Resident Evil: Dark Heart escrita por Léo Silva


Capítulo 6
Capítulo 6: Coração sombrio




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Sobrevoando a Rússia, dias atuais

Zion Carter chegou vinte minutos depois da reunião formal do grupo no helicóptero. Carregava uma mala preta em uma das mãos e uma mochila nas costas.

Na altura de seus 40 anos, Zion era um homem de passos firmes e olhar penetrante. Tinha os cabelos negros e os músculos proeminentes – à custa de exercícios pesados cinco vezes por semana e uma dieta equilibrada. Como todo atleta, não queria ver o tempo chegar.

— Senhores e senhoras, desculpem-me o atraso, o trânsito está uma loucura esta noite – disse ele, esboçando um sorriso amarelo.

Ninguém mais sorriu. Yerik adiantou-se, se oferecendo para ajudá-lo a subir no helicóptero, que já ligava os motores.

— Carter, seja bem-vindo à nossa festinha do fim do mundo – disse.

— Obrigado, Guggenheimer.

— Senhoras e senhores, este é Zion Carter, nosso guia oficial nos Montes Urais.

Todos cumprimentaram Zion, meneando levemente a cabeça. Ele passou seu olhar por cada um deles – um belo grupo, certamente. Infelizmente nem todos conseguiriam sair de lá vivos, sim, ele sabia disso. Sabia, também, que não contaram todos os detalhes da missão, eles eram soldados, e soldados só precisam seguir as ordens de seus superiores. Yerik talvez soubesse tudo e, mesmo se não soubesse, certamente sabia mais do que todos eles juntos. Foi com esse pensamento que Zion tomou seu lugar, ao lado de Yerik.

Quando o helicóptero levantou vôo e estavam todos sentados em seus lugares, Yerik começou a falar. Começou a clicar em seu tablet, os olhos percorrendo a tela como se fosse uma velha amiga.

— Senhoras e senhores. Espero que todos estejam confortáveis, pois a noite será longa – disse Yerik. – Este helicóptero é equipado com um equipamento que repele qualquer sinal não-autorizado, ou seja, é impossível alguém nos grampear, por isso podemos conversar sobre a missão sem rodeios.

Ele parou, como se esperasse que alguém dissesse algo, mas tudo o que ouviu foi o barulho dos equipamentos eletrônicos. O total silêncio sempre incomodou Yerik, e agora não era diferente. Lembrava-o das criptas e túmulos, onde corpos lentamente apodreciam. Nada combina mais com a morte do que o silêncio.

— Pois bem, nossa missão envolve a execução de três fases. A Fase 1 constitui a penetração nas instalações da T-Esfera, um complexo existente dentro dos Montes Urais – continuou Yerik. – A Fase 2 corresponde à extração de um artefato localizado no Laboratório Central. A Fase 3 corresponde à nossa saída da T-Esfera. Se houver algum sobrevivente na T-Esfera nós devemos encaminhá-lo com segurança até a área de extração.

Yerik olhou para cada uma das pessoas que estavam ali, e não notou alteração na expressão de nenhuma delas. É, eles são soldados de verdade.

— A T-Esfera é um complexo concebido para simular um ecossistema completo. Foi construído durante a Guerra Fria e, por dois anos, abrigou dezenas de cientistas. Diversos problemas assolaram o complexo, como a falta de oxigenação suficiente e a excessiva proliferação de baratas, o que levou ao fracasso do projeto e a perda de apoio do governo. Parece que o sonho de construção de ecossistemas artificiais acabou por causa de insetos – disse Yutik, sorrindo.

Os outros pareceram desconfortáveis.

— É isso? Entramos, pegamos o artefato e saímos? – perguntou Rufo.

Será como um passeio no campo. Todos estão prontos para colher as flores?, pensou Zion, mas nada disse.

— Mas não é isso, não é mesmo? – perguntou Carlos Olivera.

Não, nunca é. Tem sempre mais coisas do que dizem.

— É tudo o que precisam saber – disse Yerik.

— Ou seria tudo o que podemos saber? – desta vez quem falou foi Cassandra. – Não conquistei meu doutorado sendo ingênua, senhor Guggenheimer. Por que precisam de um hacker, uma médica, uma infectologista e diversos soldados?

Yerik sorriu.

— Claro que não. E também imagino que não seja a pessoa mais jovem a receber o Nobel de Medicina sem uma boa razão, senhorita Milles.

Cassandra Milles pareceu surpresa.

— Há três dias quatro cientistas mergulharam na caverna Ordinskaya, nos Montes Urais. Dr. Erick Bernstein, Dr. Paul Duskin, Dra. Virgínia Rogov e Dr. Derek Krupin. Somente o Dr. Bernstein retornou com vida. Os outros três estão desaparecidos.

— Por que não fomos comunicados disso antes? – perguntou Rebecca, pensando no quanto aquilo parecia familiar.

— Porque não era necessário – disse Yerik.

— Ainda não sei por que precisam de uma infectologista – continuou Cassandra.

— Acontece que o Dr. Bernstein contraiu uma estranha doença, aparentemente muito infecciosa. Nós queremos que a senhora descubra mais sobre essa doença, coletando amostras do local. Existe uma grande probabilidade de bioterrorismo.

Jim, Seth e Zion se mantinham em silêncio. Armas biológicas, a morte na forma de doença. Já tinha ouvido falar por diversas vezes sobre isso, mas é diferente ouvir ao vivo de alguém.

— Então, basicamente precisam de uma vencedora do prêmio Nobel para fazer o serviço de um assistente de laboratório?

Yerik assentiu.

— Se olharem nos compartimentos debaixo de seus assentos, encontrarão um equipamento especial de comunicação.

Ele mostrou um aparelho muito parecido com headsets, porém, equipado com um pequeno visor. Logo todos tinham colocado os seus.

— Na tela vocês podem acessar a diversas informações sobre o ambiente: temperatura, umidade, luminosidade. Também terão acesso a um mapa do Complexo, e o local do artefato está devidamente sinalizado.

— É a primeira vez que vejo um destes – disse Rufo, visivelmente excitado. – Podemos ficar com eles depois que a missão terminar?

— Claro – disse Yerik.

Carlos e Rebecca se entreolharam, menos empolgados do que os outros. Sabiam com o que se parecia aquilo tudo, e não se surpreenderiam se a Umbrella estivesse por detrás, mais uma vez.

Sabiam, também, o que sempre acontecia.

***

Yerik havia se afastado dos demais para atender ao telefone.

Quando voltou, encontrou o pequeno grupo recebendo instruções de Zion Carter. O helicóptero havia pousado em um heliporto na base da montanha, de onde deveriam seguir a pé. Ali perto havia uma base da B.S.A.A. equipada com os mais modernos equipamentos de comunicação.

— Manterei contato com vocês daqui da base – disse Yerik. – Espero que tudo dê certo.

— Ah, claro, os burocratas nunca sujam as mãos – disse Marshall, sorrindo.

Yerik Guggenheimer também sorriu, mas seu coração sombrio escondia muitas coisas, coisas que não deveriam transparecer para ninguém. Dr. Erick Bernstein estava morto, acometido pela terrível doença que deixava os tecidos das vítimas negros feito carvão. E as faziam ressurgir com fome de carne humana. E provavelmente haviam outros iguais a ele. Talvez centenas.

Mesmo sabendo disso, e que os enviava para uma missão suicida, Yerik Guggenheimer sorriu para o grupo que se afastava.


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