Luciano tomou a pílula do amor que Luís inventou que, em tese, deveria fazê-lo se apaixonar pela primeira pessoa que visse. Na prática, funcionou. Só que Samara pensava que essa pessoa fosse ela e não a dona Cleide.

—Por favor, dona Cleide - insistia Luciano - Como vou viver sem a senhora?

—Já não acha que a brincadeira foi longe demais, moleque? - reclamou a velhinha - Já perdeu a graça.

—Acha que meus sentimentos são brincadeira? - reclamou Luciano - Vou pegar meu violão e mostrar meus sentimentos pela música e…

—Não! - impediu Luís, segurando Luciano - Por favor, nos poupe disso.

—Luís? - estranhou Luciano - O que está fazendo aqui?

—Você tem certeza do que sente, Luciano? - perguntou ele.

—É claro que sim! - falou Luciano, abraçando dona Cleide - Dona Cleide é o amor da minha vida e nada pode mudar isso!

—Parece que não tem mais jeito - disse Luís, suspirando - Bom, eu fiz o que pude.

—É assim? - reclamou Samara - Vai deixar o Luciano desse jeito?

—Bem, não há que posso fazer. Se parar pra pensar a culpa foi sua, Samara.

—Minha? - Samara estava pasma - Agora a culpa é minha?

—Se você tivesse garantido ser a primeira pessoa que o Luciano visse, evitaria isso.

—Do que vocês estão falando? - perguntou dona Cleide.

—Luciano tomou um pílula que inventei - explicou Luís - Ele faz a pessoa se apaixonar pela primeira pessoa do sexo oposto que vê.

—Então ele se apaixonou por mim por causa dessa coisa? - reclamou dona Cleide - Trate de fazer ele voltar ao normal, já!

—Mas eu não tenho ideia e…

—Acha que vou ficar aguentando esse grudento aqui.

—Dona Cleide, a senhora é minha paixão e… - de repente, Luciano mudou seu olhar e arregalou os olhos. Ele se afastou imediatamente de dona Cleide - Ai, meu Pai amado! Que que é isso?

—O que é isso? Você que tava me abraçando, seu atrevido.

—Eu? Abraçando? Como assim? - estranhou Luciano - Luís! Dá pra explicar?

—E-Ele...ele voltou ao normal? - falou Samara sorrindo.

—É, parece que sim - falou Luís, pensativo com a mão no queixo - O efeito da pílula só dura uns três minutos. Preciso anotar isso.

—Pílula? O que diabos vocês me fizeram tomar? - reclamou Luciano.

—Se acalma, Luciano. Você ajudou no desenvolvimento da ciência. Graças a você, agora sei que a composição da minha fórmula só dura três minutos.

—Do que você tá falando? - Luciano estava sem entender nada.

—Mais detalhes são informações confidenciais - disse Luís - Vem, Samara. Vamos voltar para o laboratório.

Luís e Samara saem de cena, deixando Luciano sem entender nada.

—A senhora entendeu alguma coisa? - perguntou Luciano.

—Não me importa! - disse dona Cleide - Só quero o meu café e meu pão na chapa. Você quer deixar uma pobre idosa morrendo de fome?

Enquanto Luciano voltou ao seu trabalho de atendente da lanchonete, Luís e Samara retornaram ao laboratório de garagem na casa de Luís.

—Você já sabe o que fazer? - perguntou Samara.

—Claro - disse Luís - Ter usado a pílula no Luciano foi mesmo muito útil. Com os dados que tenho, posso mudar a fórmula e fazer a pílula durar mais tempo.

—Tem como fazer isso? - perguntou a garota.

—Agora mesmo - falou ele - Meu computador já calculou as variáveis e já alterou a fórmula. Agora é só processar algumas novas pílulas e…

Após alguns instantes de processamento com os equipamentos fora do normal do laboratório de Luís tínhamos em mãos três pílulas novinhas em folha.

—Pronto - disse ele - Essas pílulas durarão mais tempo.

—Quanto tempo? - indagou Samara.

—Vejamos… - Luís colocou mais alguns dados no computador e logo teve um resultado - Um dia. Essas novas pílulas podem fazer a pessoa ficar perdidamente apaixonada por um dia inteiro. É mais do que suficiente para conquistar alguém, não acha?

—Então, vamos testar isso no Luciano? - perguntou Samara.

—Espero que você não falhe agora! - reclamou Luís.

—Claro que não! Dessa vez ele vai se apaixonar perdidamente por mim assim que me ver - disse Samara.

—Isso é muito interessante - disse uma voz na janela.

—Não é? Sou mesmo um gênio! - disse Luís, até perceber quem estava na janela da garagem - O quê? Ema?

—Oi - disse Ema que, por acaso, passava na frente da casa de Luís justamente no momento em que eles estavam conversando sobre as pílulas - Se ouvi direito...você criou uma pílula que deixa outra pessoa apaixonada.

—Não se meta nisso - disse Luís - As pílulas são minhas. Você não vai colocar as mãos nelas.

—Como você é mal, Luís! - reclamou Ema - Ei, Samara, né? Você está com as pílulas, não está? Posso vê-las?

—E-E-E… - Samara tinha muita dificuldade de falar com pessoas que não tinha muita intimidade.

—Ah, você é um anjo - falou Ema, aproveitando que Samara estava muito perto da janela e já pegando as pílulas da mão dela - Nossa, que pequenininhas. E funciona mesmo? Ora, claro que funciona, vocês falaram “dessa vez”. Sinal de que já testaram, né?

—Devolve isso - disse Luís - Isso não tem nada a ver com você!

—Se o problema é esse, eu compro - disse Ema - É só falar seu preço.

—Não estão à venda! - retrucou Luís.

—Dois mil reais? Três mil? Tá bom, cinco mil? Dinheiro não é problema.

Deve ser muito legal ser rico, né?

—Como se eu não soubesse o que você vai fazer! Vai usar essa pílula para juntar o Luciano com a Anne, não é?

—Não! Isso não! - falou Samara.

—O quê? O que foi, Samara? - disse Ema - Vai me dizer que você gosta do Luciano?

—Bem...eu...eu…

—Que fofa - disse Ema - Mas o Luciano já gosta da Anne. Sinto muito. Prometo que encontro alguém especial pra você, tá?

—Mas, eu…

—Por que estamos parados, Samara? - falou Luís - Precisamos pegar nossa pílulas de volta.

Luís correu em direção da janela, mas Ema, obviamente, era bem mais atlética e conseguiu se desviar.

—Que pena, Luís - disse Ema - Se você treinasse mais o corpo em vez de só pensar em ciência o dia todo, talvez tivesse uma chance de me pegar.

—Sua… - mas antes que Luís falasse algo, Ema já saiu correndo e rindo.

—E agora, Luís? - perguntou Samara.

—Você ainda pergunta? Vamos atrás daquela ladra.

—Bem, ela quis pagar, não quis? 

—Não importa! Vamos resgatar nossas pílulas antes que aquela maluca faça uma bobagem!

—Você acha mesmo que ela usaria para juntar o Luciano com a Anne em vez de usar para benefício próprio? - perguntou Samara.

—Você não conhece mesmo a Ema - disse Luís - Quando ela fica obcecada por um casal, ela não descansa enquanto não junta os dois. É como se a vida dela dependesse disso.

“Isso é doentio”, pensou Samara.

—Vem logo! - reclamou Luís - Não temos muito tempo!

Será que eles podem mesmo fazer algo para impedir?