O Lobo-homem e o Feiticeiro Mestiço escrita por Melvin


Capítulo 25
25: O território


Notas iniciais do capítulo

Olá! Para quem ainda não desistiu de conferir o fim dessa história! (Faz, tipo uns 4 meses que nao atualizo. Desculpa >.<")

Anteriormente: após ser quase sequestrado e ajudar um grupo de peregrinos a recuperar seu tesouro, Luahn finalmente está a caminho para salvar seu meio irmão lobinho e seu pai de um grupo de lobos rebeldes. Com isso, deixa momentaneamente de lado seu desejo de ter Fiel de volta. 

Fique com a continuação:



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[Luahn:]

Graças ao raro pingente cravado em minha pele mantive o controle do meu corpo nas noites em que me transformei em um monstro meio lupino e viajava com meu mestre em direção à alcatéia de lobos. Mas não dormi bem, pois de noite ficava sem sono e de dia, quando podíamos caminhar, eu estava cansado. Mejem então me deixava montado em seu cavalo enquanto seguíamos até o lugar distante e mais frio.

Confortando-me de alguma forma, durante as noites absolutamente calmas descobri a presença de Carvão e Névoa em algum lugar. Os irmãos não tinham desaparecido completamente depois que Fiel sumiu, porém também não se aproximavam, provavelmente por não confiarem no monstro em que me tornava quando a lua cheia surgia completa.

— Acredita que ainda terá mais noites como criatura? — questionou Mejem quando o nosso ultimo dia de descanso em um simples acampamento em uma área isolada e selvagem estava acabando.

Nós usávamos algumas camadas de roupas e nossas cobertas como capa para o clima mais frio do novo território. Não havia vilas ou humanos naquela área e tudo possuía um ar de sobrevivência, como as pobres árvores e pinheiros retorcidos que lutavam pela vida durante o inverno persistente. O sol estava se pondo mais uma vez e o velho feiticeiro falava baixo, cauteloso com qualquer som e o medo de predadores.

— Acho que terei mais uma... No mínimo. — Deixei alguns galhos na fraca fogueira e encarei um bosque que estava além de uma planície limpa e esbranquiçada. Estava mais frio e eu estava confuso se havia passado tempo suficiente para a estação ter mudando ou era aquela área que o inverno conseguia se estender mais que o normal.

— Eles estão lá, Mejem.

— A alcatéia? — o homem ficou tenso, se pondo de pé devagar, mas pronto para seguir o plano que já tínhamos combinado durante os dias de viagem.

— Não. Os irmãos. Eles têm vir agora. — então fiquei de pé e chamei Névoa e Carvão o mais alto que pude com alguns assobios depois.

— HEY! Perdeu seu pouco juízo!  — Ele jogou um galho em mim e brigou comigo, com uma expressão nervosa. Assim que o silencio voltou, um distante uivo soou de uma colina errada.

— Não podemos ficar esperando, Mejem — argumentei e tentaria chamá-los novamente, mas:

— Mas então faça de outro jeito!

— Qual? Precisamos deles com você! Não temos tempo!

— Criança idiota! Tente uma oração de invocação!

— Ah, sim!  — Havia me esquecido porque era um aprendizado que se usava muito pouco.

Então, sendo orientado pelo meu mestre, assumi a postura com as mãos unidas de um jeito único para isso e concentrei-me para realizar o encanto. Muito mais rápido do que quando aprendi a fazer aquilo com catorze anos, estabeleci uma conexão com a suave áurea mágica de tudo e mandei o pedido diretamente para as faces dos jovens lobos que visualizei na mente. Disse-lhes para que se aproximassem e nos encontrasse o quanto antes. Contudo, enquanto estava naquele estado mental focado nos irmãos lobos, senti uma mana momentânea, como um borrão passando na mente e logo desaparecendo. Abri os olhos, estranhando.

— Espero que aquilo sejam seus lobos — Mejem apontou para a planície onde dois pontos de moviam em uma corrida, um branco e um escuro.

— São eles. — Sorri feliz por eles terem atendido meu chamado com coragem. — Mas tem algo, Mestre... Algo nesse ambiente que continha algum feitiço. Será que podemos estar sendo observados?

— Tão distantes? Alguém de nossas gerações não saberia como fazer... Mas, possivelmente, o feiticeiro Okumanuai sim.

Meu coração apertou-se um pouco quando ele disse aquele nome.  Pois, se estivesse certo, significaria que Fiel podia estar por perto. E o que eu não precisava era ter que lidar com tudo ao mesmo tempo e escolher entre agir para resgatá-lo ou salvar meu irmão menor do ataque de lobos rebeldes.

— “Feiticeiros?...” — a voz da loba soou hesitante, ela estava ao nível do solo, meio escondida atrás de um tronco distante.

— Névoa! — sorrindo, chamei-a para próximo. — Preciso da ajuda de vocês dois e que me dêem toda a confiança que tiverem.
Carvão surgiu, levantando ramos de um arbusto perto dela:

— “Mas e o monstro? O matador de lobos está com vocês” — ele parecia mais tenso que a irmã, ou ele não sabia esconder sua emoção tão fácil como ela.

— Infelizmente, o monstro sou eu. — Eles me encararam por um momento. — Mas prometo com minha vida que não machucarei nenhum de vocês! Confiem em mim, por favor! Eu preciso que me ajudem agora para podemos encontrar Fiel depois.

Os lobos ficaram em silêncio por um tempo e se olharam:

— “Faz tempo que ele está perdido...” — Carvão comentou para irmã. — “Talvez nosso alfa esteja precisando de nós para ajudá-lo também... Com o feiticeiro será mais fácil encontrá-lo.”

— “Faremos o possível” — concordou Névoa.

Contei-lhes o plano para interferir na alcatéia, mas deixei para o final dizer-lhes que seria necessário enfeitiçá-los para que ambos ficassem fortes o suficiente para enfrentar os lobos mais velhos. Ao ouvirem essa parte eles ficaram inquietos, virando as orelhas para trás e movendo as patas, me preocupei, mas eles mantiveram sua decisão, mesmo que tivessem tremido enquanto Mejem executava a magia em cada um deles. Por um tempo, com a força e mana que meu mestre feiticeiro compartilhava com eles, Névoa e Carvão ficariam do tamanho de um lobo adulto, mas um pouco mais ágeis e mais fortes que os lobos comuns. O papel deles seria de protegerem Mejem, um humano, quando fosse atacado pela alcatéia.

Uma ave piou de forma aguda e solitária de um galho próximo, chamando a nossa atenção por que nos encarava fixamente, então ela desceu para o solo.

— “Comida!” — Carvão saltou sobre ela antes que entendêssemos, mas o pássaro levantou vôo e foi pousar desengonçadamente em Mejem.

— Espera. Essa sensação... É um mensageiro! — Exclamou o homem, finalmente encontrando o pedaço de pergaminho amarrada em sua pata. 

Aquilo explicava seu comportamento amigável. Havia uma área de estudo na sociedade da magia que buscava uma forma de comunicação eficiente à longa distância e o treinamento ou controle de uma ave era um dos ramos, porém exigia um conhecimento profundo da espécie usada e itens especiais que mantinham a magia estável e fixa para controlar os instintos da ave até que cumprisse a entrega da mensagem. Sabendo disso, conclui que a interferência mágica que eu havia sentindo antes podia ser daquele bicho.

— É de Agatha. — Ao ouvir o nome, a ave saltou veloz do ombro de Mejem e desapareceu no céu, dissolvendo a sensação sutil de magia que pairava no ar. O homem leu em silencio antes de me contar: — Ela disse que o feiticeiro pretende tomar um lugar chamado Coluna Queimante e depois reviver a pior criatura que existiu na época da qual eles vieram. E nós deveremos encontrá-la antes que ele consiga seu objetivo ou esse mundo não terá dias de paz.

Nesse momento, eu ainda não podia entender a grandeza do plano que o feiticeiro que roubou meu Fiel tinha e não podia começar a pensar nisso estando no meio de algo importante. Perturbado, apenas fui me afastando da fogueira do acampamento por que a lua cheia já se erguia na noite escura. Caminhei, recuando de costas para as sombras e livrando-me de boa parte da roupa, apesar do frio arder na minha pele e a confusão no rosto do mestre feiticeiro.

— Vamos deixar isso na lista, Mestre... Para depois também.

— Certamente. Onde está indo?

— Está na hora e não quero assustar os irmãos quando me transformar.

Meu aviso alertou Névoa e Carvão e, como previ, mesmo assim eles se distanciaram quando minha forma gigante e próxima de um lobo surgiu. Esse momento indicava que estava na hora de partimos em direção a alcatéia.
Logo, enquanto facilmente destruí a fogueira com uma pisada, Mejem liberou seu cavalo das rédeas lhe dizendo que era para que ele sobrevivesse e que não devia segui-los, prometendo que voltaria para buscá-lo. Estranhamente o cavalo olhou atentamente, parecendo compreender suas palavras e confiar, ficando calmo mesmo livre de qualquer corda, cela ou bolsas.

...

Com a noite instalada, começamos a travessia da planície branca e intocada, onde a neve que tinha caído há dias ainda estava depositada como um tapete e refletia a luz azulada da lua. Mejem se agarrava como podia sobre mim enquanto eu corria para alcançar as colinas no pé de uma montanha disforme, que se elevava subitamente no horizonte e era cheia de pontiagudos pinheiros. Entre as rochas, cavernas, gelo e troncos daquele lugar estavam o centro do território da alcatéia e meu meio irmão lobo.

Uma brisa fria soprou e a lua havia desapareceu entre as poucas nuvens, deixando o ambiente mais ameaçador e sombrio. Carvão, em sua forma de lobo crescida, acelerou de repente, assumindo a dianteira e se distanciando até conferir algo que estava derrubado na neve. Graças ao seu corpo leve de lobo normal e resistência jovem, ele era mais veloz que eu.

— “É um lobo morto por mordias. Deve fazer alguns dias” — ele disse-me sem emoção quando eu ainda me aproximava.

— “Continue” — avisei, sem parar a corrida e ignorando a evidencia. Um corpo sem vida e abandonado não podia nos distrair mais, certamente era algum traidor dos rebeldes que não recebeu piedade.

A poucos metros de invadirmos a colina que ficava no pé da montanha, um uivo soou, ecoando. Infelizmente, havia uma muralha de pinheiros pequenos na única passagem entre paredões de rochas que encontrei. O espaço entre seus troncos era estreito demais para que meu corpo exagerado passasse, mas os irmãos lobos conseguiram desviar e achar brechas facilmente e sumiram. Mesmo que eu investisse meu peso para alcançá-los e abrisse um caminho forçado, as madeiras seriam muitas e se tornariam resistentes demais, assim seria um avanço lento, então minha opção mais rápida foi voltar e ganhar distância, encarando o rochedo mais baixo que ladeava a entrada da montanha. O feiticeiro montado sobre mim questionou minha intenção, mas corri antes que ele tentasse manipular meu plano de invasão. Saltei com as garras na pedra, impulsionando-me para cima algumas poucas vezes até alcançar e agarrar o topo.

Apesar de ter vencido aquela proteção natural não havia tempo, lobos rosnaram e uma luta tinha começado sem mim no meio das árvores. Corri entre troncos com mais espaços para auxiliar Nevoa e Carvão, felizmente os dois seguiam em minha direção também, dando uma falsa aparência de fuga.

Mejem saltou de minhas costas assim que percebeu que o plano havia começado e foi se unir aos irmãos lobos. Seguindo meu papel no plano, bloqueando o caminho e enfrentando os lobos que surgiam das sombras escuras, os chamando para mim ao rugir e invocando o próximo oponente que tivesse coragem.

Entre golpes e giros eu evitava mordê-los, tentava apenas me esquivar e investir sem verdadeira intenção de abocanhar alguma carne, mas meu ponto fraco era o pingente, se algum deles o arrancasse eu perderia minha consciência e tudo que estávamos fazendo ia acabar em vão. Por isso, quando senti uma mordia naquela área do ombro, meu instinto foi golpear e afastar imediatamente. Sangue espirrou em minha boca e o soltei rápido, mas o lobo grunhia ferido e me senti culpado. Esta pequena distração deu abertura para outros atacarem juntos. Rapidamente, recuei e esquivei preocupado que meu instinto animal falasse mais alto se a situação ficasse mais critica contra mim.  Contudo, uma parte na minha mente alertou que eu não podia me afastar daquilo por medo, as coisas tinham que ser resolvidas logo.

Mejem e os irmãos lobos já haviam sumido completamente da cena, seguindo suas funções de alcançar o alfa e o seu herdeiro, e para mantê-los protegidos eu tinha que ir mais para dentro do território da alcatéia e encontrar o líder rebelde. Juntando coragem, ignorei os lobos que me rodeavam irritados e, com um salto sobre eles, avancei em direção ao local onde o cheiro dos lobos era mais forte.

Correndo entre pinheiros tortos e arvore, um uivo ecoou próximo e incitando o ataque em minha direção. Pouco depois, um vulto moveu-se da direção desse som. Era o lobo que comandava a rebelião e fui atrás dele, mas sua forma escura correu e desapareceu na noite enquanto o grupo de lobos que me perseguia me impediu, agarrando minhas pernas. Mesmo que eu os chutasse e tentasse saltar para me livrar deles, eles voltavam. E aqueles que me mordiam e se penduravam no meu pescoço eram persistentes e fortes, puxando meu rosto para baixo, tentando fazer-se perder o lobo escuro de vista. Tendo que escolher, decidi proteger a área do pingente com a lateral da cara, resistindo e ignorando o paradeiro do líder deles. Contudo, de repente o lobo preto surgiu abocanhando meu focinho, tão próximo do nariz que logo me senti respirando meu próprio sangue. Usando mais força do que pensei que tinha, o fiz soltar com um movimento de cabeça. Depois, tirei os que se agarram no meu pescoço, me pondo de pé sobre as patas de trás e ignorando que fosse machucá-los ou não ao me livrar deles bruscamente.

O lobo preto eriçou os pelos me encarando, seus companheiros também pararam e ele me atacou ferozmente e sozinho, me esquivei de algumas mordidas, mas recebi vários beliscões quando não me afastava rápido o suficiente. Os outros não se intrometeram e eu não revidei os ataques, estava percebendo o quanto aquele lobo tinha controle sobre os outros e o tamanho de sua arrogância ao desejar me enfrentar sem ajuda.

Continua.... em breve...
Até lá! ;D


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