Quem de nós dois... escrita por calivillas


Capítulo 2
Quando menos se espera...




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Talvez, não tenha sido exatamente assim que aconteceu. Talvez seja a minha memória apagando os detalhes irrelevantes e dispensáveis, como a maneira que cheguei até você, como ficamos juntos.

Mas, resumindo: Grécia, era uma viagem, há muito, sonhada. Estava determinada a fazê-la de qualquer maneira, sem querer mais esperar, mas não tinha companhia, então, me enchi de coragem, pronta para enfrentar o mundo sozinha, afinal, tanta gente faz isso, então, por que não eu?

Para facilitar, eu programei um monte de pequenas excursões, para não me sentir tão solitária, e foi por causa de uma delas que conheci você, por um lapso, uma distração, perdi o ônibus e o encontrei.

Ainda me lembro, da primeira vez que ficamos sozinhos, dentro do carro alugado. Eu escolhendo palavras, não posso negar que estava meio assustada, afinal, era um homem estranho, um completo desconhecido, em um país estrangeiro e eu sozinha, me sentia frágil e desprotegida, mas me esforcei para você não perceber, acho que exagerei um pouco no meu tom alegre, quando perguntei se era a sua primeira viagem para lá.

“ Não, sempre venho aqui. ”

“Família? ”

“Não, só gosto. ”

Imaginei inúmeros possibilidades que, hoje, acho graça. Pensei em encontros furtivos e secretos, longe de olhos conhecidos e curiosos, não acreditei que você apenas gostava mesmo de estar lá, algo com descobriria pouco tempo depois.

A nossa volta, a paisagem pedregosa, cinzenta e árida passava, o sol ainda brilhante, o céu de um azul pálido, a estrada estreita e sinuosa, você conhece bem o caminho.

“ Eu nunca viajei sozinha. ” Por que eu disse isso? Por que demonstrar a minha fragilidade?

“ Eu sempre viajo sozinho. ”

Reparo nos antônimos, nas nossas diferenças, que nos seguirão por toda a nossa história.

“ Sempre quis vir para a Grécia, então disse: Tem que ser agora. Mas, não tinha ninguém para me acompanhar, assim, me aventurei. ”

“ Corajosa! ” Havia um brilho travesso no seu olhar, quando tirou os olhos da estrada e me olhou, por um breve instante. Você não conseguia entender, o quanto de coragem tive que ter para chegar até ali.

“ É estranho estar tão sozinha. ” Confesso, não sei porque, em seguida, fico receosa de você interpretar como alguma espécie de sugestão.

“ Para mim, não. Gosto da solidão, desse sentimento de liberdade. De fazer o que quero sem dar satisfação a ninguém. ” Explicou, sem tirar os olhos da estrada. Eu ainda não tinha a coragem de perguntar o porquê.

Falávamos assuntos tolos, despreocupados e superficiais, você me ensinava, me dava dicas, sugestões, que anotava mentalmente. Era uma boa distância, a estrada estreita exigia atenção, muitas vezes, tinha que parar dar passagem a outros carros. Eu observava os muros baixos de pedras, as cabras se escondendo do sol, a vegetação escassa e seca.

A cidade se aproximava, você havia dito que me deixaria no meu hotel e cumpriu a promessa.

“Quer jantar mais tarde? ”

“Por que não? ” Respondo, feliz com a companhia.

“ Eu a pego às 8. ”

Vamos pular as horas vazias, o tempo que levou para revê-lo. Vamos direto para o restaurante em uma ruela da bela vila de construções brancas, portas coloridas e buganvílias vermelhas. Sentamos à mesa, escolhemos os pratos e você pediu vinho ao belo garçom que veio nos atender, simpático e sorridente. Você foi muito gentil com ele, brincou, falou algumas palavras em grego. Seria um flerte? Naquele momento, tive um sentimento incomodo, eu estava sobrando, não devia estar ali. Tentei fingir o melhor que pude.

“Posso voltar de ônibus para não o incomodar. ” Digo e você me encara de modo estranho.

“ Incomodar? ” Quer saber.

O nosso belo garçom se aproxima, simpático, pergunta se estamos gostando da comida, você diz que sim e sorri. Reteso, você é esperto, muito inteligente, saberei disso em breve.

“ Você está enganada. Eu venho muito aqui, por isso ele me conhece bem, por isso sou simpático. ”  Diz, olhando nos meus olhos.

Fico sem graça, mas você sorriu me tranquilizando. Você tem sorriso lindo, sedutor. Seus olhos sorriem, também. Será que naquele momento que comecei a me apaixonar?

O resto da noite se vai, com poucas lembranças, a boa comida e o bom vinho, a brisa que vem do mar, o burburinho das outras mesas a nossa volta, o que importa agora, depois de tanto tempo? Era a primeira vez, você e eu.

Na verdade, só depois aconteceu eu e você, de fato, quando me deixou no hotel. Estava louca para que fosse atrevido, queria tanto um beijo, estava romântica, carente, encantada. Você não me decepcionou, no carro, na frente do meu hotel, sua mão tocou o meu rosto, nossas bocas se aproximaram, um contato suave, macio, quente. O começo, talvez, fosse melhor sair dali, agradecer o jantar e a companhia e ir embora, sem olhar para trás e continuar a minha vida, mas como eu saberia? Como deixaria de viver tudo o que vivi? Como não poderia conhecer você?

Depois de longos beijos, nos despedimos, ainda era cedo para ir em frente, para a entrega, que não tardaria. Você propôs irmos à praia, juntos, no dia seguinte, eu aceitei de imediato, queria muito revê-lo.

Vamos pular a noite irrequieta e ir direto para a manhã seguinte, depois do café, quando você chega.

“ Vamos aonde? ” Quero saber.

“Por aí, parar aonde der vontade. ”

Partimos sem destino, pelo menos eu, pois você sabia para onde estava indo, por caminhos tortuosos e íngremes, nos aventuramos para encontrar o mar azul turquesa de águas cálidas, onde guerreiros do passado navegaram para suas conquistas e nós aqui, deitados nessas areias, eu imaginando quantas batalhas foram travadas? Quanto sangue derramado? Quantas paixões exterminadas nesse lugar? Você riu das minhas divagações e me beija. Nossos beijos ficarão guardados nessas areias pela eternidade.

Mesmo no final do verão quase outono, o sol insiste em permanecer no céu por mais tempo, senhor absoluto no seu império.

Você me leva para o hotel, resolvida, pergunto se quer entrar e você diz sim, pronto está feito, seguimos o destino, os desígnios dos antigos deuses. Os dados foram lançados.

 


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