Adão e Eva, na guerra dos iguanas. Parte II escrita por Paloma Her


Capítulo 6
Capítulo V. Primeiras mudanças


Notas iniciais do capítulo

A seguir, Benjamim falou para todos. Ofereceu suas empresas para fabricar tudo que Bernardinho pedisse, em troca de um favor. Uma lei que protegesse as mulheres. Queria meia jornada de trabalho feminino, e licença maternidade de seis anos. Evita respondeu que ela, em pessoa, lutaria para isso se concretizasse. Na verdade, as mulheres nesse lugar do planeta trabalhavam demais.
A seguir, o jantar continuou encantador. De vez em quando, alguém se levantava para falar alguma coisa, e fazer mais um brinde. O que deixou muita gente tão bêbada quanto os repórteres. Também houve danças no fim desse jantar, onde as mulheres rodopiaram com seus vestidos elegantes. Foi uma noite em que ninguém dormiu. Ao amanhecer do dia seguinte, os convidados partiram e Bernardinho ficou a sós com sua esposa, seus três filhinhos, inaugurando essa nova era com um dia na cama, e uma ressaca infernal.



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 Numa manhã ensolarada, os filhos de Nohiki enviaram os documentários sobre as chacinas intergalácticas, dentro de uma Lan House, para vários colegas de escola. Em seguida, entraram num site, onde se podiam incluir vídeos caseiros. Esse site era um sucesso internacional, pois os iguanas acompanhavam com fanatismo. O mundo inteiro o visitava diariamente para bisbilhotar novidades. E como numa teia de aranha, as imagens dos incêndios de florestas, com seres de outros planetas chorando, e fugindo das chamas, se espalhou pelo planeta.

Ao meio dia, os vídeos já estavam na televisão.

No jornal da tarde, era manchete em todos os jornais das cidades desse país.

Nos telejornais da noite, todos os canais de televisão mostravam as imagens.

Era o começo de uma revolução.

O povo de Alubiavam começou a se mobilizar por conta própria. Homens de cinema, de teatro, cantores, estilistas famosos, milionários filantropos, saíram às ruas gritando pelo impeachment, cercados pela multidão, enquanto a mídia esperava em vão uma explicação das autoridades, pois todas estavam sumidas.

No Alertse, existia uma sala que ficava no subsolo. Um lugar fechado, à prova de invasões, com suprimentos suficientes para ficar trancado por 2 anos. Nesse lugar estavam os arquivos secretos, que se alinhavam em estantes lacradas, com fechaduras à prova de assaltos. E era nesse subsolo, onde o grosso dos militares responsáveis pelas viagens estelares estava escondido. Entre eles, Jorge e Regina, que escutavam os gritos desesperados e as palavras faladas às pressas:

— A mídia e a polícia vão querer bisbilhotar nos arquivos! Temos que destruir provas! Vamos nos apressar antes que a mídia invada! Aliás, como é que isso vazou para a Internet?

Enquanto o alto comando discutia, divagava, uma estrondosa explosão tomou conta do Alertse, no térreo desse edifício, que em pouco tempo alastrou-se até o primeiro andar. Janelas arrebentaram, portas abriram de supetão, e pessoas do protocolo dessa casa iniciou a fuga, pois uma multidão de gente alterada invadiu o recinto.

Imediatamente, o sistema de alarme assobiou alto, e militares armados até os dentes, posicionaram-se para conter a histeria popular. Mas esses militares ficavam desarmados, vestidos de bailarina com sapatinho cor de rosa, já outros cantavam, e meia dúzia ficava estátua, carregando flores de plástico nos braços. Enquanto isso, quem realizava os disparos, ria às gargalhadas, misturados na multidão.

Na Casa Azul os carros policiais foram chamados às pressas, para proteger o Presidente, e conter a fúria popular das ruas, que exigia a sua renúncia imediata. Havia os mais exaltados, que lançavam bombas caseiras para os jardins da Casa Azul. Os policiais tentaram conter a multidão, dando disparos para o ar, mas descobriram que estavam sem balas. Tentaram pegar o cassetete, mas  ele não estava mais ali. Aliás, nem tinham mais seus cascos de proteção, nem seus escudos, nem luvas, nem botas. Um popular deu um pontapé entre as pernas de um PM. Outro deu um soco na cara, e a briga se generalizou, com Peter e Adão de braços cruzados, pois esses policiais não matavam mais ninguém. Iam apanhar tanto, mas tanto que nunca mais iriam querer vestir uma farda.

Quando a multidão começou a esbravejar: - Assassino, ladrão... Adão virou a cabeça e percebeu que o Presidente saía de braços para cima, rodeado de clérigos, para garantir que a população não o agredisse. Mas como todos os carros policiais estavam inúteis, pifados, o grupo não teve para onde ir. Foram cercados por uns 200 repórteres e tiveram que falar ao vivo.

E o Presidente começou a chorar.

Pediu perdão pelos seus pecados, pois ele era um homem de fé, e os Deuses o estavam castigando, pois ele havia falhado com seu povo.

Um ovo cruzou a multidão e caiu na cara dele. Depois foram sapatos, pedras, que atacavam o mandatário e os vigários como chuva. Quando o Presidente e os sacerdotes tentaram fugir da agressão popular, e se esconder dentro do salão principal, encontraram as portas desse palácio fechadas, pois dentro da Casa Azul havia outro tipo de pessoas, fazendo festas, com champanhe, assumindo a responsabilidade do levante.

Foi uma noite em que pouca gente dormiu.

Diante da televisão, pessoas na Casa Azul, gente desconhecida, falavam sobre eventos além da imaginação. Mostravam os números de contas bancárias em ouro, onde reverendos de 50 igrejas diferentes eram donos da metade dessa riqueza. Mostraram-se gravações telefônicas onde ficava a descoberto a ligação entre o Presidente, Senadores e Ministros, com os chefes da máfia internacional. Por último, os homens que se encontravam nesse palácio de governo, falaram que acampariam naquele lugar, até o dia em que um homem honesto entrasse pela porta principal. Entre esses homens acampados estavam Benjamin, Olaf, a China, artistas de cinema e televisão, escritores ilustres, milionários filantropos, cantores reconhecidos, empresários, e líderes sindicais.

E a última coisa que aconteceu nesse dia, foi prisão do Presidente, para garantir sua segurança. Também foram presos alguns mafiosos, membros do Congresso, e 8 vigários de igrejas.

Nos dias seguintes ao levante popular, Amon-rá e Noemi montavam uma Sede eleitoral no centro da cidade. Decoraram paredes, limparam o chão, botaram mesas, computadores, estenderam tapetes, distribuíram plantas, dispuseram assentos para receber pessoas, num trabalho que era visto com curiosidade pelos populares.

 E os primeiros clientes de Amon-rá começaram a surgir.

Os futuros candidatos preenchiam uma folha e Amon-rá os encaminhava para as salas onde os filhos, Denis e Rubinho, praticavam testes, faziam perguntas, e liam a mente como num livro aberto. Os candidatos aprovados ganhavam de presente um broche com a logomarca do marqueteiro Amon-rá, e lhe sopravam ao ouvido que a campanha seria de graça. Aqueles que não eram aprovados os hipnotizavam. Saíam de lá, sem lembrar-se de nada, e apenas com a ânsia de encontrar um bom emprego.

Depois de um mês havia, em Alubiavam, uns 5.000 candidatos para Presidente. Afinal, os acampados na Casa Azul recebiam os candidatos com cordialidade, registravam seus dados pessoais em livros, e lhes falavam que entrariam em contato em breve, para um teste de aptidão. Se saíssem bem, entrariam nas disputas ao governo. Seus nomes seriam colocados na mídia, para que realizassem suas campanhas, e o povo os conhecesse.

Para fazer esse teste de aptidão, Benjamim e seus amigos ricos pagaram uma pequena fortuna a uma Universidade de Alubiavam, para examinar os 5.000 concorrentes. Mediu-se a inteligência, equilíbrio emocional, conhecimento em administração, em economia, e cultura geral. De todos os 5.000 competidores, a Universidade deu o título de gênios notáveis a cinquenta pessoas.

E para não ter dúvida alguma da honestidade desses gênios, os canais de televisão receberam de presente cadeiras com detector de mentiras para medir a boa-fé durante as entrevistas.

E foi assim que se iniciou o maior e melhor show da terra no mundo dos iguanas.

Desde o início, Amon-rá foi enfático com seus 18 candidatos aprovados nos exames.  Ele próprio escolheu, a dedo, os jornalistas da mídia escrita, e os programas de televisão que deveriam frequentar. Apenas gente com cabeça grande. Visionários. Periodistas que perguntariam coisas sérias. Programas a que pouca gente assistia, mas que não indagariam bobagens. Descartou a entrevista com plateia ao vivo, os jornalistas religiosos, e os bufões. Aqueles que viviam da fofoca sobre pessoas barraqueiras, pois foram esses programas que acabaram com o sonho de governar da maioria dos candidatos.

Nos programas ao vivo da televisão, os aspirantes a Presidente eram interrogados se gostavam de cantar nus no chuveiro. Assim que respondiam não envergonhados, o assento detector de mentira apitava escandalosamente, ou acendiam luzes, e o povo na plateia ria até engasgar. Também lhes foi perguntado se tinham amantes, se alguma vez pegaram roupa sem pagar numa loja, se haviam colado durante os estudos universitários, e outras asneiras.

Enquanto a TV inventava palhaçadas, a imprensa escrita fazia pior. Vasculharam a vida de cada um, desde a infância até os dias presentes, em busca de podres. Os candidatos que tiveram revelações de homossexualidade, ou, vínculo com prostitutas, foram mostrados seminus em fotografias, em imagens captadas com lente de longa distância, ou, através de uma janela indiscreta. Mas, porém, as mais sofridas foram as mulheres. Gênios de medicina, antropólogas, artistas de grande talento, não suportaram as fofocas da imprensa má.

Todas as semanas, os fotógrafos captavam vestido levantado, mostrando a calcinha numa ventania, ou subindo numa escada, ou caindo na rua com sapato quebrado, em poses ridículas. Sempre na primeira página. Também houve correspondente atrás de amantes, ou filmes pornográficos caseiros, pois se historiou a vida íntima minuciosamente. Teve as que desistiram, depois da primeira crônica que narrava intimidades com namorados do passado.

Juntamente com tudo isso, políticos de carreira que ficaram fora da seleção de inteligência, disseminavam o terror. Gangues começaram a percorrer ruas, armados, roubando, assustando os civis, pois Alubiavam estava sem governantes.

Peter nunca correu tanto, enquanto os amigos de Benjamim, organizaram-se para combater criminosos com as armas alienígenas.

Fernando Júnior desde as alturas vigiava as ruas, e gritava: - Supermercado sendo desfalcado, ou: - Assalto à mão armada, e lá iam os guerreiros na corrida, para deixar os ladrões de cuecas. Os iguanas armados os deixavam cantando, paralisados, ou vestidos de bailarinas.

Os iguanas policiais estavam encantados, desta vez. Acostumados a subjugarem marginais em enfrentamentos sangrentos, subindo favelas imundas, desta vez apreendiam homens pelados, ou estáticos, ou bailarinas enlouquecidas tentando puxar o vestidinho. O povo nunca se divertiu tanto.

            Mas o dia dessa eleição finalmente chegou, e o fim da desordem pública também.

A votação para escolha do Presidente foi via internet, no site: euquerovotar.com, organizado por uma empresa de informática.

Pessoas que não possuíam computador em casa tiveram que votar dentro de Universidades, onde alunos de informática criaram os seus e-mails, para eles escreverem o nome do futuro Presidente de Alubiavam.

Foi uma noite em que pouca gente dormiu, pela segunda vez. Afinal, a internet era mágica. Quem votou recebeu o nome do ganhador em casa, no seu computador. A designação de “Bernardinho Lopez de Almeida e sua esposa Evita Almeida”, cruzaram o mundo em poucos minutos e a foto do casal foi capa de jornal, em todos os países, e a foto foi a mais vista na Internet durante um mês.

No dia seguinte das eleições, houve uma festa popular em Alubiavam. Bernardinho e Evita percorreram as ruas em carro aberto, com o marqueteiro Amon-rá ao lado, e com Evita junto a Eva, que procurava possíveis armas para desintegrar, em meio do povo alvoroçado.

Adão preferiu ficar ao lado de Benjamim, e entre os acampados, que prepararam um banquete escandaloso para receber o primeiro homem honesto da Casa Azul. Estenderam um tapete vermelho de 100 metros, da entrada até a rua, e se enfileiraram vestidos de saiote e turbante na cabeça, o traje de gala desse mundo.

E Bernardinho atravessou esse mar humano, abraçado com Evita, que olhava incrédula em redor. Os homens e as mulheres mais famosas desse mundo estavam ali. Dava vontade de se abraçar a todos eles. Mas caminhou com elegância, como exigia a ocasião. Seu vestido era longo, e marcava suas curvas com discrição, com um decote em “v” que mostrava parte dos seios volumosos. Seu cabelo estava penteado para cima, numa obra da sabedoria capilar, e seu pescoço mostrava um colar de diamantes gigantes, que Noemi lhe dera como presente. Parecia uma princesa de contos de fadas.

E a mídia caminhou atrás. Mas desta vez, ela foi convidada a entrar no palácio de governo, se despojar de máquinas fotográficas e gravadoras, e sentar numa mesa gigante, com um banquete escandaloso, num salão contíguo, para deixar Bernardinho a sós com os acampados. Nada de documentário. Teriam que aprender a respeitar os momentos importantes.

Desta forma, Bernardinho e Evita ficaram somente entre amigos.  Artistas que eles admiravam. Eram escritores dos quais eram fãs, artistas de cinema com premiações importantes, milionários famosos, filantropos, e sindicalistas que conheciam através de greves, protestos, e mobilização de sindicatos.

O príncipe do deserto, Vitor Plaza, estava como convidado de honra, e falava para seu amigo Olaf, no ouvido, que conhecia Bernardinho de algum lugar. Tiago, outro convidado de honra, lhe disse: - Deve ter sido na reencarnação passada. De que mundo tu eras?

— Eu vou saber? Eu nem acredito em reencarnação, cara...

E riram com discrição.

Bernardinho fez um pequeno discurso.  Falou para os amigos que nessa Casa Azul haveria de tudo, exceto militares cuidando da sua segurança, e muito menos dando palpites sobre governo, ou, aconselhando-o a realizar invasões a outros lugares do mundo. Falou alto que deixaria apenas uma guarda pessoal na porta de entrada. Mas com aquelas armas esquisitas, que deixavam todo mundo com sapatinhos cor de rosa. As gargalhadas entre os comensais eram estrondosas, rememorando o momento em que essas armas começaram a funcionar. Acrescentou que dedicaria 2 horas, a cada três dias, para receber os representantes do povo, dirigentes sindicais, centros comunitários, para tomar um café, e receber projetos. E que a mídia seria atendida todos os dias, para tomar o café da manhã.

As risadas se misturaram, pois de longe se ouviam as risadas dos jornalistas, todos já bêbados. Culpa dos refrigerantes esquisitos oferecidos para eles.

A seguir, Benjamim falou para todos. Ofereceu suas empresas para fabricar tudo que Bernardinho pedisse, em troca de um favor. Uma lei que protegesse as mulheres. Queria meia jornada de trabalho feminino, e licença maternidade de seis anos. Evita respondeu que ela, em pessoa, lutaria para isso se concretizasse. Na verdade, as mulheres nesse lugar do planeta trabalhavam demais.

A seguir, o jantar continuou encantador. De vez em quando, alguém se levantava para falar alguma coisa, e fazer mais um brinde. O que deixou muita gente tão bêbada quanto os repórteres. Também houve danças no fim desse jantar, onde as mulheres rodopiaram com seus vestidos elegantes. Foi uma noite em que ninguém dormiu. Ao amanhecer do dia seguinte, os convidados partiram e Bernardinho ficou a sós com sua esposa, seus três filhinhos, inaugurando essa nova era com um dia na cama, e uma ressaca infernal.

No terceiro dia, a sala de conferências da Casa Azul lotou com a imprensa.

Já antes dele chegar ao recinto, garçons ofereceram salgadinhos, bebidas, cafezinhos, e quando Bernardinho subiu num estrado para falar com a mídia, metade dos repórteres fez perguntas. Todas de alto nível e de interesse mundial. Quem pensava perguntar bobagens estava dormindo, cansado, e havia os que roncavam.

E foi a vez de Bernardinho pedir para o povo a escolha de 150 congressistas, para inaugurar os novos tempos, numa outra votação via Internet. A seguir enviou uma mensagem para o mundo, um pouco emocionado, e disse que, a partir desse dia, nenhum país pobre devia nada para Alubiavam. E que ele estava estudando projetos de lei para auxiliar os povos mais necessitados do planeta. E para financiar esses planos desejava confiscar toda a riqueza das igrejas, da máfia, e dos homens corruptos que haviam governado esse canto do mundo. Mas, porém, não desejava fazer nada sem a aprovação do Congresso Estadual. Por tanto, ele ficaria esperando que o povo escolhesse homens dignos, inteligentes, que desejassem o bem e a felicidade geral. E só então, começaria as reformas e o desvio da riqueza ilícita para os cofres públicos da nação.

Depois desse dia, a sede do marqueteiro Amon-rá nunca mais teve descanso. A fila em frente de sua sala dobrava a esquina. Era tanta gente querendo ser candidato ao Congresso, que dava arrepios. Adão chegou a ajudar o filho. Sentou numa mesa, Eva sentou em outra, os netos Denis e Rubinho, em redor, pois Jorge e sua esposa Regina ficaram na Casa Azul, cuidando da segurança pessoal do novo presidente e da primeira dama da nação.

Aliás, fugir do subterrâneo do edifício de Alertse foi alucinante para Jorge e Regina.

Peter lhes cavou um túnel de 200 metros, e eles rastejaram como minhocas fora do subsolo. Já no exterior, caíram na gargalhada, pois ficaram 30 dias soterrados com uns 80 generais, que cuidavam dos arquivos secretos do Alertse, como quem cuida de um tesouro. Homens que juravam sair daí só depois da morte desse novo governante. E todos os planos para assassinar Bernardinho estavam num dossiê, que Jorge deu na mão do próprio Bernardinho, assim que Benjamim o colocou dentro da Casa Azul.

Após um mês da posse de Bernardinho, havia em Alubiavam 300.000 aspirantes ao Congresso. Todos realizaram uma prova de capacitação em 25 Universidades diferentes, espalhadas em todos os Estados desse grande país.

  Mas apenas 450 candidatos foram aprovados nos testes, apontados como gênios da ciência, da arte, e da tecnologia. Como havia 150 vagas no Congresso Estadual, a televisão e a imprensa escrita divulgaram os nomes dos concorrentes, realizaram entrevistas coletivas, sem assentos desta vez, e Bernardinho mandou imprimir um livro com a história de vida e o currículo de cada um deles. Desta vez, 240 mulheres disputavam os lugares. E nenhuma delas foi difamada, pois Bernardinho falou para a Mídia, em entrevista na Casa Azul, que se algum jornalista denegrisse um candidato, seria preso, perderia o cargo, e pagaria uma multa exuberante.

 E mais uma vez, a eleição foi via Internet.

O nome dos 150 escolhidos chegou à casa do povo via e-mails, e foi divulgado na televisão com entrevista dos mais famosos. Gênios já conhecidos pelas descobertas científicas, escritores que todo mundo lia, e artistas de cinema. Nossa! Havia 30 artistas de cinema, que eram adorados por exércitos de fãs, no mundo todo. Do marqueteiro Amon-rá havia uns 90 escolhidos. Engenheiros desconhecidos, doutores universitários, que viviam trancados em laboratórios de pesquisas, gênios da medicina, mas eram os homens com os maiores cérebros dessa nova safra de governantes.

E os novos tempos se iniciaram.

O Congresso Estadual recebeu os novos membros, e como eram gênios, a primeira coisa que fizeram foi mudar as leis. Uma comissão de sábios redigiu uma constituinte sucinta, simples, de mínimas palavras, e Bernardinho a fez imprimir e distribuiu de graça para Escolas e Faculdades. Transformaram a polícia, mudaram o sistema judicial, criaram novas maneiras de arrecadar impostos, e esvaziaram os cofres de todas as igrejas, de todos os mafiosos, e criaram um rígido sistema de multas. Bernardinho assinava sorrindo todas as leis do Congresso Estadual, pois sempre as achava ótimas.

Mas a grande mudança jurídica nasceu no alto do morro.

 Líderes comunitários entregavam projetos nas mãos de Bernardinho, cada vez que ele recebia os populares. Nos bairros pobres da cidade, em lugares onde os vizinhos se reuniam a jogar boliche, ou as mulheres a fazer tricô, o sonho impossível das pessoas começou a ser escrito. Dessa maneira, o primeiro projeto popular aprovado na Casa Azul, foi: - Uma clínica para os drogados.

Nas periferias mais pobres, os rapazes entravam no comércio ilegal de drogas como opção para combater a miséria. Vendiam bagulho em Escolas, Universidades, bares, espaços públicos, mas com o tempo eles também se viciavam, infernizando a vida familiar.

Bernardinho assinou esse projeto sorrindo, e enviou-o para o Congresso. Em menos de 40 dias, inaugurava-se em frente da TV a Casa de drogados em meio da euforia popular. Nos dias que se seguiram, os jovens eram colocados no camburão da polícia, e internados para tratamento médico, com todas as despesas pagas pelo Congresso. As mães choravam. De alegria e de esperanças, pois um adolescente drogado era como uma praga nesse mundo. Só causava o sofrimento das pessoas em redor, não trabalhava, e um dia terminava assassinando um inocente, ou, suicidando-se.

Mas entre as ambições inalcançáveis de Bernardinho, estava o ataque aos vigários.

Em Alubiavam, existiam 1.300 igrejas, de 20 religiões diferentes, que mandavam muito mais do que o Presidente e o Congresso junto. Tudo o que os beatos falavam nos púlpitos, a multidão obedecia com submissão. Nem as denúncias das apreensões dos cofres bancários abalaram a fé popular. Embora 80 sacerdotes estivessem presos por falcatrua, ainda assim a população continuava a lotar as igrejas. E o que era ainda pior. Depois que Bernardinho desapropriara a riqueza desses líderes, eles estavam exigindo quantias maiores aos súbditos, para sair da pobreza. E o povo entregava, mais numa vez, o tesouro ao ladrão.

O que fazer? E sempre que Jorge o acompanhava, Bernardinho desabava com ele, em busca de uma luz, pois esse conselheiro era o homem mais inteligente que conhecesse.  Regina comentou, num jantar entre os quatro, que as pessoas ainda não sabiam distinguir entre o que era verdade e o que era falso na espiritualidade. Não existia perdão para os crimes hediondos. Nem na terra nem no céu. Nenhum Deus, ou Deuses miraculosos perdoavam pecados. Assassino ia ser surrado, no mínimo, depois da morte.

Evita achava que se podia fazer uma lei proibindo a entrada de menores nas igrejas. Definir uma idade mínima para entrar nos templos. Se isso fosse convertido em lei, quem fosse contra, ia para a cadeia.

Bernardinho deu-lhe um beijo na boca, cheia de sopa, rindo, e se engasgando de felicidade. No Congresso, não havia sequer UM homem de igrejas. Sequer as mulheres acreditavam em divindades. Todos eram especialistas eminentes, artistas de vanguarda, pessoas que só acreditavam naquilo que a ciência podia comprovar. Esse projeto de “idade mínima” para entra em igrejas, passaria voando como um pássaro. Seria aprovado, aplaudido e festejado. E ele mesmo escreveria. Com a ajuda da Regina e do Jorge, é claro.

Mas a maior revolução de Bernardinho em Alubiavam foi terminar com as favelas de seu país.

Paulo, Paulina, Miriam, Maláqui e Peter acompanharam Jorge e Regina a visitar as favelas, durante uns 20 dias, ao lado de líderes comunitários. Era mais ou menos um milhão de pessoas amontoadas em morros, dentro de casas que desmoronavam com as enxurradas e com os vendavais, todos os anos. O quadro era realmente arrepiante. Sem calçadas, sem esgotos, havia lugares onde a merda escorria para baixo, junto ao lixo, originando pragas, doenças, e um cheiro dos infernos.

Paulo pediu para Peter fazer o estudo das camadas inferiores do chão desses morros.  

Em meio da mata nativa, nos cumes mais altos, Peter dilatou as pupilas, para fazer desintegração, e cavou um buraco com 50 metros de profundidade e 2 metros de diâmetro. Depois, Paulo deixou-o cair amarrado numa corda, com uma luz na cabeça. E o resultado era o esperado. No subsolo só havia rocha maciça, com uma frágil camada de terra por cima, que mal tolerava uma casa de tijolos de um andar.

Encheram o buraco de água, deixando uma pequena lagoa no lugar, e desceram ladeira abaixo com todos discutindo o que fazer.

Durante 40 dias, os engenheiros alienígenas e os engenheiros iguanas das empresas de Benjamim, se reuniram periodicamente, em busca de soluções.

Miriam sugeriu fazer um túnel na rocha maciça, de 50 metros de profundidade, com 30 cm diâmetro para colocar uma barra de metalponita especial, a qual se ergueria no ar até os 100 metros de altura. Fizeram cálculos, e se chegou à conclusão que 6 hastes como essa aguentavam um edifício de 8 andares com 48 apartamentos, se elevando uns 4 metros acima do chão. Com quatro dormitórios cada um.  Cada edifício teria um elevador central, e no alto, um guarda-chuva invertido reteria a água da enxurrada. Nenhum carro subiria mais por essas favelas. Haveria, em seu lugar, bondinhos subindo e descendo com cordas, sem encostarem-se ao cerro, com várias estações a cada três ruas. Ou seja, as pessoas terminariam com os desastres de atropelamentos, que matavam mais que as pragas. Para coleta de lixo, subiria um trem movido à eletricidade, cujos trilhos ficariam acima do chão, sustentado por estacas finas, incrustadas nas profundezas da rocha.

Nos dias seguintes, artistas da empresa fizeram a maquete, pois eram gênios em levantar cidades em miniaturas.

E Jorge levou tudo como presente para Bernardinho.

E essa maquete derreteu o coração de Evita, e arrancou lágrimas dos líderes comunitários.

E como esse trabalho foi acompanhado dia a dia pela mídia, e se alastrou pelo mundo afora, empresários de outras cidades do planeta compraram os desenhos desses edifícios, metalúrgicas adquiriram a fórmula da metalponita indestrutível, e os países ricos deram início a uma era de grandes mudanças, com o intuito de banir de vez a miséria.


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Notas finais do capítulo

Em meio da mata nativa, nos cumes mais altos, Peter dilatou as pupilas, para fazer desintegração, e cavou um buraco com 50 metros de profundidade e 2 metros de diâmetro. Depois, Paulo deixou-o cair amarrado numa corda, com uma luz na cabeça. E o resultado era o esperado. No subsolo só havia rocha maciça, com uma frágil camada de terra por cima, que mal tolerava uma casa de tijolos de um andar.
Encheram o buraco de água, deixando uma pequena lagoa no lugar, e desceram ladeira abaixo com todos discutindo o que fazer.
Durante 40 dias, os engenheiros alienígenas e os engenheiros iguanas das empresas de Benjamim, se reuniram periodicamente, em busca de soluções.



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