Bakugou olhou para os bilhetes em cima de sua mesa de estar. O post-it laranja com alguns rabiscos emoldurando a mensagem escrita nunca falhava em chamar a atenção do garoto, sendo complementado pelo post-it amarelo logo ao lado.

Desde o início do mês, Bakugou havia contratado um serviço de pet-sitters. O garoto passava maior parte do dia na Universidade, ou no seu trabalho de segurança no museu de arte moderna, e precisava de alguém para cuidar de seu cachorro, Grenade.

Até agora tudo que o loiro sabia era que o cuidador, que agora possuía as chaves de sua casa, era um garoto de mais ou menos sua idade. Sua ficha consistia apenas em seu nome, Kirishima Eijirou, e sua idade, seguidos dos horários que o garoto estava disponível para trabalhar.

Mesmo sem fotos o perfil era, em sua maioria arrasadora, composto de avaliações positivas, o que convenceu Bakugou a contratá-lo. O garoto vinha pela parte da tarde, trocar a comida e a água que Bakugou colocava logo de manhã, brincar com o vira-lata, e limpar qualquer sujeira que o mesmo houvesse feito.

Algo inusitado, entretanto, eram os post-its.

Na primeira vez que Bakugou voltou para casa e se deparou com um dos papéis laranja rabiscados, pensou que havia ocorrido algum problema. Qual foi sua surpresa, no entanto, ao ler o conteúdo do bilhete.

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“Boa noite! Acabei de voltar de um passeio com o Grenade, ele é um cachorro muito comportado, deixei alguns biscoitos de carne para ele no pacote ao lado.

Ass.: Kirishima ♥”

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Ao lado do post-it laranja, havia um outro post-it, um pouco mais cheio, de uma cor amarelada.

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“P.S.: Não que eu esteja inspecionando sua casa, mas notei alguns frascos de remédio na mesa quando estava indo deixar o bilhete. Não esqueça de tomar seus remédios e tenha uma boa noite!”

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Bakugou resmungou, sem saber como reagir. Quem esse cara pensava que era para olhar nas suas coisas dessa maneira? Mas, por outro lado, o loiro se sentia estranhamente reconfortado por saber que alguém havia se preocupado consigo.

Os post-its continuaram, todos os dias pelo resto do mês Katsuki foi recebido em casa por Grenade, animado com a presença do dono, e um post-it laranja seguido de um amarelo.

Bakugou pensou que os post-its eram algo que Kirishima fazia com todos os seus clientes, no entanto, uma coisa chamou sua atenção.

Em todas as avaliações presentes no perfil do garoto, apenas post-its laranja eram mencionados. Bakugou não leu um único comentário falando de post-its amarelos.

Tentou ignorar tudo isso e imaginar tudo como se fosse algo normal, obviamente ele era apenas mais um dos clientes, não havia chances de Kirishima abrir exceções para alguém que nunca conheceu na vida.

E então os dias se passaram, e Bakugou acabou percebendo um padrão. Todos os post-its laranjas eram sobre Grenade, normalmente seguidos de alguma guloseima ou algum brinquedo (o que Bakugou nunca admitiria, mas achava adorável da parte de Kirishima), enquanto os post-its amarelos pareciam mais com uma conversa direta com Bakugou.

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“P.S.: Como vai, Bakugou? Eu estava passando para a cozinha para trocar a comida do Grenade e notei alguns retratos que não estavam ali antes.

Você era uma criança muito fofa ♥”

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E era com esses pequenos pedaços de papel que Bakugou sentia seu coração dar voltas. Todos os bilhetes pareciam falar de uma maneira mais íntima, como se estivesse conversando com um velho amigo.

Ou algo mais.

Tentava ignorar esse sentimento o máximo possível. Não possuía tempo nem para cuidar de seu cachorro, quão menos para um relacionamento. Além disso, o loiro já possuía olhos para outra pessoa.

Um dos artistas principais do museu onde o homem trabalhava, intitulado de Red Riot, era uma das pessoas mais brilhantes que o loiro havia conhecido. Bakugou não fazia ideia de como o homem conseguia ser tão positivo o tempo todo.

Seu cabelo era tingido de um vermelho brilhante, estilizado de uma maneira que parecia levar montes de gel para ficar da maneira certa. Seus olhos eram de um tom um pouco mais escuro que os de Bakugou, complementando seu cabelo.

Mas o que mais chamava atenção no artista eram seus dentes. Dentes triangulares e afiados como os de um tubarão, que se encaixavam perfeitamente quando o homem sorria, e como ele sorria!

O loiro sempre aproveitava de sua posição, nos cantos mais discretos da galeria, para admirar o artista. Red Riot parecia se animar como uma criança toda vez que era elogiado por alguma de suas obras, sorrindo e agradecendo a pessoa com um aperto de mão caloroso.

Mas Red Riot não era gentil apenas na frente do público. Constantemente Bakugou recebia um pedaço de bolo ou de algum tipo de torta após uma exposição importante acontecer.

O homem de cabelos vermelhos fazia questão de presentear todos os empregados da galeria quando um negócio ia bem, deixando algum lanche ou presentes na portaria para que todos pudessem dividir.

Eram esses pequenos detalhes que faziam com que Bakugou se interessasse cada vez mais pelo artista. Queria conhecê-lo melhor, porém não fazia ideia de como começar assunto com alguém relativamente “famoso”.

Acordando de seus devaneios, Bakugou voltou o foco para os bilhetes em cima de sua mesa. Pegou o post-it laranja, que comentava brevemente sobre como o vira-lata cinza havia se comportado, seguido de um pacote com dois ossos para que ele brincasse.

Grenade latiu, os olhos fixos no post-it. A esse ponto, o cachorro já sabia que post-its significavam recompensas, e esperava ansioso por elas. Bakugou sorriu, segurando o osso com uma das mãos, fora do alcance do cachorro.

— É isso que você quer? – chacoalhou o osso, ouvindo o cachorro latir novamente. – Certo, certo, pode ficar... se você conseguir pegar! – jogou o osso do outro lado da sala, deixando o cachorro se divertir, virando-se novamente para o post-it amarelo.

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“P.S.: Percebi que não tem fotos suas atuais, só de quando você era menor, por que isso? Eu gostaria de saber como é o meu cliente preferido!

E aí, ainda está tomando aqueles remédios? Se sim, não se esqueça deles ♥”

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Katsuki balançou a cabeça, lançando um olhar irritado para o frasco de Ziprasidona em sua bancada, estava quase no horário de tomá-lo novamente. Mas mais importante do que isso, Kirishima havia escrito que Bakugou era seu cliente favorito.

O loiro não conseguiu conter o sorriso quando leu essas palavras, se virando novamente para Grenade, que o observava, curioso, com o osso pendurado na boca.

Fez carinho no pelo acinzentado e se virou para tomar seus remédios, estava de bom humor, e iria poder ver Red Riot mais tarde, em uma de suas exposições importantes, talvez pudesse até mesmo falar com o artista pela primeira vez.

E foi com esse pensamento que Bakugou foi dormir, colocando um alarme para algumas horas mais tarde e separando seu melhor uniforme de trabalho, colocando uma calça de moletom e se jogando no sofá, um cachorro animado deitando ao lado do mesmo, repousando a cabeça em seu estômago.

— Me deseja sorte, garoto.  – acariciou a cabeça do vira-lata, sentindo suas pálpebras pesarem.