Can't help falling in love escrita por Beca


Capítulo 4
Take my hand, take my whole life too


Notas iniciais do capítulo

O último ♥



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Março de 1970

 

Segurando uma tigela de porcelana enquanto mastigava o cereal Frosty O's, o seu predileto por ser um dos poucos que não eram entupidos de açúcar, Sasuke fitava Naruto tentando arrumar o cabelo com ajuda do espelho redondo na parede da sala. Naruto mexia nos fios loiros na tentativa de deixá-los menos rebeldes. Sasuke apenas se divertia ao testemunhar as falhas tentativas de êxito do rapaz.

“Sabe que nunca irá conseguir, seu cabelo é tão escandaloso quanto você.”

“Não me amola, seu imbecil. Devia estar tentando me ajudar ao invés de ficar só olhando.” rebateu Naruto, emburrado.

“E por que te ajudaria? Já disse que gosto dele assim.”

Naruto suspirou, reconhecendo a derrota e se virando para olhar Sasuke encostado na mesa da cozinha.

“Porque veio aqui em casa hoje todo arrumado? Isso tudo apenas para me ver?” instigou Sasuke.

Naruto estava com mais uma de suas incontáveis camisas laranjas, calças jeans de um tom verde escuro e tênis All Star. Sem contar que usava um perfume novo.

“Vim convidar meu namorado para irmos ao cinema ao ar livre.” sorriu travesso.

Duas semanas após o Festival Woodstock, Sasuke pediu o amigo em namoro. Sim, nem ele mesmo acreditara na dose de coragem que tomou, mas achou justo, já que fora Naruto quem o beijara primeiro, decidiu que seria ele quem o pediria em namoro. Teria feito a proposta antes, se Naruto não tivesse partido em viagem para a casa do padrinho em outro estado, no dia seguinte ao festival.

Quando estavam voltando juntos da escola, Sasuke perguntou e Naruto aceitou. Não trocaram beijos, estavam em público, apenas deram um rápido abraço e continuaram o caminho.

Entraram no consenso de namorarem escondidos. As pessoas repudiavam relacionamentos entre duas pessoas do mesmo sexo. A homossexualidade era recebida com humilhações, espancamentos e até mortes. O melhor seria esconder esse relacionamento da sociedade retrógrada, pelo menos até irem para a faculdade. Desde então, quando queriam trocar carinhos, se esgueiravam para algum lugar seguro, longe de olhares da população, - o que era muito difícil, cidade pequena não há muita coisa que alguém faz sem o conhecimento dos habitantes.

Sasuke torceu a boca em um sorriso ladinho. Seis meses de namoro e por vezes ainda não acreditava no que estava acontecendo em sua vida. Sempre que o loiro se referia a ele como 'namorado', causava-lhe arrepios na espinha.

Levou uma última colherada de cereal à boca, mastigou e engoliu levando a tigela para a pia. Era observado por um Naruto atento a cada movimento. Sasuke sabia o que ele estava ansiando por fazer. Tomou uma água é foi até Naruto, parando à poucos centímetros de distância. Levou a mão direita à esquerda de Naruto e entrelaçou seus dedos suavemente. Queria apenas tocá-lo, não podiam fazer muita coisa dentro da casa. 

Naruto deteu os olhos em seus dedos entrelaçados, depois levantou a vista para olhar seu namorado nos olhos. Movimentou a mão direita até o rosto de Sasuke e acariciou a maçã de seu rosto com o polegar.

Sasuke inclinou levemente a cabeça para o lado, apreciando o toque. Sentiu puxando-o para mais perto.

“Naruto, se não queremos que nos descubram, não devemos nos beijar aqui, na sala de casa.” advertiu com a voz baixa.

“Seus pais estão aqui?” indagou, ainda contornado o rosto de Sasuke com os dedos.

“Não, mas papai chegará a qualquer momento do trabalho, e mamãe está na casa vizinha, a qualquer momento irromperá por aquela porta.”

“Tsc, ninguém vai chegar. Vem cá.” e colou suas bocas gentilmente.

Sasuke adorava beijar Naruto. Sempre lhe causava arrepios e borboletas no estômago. Tinha gosto de felicidade.

O beijo começou num ritmo calmo. Relaxante como a visão do nascer do sol na praia. As línguas se tocavam e se massageavam lentamente. Foram aprofundando, até começar a esquentar, como se estivessem se aproximando da borda de um vulcão prestes a entrar em erupção. Ainda não haviam transado e tinham muita vontade, cada fagulha poderia começar um incêndio incontrolável.

Estava intenso e quase desesperado. Uma mão de Naruto bagunçava os cabelos negros de Sasuke, a outra apertava sua bunda. Sasuke não ficava atrás. As mãos passando por baixo da camisa do loiro deixando um rastro quente de desejo.

Quando Naruto ameaçou pôr a mão dentro da calça de Sasuke, ouviram um barulho e a porta se abrindo. Se afastaram bruscamente, atentos.

“Oh. Olá!” Itachi observou os dois, surpreso, passando os olhos de um à outro, absorvendo os detalhes da cena.

Sasuke estava totalmente ciente da situação. Naruto e ele ‘meio' bagunçados, com os lábios vermelhos e inchados dos minutos de beijo. Itachi não é burro.

“O que faz aqui, Itachi? Não devia estar na faculdade?” se encontrava nervoso e temeroso, sim, mas tinha que agir como se nada estivesse acontecendo.

“Enviei uma carta para mamãe, avisando que viria hoje e passar o fim de semana.” informou, tirando a boina e pondo a bolsa que trazia na cadeira próxima. “Ela não comentou com você?”

“Claro, eu... só não me recordei.” de fato, Mikoto o avisara semana passada, mas Sasuke claramente esquecera.

“Olá, Itachi! Quanto tempo!” Naruto se pronunciou, fazendo os irmãos desviarem da conversa para lembrarem que havia mais uma pessoa no ambiente.

“Oi, Naruto. Como estão você e sua mãe?” e estendeu o braço para apertar a mão de Naruto estendida.

“Estamos muito bem.”

Sasuke percebeu pelos gestos do loiro, a mão coçando os cabelos da nuca e os pés não paravam quietos, que o namorado estava tão nervoso quanto ele.

“O Naruto veio me chamar para passar uma noite agradável junto de nossos amigos.” 

“Sim. Isso. Vim buscá-lo para sair com o pessoal. É isso mesmo.” Naruto estava visivelmente aturdido.

Precisavam sair logo dali.

“Então, vamos.” Sasuke puxou Naruto pelo braço indo em direção à porta. “Avise à mamãe, Itachi, por favor!” gritou fechando a porta.

Itachi não fez mais que menear a cabeça e descortinar um risinho de compreensão.

 

 

 

(...)

 

 

 

Naruto procurava a frequência AM indicada pelo funcionário do local para acompanhar o áudio do filme que começaria em instantes. Às sextas-feiras, o drive-in cinema de Somerville exibia filmes que fizeram sucesso. Naquele dia, era a vez do premiado 2001: Uma odisseia no espaço, do diretor Stanley Kubrick.

Sasuke gostou muito na primeira vez que o assistiu. Naruto achou os efeitos visuais e fotografia lindos, mas confessou que não entendeu muita coisa do longa.

“Porque escolheu o dia desse filme, que pouca gente nessa cidade gosta, inclusive você? Quase não há carros aqui.”

“Mas é justamente por ter tão pouca gente que o escolhi.” Naruto explicou, mexendo no rádio, a pontinha da língua de fora enquanto buscava a estação. “Teremos mais privacidade.”

“Você é inacreditável.” comentou, tinha que reconhecer que Naruto foi esperto.

“Será um crime eu querer ficar à sós com meu namorado por umas poucas horas?” finalmente achou a estação e se recostou no banco do carro, olhando para Sasuke.

“Hm.” foi a réplica do mais velho.

No telão mais à frente, estava sendo projetado as cenas de chimpanzés, no rádio, ouvia-se o sons característicos dos primatas ao interagir um com o outro.

Naruto o olhava com adoração e malícia, Sasuke sentia isso, mesmo estando de olho no telão.

“Sabia, Sasuke, que todas as pessoas tem um cheiro natural?” dizia, se debruçando no banco para chegar mais perto do de cabelos negros.

Sasuke retirou sua atenção do filme para virar-se para o loiro. A fraca luminescência da projeção refletindo na face de Naruto. O dourado de seus cabelos numa cor pálida devido a pouca luminosidade.

“É mesmo?” mordeu o lábio inferior.

“Aham.” Naruto aproximava o rosto esbanjando um sorriso sexy.

“E qual o meu cheiro?” tombou a cabeça levemente para o lado, dando acesso à pele alva.

Naruto deslizou o nariz pela curva do pescoço do namorado.

“Hmm... esta difícil.” e moveu a cabeça para o outro lado do pescoço, passando o nariz pelo local, provocando arrepios em Sasuke. “ Não tenho certeza do que seja mas é mais gostoso do que o aroma de pão quentinho saindo do forno.”

E Sasuke soltou uma risada, tombando a cabeça pra trás.

“Que foi?” Naruto acompanhou o riso apoiando-se na perna do companheiro. “Você fica ainda mais lindo quando ri, sabia?”

“Sim. Me disse uma vez.” dito isso, colocou a mão na nuca de Naruto e o puxou para sentir suas bocas juntas.

Um beijo calmo e doce, como águas tranquilas de uma lagoa. Cada novo beijo que trocava com Naruto era melhor que o último. Em cada beijo, aumentava o conhecimento sobre os lábios e corpo um do outro.

Sasuke havia aprendido que Naruto gostava de receber leves mordidas nos lábios; que Naruto soltava gemidos manhosos quando recebia mordidas no pescoço; que apreciava muito um beijo lento e demorado. Aprendeu também que gostava da mão de Naruto apertando sua coxa; de quando Naruto quebrava o ósculo e beijava seu rosto todo, indo para o cangote e sussurrava em seu ouvido o quanto Sasuke era lindo e o quanto estava apaixonado.

Lá fora, soprava um vento fresco de fim de inverno e início da primavera. Dentro do carro, estava tão quente quanto o verão de um país tropical. Sasuke tinha ciência de que estavam em um local público, que deviam parar e esfriar logo. Naruto estava a ponto de subir em seu colo quando ouviu batidas na traseira do carro.

Rapidamente se separaram. Era a segunda vez em apenas uma noite que eram interrompidos. Essa, normalmente, era a cota do mês. Ficou dividido entre agradecer ao universo ou amaldiçoa-lo.

“Naruto!!” Rock Lee apareceu na janela do motorista.

O loiro, sobressaltado, olhou para Lee.

“Lee! O que faz aqui?”

“Agora trabalho aqui vendendo pipoca.” apontou a bandeja com saquinhos do milho estourado. “Vai querer uma?”

“Ah... não sei... quer Sasuke?”

“Oh, oi Sasuke, não tinha o visto aí.” abriu um sorriso jovial acenando para o moreno.

Sasuke queria esganar o loiro por ter chamado atenção para si, seria melhor que Lee continuasse achando que Naruto estava só.

“Olá.” respondeu, agradecendo por a escuridão estar ocultando seu rosto vermelho.

“Não vamos querer nada, obrigado.” falou Naruto sorrindo e encerrando a conversa.

“Ok, então. Até segunda na escola!” e saiu indo bater em outro carro.

Os dois enamorados soltaram a respiração que não sabiam estar prendendo.

Sasuke passou a olhar para o filme sem realmente prestar atenção. Encarava, vidrado, uma nave espacial pousar numa estação lunar enquanto no rádio soava a música clássica da cena. Sentiu a mão de Naruto apertar seu joelho, e um sentimento de angústia se apossou de sua mente e coração. 

“Você acha que, um dia, será possível pessoas como nós andar na rua de mãos dadas como um casal normal, sem medo de ser atacados por intolerantes?”

Não era um questionamento novo em sua mente. Desde que se descobrira homossexual, por vezes, pensava nesse assunto, ainda mais agora que namorava alguém.

“Sasuke. O homem já foi até o espaço, pisou na lua, já conseguiu fazer coisas que não achavam possíveis. Um dia, você e eu vamos nos casar, e adotar crianças, quantas quisermos. Vamos entrar na luta, junto com nossos iguais, para conseguirmos nossos direitos. E se alguém tentar nos separar, em qualquer época, ‘terão que trazer uma tocha e nos expulsar com fogo, como se fôssemos raposas.’ E nem assim conseguirão.” afirmou olhando no buraco negro, que eram os olhos de Sasuke.

“Você citou Shakespeare!?” riu baixo brincando com os dedos da mão de Naruto pousada em seu joelho “Estou agradavelmente impressionado.”

“Ainda tenho muitas cartas na manga...” riu bobo, tocando com o indicador, a ponta do nariz do companheiro.

Sasuke, mesmo na penumbra do drive-in cinema, admirava com adoração os lindos contornos do rosto de seu namorado. E amava cada detalhe. Seu maxilar marcado, seu nariz com a ponta meio arredondada, os lábios levemente cheios. Pensou no quanto Naruto tem uma alma maravilhosa, gentil e encantadora, sentiu-se o mais sortudo entre os homens por tê-lo como amigo e namorado. Todo dia, apaixonava-se um pouco mais por ele. E seu interior se inflou de contentamento e amor por saber que Naruto pensava em um futuro juntos.

“Acho que te amo.” nunca havia dito 'eu te amo' para ele antes, mas concluiu que seis anos apaixonado já configura amor.

“Também acho que te amo.” foi a resposta na voz rouca de Naruto.

“Então, teremos que nos beijar infinitas vezes mais para termos certeza.”

E se inclinaram para um beijo que era, ao mesmo tempo, delicado como o desabrochar de uma flor na primavera, e arrebatador como um tornado carregando árvores e construções em seu caminho.

Do futuro não sabia, o presente se mostrava magnífico, e esperava ardentemente que o futuro não os apartasse, que seus nomes estivessem escritos no livro de coisas que eram mais que perfeitas juntas.

Que Sasuke e Naruto fossem como o sol e o calor; o mar e as ondas; o universo e a infinitude.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, essa foi minha primeira história e escrevi com todo o amor que tenho por esse casal!



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