A herdeira Lestrange escrita por clarasalinger


Capítulo 1
Prólogo




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— Nós não vamos!

A voz de Helena vinha do andar de baixo da casa, mas dava para ser muito bem ouvida de onde sua filha estava, encostada na parede do corredor ao lado da escada.

— Helena, é uma questão importante.

Agora era a voz de seu pai que se fazia presente, muito mais calmo e apaziguador.

— Você não entende Icarus, você não entende.

Ela imaginava sua mãe andando de um lado para o outro na sala, enquanto empurrava os cachos para trás da orelha.

— Helena, eu consegui um bom cargo em Hogwarts e não posso simplesmente dizer não. Nós iríamos viver bem melhor lá e...

— Que se dane, Icarus. – Sua mãe interrompeu. – Se for pra viver melhor mas pra viver lá, eu não quero. Tudo o que temos aqui já está de bom tamanho pra mim. Já não está bom pra você trabalhar na MACUSA?

Icarus respirou fundo enquanto penteava os cabelos lisos e grisalhos para trás com a ponta dos dedos.

— Você sabe que odeio aquele lugar, Helena.

— E eu odeio a Inglaterra. Então estamos quites! – Ela bradou novamente.

O homem fechou os olhos enquanto deixava a cabeça apoiada sobre a mão massageando sua testa com a ponta dos dedos.

— Eu já aceitei. – Ele declarou baixo, sabendo da represália que sofreria pela mulher.

Os olhos de Helena coruscaram de raiva enquanto ela virava-se para encará-lo, mas Icarus não ousava levantar o olhos para encará-la, ele já sabia o olhar que recebia.

— VOCÊ ESTÁ LOUCO? – Ela gritou se aproximando com rapidez da mesa. – Como isso, Icarus? Como você aceita algo sem nem perguntar a mim e a sua filha se queremos ir, ein?! Nossa opinião não importa?

— Não é isso, Helena. – Ele falou calmo, ainda sem olhá-la.

Ela gargalhou, riu e riu tanto que uma hora não parecia mais ser falso. Icarus fechou os olhos e jurou poder ouvir Bellatrix em suas noites mais loucas atacando Hogwarts, ela era tão parecida com sua mãe às vezes, mas nunca poderia falar isso para a esposa. Isso seria um golpe para ela, ser comparada com sua mãe a quem tanto desprezava.

— Você não entende mesmo!

Um estrondo sobre a mesa pôde ser ouvido. Clara segurou o colar sobre o peito dando um leve pulo de susto, ainda recostada na parede, ouvindo a conversa dos pais.

— ENTÃO ME EXPLICA! – Agora era Icarus quem gritava, como Clara nunca havia ouvido. – Então me explica o que eu não entendo, HELENA! Porque eu achei que sabia tudo sobre você. Achei que sabia que foi enviada pra cá assim que nasceu para viver longe da sua família. Não foi? Sua própria mãe te enviou, ou estou errado? Bellatrix Lestrange a enviou para viver com uma tia americana, sem Rodolfo saber. – Os olhos de Helena encheram de lágrimas, mas o marido continuou. – Pra ficar longe das mãos de Lord Voldemort a qual sua família SEMPRE SERVIU!

A voz de Icarus era forte e trovejava assustadoramente, como quem pudesse fazer a casa tremer apenas com seus gritos.

— Por mais que sua mãe fosse louca, ela tinha lapsos de consciência e te afastou de tudo isso!

— Ela era uma maníaca, Icarus! – Helena gritou.

— MAS ESSA MANÍACA SALVOU SUA VIDA! – Ele gritou de volta fazendo-a calar. – Ela te salvou, você querendo ou não aceitar. E ninguém nunca soube que houve uma criança Lestrange graças a ela.

Ele falou mais baixo.

— O mínimo que deveria fazer como uma mãe, seria salvar a vida da filha.

Helena sussurrou limpando as lágrimas, mas Icarus ignorou.

— Eu sei, Helena. Eu sei de tudo isso. Pelo amor de Merlin há quanto tempo nos conhecemos? – Ele se aproximou da mulher que enxugava as lágrimas com raiva. – Há quanto tempo estamos juntos? Você acha que eu não vou te entender?

Icarus tentou tocar no rosto da esposa, elevando as mãos até suas bochechas, mas Helena simplesmente as empurrou e se afastou até a janela, encarando-o de longe.

— Então por que está fazendo isso? Por que está querendo que voltemos pra Inglaterra?

— Eu já te expliquei, porque ficaremos melhor lá.

Icarus voltou a abaixar o tom de voz, fazendo a filha se inclinar para a escada para ouvir melhor.

— Não ficaremos bem coisa nenhuma, Icarus. Você só quer ir pra lá por conta do seu ego e da sua nostalgia.

— Helena, por favor...

Ele parecia cansado da discussão, sabia que sempre perdia.

— E não é verdade? Você só quer ir pra lá pra retomar a vidinha em Hogwarts que você tinha antes de tudo ficar uma loucura e seus pais decidirem vir pra cá, não é?

Icarus coçou a nuca e respirou fundo, fazendo seu colete subir e ele ter que puxá-lo para baixo assim que abaixou o braço.

— Não, Helena. Não é por isso que quero voltar a Hogwarts.

— É sim! – Ela interrompeu, forçando um sorriso falso e irritante. – Eu sei que é. Não foi depois do dia da morte de Alvo Dumbledore que sua família partiu? Vieram pra cá, fugidos. Não foi?

— Não viemos fugidos. – Ele contestou rapidamente.

— Seus pais fugiram pra proteger a você e seu irmão, e você ainda quer voltar pra lá, Icarus? E todo o esforço que eles fizeram pra te privar da morte?

— Me privar da morte. – Ele riu pelo nariz. – Chega disso, Helena. Pare de exagerar.

— Privar da morte sim! Se não da morte, da prisão. Sua mãe me contou essa história diversas vezes, Icarus. Diversas. Me contou sobre seu irmão e sobre como seu pai precisou largar o cargo antes que tudo piorasse.

— Meu irmão errou.

Ele afirmou, notando que agora os problemas revelados eram de sua família.

— E seus pais fizeram de tudo pra salvar vocês.

— Isso não tem nada a ver comigo, Helena. O Millard quem estava mexendo com aquelas moedas e provocando essas coisas. – Ele teimou. – Isso era minha mãe aumentando as coisas. Ela sempre foi muito dramática.

Helena riu novamente. Puxou os cabelos para cima com as duas mãos e os prendeu em um rabo de cavalo desajustado.

— Você pensou na nossa filha? Pensou na Clara?

— Mas que pergunta é essa? É claro que eu pensei, ela foi a primeira pessoa que eu pensei. O ensino de Hogwarts é muito melhor do que de Ilvermorny.

— Eu estudei em Ilvermorny. – Helena contestou.

— Você vem de uma família típica de Hogwarts, Helena. Não foi a escola quem te ajudou a ter os poderes que tem. – Como típico inglês, ex-estudante de Hogwarts, Icarus tinha a plena certeza da superioridade de sua escola. – Ela vai se dar muito bem lá, vai ser muito melhor para moldá-la. Você sabe.

— Não! Ela não vai.

— Claro que vai, Helena. Pare de ser pessimista. A Clara vai se destacar, você sabe que ela é forte, mais forte que nós dois juntos e eu não estou falando só sobre os poderes.

Outro baque sobre a mesa. Helena bateu a palma da mão de um lado da mesa enquanto encarava o marido se servindo de água do outro lado.

— Ela tem o sangue dos LESTRANGE, Icarus! – Ela gritou. – O QUE VOCÊ QUER QUE ACONTEÇA COM ELA?

— Você está exagerando.

Ele contestou calmamente sentando-se em sua poltrona e bebendo a água do copo em pequenos goles. Helena riu, riu como uma histérica. Ela passou a mão na testa, irritada e tensa.

— Icarus, os Lestrange foram a família mais devota a você-sabe-quem. Minha mãe foi uma pessoa horrível, horrível! Você sabe disso mais do que eu, por favor. Ela fez coisas horríveis para muita gente. E não venha me dizer que ela salvou a minha vida porque isso não muda o fato dela ter tirado tantas outras! Meu pai, outro monstro, sabe-se lá por onde anda e eu não quero minha filha perto de toda essa história e nem dos Lestrange. Sabe-se lá Deus a represália que ela pode sofrer.

As lágrimas escorriam por seu rosto, teimosamente, enquanto Helena falava com uma raiva que poderia ranger os dentes.

— Ela não vai sofrer nenhuma represália, pelo amor Helena. – Ele resmungou colocando o copo sobre a mesa.

— Como você sabe? Ainda existe muita mágoa guardada nas paredes de Hogwarts, Icarus.

— Isso são só boatos. – Ele retrucou.

— Você mesmo me falou sobre isso, seu idiota!

Icarus respirou fundo tentando achar paciência para continuar aquela conversa. Icarus se inclinou para frente, apoiando os braços na mesa enquanto segurava as próprias mãos.

— Não existem mais Lestranges, não é? Acabou por aqui. O sobrenome acabou. – Ele observou as mãos trêmulas da esposa parada em frente a lareira, olhando fixamente para ele com seus olhos escuros como os de sua filha e sua mãe. – Ela não leva o nome Lestrange e ninguém sabe da filha perdida de Bellatrix e Rodolfo. Ela é uma Salinger. E nada mais que isso.

Helena se calou por alguns instantes fazendo com que o marido pensasse que poderia ter vencido a batalha, mas depois balançou a cabeça em negação.

— Se fosse tão simples quanto a mudança de sobrenome, Icarus.

Ele se levantou, deu a volta na mesa e caminhou até próxima a mulher para colocar as mãos em seus ombros e olhar diretamente em seus olhos.

— Ela vai ser uma Corvinal, como eu. Ela é muito inteligente e sábia, não é uma impetuosa corajosa e inconsequente como os Grifinórios, e nem má. Ninguém vai saber que ela é uma Lestrange, ninguém. Conversaremos com ela e ela vai entender...

— Ela não sabe de muita coisa ainda. – Helena interrompeu, sussurrando essas palavras. – Não sei se quero que ela saiba de tudo.

Icarus umedeceu os lábios e respirou fundo para continuar a tentativa de acalmar a esposa:

— Eu sei que não. Mas vai dar tudo certo. Eu conheço Hogwarts, eu estudei minha vida toda lá e eu vou ser professor lá, então estarei sempre ao alcance da nossa filha.

Helena desviou o olhar, sentindo as lágrimas voltarem, tentando não deixar com que o marido as visse.

— Eu tenho medo, Icarus.

O marido sorriu passando o polegar sobre a bochecha da esposa.

— Medo do que, querida?

— Do sangue. – Ela sussurrou não deixando com que Clara escutasse do andar de cima. – O sangue sempre chama. Sempre.


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