Resident Evil: Dark Heart escrita por Léo Silva
Aeroporto Internacional de Miami, EUA, dias atuais
Ainda faltavam duas horas para o embarque quando Jim Phoenix percebeu que não havia contado a Melissa sobre a viagem. Fora chamado de repente, e ela estava no meio de um plantão de 16 horas que somente os enfermeiros sabiam como era. Precisava ligar para ela.
Não que ele pudesse dar detalhes da viagem – na verdade nem o próprio Jim sabia muito –, mas pelo menos deveria ter dito que iria para outro continente e não retornaria tão cedo. Abriu a carteira e tirou uma foto dela lá de dentro. A doce Melissa, a primeira garota que beijara (na noite do baile de formatura, sob a luz das estrelas), e a única que pretendia beijar pelo resto de sua vida. Segurou a foto por muito tempo, e pensou em como jamais se cansaria daquela visão.
Melissa era o tipo perfeito de garota – não somente em atributos físicos, mas em caráter. Altruísta, duas vezes por mês ajudava os mais necessitados, distribuindo marmitas para os famintos em um grupo chamado Anjos das Sombras. Ela o convencera a entrar para o grupo, e desde então ele também fazia sua parte pelo bem da humanidade – talvez para compensar o mal que imaginava fazer ao disparar sua arma. Jim fazia de tudo para não ter que chegar a disparar sua arma, mas sabia que não era tão simples assim. Nada é tão simples. Às vezes sentia como se as balas se disparassem sozinhas. Bam! Bam! Bam! E lá se iam três. Você salva as pessoas, e eu as mato, disse ele uma vez – e por mais que isso os assustasse, era a mais pura verdade.
Melissa o tornava melhor, como ele mesmo não se cansava de repetir. E nos pensamentos absolvia a si mesmo, afirmando que era necessário – se não existissem os maus, talvez os bons não parecessem tão bons assim. Se queria permanecer por muito mais tempo na B.S.A.A, teria que manter os miolos no lugar – o que significava um pouco mais que mantê-los dentro da cabeça.
Manter a cabeça fria. Melissa era especialista nisso. Ele ainda se esforçava.
Olhando a foto, Jim se levantou e procurou por um telefone público. Discou o número do celular de Melissa e esperou. Ela atendeu no terceiro toque.
— Alô? – disse uma voz feminina do outro lado da linha.
— Cupcake!
Melissa riu alto. Jim conseguia imaginá-la se contorcendo, cobrindo a boca com a mão, e as covinhas se formando em seu rosto.
— Seu bobo!
— Eu amo você – disse ele, que era como sempre iniciava as conversas com Melissa. – Liguei para dizer que fui convocado para uma missão.
— Posso saber onde?
— Na Europa.
Durante um curto intervalo de tempo a linha ficou completamente silenciosa, e ambos ouviam somente a respiração um do outro.
— A Europa é muito grande – disse ela.
— Eu sei, sinto muito pela escassez de informações.
— Nada de nomes de países, certo? – perguntou ela com uma voz meio anasalada.
— Garota esperta.
Jim ainda olhava a foto. Nela os longos e loiros cabelos de Melissa pareciam brincar com o vento (estavam na praia, Melissa sentada na areia). Os óculos de grau estavam jogados sobre o colo, e sua expressão era de contemplação do vazio.
— Você vai ficar longe por muito tempo?
— Pelo menos por um mês, eu não sei Melissa... O que foi? Sua voz parece diferente.
— Não é nada, acho que posso esperar até você voltar.
— Você pode me dizer, seja o que for.
— Jim, tudo bem, eu espero. Essas coisas não devem ser ditas por telefone.
Jim apertou o telefone contra o próprio rosto.
— Você está doente? Porque se estiver, eu ao vou mais...
— Estou grávida, Jim. De dois meses.
Quando a linha ficou muda Jim Phoenix soube que sua vida havia mudado para sempre. Olhou mais uma vez a foto de Melissa, e então chorou como no dia em que veio ao mundo.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!