Considerando todos os momentos que já passara em sua vida, ela nunca imaginou que estar ali, observando a praia, seria uma das situações que fariam seu corpo formigar em antecipação.

Seus olhos não conseguiam se desgrudar da figura abstrata do céu que fazia parecer que alguém havia, acidentalmente, derrubado diversas latas de tinta no mesmo, criando aquela mescla de azul, laranja, vermelho e roxo. Seria uma bela visão para se apreciar, se ela não fosse o pressagio daquela sensação ruim no pé do estomago.

Não podia negar que havia hesitado por muito tempo em sua escolha, a decisão parecia demasiadamente extrema, e se ela o compartilhasse com qualquer um provavelmente tentariam impedi-la, não os julgava, também o faria se estivesse no lugar deles. Mas o fato era que ela estava do outro lado da linha, e a dor e o remorso já haviam a consumido por tempo o bastante para que ela, simplesmente, se sentisse completamente esgotada a ponto de pensar que aquela era a escolha mais correta a se tomar.

Mas, o mais fascinante disso tudo era que, mesmo já estando no mar por tantos anos, só agora ela começava a ponderar sobre o que exatamente era a conexão dos dois. Nunca havia pensado sobre isso porque, para ela, já era tão natural quanto respirar. O ar salino tinha presença constante em seus lábios e, a essa altura, provavelmente já estaria impregnado por todo o seu corpo.

Tal pensamento acabou por arrancar um riso de seus lábios. Não necessariamente porque achava a situação engraçada, o riso era provavelmente de escárnio perante si mesma, por só agora entender a ironia do ponto em que chegara. Ela já pertencia ao mar há muito tempo, havia se tornado uma extensão do mesmo, que diferença faria se eles apenas se fundissem de uma vez? Parecia simples quando se colocava desse jeito, mas mesmo assim, ela hesitou na primeira vez.

Talvez porque ela ainda não entendesse totalmente a realidade que lhe era dada. Tudo ainda parecia muito novo e lhe causava uma sensação de dormência, fazendo-a questionar se realmente aquilo era tudo que a vida tinha para oferecer, e se ela estava fadada a seguir um destino de linhas retas. Quando menos percebeu, o dia fatídico estava perto de chegar novamente, e ela já havia tido tempo o bastante para conhecer o mundo que ia além de suas escolhas, e não podia dizer que estava satisfeita com os resultados. Era solitário e sem propósito, fazendo-a questionar sua própria existência.

Mas, mesmo depois de tudo, ela ainda era demasiadamente obstinada para permitir que alguém regesse a sua vida, mesmo que esse alguém fosse o próprio universo. Assim ela reuniu suas coisas e partiu. Iria provar a todos que ainda estava no controle, ou talvez estivesse apenas tentando convencer a si mesma, ou ainda, apenas estivesse buscando uma desculpa qualquer para justificar a vida insignificante que agora levava. Enfim, não que a essa altura fizesse qualquer diferença.

O sol se pôs anunciando o inicio da ultima noite quente daquele ano. E junto dela, também veio sua ultima decisão.