Arctan Saga escrita por Eliander Gomes


Capítulo 12
Calmaria antes da tempestade.




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— Quando é o seu aniversário, Yasmin? — A pergunta repentina de Mandrágora a pegou de surpresa.

— Daqui há algumas semanas..., mas por que a pergunta?

— Estou pensando em te dar alguma coisa.

Faltavam apenas alguns dias para a Cédula sair em missão. Eles passavam o restante dos seus dias de folga com as duas crianças. Eles estavam em seu local favorito da cidade, as campinas verdejantes onde Yasmin ganhara sua espada nova.

— Eu realmente não preciso de um presente. — Disse ela com um sorriso. — Lembram-se disso?

— A espada que a Val te deu? Não conta como um presente meu...

— Mas mesmo assim, não precisa me dar nada. Não gosto muito de aniversários...

Yasmin tinha um rosto nostálgico e melancólico.

— Por que não?

A garota olhou de relance para Mandrágora, ela encarou o céu e navegou em pensamentos.

— Bem... é que... eu nunca vi muitos motivos para comemorá-lo. Eu não vejo muita lógica em se comemorar por ter vivido mais um ano...

Mandrágora ri logo após Yasmin dizer isso. A garota fica com um rosto curioso ao vê-la nesse estado. A risada de Mandrágora era tão doce e meiga que, mesmo sendo frenética, não era escandalosa. James, que estava ao lado do garoto escutando a conversa, se levantou e sentou-se à frente da garota e olhou nos olhos dela com um sorriso no rosto.

— Bom, quer um motivo? — Ele aproxima a mão gentilmente próxima ao rosto de Yasmin, com o punho fechado. Curiosa, a garota encara o punho dele se aproximando. Até que ele bruscamente dá um peteleco na testa de Yasmin. Surpresa, a garota coloca as duas mãos sobre a testa, gemendo baixinho de dor.

— Por que fez isso?!

— Está doendo?

— Bem, sim! Você é forte, esqueceu?

— Então agradeça.

Yasmin ficou confusa. Ela olha nos olhos de James, ainda segurando a própria testa, ela faz um rosto curioso e pergunta:

— Como assim?

— Sabe quantas pessoas não tem a oportunidade de sentir dor?

A garota abaixa sua mão, colocando-a sobre as pernas, enquanto ainda olhava curiosa para os olhos de James. Sua testa estava levemente vermelha, mas ela parecia ter esquecido da dor.

— Eu...

— Pense comigo, Yasmin, por que comemoramos por viver mais um ano? Essa é uma pergunta interessante. Agora, antes de responder, vamos analisar uma outra questão. Nós somos guerreiros, pessoas que vivem em um ambiente perigoso... não, antes disso, nós somos humanos que vivem em um mundo perigoso. Mesmo aqueles que moram nas capitais e acham estar seguros, nada garante que um dia alguma peça de metal vinda de uma construção não caia sobre eles ou que não sejam pegos em algum acidente de trânsito. A questão é, você está aqui, viva. Isso já é motivo o suficiente para agradecer.

— Aniversário não é um momento para comemorar, — diz Valquíria, que com um sorriso encarava a garota. — É um momento para agradecer.

Os cabelos de Yasmin balançavam levemente com o vento, e ela fitava Val com um olhar admirado. Era a primeira vez que ela foi posta para pensar desta forma. Ela nunca refletira sobre isso antes. Foi então que ela desviou seus olhos para o céu e contemplou as nuvens andando lentamente sob a imensidão azul. Seus olhos brilharam com tamanha beleza.

— Acho que entendo o que vocês querem dizer... meu... — Ela hesitou. Ela não gostava de tocar nesse assunto na qual ela estava pensando no momento. Desde o dia em que saiu da vila... não, vem bem antes disso... — O meu pai... ele era um homem muito ocupado. Toda a vez que eu tentava chamar a atenção dele, quando pequena, ele nunca me dava muita bola. Mas isso mudou um dia, o dia em que eu mostrei para ele o chai ken pela primeira vez.

Val encarava o rosto nostálgico de Yasmin, que permanecia fitando as nuvens.

— Foi naquele dia que eu percebi o que eu realmente significava para ele... eu era apenas uma... — Ela hesitou mais uma vez. Naquele momento ela voltou a olhar para os quatro sentados à sua volta. Mas naquele ponto ela já não se importava mais com os detalhes. — Bom... ele só me via como uma princesa...

Os quatro fizeram um rosto surpreso ao ouvi-la dizer isso. Era a primeira vez que ela mencionava o fato de ser a princesa do clã.

— Princesa?

— Sim. Meu pai queria que eu me tornasse a nova líder um dia..., mas eu nunca me interessei por isso. Ele queria que o clã se tornasse algo maior... e ele queria me usar para isso. E mesmo nos dias do meu aniversário ele nunca me deu um presente, nem mesmo um parabéns.

— Acho que eu posso entender você até certo ponto... — Valquíria encarou as nuvens, distante. — Eu também tive problemas com o meu pai. Quando eu era pequena nós passávamos muito tempo juntos. Eu, ele e minha mãe erámos muito próximos. Mesmo ele trabalhando no exército do país do vento ele sempre se importou muito com a família. Até que aquilo aconteceu... minha mãe ficou doente, muito doente. Os custos do tratamento eram caros demais, muito além do que meu pai poderia pagar com o salário que recebia. Foi então que ele se ofereceu para entrar em uma tropa especial do exército, que recebia muito mais. Devido a ele já ter um nome conhecido eles já tinham chamado ele, mas ele sempre recusou porque queria permanecer com a gente..., mas...

Ela faz uma longa pausa.

— Depois que minha mãe adoeceu eu quase não vi mais o meu pai. Ele nunca parava em casa, sempre trabalhando, e mesmo quando aparecia era como se ele não nos enxergasse, ele estava tão ocupado tentando ajudar a minha mãe que nem percebeu que estava se afastando dela... e de mim. Até que um dia ele foi para uma missão, não antes de discutir com a minha mãe. Ela o confrontou sobre o que ele estava fazendo, ela disse que não se importava com o tratamento, ela só queria passar os dias com a família, ela não importava de quantos fossem contanto que estivessem juntos..., mas meu pai insistia que aquilo era para o bem dela. Eles brigaram por horas, até que meu pai fosse para a missão. Eu tinha quinze anos na época. — Ela parou.

— O que aconteceu depois?

— Bem... meu pai voltou mais cedo para casa. Algo tinha acontecido. Mas ele não chegou a tempo nem mesmo... nem mesmo de poder enterrar minha mãe. Eu tive que sepultá-la, sozinha. E nos dias seguintes fiquei sozinha esperando por ele. Quando ele chegou eu achei que ele finalmente cairia em si. Foi um erro meu. Ele... ele me acusou de não ter cuidado direito dela, ele parecia bravo e sem controle, foi quando eu finalmente me abri e disse tudo o que pensava para ele. Disse coisas horríveis para ele, coisas que não gosto de lembrar... e naquela mesma noite, eu fui embora.

Yasmin permaneceu em silêncio, assim como o resto do grupo.

— Desde então, eu nunca mais falei com meu pai. E se você quer saber, eu me arrependo muito disso...

A garota encarava Val com pesar. Um grande silêncio se fez no local, até que Mandrágora o quebrou.

— Acho que todos nós temos arrependimentos. Mas sabe, acho que nós não seriamos quem somos sem eles. No fim das contas tudo isso é experiência. Algo que vamos levar conosco por toda a vida. A questão é: podemos deixar que esses sentimentos nos consumam para sempre... ou podemos aprender com esses erros e nos tornar pessoas melhores.

— Você está certa, Madeleine.

Yasmin e Sirulian têm uma epifania.

— Madeleine? — Falam os dois juntos, como um coro.

A mulher de vestido verde coloca a mão sobre o rosto, envergonhada e risonha.

— É verdade, o pessoal da guilda só nos conhece pelos títulos.

— Menos eu! — Grita James. — Eu fico falando para me chamarem de Dragão Vermelho, mas mesmo assim ninguém lembra! — Ele coloca as duas mãos sobre a cabeça, histérico.

— Ei, como é o nome completo de vocês?

— A Mandrágora se chama Madeleine Miríade. Meu nome é Valery Vallentine. E o James tem por sobrenome Senhor músculos.

— Ei! — disse o rapaz com os olhos cerrados. — Meu sobrenome é Dylan.

— Finalmente! Descobri o nome de vocês! Agora posso vender essa informação e ficar rico! — Grita Sirulian com um rosto maléfico forçado e uma risada de vilão.

— Só se você sair vivo daqui, garoto! — Diz James com um sorriso no rosto.

O garoto se levanta e se posiciona sobre as colinas verdejantes com um sorriso no rosto.

— Acha que pode me derrotar, Dragão Vermelho? — Sirulian engrossara a voz, tentando parecer mais maléfico do que realmente poderia ser.

James se levanta e fica a alguns metros dele.

— Isso é o que vamos ver, pudim de morango.

— Pudim de morango? — Pergunta o garoto confuso.

— Mole e frágil. O morango é por causa do seu cabelo.

— Vai pagar por esse insulto! — Ele parte para cima de James em chamas, com um sorriso.

— Homens são tão competitivos... — Val dizia isso com um sorriso no rosto.

Ela sente algo encostando em seu ombro. Yasmin se atirara abraçando-a. Val, surpresa, sorri para ela e a abraça também.

— Ei... — Madeleine tinha lagrimas nos olhos, e olhava com ciúmes para as duas.

— Ah, você é tão carente, Madeleine! — Yasmin se levanta e vai até a jovem, que se derramava em lágrimas de um jeito fofo, enquanto estendia as mãos em direção a Yasmin. — Pronto, pronto!


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