Areias do Tempo escrita por hina dono


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

não consegui postar ontem, desculpa. mas aqui estou, com mais um capítulo.



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Era uma sensação esquisita ter milhões de pessoas chorando sua morte. Se precisasse de uma prova que o Primeiro-Ministro mentia e que ele, bem como sua prima Aya, estavam vivos, muito vivos, seria essa sensação de desconforto. Quando se está morto de verdade, você não pode ver as homenagens, sentir a tristeza no ar... Não pode sofrer com os enlutados.

Queria poder simplesmente gritar para todos que sua voz pudesse alcançar que estava vivo! Vivo e bem! Mas não podia... Isso arruinaria tudo.

Tinham um plano a seguir. Não um que ele gostasse, mas o único que conseguiram criar, às pressas, depois de descobrirem que não apenas tinham sido dados como mortos, como também correriam riscos caso se apresentassem diante de todos.

Embora agora soubessem que seu principal inimigo era o Primeiro-Ministro, não dava para ter certeza de quem estava ou não ao lado dele naquela traição. Se mostrassem seus rostos e deixassem o povo saber que estavam vivos, os traidores remanescentes poderiam muito bem atentar novamente contra suas vidas - talvez sendo até mesmo bem-sucedidos na segunda tentativa. Estavam em uma guerra afinal de contas.

Não que tivesse aceitado isso logo de início, é claro. Após ter ouvido aquele anúncio, três meses antes, quis seguir seus instintos e fazer exatamente o que disse anteriormente. Felizmente, fora impedido por Yuki, que embora na época não entendesse o que estava acontecendo, não permitiu que ele descesse do carro, desmaiando-o com um golpe. A próxima coisa que lembrava-se depois daquilo, era de ter acordado durante o caminho de volta para Edras - enquanto esteve desacordado, seus companheiros de viagem tinham decidido abortar o plano anterior por considerá-lo muito perigoso.

A volta para Edras, bem como os primeiros dias após a chegada deles tinham sido permeados por um gritante silêncio. Pelo menos no que tocava sua prima e ele. Descobriu mais tarde que enquanto ambos passavam por um prolongado estado de choque, os demais estavam focados em encontrar uma solução para aquela situação.  

Três meses haviam se passado desde então e uma solução para aquilo que enfrentavam ainda não havia sido encontrada, no entanto.

Sim, agora eles tinham um plano. Mas longe de ser uma solução mágica, o plano em andamento era apenas o início do que seria uma longa espera.

E Hitoshi já não tinha certeza se poderia esperar tanto tempo.

Koukyo estava um caos. Qualquer outro acharia tudo perfeitamente normal, mas não ele. Aquela era a sua casa, sabia perfeitamente quando ela não estava em ordem. Todavia, toda aquela movimentação incomum já era esperada. Os funcionários ficavam em polvorosa durante os preparativos para cerimônias oficiais. Principalmente se envolvesse encontros com diplomatas, como era aquele caso.

Aparentemente, a filha do presidente chinês tinha sido enviada ali para demonstrar apoio à autonomeação de Haru Shinzou como líder supremo. Depois de terem assinado um tratado de paz pouco tempo depois da "morte" do Imperador, China e Japão agora eram aliados na guerra e um movimento como aquele era esperado - tanto pelos aliados, como por eles, os inimigos.

Havia demorado um tempo considerável, mas Satoru finalmente conseguira encontrar pessoas de confiança no que agora era o território do Primeiro-Ministro. Foram essas pessoas, que não possuíam poder político algum, apenas um forte anseio por justiça, que os colocaram ali: no coração do Palácio Imperial de Tóquio. Por elas e por si mesmo, Hitoshi estava decidido a fazer aquele plano funcionar. Nem que precisasse sacrificar-se no processo.

O ponto que usava em seu ouvido estralou e logo uma voz foi ouvida:

"Waka?"

"Tsc"

Um estalar de língua para "estou ouvindo", esse era o combinado.

"Eles já estão dentro", avisou.

Hitoshi nada respondeu e Satoru não esperava que ele o fizesse - prova disso é que o ponto novamente ficou mudo após o comunicado. Não havia nada a ser dito. Agora era apenas esperar para que a parte do plano que concernia aos youkais fosse bem-sucedida. 

***

11 anos.

Haviam 11 anos e uma guerra mundial entre sua posse como Primeiro-Ministro do Japão e aquele encontro. O encontro que o consagraria de vez como o líder supremo do Japão. O que seria uma mera figura simbólica como o Imperador se comparada ao verdadeiro salvador daquela nação?

Todos aqueles anos de planos cuidadosamente elaborados finalmente estavam sendo recompensados. Até mesmo os deuses o aprovavam e a prova disso era que mesmo quando algo parecia prestes a dar errado, ele sempre conseguia recuperar o controle da situação.

Foi assim quando o Imperador Heisei, Akira Yamato, abdicou do Trono em favor de seu filho mais velho, Naoki, e este demonstrou-se deliciosamente maleável.

Foi assim quando, dois anos após a guerra ter estourado, o único que ainda permanecia fervorosamente contra a entrada do Japão na mesma, justamente aquele velho, faleceu devido a um infarto repentino.

Foi assim também quando Naoki despertou um tolo desejo em exercer sua governabilidade, intervindo em assuntos que não lhe diziam respeito, e acabou morto, junto com seu irmão e outros familiares, em um atentado, o que obrigou seu sobrinho, único Yamato homem ainda vivo, a subir ao Trono, ainda que não passasse de uma criança na época.

Parando para pensar agora, todas essas coincidências só podiam significar algo: o destino do Japão era ser governado por ele. Por qual outra razão os dois últimos herdeiros da Dinastia Yamato, sendo um deles o Imperador em atividade, invadiriam uma área proibida, conhecida por sua radioatividade e perigo iminente, obrigando-o a dá-los como mortos após um sumiço de quinze dias?

Sorriu, olhando para sua imagem no espelho. Tinha escolhido vestir preto, em respeito aos mortos, mas aquele terno fazia com que aparentasse pelo menos 10 anos a menos! Ficou extremamente satisfeito com tal descoberta, afinal, aquele era um dia especial para a sua carreira política e não podia parecer menos que perfeitamente asseado naquela cerimônia.

A cerimônia na qual China e Japão comemorariam seu recente tratado de paz e uma pessoa enviada pelo presidente chinês o abençoaria com seu poder político, apontando-o como o mais indicado para continuar a exercer a posição de Chefe de Estado durante os tempos difíceis que se seguiriam até que conseguissem vencer aquela guerra de uma vez por todas.

Ninguém ousaria contestar o porta-voz daquele que havia se tornado o maior líder político entre todas as nações remanescentes daquela guerra - uma surpresa desagradável da qual todos ainda estavam se recuperando; alguns mais rapidamente do que outros. Ele próprio com certeza fora rápido o suficiente para notar quando sua união com a Rússia - outrora a grande favorita para sair vitoriosa daquele embate - tornou-se pouco vantajosa, afastando-se aos poucos dela, até que tivessem rompido completamente seus laços. É claro que esse afastamento gerou uma terrível retaliação por parte deles, mas em tempos como aquele em que viviam, perdas eram inevitáveis. 

E aí estava outro motivo pelo qual ninguém contestaria sua nomeação como líder supremo: apesar dos pesares, tinha sido a sua liderança que havia garantido ao Japão a posição de aliado daqueles que com certeza sairiam como vencedores daquela guerra interminável.

E daí que tinha sido ele o único a arrastá-los para a guerra em primeiro lugar?

Seu sorriso aumentou com essa constatação. A tolice humana era realmente algo incrível se bem usada! 

No entanto, não podia culpar seus conterrâneos por tamanha ingenuidade. A morte daquelas duas crianças estúpidas tinha sido o golpe final para a destruição de sua autoconfiança como povo - nem mesmo o resultado da segunda guerra havia abalado tanto as estruturas de todos os japoneses. Embora tivessem permanecido fortes durante os vários anos de guerra, bastou receberem a notícia de que a Dinastia Yamato havia sido extinta para que uma apatia coletiva atingisse a todos.

Bem, quase todos. Ele com certeza nunca antes esteve tão satisfeito consigo mesmo e com a situação ao seu redor. E essa satisfação estava prestes a aumentar exponencialmente.

Pelo menos era o que ele achava.

***

Ela olhou para sua imagem no espelho, analisando sua aparência. As empregadas tinham feito um ótimo trabalho, não podia negar. A maquiagem lhe conferia um aspecto diferente. Não como se fosse bonita, mas como se tivesse potencial para ser.

"Uma dama não deve pensar assim!", ralhou consigo mesma, rindo em seguida.

Sabia que uma dama de alta classe não deveria ter pensamentos medíocres sobre si mesma, tinha ouvido isso milhares de vezes durante seu treinamento. Todavia, era mais forte do que ela.

Suspirou, olhando para seu traje dessa vez. Vestia um Qipao de seda, longo até os pés, predominantemente vermelho, porém com destalhes floridos em tom dourado. Assim como seu penteado, sua vestimenta tinha sido escolhida atentamente para lembrar aos anfitriões a nação que ela representava e quem dentre eles detinha o maior poder atualmente.

Levou a mão até o peito, massageando-o em uma tentativa de acalmar-se. Tinha estado nervosa desde que chegaram naquele país. Japão... Ao contrário do que imaginou durante toda sua vida, a atmosfera daquele lugar era péssima. O ar pesado de luto eterno que circulava por ali tinha atingido-a em cheio, deixando-a com o coração apertado e uma vontade indescritível de chorar, ainda que não tivesse motivos para derramar lágrimas.

Suspirou novamente, bem ciente de que poderia estar desperdiçando os últimos resquícios de felicidade que ainda possuía.

De repente, leves batidas foram ouvidas à sua porta.

Grata pela interrupção, respondeu:

— Já está na hora?

— Sim, senhorita.

Estranhou receber uma resposta em japonês já que os únicos com permissão para acessar a ala em que ela estava eram seus outros companheiros chineses. Contudo, não permitiu que sua desconfiança ficasse evidente em sua voz, ao dizer:

— Estou a caminho, pode retirar-se agora.

Ainda encarou a porta por um momento, à espera de qualquer ataque, mas quando nada aconteceu, virou-se. Pretendia ir até o armário onde um de seus pertences mais valiosos estava cuidadosamente escondido entre suas roupas, mas não teve chance de chegar até o mesmo - seus passos foram interrompidos no processo.

— Não me diga que estava à procura disso... - um homem vestido com trajes estranhos debochou, enquanto segurava uma adaga de duas pontas de forma displicente. 

— Devolva e talvez eu perdoe sua audácia - comandou, mantendo a calma.

— Ah, talvez você perdoe a mi... - interrompeu a si mesmo, uma expressão chocada tomando conta de sua face.

Parecia que estava vendo um fantasma. Se fosse mais tola, teria caído em seu truque barato e olhado para trás, mas felizmente não o era. Assim, permaneceu olhando-o fixamente.

— Rin? - perguntou, desestabilizando-a com apenas uma palavra.

Ao ouvir aquele nome, seu pulso acelerou e antes que pudesse controlar a si mesma, já estava respondendo-o:

— Como conhece esse nome?


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Notas finais do capítulo

por falar em fantasmas, apareçam!



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