Astolfo tinha aquela aparência oleosa no corpo todo, desde o rosto até os calcanhares. Era como se ele estivesse cozinhando frituras o dia inteiro em uma rede de fast food. Longe disso, longe de toda essa realidade de comidas venenosas da cidade, Astolfo tinha um apetite que nunca conseguiu saciar. Um de seus maiores desejos era praticar o que chamam de canibalismo. Palavra muito forte, na opinião dele. Claro que nunca teve coragem ou estômago o suficiente para isso. A covardia lhe causou um sério caso de pele de fuligem, pelo menos era assim que Astolfo justificava sua pele anêmica e acinzentada, eternamente suja de fuligem. Astolfo tinha um galinheiro. Seu maior hobby era alimentar as galinhas com nuggets de frango. Era um experimento social. Ele jogava os pedacinhos de carne processada para os bichos e observava como eles ficavam eufóricos. Será que era possível que eles sentissem o cheiro de seus colegas ou o óleo quente adicionava algo completamente novo? Astolfo, sentado no seu banquinho de madeira, assistia o galinheiro como se estivesse assistindo a um excelente canal de televisão. A loucura nos olhos arregalados daquelas galinhas era tão bonita. Por algumas horas de seu dia, ele não precisava de nada. Se sentia pleno. Dava até gosto de ver.