disposição. Falow



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