Arctan Saga escrita por Eliander Gomes


Capítulo 11
Uma missão especial.




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Sobre o galho de uma arvore a Tsuyoshi observava a criatura canina. A pequena vigiava-a esperando que ela ficasse na posição certa. Yasmin esperou cerca de dois minutos até que o monstro, que tinha o tamanho de uma pequena barraca, estivesse na posição que ela queria; e foi nesse momento que ela pulou e a atacou, cravando sua espada no disco intervertebral da criatura, que surpresa gritou produzindo um estrondo ensurdecedor. Em meio ao seu desespero a criatura começou a mover-se de um lado para o outro, rodopiando, pulando, correndo e se debatendo nas arvores próximas, em todos esses momentos Yasmin permanecia pendurada segurando firme na espada, que parecia firme sobre a espinha dorsal da criatura.

Yasmin então faz um movimento rápido com a espada, banhando-a com seu próprio mana, fazendo-a se deslocar levemente, mas foi o suficiente para que a criatura perdesse o movimento das patas traseiras e caísse sentada no chão, ainda se debatendo.

A garota realiza um mortal por cima da cabeça da criatura, com a espada em mãos, ela se aproxima do rosto do monstro, que mesmo sem o movimento das patas tentava a todo custo mordê-la. Yasmin desfere o golpe final, cravando a espada sobre o crânio do lobo gigante, que não demora para desfalecer.

Após aquilo Yasmin suspira e relaxa os músculos. Ela se afasta um pouco e se senta sob uma arvore próxima. Segurando a espada a frente do rosto, ela fica pensativa.

“Essa coisa é bem forte... minha espada antiga não teria aguentado tanto tempo. Isso é mesmo incrível. Tenho feito missões diariamente desde que a ganhei de Val, mas mesmo assim ela permanece intacta. Mal preciso fazer manutenções nela. O que me faz pensar, será que eu deveria estar com uma arma tão incrível assim?”.

Yasmin permanecia com esse pensamento por todo o caminho de volta a guilda.

E o lugar estava relativamente vazio aquele dia pois, pelo que Yasmin ouvira, a maioria das pessoas na guilda haviam recebido missões de convocação, tal como a que ela mesma acabara de terminar.

Mas haviam três pessoas que estavam na guilda quando ela chegou, essas que já dispensam apresentações.

— Ora! Voltou cedo, pequena. — Falou Mandrágora, enquanto estendia sua mão para a garota, puxando-a para perto de si.

— Sim... e mesmo assim, estou exausta...

Yasmin sentou-se no meio das duas mulheres, que estavam juntas a James em uma mesa redonda, com quatro cadeiras. Yasmin parecia fisicamente bem, mas ela demonstrava sinais de cansaço mental. Ela se estende sobre a mesa e começa a desabafar.

— A guilda tem estado bem agitada nesses últimos dias... mal estou tendo tempo para minhas pesquisas...

— Sim, muitas missões. — Mandrágora coloca sua mão direita sobre a cabeça da garota e começa a acariciá-la.

— O que me faz pensar, por que vocês da cédula não estão recebendo essas missões?

Os três se olharam de forma disfarçada.

— Vai saber...

Yasmin não percebeu a cena, pois estava debruçada sobre a mesa.

— Essa última missão foi um absurdo! — Dizia um homem que se dirigia para o balcão de Darukian acompanhado de um amigo. — Quantas daquelas coisas você viu?

— Você acha que parei para contar? Ultimamente parece que só tem aparecido esses monstros idiotas!

James, que estava tomando um copo de mel, colocou-o sobre a mesa e se virou para os dois, sem se levantar.

— Vocês dois, venham aqui. — Ele falava com uma voz rouca e asquerosa, mas não tinha um tom ameaçador.

— Sim, senhor Dragão vermelho?

— Estava comentando sobre essa sua missão, me fale mais.

— Ah... bem, acho que não é do seu interesse.

— Claro que é. Adoro ouvir histórias de outros membros da guilda.

— Bom, é que a gente recebeu uma missão de convocação, nós fomos para uma vila nas imediações de Darkam. O lugar estava infestado de lobos...

— Lobos, hein?

— É, pelos últimos meses parece que é a única espécie de monstro que tem aparecido... lobos e monstros caninos... se não é isso são aquelas aranhas grotescas e os morcegos gigantes...

James os agradeceu e virou o resto do mel direto na garganta.

— Garotas, eu já volto.

James colocou as duas mãos sobre a mesa e começou a se levantar, mas Valquíria segurou o braço esquerdo dele, olhando diretamente em seus olhos.

— Onde vai?

— Onde mais? Falar com o mestre...

— James.

— Val, por favor...

— A decisão não foi dele. Não podemos fazer nada.

James suspirou. Yasmin, que não parecia prestar muita atenção antes, agora levantou sua cabeça e começou a fitar os dois, curiosa. Ao perceber o olhar da garota, James suspirou novamente e se sentou.

— Darukian! Me dá outro copo de mel!

Sem resposta. James olhou para trás, em direção ao balcão, e viu uma pequena fila se formando. Parecia que Darukian estava ocupado.

— Droga, nem tomar mel eu posso mais...

 Yasmin se endireitou em sua cadeira e começou a encarar Valquíria, que permanecia com seu olhar desaprovador sobre James.

— Val... algum problema?

A mulher voltou seu rosto para a garota, que parecia curiosa. Valquíria sorriu e desfez a cara séria.

— Não é nada com que você deva se preocupar...

— Tem certeza?

— Sim! Pode ficar tranquila... a propósito... você disse algo sobre uma pesquisa que está fazendo? Sobre o que ela é?

Yasmin sabia que havia algo acontecendo, mas ela não queria se intrometer em algo que a cédula não queria a envolver. Após um leve suspiro ela sorriu e entrelaçou seus olhos com os de Val.

— É algo pessoal.

— Pode nos contar?

— Sim... tem a ver com uma marca de nascença que eu tenho no pé. É uma longa história, mas eu tenho certeza que tem alguma origem mágica.

— Uma marca? Posso ver?

Yasmin desamarra o sapato e mostra o símbolo a eles.

— Isso é uma marca de nascença?

— Sim.

— Parece uma tatuagem... é muito perfeita e simétrica.

— É por isso que eu tenho pesquisado sobre.

— E você descobriu alguma coisa?

— Na verdade... isso acabou me levando a um livro infantil. Essa marca é a mesma que tem nele.

— A lenda dos guardiões.

Yasmin ficou surpresa ao ouvir Mandrágora mencionar o livro.

— Conhece ele?

— Sim, eu já o li. Nós temos um exemplar na biblioteca.

A garota começou a refletir sobre os tipos de gosto de Mandrágora, com um rosto sério e desconfiado.

— E então, Yasmin. — Valquíria quebra o momento de devaneio de Yasmin com aquelas palavras. — O que acha dessa história? Eu li sobre ela também.

— Bem... ela é bem similar ao que é contado na história de Arctan. Com exceção daquele detalhe.

— Bom... talvez seja verdade aquilo. Para ser sincera eu não duvidaria que fosse.

— Por que acha isso?

— Eu não sei dizer o porquê... só acho.

Yasmin ficou pensativa por um instante. Ela começou a mexer as mãos enquanto seus pensamentos a faziam viajar. Mandrágora permanecia acariciando sua cabeça, como se fosse um vício. James agora estava debruçado sobre a mesa, enquanto Valquíria olhava ao redor, pensativa também.

— Sabe... — Yasmin chamou a atenção deles novamente. — Algo dentro de mim me questiona toda vez que eu estou dentro desse prédio...

Os três olharam para a garota sem entender suas palavras.

— Quer dizer... eu nunca fui tão feliz antes como eu sou agora, mas é... é como se alguma coisa dentro de mim me dissesse constantemente que eu estou parada. Não sei explicar.

Valquíria sorri e encara seus dois amigos.

— Eu sei o que é isso.

— Sabe?

— É a sua missão especial falando...

— Minha...

— Eu não sei como explicar isso direito, Yasmin... todos nós somos chamados em algum momento para algo. Muitas pessoas tentam lutar contra seus chamados, algumas delas vão completamente contra ele durante toda a sua vida. As vezes não é um chamado específico, mas algo banal... digo... quando isso acontece essas pessoas perdem o seu propósito...

— Não estou entendendo direito...

— Pense da seguinte forma: uma espada é uma arma, certo?

— Sim.

— Mas você pode usá-la como outras coisas, por exemplo: Você pode usar essa espada como uma faca, para cortar carnes e verduras.

— Acho que ninguém faria um uso assim de uma espada...

— Mas ela pode ser usada assim, não pode?

— Sim...

— Isso significa que ela foi criada com um propósito, mas está sendo usado para outro. Talvez... talvez você esteja se sentindo feliz e satisfeita sendo uma integrante da nossa guilda, mas talvez esse não seja o seu propósito.

— Mas eu gosto da LionHeart.

— Eu sei. E não estou te falando para sair da guilda! Longe disso! — Ela diz em meio a leves risadas. — Mas, talvez, esse símbolo no seu pé tenha um significado maior do que você possa imaginar. E talvez esse significado seja maior até que a LionHeart. Veja bem...

Valquíria se levanta e olha em volta. Ela vê uma mesa com duas pessoas que estavam comendo alguns lanches. A mulher se aproxima deles e pede uma fruta. Ela volta com uma maçã para a mesa.

— Uma espada foi criada com o objetivo de ser uma arma, mas... as vezes, ela pode ser usada com outros propósitos...

Ela joga a maçã para cima e rapidamente saca sua espada, fazendo movimentos rápidos no ar. Ela pega a maçã no ar, que agora tinha um formato diferente. Os pequenos pedaços caiam sobre a mesa enquanto Val colocava delicadamente a escultura que tinha feito sobre a mesma. Era um rosto feminino delicado e belo.

— Nossa... você conseguiu fazer uma escultura na maçã com ela no ar?

— Gostou?

— Ficou linda..., mas... não é como se as pessoas fizessem coisas assim com frequência...

James grunhe, debruçado sobre a mesa.

— Garota, você não tem noção da frequência que a Val faz isso...

— A questão é: você pode cumprir seu propósito mesmo fazendo outras coisas. Mas você não pode ignorar sua missão especial.

— Minha missão especial...

Nesse mesmo instante, Darukian se aproxima da mesa deles.

— James, desculpa a demora, eu te ouvi quando você gritou, mas as coisas estão um pouco agitadas hoje...

— Tudo bem...

— Aqui seu copo. E junto dele tenho uma missão para vocês.

No mesmo instante o grandalhão de armadura se levanta e sorri.

— É o que estou pensando?!

— Sim... — Diz Darukian, meio desconfortável.

— Achei que o conselho tinha dito... — Val faz uma pausa brusca.

Darukian balança a mão à frente do rosto. Ele olha para Yasmin com um sorriso.

— Yasmin, pode nos dar licença um minuto? É rápido, prometo.

A garota suspira.

— Vocês e seus segredinhos...

Eles se levantam e começam a ir em direção as escadas. Mandrágora beija a testa de Yasmin antes de sair.

— A gente já volta.

Os quatro saem e vão em direção à sala do mestre Darwin, que esperava com um rost extremamente sério. O mestre permanecia sentado à mesa com as mãos cruzadas a frente do rosto.

— Pai, trouxe a cédula.

— Bom.

Os três adentraram a sala e se aproximaram da mesa do mestre.

— E então, mestre? Eles decidiram-se? — James parecia ansioso por uma resposta.

— Sim... eles levaram em consideração o pedido... depois da semana louca que nós tivemos com esse número absurdo de missões... eles o aceitaram.

— Isso! Agora a gente pode acabar com isso de uma vez!

— James, isso não é uma brincadeira! — Dizia Valquíria em tom de repreensão.

— Eu sei disso, e é por isso que estou tão animado.

— A questão aqui é: E as outras guildas?

O mestre suspira.

— Nesse mesmo instante, o conselho está entrando em contato com eles. Mas acredito que mais da metade das mais fortes devam participar da operação. O problema tem se mostrado grave nos últimos meses...

— Tá, mas e agora?

— Agora? Bom... vocês três vão ir para lá e fazer o melhor de vocês. Eu pediria Darukian para ir também, mas...

O rapaz, que estava mais atrás escorado ao lado da porta, suspira ao ouvir seu nome.

— Pai, eu não vou sujar minhas mãos de novo...

— Eu te entendo... por isso não estou te pedindo. E também, a guilda precisa de alguém para tomar conta dela enquanto a cédula estiver fora.

— E você, pai?

— É bem provável que eles proíbam o envolvimento dos mestres de guilda, mas...

— Não, pai. Acho que é bom que o senhor fique.

— Se o que James disse for verdade, não é tão simples.

Eles ficaram em silêncio por alguns segundos. O clima tenso exalava no ar. Mandrágora, que estava calada até então, se pronuncia.

— De qualquer forma, Mestre, é como o senhor mesmo disse... a guilda vai precisar de alguém enquanto estivermos fora. E também...

O mestre suspira.

— Não diga mais nada. Mas é melhor que tomem cuidado... vocês agora têm pessoas importantes para proteger. E não vão poder fazer isso se não estiverem aqui.

Os três se entreolham sérios.

— Quanto tempo até a operação? — Pergunta Val.

— Deve demorar alguns dias ainda.

— É tempo o suficiente então...

— Para que?

— Se preparar.

— Não falem com esse tom, é só mais uma missão.

Ela sorri. O mestre a encara, sério.

— Valery...

— Eu estou bem, mestre...

Darwin suspira. A mulher coloca a mão esquerda sobre o braço direito e começa a olhar para baixo.

— É que parece que eu encontrei uma nova motivação...

— É exatamente por isso que vocês têm que fazer de tudo para voltarem bem. E também, vocês não precisam aceitar a missão dessa vez.

— É claro que vamos aceitar. — Disse James com uma voz mais alterada que o normal. — É o dever da cédula vermelha sujar suas mãos quando todos os outros não podem... nosso nome não faria sentido se assim não fosse.

— Você diz isso, mas mesmo assim...

James fecha seus olhos e abaixa a cabeça.

— Ei, vocês ai! — Darukian se agarra no pescoço de James e Valquíria, com um abraço em grupo descontraído. — Esse tom de conversa tá horrível! Vocês são a cédula vermelha, o grupo mais forte da LionHeart e do continente do vento, não precisam ficar tão sérios. E também, essa missão não é tão diferente das outras que vocês já participaram. — Darukian olha discretamente com um sorriso para Mandrágora, que parecia olhar para ele também.

— Darukian tem razão. — Diz Mandrágora com um sorriso. — A gente dá conta, e não vamos estar sozinhos.

— Esse é o espírito!

Os quatro se retiram da sala, Darukian volta até o seu posto, enquanto o pessoal da cédula permanece parado na frente da porta do mestre Darwin, olhando para o nada.

— Acho que nós três finalmente temos a nossa missão especial. — diz James sem olhar para as outras duas.

— Sim... é a primeira vez que fico tão receosa de ir para uma missão assim... é engraçado pensar nisso, há alguns meses nós iriamos para essa missão sem hesitar, mas agora...

— Ei, vocês dois, acho que conhecendo a Yasmin ela ainda deve estar esperando a gente lá embaixo. — Mandrágora piscava e fazia uma pose fofa a frente dos dois, com um lindo sorriso no rosto.


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