Resident Evil: Dark Heart escrita por Léo Silva


Capítulo 7
Capítulo 7 – Apenas soldados




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Montes Urais, Rússia

Subiam a montanha guiados por Zion, que seguia mais à frente dos demais. Rebecca e Carlos caminhavam lado a lado, logo atrás de Zion. Seth e Jim eram os próximos da fila e, por fim, Cassandra e Rufo. O hacker parecia especialmente interessado em Cassandra, que evitava encará-lo – e ele a encarava insistentemente sempre que podia.

— Gostaria de me dizer alguma coisa, soldado Andersen? – perguntou Cassandra a certa altura, cansada da investida silenciosa.

Rufo riu baixinho.

Caminhavam a mais de trinta minutos, e Cassandra Milles estava se sentindo viva. Deixar o laboratório, mesmo que para uma missão potencialmente perigosa como aquela, já era suficiente para animá-la. Não era o tipo de cientista que se afastava dos seus experimentos por muito tempo – no máximo, pelos dois dias do final de semana, isso quando não precisava montar acampamento ao lado de uma cultura de microorganismos.

— Sempre quis conhecer uma doutora – disse ele.

— Pois bem, aqui está uma. Mais alguma coisa?

— Você está... Quer dizer... Quando tudo isso acabar...

Cassandra parou e encarou Rufo. O ruivo parecia nervoso por falar com ela.

— Está tentando me convidar para sair?

— É... mais ou menos...

— No meio de uma missão?

— As boas oportunidades não devem ser perdidas. É o que eu acho – disse ele.

— Desculpe-me, ruivos não fazem o meu tipo – Cassandra tomou a dianteira, deixando Rufo desconcertado.

***

— O que você acha? – perguntou Carlos.

Rebecca não sabia o que dizer. Se, por um lado, Yerik Guggenheimer passava uma sensação de segurança, por outro ele parecia guardar um grande segredo sobre aquela missão. Uma aura obscura sobrevoava Yerik, escondendo suas intenções.

— Acho que o dinheiro não compra felicidade – disse ela, sorrindo para Carlos.

Carlos também sorriu. Claro que não era apenas pelo dinheiro. Há muito tempo decidiram lutar contra o bioterrorismo, para que jamais se repetisse a tragédia que se abatera sobre Raccoon City. Uma bomba nuclear? Nos dias atuais? Aquilo era loucura. E a Umbrella parecia querer mais, mesmo com tudo o que aconteceu. O mal parecia criar raízes e se espalhar feito um vírus difícil de combater.

— Também não compra paz – disse Carlos. – Seria fácil demais, não é mesmo?

— Sim, seria – Rebecca parou bem em frente a Carlos e colocou a mão sobre o peito dele. – Se bem que aquelas passagens para as Bahamas não se pagarão sozinhas, não é mesmo?

— Só se você marcar mais pontos do que eu – disse ele, sorrindo.

— O artefato vale 100?

— Vale.

Riram daquela brincadeira idiota. Estava tudo tranquilo – até demais. Talvez não precisassem entrar no sistema de pontos de Chambers e Olivera, praticamente um sistema patenteado. Quem disparasse mais projéteis até o final da missão ganhava um prêmio previamente combinado – uma passagem aérea para Rebecca e um novo rifle para Carlos. Carlos tocou o ombro de Rebecca momentaneamente, e ela assentiu. Então, deixou a companheira para trás, e ficou lado a lado com Zion – o guia apenas sorriu levemente ao percebê-lo.

— E não é uma bela noite para subir a montanha? – brincou Zion.

— Sei de formas melhores de subir montanhas – disse Carlos. – E a pé não é uma delas... Você sabe de algo que nós não sabemos, Carter?

Zion Carter olhou rapidamente para o companheiro. Enfiou a mão no bolso e tirou um maço de cigarros de lá. Ofereceu um a Carlos, que recusou. Então, o guia acendeu um cigarro, tragou e expeliu a fumaça lentamente.

— Só fumo quando estou em missão – disse o guia. – E sei tanto quanto você e os outros.

— Eu não...

— Sei que esta montanha esconde segredos terríveis, ou então não estaríamos aqui, agora, nesta bela escalada noturna – continuou Zion. – Sei que, se fosse uma missão fácil, Yerik Guggenheimer não teria ficado no sopé, esperando confortavelmente em um quarto quente e com doses regulares de vodca para animá-lo. Aquele cara de fuinha burocrata poderia pegar o artefato com as próprias mãos. Sei, também, que somos apenas soldados, e quanto menos de nós voltarem desta missão, melhor para eles.

Carlos Olivera assentiu.

— Acho que nos deixaram aqui porque não querem perturbar a montanha – disse Zion. – Você sabe, essa montanha é como um grande quartel inimigo, cheio de soldados maus.

Só então Carlos reparou na tatuagem no braço direito de Zion – uma cruz solitária, o símbolo do soldado sem túmulo. Aquela tatuagem era um código, entendido apenas por um grupo de soldados que foram ao inferno e voltaram.

— Esteve no Vietnã? – perguntou Carlos depois de um longo tempo.

— Quem não esteve? – Zion sorriu. – Volto para lá todas as noites e, como castigo, retorno para cá quando o dia amanhece...

Antes que Zion terminasse sua frase, uma massa cinzenta saltou das árvores ao redor. Depois outras, formando uma alcatéia bem na frente dos solados.

— Lobos cinzentos – disse Zion, acenando para que Carlos parasse.

Olhou para trás, e reparou que Seth e Jim também haviam parado, apontando suas armas para as criaturas. Cassandra e Rufo eram os últimos, e ainda discutiam quando se aproximaram dos companheiros.

— O que está aconte...

— Shihhhhhhhh – fiz Rufo, apontando para os lobos. A infectologista segurou a respiração, visivelmente assustada.

Os lobos se posicionaram como se quisessem impedi-los de continuar. O maior deles – o líder do bando – grunhiu, mostrando os caninos pontiagudos.

— O que faremos? – sussurrou Carlos, destravando sua arma. O clique pareceu um disparo, e os lobos eriçaram os pêlos.

Zion deixou o cigarro cair, e pisou nele, apagando-o. Olhou rapidamente para Carlos, e assentiu com um breve movimento da cabeça. Depois, fez um sinal para os outros. Rufo segurou o braço de Cassandra, que não esboçou reação. Então, Carlos e Zion dispararam suas armas na direção da alcateia. Os lobos se dispersaram – o maior deles saltou por cima dos soldados, e os outros correram para a floresta.

Rufo rapidamente puxou Cassandra. Os dois se esconderam atrás de um grande tronco de árvore.

— Eu protejo você – disse ele, jogando-a para trás. A infectologista ficou de costas para a árvore, enquanto o soldado mantinha a Uzi Airsoft apontada para a floresta.

O lobo estava de frente para os dois, rugindo com os dentes à mostra. Seus olhos eram de um negro profundo e assustador.

— Você é infectologista... O que acha? – perguntou Rufo.

Cassandra engoliu em seco.

— Pode ser qualquer coisa, desde territorialidade até uma doença.

Rufo deu de ombros.

O lobo avançou, e o soldado disparou com a Uzi.

Seth e Jim se abrigaram atrás de um tronco, e começaram a procurar pelos lobos fugitivos.

— Deve ter alguma coisa nesses óculos que nos ajudem – disse Jim, acionando o menu virtual e procurando por novas funções. Encontrou a visão infravermelha, e então viu diversos pontos vermelhos se deslocando pela floresta, na direção deles.

— Achou alguma coisa? – perguntou Seth.

— Você não vai querer saber o que eu descobri...

Zion e Carlos estavam frente a frente com o líder. A fêmea deveria ter uns cento e vinte quilos, e mantinha os dentes à mostra. Andava de um lado para o outro, rosnando o tempo inteiro, e dividindo seus olhares entre os dois soldados.

— Eles não se dispersaram como eu pensei que fariam – disse Zion, com a arma apontada para a fera.

Carlos também mantinha seu rifle apontado, e estava afastado do companheiro.

— Acha que estão com hidrofobia?

— É possível. Você não tem ideia da quantidade de coisas que podem te matar neste lugar – disse Zion, mirando na cabeça do animal. – Eu vou para a direita, e você para a esquerda.

Carlos se preparou para dar suporte ao companheiro. O animal, percebendo a organização dos dois, uivou, e outros dois lobos saltaram do meio das folhas, caindo sobre os soldados.

Carlos rolou para longe. Conseguiu ouvir os disparos de Zion. Levantou-se rapidamente, atirando na cabeça do lobo, que morreu na mesma hora. Carlos correu para onde estavam Zion e o enorme animal. Os dois estavam frente a frente.

Um barulho de estática invadiu os ouvidos de Carlos.

— Escutem – disse a voz de Jim. – Nós estamos sendo cercados... É como se soubessem que estamos aqui... Vários animais...

Quem falou em seguida foi Zion:

— Nós precisamos de uma distração, não podemos ficar aqui.

Carlos olhou para ele. O lobo gigante sangrava, fora atingido no olho esquerdo. Mantinha os dentes à mostra, e parecia ainda mais feroz do que antes.

Seth e Jim se juntaram a Zion e Carlos. Cassandra e Rufo logo depois. Então, diversos lobos começaram a sair da floresta, agora acompanhados por glutões e javalis. Todos pareciam estar em uma espécie de transe.

— Ouçam bem. Eu tenho uma bomba de frequência aqui. São 40.000 Hz. Quando eu acioná-la, os animais cairão. Mas o efeito passará assim que a bomba parar. Não temos muito tempo. Precisamos nos afastar o mais rápido possível.

Todos assentiram.

Zion tirou o pino da bomba.

E jogou-a no chão.


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