Vila Baunilha escrita por Metal_Will
Notas iniciais do capítulo
Vamos ver como essa peça termina
Anne entrou em cena em seu vestido de princesa acompanhada da clássica valsa da Bela Adormecida de Tchaikovsky (*). Sim, Ema fez questão de caprichar na equipe de sonoplastia.
—Que linda manhã para um passeio - disse Anne, tentando fazer o melhor que podia com suas falas - Oh, o que é isso? Essa é uma parte do palácio que não conheço.
—Aurora, curiosa como era, resolveu entrar naquela parte mais afastada do palácio para ver o que encontrava lá - prosseguia a narração - Acabou achando a entrada para uma torre que nunca tinha visitado em seus quinze anos de vida morando ali. Cada vez mais curiosa, Aurora subiu a torre e…
As cortinas se fecham por alguns instantes e, pouco tempo depois, se abrem, mostrando Anne (no papel de Aurora) e Ema (com uma capa disfarçando sua identidade de Malévola). A bruxa, disfarçada, trabalhava em uma roca de fiar.
—Oh, quem está aí? - disse Ema, imitando uma voz idosa.
—Com licença? - falou Anne - Quem é a senhora? Acho que nunca a vi aqui no palácio…
—Ah, não ligue para mim. Sou apenas uma velha a fiar - falou Ema.
—Fiar?
—Sim, não está vendo minha roca de fiar? - respondeu Ema, girando o aparelho.
—Sinto muito - respondeu Anne educadamente - Nunca vi algo como isso antes.
—Acontece que, por prevenção, o rei mandou queimar todas as rocas de fiar do reino. Mas Malévola não se esqueceu de sua vingança e estava determinada a fazer Aurora pagar pela ofensa de seus pais - seguiu a narração.
—Oh, mesmo? Gostaria de ver como ela funciona? - perguntou Ema.
—Posso?
—Claro. Chegue mais perto, minha querida…
Anne se aproximou e tocou a roca, mas a tocou bem na agulha, espantando o dedo. Anne finge um desmaio e cai no chão adormecida. Ema tirou seu disfarce e gargalhou maldosamente.
—Finalmente! Finalmente minha vingança se cumpriu! É uma pena que aquela fada intrometida tenha reduzido minha maldição, mas agora você ficará aí, dormindo para sempre!
E ela sai de cena. Sua interpretação faz Samanta se empolgar novamente.
—Gente! Que vilã! - falou ela.
—Você gostou mesmo, né? - comentou Briana.
—Ah, é...é uma excelente atriz - concordou ela.
Depois disso, a próxima cena mostra os demais habitantes do palácio caindo no sono também. A maldição duraria enquanto a princesa permanecesse dormindo, com anos e anos se passando.
—É, acho que não tem mais nada para fazer agora - disse Luís, preferindo deixar o local para não ter que ver qualquer cena de beijo. Antes que pudesse fazê-lo, alguém o puxou com força para um canto do camarim improvisado que a equipe tinha feito atrás do cenário.
—Lu-Lu-Luís - gaguejou Samara.
—Você? - estranhou o garoto.
—Você vai mesmo deixar isso acontecer? - falou ela.
—Isso o quê, menina? Tá maluca, é?
—O beijo! O Luciano é o príncipe, não é? Pelo que eu lembro dessa história, a princesa é despertada com um beijo!
—Isso não me agrada nem um pouco - disse ele - Mas não tem nada que eu possa fazer. Pelo menos eles nunca se beijaram nos ensaios.
—E se isso for o estopim para os dois se gostarem? Quer mesmo que a sua Anne fique com o Luciano?
—Isso nunca! - ralhou Luís - Mas...o que nós podemos fazer? A peça já tá rolando!
—Só se…- Samara observou que havia algumas peças de figurino por ali - Acho que podemos mudar o rumo dessa peça.
A próxima cena se iniciou com a narração mostrando o príncipe vindo de um local distante.
—Muitos e muitos anos se passaram, quando um príncipe viajante apareceu no horizonte, montado em seu cavalo.
Na verdade, era só Luciano, com a fantasia de príncipe que arranjaram, montado em um cavalo de brinquedo.
—Essa missão de reconhecimento sempre me traz aos piores lugares - disse ele - O que é isso agora?
Luciano colocou a mão na testa como se estivesse observando algo de longe e falou:
—É um castelo ali ao longe? Nunca ouvi falar de um reino por essas bandas…
E continuou cavalgando até se aproximar do vilarejo.
—O príncipe entrou na cidade e viu todos dormindo. Em todo lugar que entrava, só havia pessoas adormecidas - essa foi a narração.
—Isso é estranho...todos estão dormindo. E o castelo? Será que alguém de lá poderia me dizer alguma coisa?
Ele se aproximou do palácio e após uma transição de cena, encontrou a entrada coberta de plantas espinhentas gigantes.
—O que é isso? - falou o príncipe - Não dá para entrar com esses espinhos. Como é que isso cresceu tanto? Faz muito tempo que não dão uma aparada nesse jardim...
O público riu.
—Isso estava no roteiro? - comentou Ema consigo mesma, olhando para o script - Não exagera no improviso, vai. Só segue logo para a cena do beijo.
Nisso, um rugido alto é dado. Uma figura desengonçada aparece diante de Luciano.
—Ei, o que é isso?! - estranhou ele, meio que caindo para trás.
Seja lá quem for que estivesse dentro da fantasia, era uma fantasia que lembrava um dragão. E parecia um dragão falante.
—Você não vai passar daqui! - disse o dragão - Sou o dragão protetor do castelo. Todos os invasores devem morrer!
—Dragão? Isso tava no roteiro? - perguntou Luciano.
—A peça vai terminar aqui! - falou o "dragão". Aparentemente, a ideia era dar um fim mais trágico ao conto.
Nisso, atrás das cortinas, Anne estava confusa.
—Ema! O que tá acontecendo? - perguntou ela.
—E eu sei lá? Não tinha dragão nenhum nessa história! - falou ela - Quem é que tá estragando a peça, heim?
—Parece divertido - comentou Ian - Alguém não quer deixar o Luciano entrar.
—Maneiro, aí - falou Carioca.
—Gente, cadê o Luís? - perguntou Kelly.
—Ah, só pode ser ele - disse Anne - Pela voz…
—Ah, não! Não vou deixar que estraguem a minha peça! - disse Ema, furiosa.
—Nossa peça, Ema - corrigiu Anne.
—Que seja!
Enquanto isso, o dragão continuava apavorando Luciano (pelo menos, era a imagem passada para a plateia).
—Você não é muito leve, não - disse Samara, baixinho.
—Se você não fosse um bicho do mato, poderia ficar em cima - disse Luís, no mesmo tom - Quer trocar?
—Nunca. Não aguentaria isso - disse ela, ficando vermelha só de imaginar atuando.
—E agora? O que eu faço? - perguntou Luciano.
—Parem! - disse Ema, entrando em cena - Parem tudo!
—Ah, finalmente. Diz aí o que eu devo fazer? - perguntou Luciano.
—Eu...encontrei o convite! Encontrei o convite para a festa da princesa! - falou Ema, improvisando - O correio jogou por baixo da porta e acabou entrando embaixo do meu tapete. Encontrei hoje quando fui fazer a faxina. Minha vingança não faz mais sentido! Príncipe, entre nessa torre, dê um beijo na princesa e se case com ela!
—O quê?! - indagou Luciano - Isso tava no roteiro…
—Já foi tudo para o vinagre mesmo - falou Ema, baixinho - Só colabora, vai?
—Nada disso! - disse Luís, interpretando o dragão - Para entrar, você ainda precisa passar por mim.
—Eu, como a poderosa bruxa que controla todas as criaturas do mal, jogo meu poder mágico no dragão e desapareço com ele! - disse Ema.
—Só que...eu sou um dragão mágico de outro planeta que é imune aos seus poderes mágicos! - falou Luís.
—Quer mesmo entrar numa briga de interpretação comigo? - falou Ema, baixinho - Tá legal! Eu invoco todos os poderes mágicos do universo de todos os planetas, de todos os universos e sumo com você daqui.
—Eu...eu… - Luís estava sem resposta.
—Acho que agora ela te pegou, Luís - falou Samara, lutando para manter Luís em cima dos seus ombros ali dentro da fantasia.
—Fica quieta! - disse Luís.
—Quieta? Então tem mais alguém com você? - perguntou Ema - Vamos ver logo quem está por trás disso!
—Corre! - falou Luís, iniciando uma perseguição da bruxa atrás do dragão. Não demorou muito para Samanta tropeçar e, com isso, a dupla cair no chão, revelando quem estava por trás do monstro.
O público caiu na risada.
—Que peça divertida! - comentou Vera, a primeira-dama - Por que não falaram que era uma versão de comédia da Bela Adormecida.
—Sim, muito divertida mesmo - disse o prefeito.
—O que aconteceu com a vilã? - lamentou Samanta.
—O que será que vai acontecer agora? - perguntava Briana, do lado.
—Ei, cadê a Fifi? - disse Vera, estranhando que sua cachorrinha tinha sumido - Fifi!
—Então são vocês que vieram aqui se intrometer na peça? - falou Ema, nervosa.
—Pelo menos o público gostou! - disse Luís - Mas, sim, é isso mesmo. Queríamos mudar o roteiro para a Aurora não ser despertada!
—Mas, gente, ele não era a fada? - perguntou Cíntia para Samanta e Briana.
—Não tô entendendo mais nada.
De volta ao palco...
—D-D-D-Desculpe - foi tudo que Samara conseguiu dizer.
Mas antes que Ema pudesse dar uma bronca, Fifi, a poodle de Vera, invadiu o palco atrás de Luís (pelo visto, ela ainda lembrava dele como o invasor da casa do prefeito).
—Ah, não, você de novo, não! - falou Luís. O pobre garoto saiu correndo, deixando Samanta para trás.
—Fifi! Fifi, meu amor! - disse Vera - Cuidado para não se machucar! Fifi!
Não é bem a cachorrinha que corre risco de se machucar nisso, primeira-dama.
—Eu...eu...eu fui obrigada a fazer tudo isso! Perdão! - falou Samara que, a essa altura, já estava mais vermelha do que pimentão.
—Finalmente! Agora você está livre, príncipe - disse Ema. Ela fez um sinal para as cortinas de fecharem e chamou Anne.
—Agora é só vocês fazerem a última cena. O resto do roteiro continua igual. Boa sorte!
—Essa peça já não foi para o vinagre mesmo? - perguntou Anne.
—Só façam a cena logo! - Ema deu o sinal e a cortina se abriu. Anne apenas se jogou no chão, fingindo estar dormindo. Agora era só Luciano como personagem com falas na cena.
“Finalmente, chegou a hora”, pensava Abílio, louco para ver a cena do beijo.
—O príncipe finalmente chegou ao local em que a princesa estava - seguiu a narração - Ele tinha ouvido falar da lenda de uma princesa que só poderia ser despertada com um beijo e agora ela estava ali, bem diante dele. Só restava...beijá-la.
—Essa é a princesa? É mesmo uma bela donzela - disse Luciano, tentando se lembrar da cena.
—Agora é só beijar - falou Ema.
Nisso, Anne, ainda deitada, se vira de costas para a plateia e Luciano se aproxima dela. Ele faz como se desse um beijo nela e, assim, Anne desperta. “Como se desse”, pois Luciano não beijo de verdade. Só aproximou o rosto da garota, mas, como a plateia não podia ver, pois Anne estava virada de costas para o público, ficou parecendo com um. Abílio não se convenceu muito.
—Espera. Isso foi um beijo? Não deu para ver nada! - reclamou ele.
—Agora já é tarde - comentou Antenor.
“Espero que ele tenha mesmo beijado!”, pensou Abílio.
Ema, por outro lado, estava boquiaberta. Mesmo assim, a peça continuou. A princesa acordou, se apaixonou pelo príncipe e, como disse a narração.
—Todos viveram felizes para sempre. Fim.
As cortinas se fecharam.
—O que vocês fizeram?! - ralhou Ema - Aquilo não foi um beijo de verdade! Deu pra ver tudo daqui!
—Mas nunca foi para ser um beijo de verdade - disse Anne - É só atuação, não?
—B-Bem, isso é, mas…
—Além disso, Ema, eu estava dormindo e não morta ou desmaiada. Eu era a Bela Adormecida, então dormi do jeito que eu durmo e, sabe, eu me mexo demais quando durmo. Só fui realista. Em nenhum momento foi dito que a Bela Adormecida não podia se mexer enquanto dormia.
—Caraca, que plot twist fora do plot - comentou Carioca.
Isso foi o que Luciano e Anne combinaram antes da peça começar, mas não comentaram nada com Ema. Não foi dessa vez que o casal shippado pela casamenteira da cidade daria um beijo em público.
Assim também terminou a feira cultural da escola. Mais tarde, já em sua casa, Luciano fazia de tudo para escapar das perguntas do seu pai.
—E então? Quando vocês vão assumir o namoro? Heim? - insistia Abílio.
—Me erra, pai - disse Luciano, enquanto pegava um copo de suco na geladeira - Foi só um beijo de peça. Se fosse assim, todo ator se casaria com a atriz que beijasse na novela ou no filme.
—Deixa de ser lerdo, Luciano! - falava Abílio - Aproveita essa aproximação e leva esse romance para a frente.
—Não vou ouvir mais nada! - foi o que Luciano disse antes de subir para o quarto e fechar a porta.
“Se bem que...na hora que eu aproximei meu rosto do dela...bem que eu queria beijar de verdade”, pensou Luciano.
Pelo visto, a relação entre Luciano e Anne está começando a mudar de rumo. O que o futuro reserva para esses dois?
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(*) A música é essa aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=2Sb8WCPjPDs
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Bem, isso é o que saberemos nos próximos capítulos, mas eles vão demorar um pouquinho para sair.
A razão é que preciso pensar nos rumos da história e elaborar o roteiro, então vou dar uma pausa nas publicações semanais. Já tenho coisas na cabeça, mas preciso organizar.
Sendo assim, encerro a segunda temporada da fic por aqui. Espero retornar logo com a terceira e, espero que continue acompanhando.
Até! :)