Adão e Eva, na guerra dos iguanas. Parte II escrita por Paloma Her


Capítulo 8
Roteiro interespacial (continuação)


Notas iniciais do capítulo

Tiago e Fernanda olharam seus nomes gravados na pedra, junto aos nomes de Mário, Reginaldo, Abelardo, Marlene e Rosa, como heróis da resistência, e pais de uma nova era, abraçados uns aos outros. Era emoção demais.
Mais calmos, os amigos se deixaram amar.
Passaram o dia percorrendo a cidade das montanhas, em cujo lugar tudo permanecia como no passado. Castelos milenares, que eram restaurados periodicamente, rios que continuavam a fazer o mesmo percurso, cavernas primitivas que eram visitadas com cuidado, e iluminadas para estudar sua beleza.



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A seguir, Vitor e Bernardinho se hospedaram num castelo, com Guilherme e Alberta, Fernando Júnior e Nohiki, para fazer um roteiro só de diversão. Afinal, quem iria às reuniões chatas seriam seus diplomatas, e cada um trazia meia dúzia deles. Junto com os seus filhos, e os filhos de Fernando Júnior, que também eram iguanas desordeiros, eles eram um aglomerado festeiro, que só queria ser feliz na companhia uns dos outros.

Num lugar especial, no planalto das montanhas, havia também um santuário, onde se colocavam oferendas aos heróis da revolução, do passado desse mundo. Um monumento erigido aos reis Tiago e Fernanda, que morreram no espaço, durante uma viagem entre os planetas das cobras. E no dia da inauguração desse monumento, a história havia iniciado um novo calendário. Fora o início de uma Nova Era. Um período de luz, onde os homens nunca mais matariam a outros homens.  E não existia criança que não estudasse seus nomes na escolinha infantil.

Tiago e Fernanda olharam seus nomes gravados na pedra, junto aos nomes de Mário, Reginaldo, Abelardo, Marlene e Rosa, como heróis da resistência, e pais de uma nova era, abraçados uns aos outros. Era emoção demais.

Mais calmos, os amigos se deixaram amar.

Passaram o dia percorrendo a cidade das montanhas, em cujo lugar tudo permanecia como no passado. Castelos milenares, que eram restaurados periodicamente, rios que continuavam a fazer o mesmo percurso, cavernas primitivas que eram visitadas com cuidado, e iluminadas para estudar sua beleza.  

O alpinismo era o esporte nacional daquele lugar. Gente subindo e descendo a montanha com cordas era a coisa mais corriqueira.  Também entraram num elevador, que era mantido desde os tempos da pré-história, onde se descia até as cidades subterrâneas desse mundo. Cidades que eram tão pré-históricas quanto o elevador.

E essas cidades do subsolo fervilhavam de pessoas. Havia dentro delas escolas, centros de pesquisas, laboratórios, e edifícios com apartamentos para quem chegasse ao lugar.

Subiram num trem subterrâneo para dar a volta ao mundo. Ele era como uma bala gigante, redonda, que corria vertiginosamente tanto por baixo do mar, como pelo interior de montanhas gigantes. Saíram dos túneis subterrâneos e passearam sobre a selva, por cima de pontes gigantes sobre as árvores, como uma montanha russa. Percorreram florestas rasas, com pequenos arbustos, planícies de oliveiras, vinhedos, e desceram muitas vezes para as profundezas do subsolo, até chegarem perto do centro da terra, onde se media o calor interno do planeta e o movimento das placas teutônicas.

Tiago e Mário estavam sem palavras.

Os homens cobras agora cuidavam de TUDO! Desde a vida dos cupins até a saúde do planeta. E nada, mais nada agredia aos homens. Sequer um vírus. Sequer uma cobra. Nada. Os animais e os homens viviam em harmonia completa entre eles mesmos, e com o astro, que chamavam carinhosamente de mãe terra. Também não existiam enchentes, terremotos, pois os homens com seu poder mental podiam controlar as águas. As nuvens. Ou, minguar o calor. Mexiam mentalmente com o clima, para que jamais a humanidade padecesse de excessos, nem de calor, nem de frio.

Longe da felicidade deles, os diplomatas assistiam a um filme, num centro de reuniões.

As cobras queriam mostrar aos recém-chegados, como haviam mudado a cabeça dos prisioneiros iguanas com o isolamento, a companhia de robôs femininos, o Sol, ar puro, um mar para nadar, e sementes para cultivar a terra. Falavam que aos iguanas não lhes foi permitido comer baratas, nem minhocas, nem lagartixas, pois os robôs defendiam a bicharada mais do que aos próprios homens. Enquanto olhavam uns 5 documentários, meninos lindos lhes serviam bandejas com sucos de banana, maçãs e peras, ou, sucos vermelhos de melancias, taças de sorvete com suspiros e morangos, taças de brigadeiros com biscoitos, tortinhas miudinhas de legumes, bolos com cremes, doce de leite, goiabada. Petiscos e doçuras que as esposas grávidas engoliam com gula.

 Para encerrar o encontro, as cobras colocaram suas ilhas à disposição dos iguanas. Poderia dali em diante se desocupar os presídios dos iguanas, onde se sustentava cada preso com um orçamento elevado. Podiam economizar esse dinheiro, esvaziando as prisões. E mais, esses condenados se reabilitariam, e um dia poderiam regressar com uma nova personalidade.

Mas, os diplomatas ponderaram que esses prisioneiros dos documentários não eram assassinos, eram soldados, que recebiam ordens de generais ambiciosos. Os diplomatas alegavam que os criminosos iguanas das prisões eram terrivelmente cruéis. Havia os matadores em série, com mais de 50 vítimas. E achavam que matá-los era o melhor caminho. Deixar que fossem cumpridas as sentenças de morte era menos complicado.

Uma sábia cobra fez uma alocução. Ele disse:

— Não se pode tirar a vida de um ser humano, por pior que ele seja, pois isso é tão criminoso quanto o delito do condenado. Um Juiz que assina a sentença de morte também é um homicida. Pelo menos para o carma. E para melhorar esse quadro triste, nós estamos lhes oferecendo tudo. Conhecimento, moradias, o que pedirem. Mas, temos que fazer um trato. Nada de condenas à morte nos presídios. Seria a nossa exigência nos acordos.

Essa reunião foi longa demais e não se chegou a um consenso geral.

 Decidiu-se no fim da noite, que se discutiria o tema numa assembleia do Senado Internacional dos iguanas, quando voltassem para seu planeta, e que as cobras escreveriam uma carta colocando nela todos os itens dessa reunião.

Cansados, foram se recompor nos seus castelos respectivos, pois à meia-noite seria a festa, no maior e mais belo castelo das montanhas.

Vitor e Mirim entraram na festa de boas-vindas com seus filhos, todos eles vestidos com trajes típicos de seu mundo. Vitor colocou seu turbante dourado sobre a cabeça, Mirim um traje longo com pérolas bordadas, decote mínimo, e um penteado alto, onde colocou uma coroa de diamantes. Os filhos eram príncipes em miniatura. Lindíssimos. Caminharam entre um mar humano, e quando viram Nohiki e Fernando Júnior, cruzaram o salão para juntar-se a eles. Depois, chegaram Bernardinho, de saiote quadriculado, boné, camisola bordada, e Evita com um decote que mostrava metade do busto.  Olaf e Guilherme chegaram com as esposas com uniformes negros, de espião. Os iguanas Diplomatas de saiotes diversificados, turbantes e chapéus diferentes nos homens, e as damas, cheias de joias, dentro de vestidos longos. As mulheres exageraram desta vez. O único que estava à vontade era Fernando Júnior, que vestia um suéter de gola alta por causa do frio e um boné na cabeça, mais parecia um guri gigante. Nohiki estava linda, mais com uma capa vermelha, que lhe impedia mostrar a perna no seu vestido longo.

Enquanto a festa transcorria, Fernando Júnior marcou a data do casório, de seus filhos para o amanhecer do dia seguinte. Acrescentava que queria ter no mínimo uns 15 netos. As noras podiam estudar medicina, mas iam parir um filho a cada ano. E ele ia ajudar a cuidar dos guris. Havia nascido nesta vida para ser vovô. Era sua vocação especial. E como a maioria já acreditava em reencarnação, contavam que na Terra haviam tido um filho que lhes dera 12 netos, 150 bisnetos e 1000 tataranetos. E que no mundo dos anjos, eles se reencontrariam com todos eles pela eternidade. Seria um mundaréu de gente. Todos gargalhavam, duvidando de tanta história.

Depois todos eles dançaram, e se deliciaram com comidas especiais para a ocasião. Uma exposição de inventos da gastronomia. E em toda parte, havia um robô pronto para colocar nos pratos o que as pessoas quisessem degustar.

Os filhos de Bernardinho e Vitor se perderam entre os docinhos, deixando os pais livres para bailar ao compasso suave das danças. Ao lado deles, algumas cobras miúdas lhes faziam companhia, sem parar de rir, pois o idioma os separava, mas se entendiam através de mímicas.

E a noite foi longa, pois nesse mundo a noite durava muito mais do que no planeta dos iguanas. E antes do último festeiro abandonar o lugar, o casamento dos filhos de Fernando Júnior aconteceu.

Uma cobra trouxe um livro, onde os noivos assinavam o acordo de viverem juntos, e de se amar, respeitar, e cuidar dos filhos até a idade adulta dos 21 anos. Só então, se eles não desejassem mais viverem juntos, poderiam solicitar a separação e o fim do acordo nupcial, e assinar, nesse mesmo livro, uma declaração de que não se amavam mais. Mas, porém, até esse dia, quando os filhos fossem adultos, estariam proibidos de infidelidade conjugal, pois nesse planeta eram os únicos crimes que ainda existiam, e a pena por isso era o exílio nas ilhas.

Para descontrair, pois os jovens estavam estátuas, amedrontados, afinal eram filhos de um mundo onde existia poligamia e infidelidade, beijaram as esposas sorrindo, e assinaram o livro com coragem. Depois se dividiram para uma noite de Lua de mel.

E o tempo de estada nesse planeta foi longo, pois os diplomatas do Senado Internacional queriam saber de tudo. Como acabar com as doenças, como derrubar o crime e suas máfias, de que maneira exterminar os vícios, e as cobras lhes mostravam todos os caminhos para chegar até lá, em longas conversas em redor de mesas fartas de delicias para o paladar.

Longe dessas reuniões, Tiago e Mário começaram a sentir o feitiço aos poucos até chegar ao convencimento que desejavam ficar ali para sempre. Possuíam anos intermináveis pela frente, e estavam num lugar do Cosmos que necessitava deles. Estavam rodeados de homens e mulheres belíssimos, carinhosos, alegres, mas ainda atrasados na medicina. Não conseguiam evitar a senilidade. Os homens morriam com 600 anos cheios de rugas, cabelos brancos, algo que era inexistente no mundo dos guerreiros. Tiago mostrava o lado invisível do corpo, como fluidos, energias, eletricidade, mostrando seus segredos, em meio de estudantes inteligentes. Fernanda e Nina preferiram mostrar truques para terem filhos sem dor. E à medida que os dias transcorriam, a sabedoria foi prendendo-os naquele lugar como teia de aranha.

Abelardo e Reginaldo passavam por experiências parecidas. Junto às esposas examinavam o metal artificial, que sustentava as vigas de construção, suas fórmulas, e davam dicas para melhorar tudo. Pouco a pouco, se misturavam em usinas, laboratórios de pesquisas, e sentiam o feitiço do ambiente os envolvendo. Fernando Júnior, que adivinhava os segredos mais profundos, falou-lhes a todos que estavam dispensados do trabalho de guerra. Além do que, desta vez o suicídio seria optativo. Com certeza a maioria dos guerreiros ficaria por ali mesmo, para um fim de existência diferente.


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Notas finais do capítulo

Longe dessas reuniões, Tiago e Mário começaram a sentir o feitiço aos poucos até chegar ao convencimento que desejavam ficar ali para sempre. Possuíam anos intermináveis pela frente, e estavam num lugar do Cosmos que necessitava deles. Estavam rodeados de homens e mulheres belíssimos, carinhosos, alegres, mas ainda atrasados na medicina. Não conseguiam evitar a senilidade. Os homens morriam com 600 anos cheios de rugas, cabelos brancos, algo que era inexistente no mundo dos guerreiros. Tiago mostrava o lado invisível do corpo, como fluidos, energias, eletricidade, mostrando seus segredos, em meio de estudantes inteligentes. Fernanda e Nina preferiram mostrar truques para terem filhos sem dor. E à medida que os dias transcorriam, a sabedoria foi prendendo-os naquele lugar como teia de aranha.



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