Vila Baunilha escrita por Metal_Will


Capítulo 19
Médicos e ursos




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Após receber uma bolada na partida de queimada da escola, Anne parecia desmaiada no chão. A professora correu para socorrê-la.

—Anne, você está bem? - disse ela.

Mas a professora não foi a única a sair correndo para atender a garota. Ian e Luís se dirigiram até Anne em uma velocidade praticamente supersônica.

—Anne! Minha querida! - Ian parecia desesperado - Desmaiada assim...acho que só tem uma solução para isso. Despertá-la com um beijo.

Ian estava quase beijando a garota, até ser empurrado por Luís.

—Deixa de ser imbecil! Isso aqui não é um conto de fadas! Seja realista! - disse Luís.

Naquele momento, todos admiraram a sensatez do garoto.

—É óbvio que ela precisa de respiração boca a boca. Deixem isso comigo! - prosseguiu Luís.

Naquele momento, todos se arrependeram da admiração do momento anterior.

—Deixem isso para o responsável, tá bom? - disse a professora, afastando os meninos e pegando Anne em seus braços - Ei, Anne. Acorde.

Aos poucos, Anne foi acordando. Não parece ter sido nada grave.

—Graças a Deus - disse Kelly, aliviada.

—Você está bem, querida? - perguntou a professora.

—Eu…

Mas antes de completar sua frase, Ian a interrompeu.

—Não me diga que perdeu a memória? - disse ele - Não se preocupe, estou aqui para lembrá-la de tudo. Meu nome é Ian, sou seu namorado e…

—Que namorado o quê? Não viaja! - reclamou Anne.

—Que bom. Sem amnésia - disse Kelly.

—Pois é - disse Ian, por um lado feliz por ela estar bem, por outro chateado por ela se lembrar de tanta coisa que ele não gostaria.

—Você recebeu uma bolada e tanto - disse a professora.

—A culpa foi minha - disse Ema - Não devia ter jogado tão forte.

—Imagina - disse Anne - Fui eu que falei para você não pegar leve.

—Mas ainda estou me sentindo culpada - continuou Ema - Para me redimir, vou pedir para o Luciano levá-la à enfermaria.

—Eu? - reclamou Luciano.

—Sim. É a sua chance - disse Ema, embora essa última parte ela tenha dito bem baixinho.

—Foi você quem jogou a bola, sua doida - respondeu ele.

—É, mas o capitão do time é você. Se tivesse me orientado a não jogar a bola forte nada disso teria acontecido - respondeu Ema.

—Agora a culpa é minha? - reclamou Luciano.

Anne começou a se levantar.

—Já falei que tô bem - disse Anne - Não precisa se preocupar com nada, não. Vamos voltar a jogar.

—Nada disso - retrucou a professora - A Ema tem razão. Você pode ter machucado alguma coisa na cabeça. É melhor dar um pulo na enfermaria. Vamos terminar a aula mais cedo, é o último tempo mesmo. Kelly, você leva a Anne na enfermaria?

—Claro, professora - disse Kelly, prontamente.

—Ótimo. Vou assinar uma autorização. Só um minuto.

A autorização era para Kelly e Anne saírem da escola. Na verdade, a enfermaria não ficava dentro dos muros do colégio.

—A enfermaria não fica na escola? - perguntou Anne.

—Não, mas é perto. Fica a uns dois quarteirões daqui - respondeu Kelly - É na unidade de saúde da cidade. Meus pais trabalham lá.

—Sério? - disse Anne - Você falou que seu pai é médico, né?

—Sim - respondeu Kelly - E minha mãe é enfermeira, lá.

Uma família ligada à área de saúde. Para alguém interessada em se tornar médica, seria uma boa oportunidade para Anne, embora ela não gostasse muito de ser paciente. Ao chegarem no posto, logo Kelly conseguiu uma consulta com o pai.

—Pronto. Vamos lá?

—Mas já? - perguntou Anne - Já vamos ser atendidas?

—Sim - respondeu Kelly - Por que o espanto?

—Que diferença da minha cidade. Lá, até em hospitais particulares tem um monte de gente na fila - comentou Anne.

—Ah, aqui depende muito do horário e do dia - falou Kelly - Muita gente gosta de se consultar em hospitais maiores nas cidades próximas, mas probleminhas simples a gente consegue resolver aqui.

—Então, tá…

Finalmente Anne iria conhecer o pai de Kelly, mas, qual foi a surpresa dela, quando ela viu algo bem inesperado ali.

—Ai, meu Deus! O que é isso?! - disse Anne, quase caindo para trás e desmaiando de novo.

Um enorme urso pardo estava na sala do médico.

—O que foi, Anne? Ah, puxa, esqueci de falar - disse Kelly.

O urso acenou para Kelly. Ela, por sua vez, acenou de volta.

—Oi, Amadeu. Meu pai está?

O urso fez que sim com a cabeça e foi chamá-lo. Era isso mesmo? Tinha um urso ali?

—O que esse urso tá fazendo aqui, Kelly? - falou Anne, apavorada com a situação.

—Não precisa ter medo. Ele trabalha com o meu pai há anos.

—Trabalha? Um urso trabalhando aqui? Como? Para começar, nem temos ursos nessa região!

—Na verdade, ele era de um zoológico de uma cidade aqui perto. Mas um dia ele fugiu e acabou vindo parar aqui. Como ele era mansinho e muito inteligente, o pessoal da cidade se apegou a ele e o prefeito resolveu adotá-lo como cidadão honorário. Não se preocupe. Temos autorização dos órgãos responsáveis. Ele também é muito preocupado com limpeza. Esse lugar é mais desinfetado do que se um humano estivesse trabalhando aqui.

“Como ela me fala isso com tanta naturalidade?”, pensou Anne. Mas, de fato, o posto estava bem limpo.

—Sei o que está pensando - disse Kelly - Mas não se preocupe. Ele trabalha aqui por que gosta. Nem cobra salário. Ele também dorme em qualquer lugar, então não precisamos nos preocupar em arranjar uma casa fixa para ele. Podemos dizer que a cidade é a casa dele.

“Não era bem isso que eu tava pensando”, pensou Anne.

Nisso, o pai de Kelly finalmente apareceu. Parecia uma pessoa sorridente. Não era muito magro, mas parecia forte. Também era negro, como a filha.

—Oi, pai - falou Kelly.

—Oi, filha. Não devia estar na escola? - falou ele - Já sei. Matou aula para vir me ver, né?

E ele riu. Kelly apenas sorriu. Anne só reparou que ele era muito bem-humorado.

—Na verdade, a professora me pediu para dar uma olhada na minha amiga aqui.

—Oi - cumprimentou Anne, ainda meio receosa com Amadeu. O urso apenas limpava os armários com o pano.

—Ah, você é a Anne, a menina nova. Minha filha fala muito de você - disse ele - Prazer. Sou o Renato, médico chefe daqui. Ah, e sou pai da Kelly nas horas vagas.

Disse isso e, depois, deu uma grande gargalhada. Anne não sabia bem como reagir.

—É brincadeira, é brincadeira - disse Dr. Renato - E aí? Gostou de nosso assistente, o Amadeu?

—É...bem diferente - disse Anne - Um urso auxiliar de limpeza não é algo que se vê todo dia.

—É um urso excepcional - falou Dr. Renato - Mas todo mundo aqui o adora. Acho que vocês serão bons amigos.

—Renato - disse uma mulher de avental entrando na sala - Trouxe uma relação de remédios que estão em falta na farmácia do posto, pode dar uma olhada?

—Oi, querida - disse ele - Nossa filha trouxe uma amiga para nos visitar.

—Visitar? Você não devia estar na aula, mocinha? - perguntou ela.

—Anne, essa é a minha mãe, Edna. Enfermeira chefe daqui - disse Kelly. De fato, era uma mulher bem parecida com Kelly.

—E então? Estão matando aula na cara dura mesmo? - voltou a perguntar Edna.

—Calma, mãe. É que a Anne teve um acidente e a professora pediu para trazê-la aqui.

—Ah, essa é a Anne, da nova família que se mudou para a cidade? - perguntou Edna, já mudando seu humor para melhor - Nossa. Estamos muito querendo visitar o restaurante novo.

—Serão muito bem-vindos - disse Anne.

—Aliás, ela quer fazer medicina - disse Kelly.

—Sério? - disse Renato - Que ótimo! Pode perguntar qualquer coisa. Vou adorar ajudá-la!

—Mas não acha que precisamos examinar a menina primeiro? Foi para isso que ela veio aqui, não? - retrucou a esposa.

—Estou me sentindo bem - disse Anne - É sério!

—Lição número um, garota - disse Renato - Pacientes não sabem de nada. É o médico que vai dizer se você está bem ou não.

—T-Tá - concordou Anne.

—O que foi? Achou que eu fiquei bravo? Fala que sim, vai.

Anne não sabia muito bem como responder.

—Bom, eu…

—É brincadeira - respondeu o médico, antes que Anne terminasse - Vai, vamos examinar rapidinho a sua cabeça.

No fim das contas, não era mesmo nada grave. Depois de uma conversa animada (mais da parte do pai de Kelly do que das meninas ou da esposa dele), as garotas saíram do posto. Como já haviam levado suas mochilas, Anne foi direto para o restaurante depois que se despediu da amiga.

—Sério? Um urso no posto de saúde? Que demais! - disse Antenor, enquanto preparava o almoço.

—Você tá rindo porque não levou o susto que levei - disse Anne, enquanto descansava um pouco no banquinho da cozinha.

—Realmente, nos mudamos para uma cidade e tanto, heim? Até urso é cidadão honorário - falou Antenor, rindo.

—Anne! - gritou a mãe dela - Dá para deixar de preguiça e vir ajudar aqui no atendimento?

—Ai, já vou - retrucou a garota.

Assim que saiu, deu de cara com Kelly, seus pais e Amadeu.

—Oi, Anne - disse Kelly - Meus pais fizeram questão de almoçar aqui hoje.

—Trouxemos até o Amadeu com a gente - disse Renato - Espero que vocês tenham bastante comida, porque ele come como um urso!

Para variar, Renato riu da própria piada.

“Acho que não dá para ficar mais estranho”, pensou a garota.

—Deixa de moleza, Anne - disse a mãe dela - Vá perguntar se os clientes querem beber alguma coisa.

—Mãe. Um deles é um urso - falou a garota.

—Deixa de desculpas e vai logo trabalhar! - reclamou ela - Você fica se apegando a cada detalhe.

“Será que um dia vou me acostumar com essa cidade?”, pensou ela. Bem, vamos ver.


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Notas finais do capítulo

E a lista de personagens continua aumentando. Essa cidade ainda tem muita coisa para ver.

Espero que continue acompanhando. Até! :)



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