Coincidências não existem... será? escrita por Carol McGarrett


Capítulo 3
Capítulo Final


Notas iniciais do capítulo

O capítulo tá enorme, me desculpem! Mas eu tinha que amarrar tudo!
E aqui acaba mais uma!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/774316/chapter/3

McNamara entregou uma parte do esquema. Tinha gente da própria Marinha querendo acesso aos dados sigilosos. Queriam vender para um contato no leste da Europa. Quanto ao envolvimento de outras organizações ou sobre as ameaças recebidas pelo Comandante. Nem tinha ideia do motivo ou conteúdo das ameaça ou de onde elas vinham. Mas nos contou que ouviu boatos de que Rhodes estava sendo sondando pela CIA, para trabalhar para eles quando passasse para a reserva.

Se pudesse ter envolvimento da CIA, eu precisaria da influência do Diretor para poder falar com alguém lá dentro, mesmo sabendo que nunca me contariam a verdade.

Com muito custo, Leon fez contato com o Diretor da CIA e este, por sua vez, disse que estava usando o Comandante como informante. Disse que ele já pensava em se transferir para a reserva, então a CIA o estava treinando e monitorando para poder utilizá-lo em um futuro próximo. Mas não podia nos fornecer nenhum dado sobre a sua morte, pois até o momento eles nem sequer sabiam que ele havia morrido.

— Quais dados ele passava para a CIA?

— Inteligência básica, localização de acampamentos e, principalmente vídeos e conversas gravados. Nada que comprometesse o andamento das missões, mas levando-se em consideração que a casa do Comandante esta grampeada, pode ser que tenhamos um infiltrado no Pentágono.

—----------------------------

 - Um infiltrado no Pentágono? Sério? Isso é muito maior do que nós poderíamos prever! – Tony falava em meu ouvido enquanto descíamos as escadas para encontrar os demais.

A cena na sala abaixo de nós era tudo, menos a de um local de trabalho. Todos resolveram que era uma boa hora para fazerem uma pausa. E Abby era quem estava ditando as regras. As visitantes da vez não tinham culpa, mas eram o centro das atenções.

— Jennifer comentou muito pouco de você...

— Jen não era muito de falar da família, viveu para essa agência, Dr. Mallard. E essa aqui – ela apontava para a filha – desde que descobriu a existência de uma agência que, palavras dela, não minhas, “cuida da Marinha”, vem falando o tempo todo que vai trabalhar por aqui.

— Já é muito bem vida, criança! – Ducky fez um carinho na cabeça de Liz enquanto ela e Ziva, jogavam algum jogo no computador de McGee.

— Obrigada, Ducky!

— Olhe a educação, Elizabeth.

— Desculpe, mamãe. Agradeço as boas vindas, Dr. Mallard. – ela até soou educada, mas o olhar era de quem iria repetir o apelido assim que possível. – Oi, Jethro!!! Oi Agente DiNozzo! – Liz cantou nossos nomes e todos se viraram na mesma hora.

E lá estava a irmã de Jen. Mesmos cabelos vermelhos, porém a cor dos olhos era diferente. Mas mesmo assim era como ver um fantasma da mulher que um dia dirigiu essa agência, que um dia...

— Lizzy, conversaremos sobre a sua educação mais tarde.  – Heather ralhou com a filha

— Mas mamãe... ele...

O olhar lançado à filha faria até um Marine dar um passo atrás.

— Desculpe o comportamento da Elizabeth, você deve ser o Agente Gibbs. Prazer, Heather Shepard. – Ela veio em minha direção estendendo a mão.

— Prazer, Jethro. – Repeti o aperto de mão - E a Liz... Elizabeth não está sendo mal-educada, eu pedi que me chamasse assim.

Ela nada disse quanto ao meu comentário sobre a filha. Mas eu esperava uma outra recepção. Se ela já sabia quem eu era, quem eu fui pra irmã dela, eu esperava alguém me medindo e ela não fez isso. Manteve-se focada no que veio fazer aqui.

— Acho que eu não tinha que vir aqui somente para buscar a Lizzy... tem algo que eu possa fazer? Digo, para ajudar na investigação?

— Vamos conversar na sala de reuniões. Assim a Liz não nos escuta – Notei que Lizzy tinha muito interesse no que conversávamos e ela não tinha que escutar nada daquilo.

Heather olhou para a filha que agora estava parada ao lado de DiNozzo no fitando com curiosidade e depois para o local em si. Notei que ela não queria que a filha desse ainda mais trabalho.

— Ela não dá trabalho para ninguém aqui, pode acreditar em mim. Isso é quem somos. E a presença dela apenas trouxe lembranças.

A irmã de Jen apenas assentiu e eu fiz a menção de que me seguisse escada acima. Mas antes de subir.

— Lizzy, eu vou ali em cima, se comporte, eu não esqueci o que você acabou de fazer, não me faça arrepender de confiar em você, ouviu mocinha?

A garota, assim como toda a equipe arregalou os olhos.

— Sim mamãe. Eu vou ficar quietinha. Prometo.

Logo em seguida eu lancei um olhar para a minha equipe que dizia o que eu não poderia dizer em voz alta “Não deixem essa menina se encrencar. Comportem-se vocês também.” E notei que a mensagem foi recebida por todos.

—-------------------  

Heather me seguiu em silêncio, somente o barulho de seus saltos eram ouvidos, algo que na mesma hora me remeteu à sua irmã.

Algumas pessoas que passavam por nós, acabavam por parar e olhá-la com atenção. Para terem certeza de que não viram um fantasma. E ela notou isso.

Chegamos à sala e ela tomou um assento para si. Me olhou com atenção e foi direto ao assunto:

— Foi a Marinha, a CIA ou foram terroristas querendo vingança sobre alguma missão que ele liderou quando ainda era líder do esquadrão?

— Você sabe da CIA? – Ela me pegou de guarda baixa.

— Sei que James estava sendo sondado para ir para lá quando se transferisse para a reserva. Mas eu nunca confiei naquela agência. Não tenho motivos, é só intuição.

E ela estava certa em não confiar.

— Até onde sabemos não foi a Marinha quem puxou o gatilho, mas alguém de dentro da Marinha estava espionando o seu marido.

— McNamara.

Mais uma vez ela certara em cheio. Se não fosse médica teria sido uma excelente agente.

— Sim.

— O que aquele desgraçado fez?

— Hackeou os computadores da casa. Todos eles.

— Inclusive os meus... não achou nada, tenho certeza.

— Não, seu marido não levou esse tipo de trabalho para casa.

— Mas...

— Acontece que a CIA nega o assassinato. McNamara vai ser acusado de traição e será levado à Corte Marcial. Mas ele se comunicava com outras pessoas no leste europeu. E estas pessoas ainda não sabem da morte do Comandante.

— O que nos leva as ameaças que Jim recebeu.

— Sim. Você e Liz estão em perigo.

Heather respirou fundo.

— Engraçado. Achei que tudo isso, que essas ameaças tinham terminado. Eu achei que tinham acabado quando o Coronel foi assassinado.

— Jen te contou...

— Sempre soubemos, pra falar a verdade. O velho Coronel era orgulhoso demais para tirar a sua própria vida. E quando Jen o encontrou morto, cada uma reagiu de uma maneira diferente. Eu quis sair desse mundo das forças armadas, mas acabei voltando quando conheci James. E a Jenny, bem, ela nunca aceitou a morte dele. Jurou que o vingaria.

Eu a olhei, não sei se ela tinha as respostas para as dúvidas que sempre tive, ou se era apenas intuição.

— Mas isso não vem ao caso. A morte do meu pai ou que a Jen fez ou fazia não são os motivos da nossa conversa. A morte do meu marido é. Minha casa é uma cena de crime. Não posso voltar pra lá. Tem alguém nos ameaçando que vocês ainda não sabem quem é, seria possível que eu tirasse Lizzy do país? Eu tenho uma casa em Londres...

Tirar Lizzy do país, por que aquilo me doeu tanto? Porque eu perderia o único laço que tinha restado com Jen. Aquela garotinha era a minha única e última forma de lembrar que a Jenny realmente existiu. E eu aceitei isso. Mesmo sabendo que ela iria embora, eu aceitei isso. E, apesar de mentir para Ducky de que eu a protegi somente porque devia á tia dela, era mentira. Eu quis protegê-la porque assim eu estava tentando corrigir um erro do passado. Eu compensava o fato de não ter estado lá quando Jen precisou de mim, estando perto de Liz. E, para falar bem da verdade, eu não via aquela menina como sobrinha da Shepard, eu a via como filha dela. A semelhança era tanta que era inconcebível para mim que Liz não fosse a filha de Jenny. Pois ela era tudo o que uma filha de Jen seria. Mas acontece que Jen não estava mais aqui e Elizabeth era apenas sua sobrinha e a verdadeira mãe dela queria a sua segurança, e era isso que deveria ser feito.

— Pode. Você pode levá-la para onde for o mais seguro para vocês. Mas saiba que, continuaremos investigando e, até que descubramos quem é o verdadeiro culpado, vocês duas ainda estão em perigo.

— Entendo. Tem mais alguém a quem devo temer?

—Eu diria todos. Não sabemos quem são os negociantes de McNamara, ele não nos deu nomes. Nunca os viu pessoalmente. E, é bem possível que tenhamos um infiltrado no Pentágono, no departamento onde o Comandante estava. Ele lidava com informações altamente sigilosas. E o assassinato dele pode desencadear muitas coisas.

— Como queima de arquivo da esposa e da filha, porque elas podem ter ouvido demais sem saber? – Apesar da força que ela estava demonstrando, vi que tudo isso a abalava. E tinha certeza que não era pela vida dela que ela temia, era a da filha.

— Podemos colocar vocês sob proteção. Não sairiam do país, mas ficariam seguras.

— Agente Gibbs. Eu agradeço o que está tentando fazer, mas manter uma criança de cinco anos dentro de um quarto de hotel completamente fechado e com seguranças não vai ser uma tarefa fácil. Isso sem contar com o cachorro. Aquele maldito cachorro.

Eu estranhei ela xingar o cão...

— Agradeça a ele depois. Pois foi Ice quem protegeu sua filha. Apesar de achá-lo um tanto quanto grande demais para ela.

— Ela te contou como o encontrou?

— Ele apareceu na porta da cozinha.

— E aí o demos para o veterinário.

— E o cachorro voltou.

— Como se alguém quisesse que ficássemos com ele. Eu nunca entendi como ele apareceu e voltou. James jurava que não foi ele. Mas o cachorro sempre, sempre, protege a Liz. Não importa do que.

— “Como se alguém quisesse que ficássemos com ele”...?

— Sim. É estranho, mas é a única explicação plausível.

— Tem quanto tempo que o Ice apareceu na sua casa?

— Ele tem um ano agora, mais ou menos, tem uns dez meses, foi logo depois do aniversário de Elizabeth.

— Quando as ameaças começaram?

— Sim. Você não está achando que o cachorro é o grampo?

— Não sei. Pode ser. Vou pedir para Abby analisar a coleira. E, enquanto isso, vamos pensar em um local onde você duas poderão ficar sem chamar muita atenção.

— Agradeço.

—-----------------

Desci às pressas, e pedi que Abby estivesse pronta, pois ela analisaria uma evidência viva.

— Onde está, Gibbs?

— Vou buscar agora. DiNozzo comigo. Ziva e McGee preciso que encontrem um local seguro para testemunhas. Nada de quartos de hotéis.

— É pra já, Gibbs!

— Uma casa segura.

— Algo bom, nada de casas despedaçadas. – disse já entrando no elevador.

— E que evidência vamos pegar, Chefe?

— Ice.

— O cachorro?! Só pode ser brincadeira, né?

— Não, acho que grampearam a casa através do cachorro.

— Ideia genial. Bem a cara do McGee fazer isso!

— Vamos logo Tony.

— Chefe, que tal eu dirigir dessa vez e você tomar conta da fera?

Eu nem me dignei a responder.

— Tudo bem. Babá de cachorro!

—-----------------------

Não demoramos e Abby já estava com Ice em suas mãos.

— Ice, calminha! Deixa a tia Abby te escovar e tirar os dados do seu chip! Não vai doer! Ei! Eu preciso da coleira também!

Quando o cachorro se viu livre do aperto de Abby saiu correndo feliz pelo andar...

— Se esse cachorrinho fugir estaremos encrencados...

— Cachorrinho, Abby? Aquilo ali é um lobo disfarçado!

— Tony, não era você ser o babá dele? Vai atrás. Senão vai ter que se entender com a dona dele!

— Certo, Chefe. Ice, cachorro fofinho, volta aqui... vem pro tio Tony...

— Então vejamos. Nada de anormal na pelagem. Ice é um cachorro de raça pura. A coleira também não tem nenhum localizador ou grampo, e o chip dele... isso é interessante.

— O que é interessante, Abbs?

— Esse cachorro foi comprado aqui. Digo, em Georgetown. Temos aqui o nome da loja, e o nome do proprietário.

— Quem?

— Elizabeth Shepard-Rhodes. Nossa ruivinha preferida.

— Mas a mãe dela disse que não comprou o cachorro.

— Pode ligar para a pet shop e perguntar quem foi. Ou pode ir lá. Já mandei o endereço para o celular de Tony. Eu vou ser a babá do Ice enquanto isso. E, Gibbs, a Liz está com a mãe dela na sala de reuniões.

—------------

— Era uma pista furada, Chefe? Como assim? Essa história do cachorro é muito estranha.

— Furada ou não, ainda não explicou quem comprou o cachorro.

— Vou verificar os vídeos de um ano atrás para ver se encontro o mensageiro, talvez tenhamos uma dica.

— Está esperando o que?

— Nada na pet shop? – Ziva nos perguntou assim que entramos.

— Não. O dono disse que foi uma encomenda. Pediram por e-mail um filhote de husky siberiano, descreveram mais ou menos como ele deveria ser, deram as informações para serem colocadas no chip de rastreamento e pediram que fosse uma surpresa, que o cachorro fosse colocado na porta dos fundos. O pagamento foi efetuado em dinheiro por um mensageiro, horas depois.

— Coisa estranha.

— Ou um presente. Quando Elizabeth faz aniversário? – Ducky que ouviu toda a explicação do mistério do cachorro perguntou.

— Em abril. – McGee confirmou

— Quando foi a encomenda?

— Início de abril. Mas o cachorro só foi entregue no final do mês.

— Acha que foi alguém, Ducky?

— Não sei. Só conjeturando, Ziva.

— Não tem nada demais no mensageiro, Chefe. Está com uma roupa que indica que trabalha no Banco Nacional.

— Vamos interrogá-lo.

—-----------

— E então?

— Preciso conversar com a Heather. Só ela pode explicar esse fundo.

Voltei para a sala de reuniões para encontrar Liz dormindo no colo da mãe enquanto ela trabalhava em um notebook. E o Ice, agora deitado sob os pés da garota, roncava alto. Quando ela me viu fechou o computador, ajeitou a filha no sofá e veio em minha direção.

— O que aconteceu?

— Você sabe que a Lizzy tem um fundo no nome dela? E que desse fundo partiu o dinheiro que pagou a compra do Ice?

Ela ponderou e fez uma pergunta estranha.

— Em qual banco?

— Nacional.

Sua feição demonstrou surpresa.

— Eu tenho um fundo no nome dela. Mas no Banco Federal de Washington. Não faço ideia de quem abriu esse fundo. Sei que Jen tinha conta lá. Pode ter sido ela. Mas quem autorizou o saque e a compra do Ice, não faço ideia e isso me assusta.

— A Jen deixou algum testamento.

— Sim. Tudo para Elizabeth. Mas ela só pode ter acesso depois dos vinte e um anos. Eu tenho uma cópia dele, não menciona nenhum fundo.

— Ela recebeu algum presente ou achou algo perto de datas especiais?

— Não. O Ice apareceu na nossa porta no final de abril, mês do aniversário dela, mas fora isso, mais nada.

— Foi você quem deu essa foto para ela? E este distintivo? – Mostrei a foto da Jen que Lizzy tinha me mostrado e me entregado no dia anterior, bem como o distintivo do NCIS.

— Não. Nunca vi essa foto... muito menos este distintivo...mas onde?

— Lizzy tirou de dentro da gaveta da cômoda do quarto dela e me mostrou. Perguntando se eu tinha trabalhado com a tia dela. Estavam dentro de uma caixa de madeira, com um monograma na tampa.

Heather pegou a foto da irmã e ficou olhando, e fez o mesmo com o distintivo. Sua respiração ficou pesada e ela me devolveu a foto bruscamente.

— Fique com essa foto. Foi tirada em Paris. E até onde sei, onde ela me falou, foi lá que vocês dois se conheceram ou trabalharam juntos. Não tenho ideia de como essas coisas pararam na mão de Elizabeth, mas duvido que ela vá me explicar. Não mencione mais essa foto ou o distintivo, agente Gibbs, perto da minha filha! Assim que puder, vou ver que caixa de madeira é essa...

Heather parecia furiosa. E minha intuição gritava que tinha algo acontecendo. Algo que eu ainda não sabia o que era.

Nesse momento, Ziva pediu licença e disse que a casa segura estava pronta. Mãe e filha poderiam ir em segurança. E, as coisinhas da Liz já estavam no carro, Tony fora buscá-las na minha casa.

Preparamos tudo, a primeira vigília ficaria por conta de Ziva e Tony. Enquanto isso, eu e McGee tentaríamos saber quem tinha matado o Comandante e enviado as últimas ameaças. E ao amanhecer trocaríamos os turnos.

As três saíram do prédio pela porta lateral. Tony já estava com o carro ligado as esperando, e até onde pudemos observar do andar de cima, nada de anormal estava acontecendo.

Mas em um piscar de olhos tudo mudou.

Ouvimos um estampido. Depois outro. E mais um. Estava claro como água para mim que se tratava de um disparo de atirador de elite.

Corremos escada abaixo, mas já era tarde demais. E, como se fosse possível ver em câmera lenta, um pesadelo estava a nossa frente.

Heather caída no chão, três disparos. Um no ombro, outro no abdômen e o último atravessava seu ombro. Sangue escorria de seu braço. Procurei por Lizzy, de alguma forma  Heather conseguiu proteger a filha. Mas ela não estava acordada e nem à vista. Olhei em direção à Ziva, ela parecia atordoada, fora de si com a cena na sua frente.

— Ziva! – Chamei – Ziva, de onde vieram os disparos? – Eu a chamei enquanto tentava chegar até mãe e filha.

Ela não se mexeu. Notei que Tony também estava parado e olhava na mesma direção. Para Heather.

— Vocês dois! Alguém sabe me dizer o que aconteceu aqui.

— Um atirador. – Ziva finalmente saíra parcialmente do transe que em entrara. – Do telhado. Não pude ver muito. Desculpe-me Gibbs.

— Estava em frente. Não pudemos fazer nada, Chefe. Quando vimos. Heather já estava caída. E caiu com Liz nos braços. – Tony tentava se recompor.

— Chefe! – McGee me chamou. Infelizmente Heather... – ele não continuou, - Mas Liz ainda tem pulso. Consegui medir, mas está fraco.

Antes mesmo de nos preocuparmos com as fotos de outra cena de crime envolvendo alguém da Família Shepard, tiramos Liz debaixo da mãe dela. Ela estava claramente desmaiada. Tinha um corte profundo na testa que sangrava muito e um dos tiros passou de raspão por seu braço esquerdo.

Ao fundo pude ouvir sirenes. Os guardas da base foram os primeiros a chegar, e alguém de dentro do prédio chamara os paramédicos.

Logo em seguida Abby, Jimmy e Ducky correram para fora.  Foi Abby quem viu as semelhanças. Semelhanças que assustaram DiNozzo e Ziva.

— Meu Deus! – Ela exclamou com olhos cheios de água – Foi da mesma maneira. Fizeram com Heather o que fizeram com a Jenny!

— Abbs, fica calma.

— Mas eu vi as fotos Tony! Eu vi! – Abby chorava incontrolavelmente agora.

— Eu estava lá, Abby! Acha que eu não notei! Eu vi as duas irmãs mortas, pessoalmente!

— Não é hora disso, crianças. A hora é de achar o culpado e, principalmente, levar a pequena Lizzy ao hospital. Jethro, como ela está?

— Você é o médico aqui, Ducky. – eu a tinha em meus braços agora. Seu pequeno corpo imóvel, apenas o lento levantar de sei peito demonstrando que ainda respirava.

— Sr. Palmer, corra na autópsia, pegue o kit de primeiros socorros, até os paramédicos chegarem, eu tenho que estancar esse sangramento e limpar essa ferida. Vamos entrar com ela. Pelo que vejo, ela não tem nenhuma fratura que possa nos preocupar.

Pouco tempo depois de Ducky estabilizar Liz, os paramédicos chegaram. E eu larguei toda aquela bagunça para trás. Precisava acompanhar aquela menina ao hospital.

— DiNozzo. Você está mais calmo agora?

— Sim, Chefe. Me desculpe... sem desculpas, regra nº 06.

— Lidere a investigação até a minha volta. E se certifique de que Abby está bem. Nada de gritar com ela de novo. Isso é uma ordem!

— Pode deixar. Vou te manter atualizado. Nos atualize dela também, por favor.

—---------------

Foram incontáveis exames, incontáveis médicos indo e vindo, até que ela foi trazida para este quarto.

Quando perguntaram quem eram os parentes, eu me levantei, ela não tinha mais ninguém. Ou tinha, só não eram a família de sangue dela.

— E o senhor seria o tio?

— Sim. – menti descaradamente – os pais dela morreram.

— Não darei um prognóstico à longo prazo. Ela está bem, por agora. Mas ficará em observação. A concussão cerebral foi grave e ela está sendo mantida sob sedação para que o cérebro desinche e também para o conforto dela. Amanhã faremos outra rodada de exames e, caso o inchaço tenha diminuído significativamente, poderemos começar a diminuir na dose dos remédios. As próximas quarenta e oito horas serão críticas. Se ela passar por elas sem nenhuma complicação, poderemos conversar sobre a recuperação.

Ao meu lado estavam Ducky, Jimmy e Abby. Esta última ainda não parara de chorar. E já havia rezado em todos os idiomas e para todos os Deuses para que Lizzy ficasse bem. Levando em consideração o histórico da família dela, acredito que pararam de olhar por ela há muito tempo.

—-------------

Quarenta e oito horas nunca foram tão lentas de se passar. Lizzy estava, medicamente bem, mas mesmo depois de suspenderem a sedação, ela ainda não acordara. E eu não havia saído do seu lado.

De duas em duas horas alguém da equipe vinha me atualizar da investigação. Abby voltara para o laboratório prometendo que, mais uma vez, faria o seu melhor trabalho. Até agora, a única pista era uma capsula de 308, e isso trouxe outra rodada de lembranças dolorosas. Kate Todd fora morta por uma bala do mesmo calibre.

As câmeras do estaleiro haviam sido hackeadas minutos antes do ataque e nem McGee conseguiu saber de onde veio ou quem tinha feito isso.

A única certeza que tínhamos era que não tinha sido nenhum dos comparsas de McNamara, pois, em seu depoimento junto à Corte Marcial, ainda naquele dia, ela entregara todos os nomes e formas de contato.

Então, em uma operação extraordinária, a Marinha conseguiu prender os terroristas no leste europeu. Todos de origem síria. Mas nenhum com intenções de atacar especificamente o Comandante e sua família.

Abby voltara a analisar as mensagens e e-mails da família. Nada de suspeito.

Estávamos aguardando autorização do Secretário da Marinha e do Secretário da Defesa para saber no que o Comandante vinha trabalhando, mas tínhamos certeza que quando acessássemos os computares ou tivéssemos acesso aos seus subordinados todas informações já estariam editadas.

Após setenta e duas horas de vigília e trabalho intenso de toda a equipe, Elizabeth finalmente abriu os olhos. Complemente desnorteada e sem saber o que aconteceu.

Por ordens médicas eu tinha que me manter calado sobre o destino de sua mãe. Mas isso não poderia ficar silenciado para sempre. O NCIS já silenciou segredos demais dessa família.

Logicamente ela perguntou da mãe. E do pai. E de todos da equipe.

— A equipe vai vir visitá-la em breve, seus pais, estes não vão poder vir te ver. Mas depois eu te explico o porquê. Agora descanse!

— Mas eu tô deitada nessa cama há um tempão!

— Você está se sentindo bem para sair?

— Não... minha cabeça e meu braço doem. – ela levou a mão esquerda onde estava o curativo no outro braço. Tão nova e já teria uma cicatriz de bala.

Ela se ajeitou na cama e me pediu para contar uma história, pois assim ela dormiria mais rápido. Contei uma que contava para Kelly. E mais lembranças voltaram, os últimos cinco dias estavam sendo uma prova de fogo para cada uma das memórias e sentimentos que com tanto custo guardei. Por fim ela adormeceu novamente. Fiquei um tempo velando seu sono tranquilo. Mas meu telefone tocou. DiNozzo tinha informações. Para não acordá-la, saí para o corredor, e, cada palavra que Tony me dizia no telefone eu acreditava menos que era possível tudo aquilo fazer sentido.

— Então chefe, Abby, como você sabe achou uma amostra de DNA no telhado, bem no local onde o atirador apoiou a arma. Ela rodou em todos os bancos de dados conhecidos e não achou correspondência. Pediu favores até na Interpol para que eles expandissem a busca, mas nenhum resultado.

— Sim, DiNozzo, disso eu sei.

— Acontece, Chefe, que hoje, quando chegamos no prédio, tinha um corpo na garagem. Um sujeito estranho. Procedemos como sempre e ele não tinha digitais, mas carregava uma arma de pressão, que tinha cinco balas para serem disparadas e uma já disparada.

— Continue.

— Com a bala, Abby conseguiu uma combinação com a que matou o Comandante. E, o DNA dele bateu com o DNA que recolhemos no local onde o atirador ficou. Chefe, eu juro para você, eu não faço ideia de quem possa ter feito isso. Nos entregaram de bandeja o culpado. Porém ainda não temos um nome para ele.

— E as nossas câmeras de vigilância, não pegaram ninguém?

— McGee já analisou, melhorou a imagem e nada. Só um vulto. Mas parece um disfarce. Ziva e eu reviramos a garagem e tiramos todas e quaisquer impressões que achamos do portão, mas não tinha nenhuma que não fosse dos funcionários que todos os dias mexem lá.

Eu tinha caminhado para o fundo do corredor enquanto ouvia as notícias. Era inacreditável demais. Parecia coincidência. E eu, mais uma vez recusava a aceitar que coincidências existiam.

— Muito bem, bom trabalho, diga isso à Abby e a todos. Tirem o restante do dia de folga. Depois investigaremos quem é esse cara. – Eu me virara para poder voltar ao quarto de Liz quando vi alguém saindo de lá. Por uma fração de segundo a pessoa virou em minha direção, e eu pude notar uma parte de seu rosto, me pareceu familiar, mas familiar a quem? Estava vestida como uma enfermeira, mas não se portava como uma. Apressei o passo com o intuito de alcançá-la, mas ela entrou no elevador de serviço e a perdi. Então corri para o quarto de Liz para ver se ela estava bem. Dormia profundamente e nada nela parecia diferente. Respirei aliviado. Mas ainda pensava na estranha enfermeira e nos acontecimentos absurdos dos últimos dias. Foi quando eu notei, no canto do travesseiro de Liz, um pedaço de papel fora deixado ali. O abri com cuidado e três letras impressas em vermelho se destacaram, CIA.  

Aquilo era uma pista? Mas quem era a misteriosa enfermeira que me ajudara. Seja que for, eu precisava deixar um tempo passar. Deixar que a própria agência esquecesse o ocorrido para investigar novamente.

—------------------

Lizzy teve alta três dias depois que a mensagem fora deixada. No último dia eu tinha sensação de que estava sendo observado, principalmente quando liberam a garotinha para um passeio no jardim.

Coloquei minha equipe de alerta, e, em meio aos casos que recebíamos, ainda investigávamos o envolvimento da CIA na morte da Família Shepard-Rhodes. Nada de concreto foi encontrado, por enquanto.

No dia do funeral do casal, fui obrigado a dizer para Liz o que acontecera, que seus pais não voltariam mais. Já havia dado esta notícia a incontáveis pessoas, diversas vezes, mas nenhuma delas me doeu tanto dá-la, do que quando vi os olhinhos verde da mini Shepard se enchendo de água. Ela me olhava desolada, triste e, com uma maturidade que nenhuma criança de cinco anos tem, me perguntou:

— Eu vou para um orfanato?

— Não. Eu não vou te deixar ir para um orfanato, Shepard. Você acha que eu faria isso com você?

— Não, Jethro. É só que... – e ela desabou a chorar.

Durante a cerimônia não foi diferente, ela chorou muito, chorou tanto que, acabou dormindo de cansaço no meu colo. Um sono agitado e, mesmo assim lágrimas ainda escorriam em seu rosto. E, durante todo o tempo, a sensação de ser vigiado voltou. Eu procurei em volta. Olhei rosto por rosto, mas nenhum parecia ameaçador. Notei que Ziva e os demais também estavam desconfortáveis com a vigilância furtiva e de vez em quando olhavam em volta, mas também nada viram.

—-------------

Já faz um ano desde que tudo aquilo ocorreu. Pistas quanto ao envolvimento da CIA na morte do Comandante e sua esposa chegam ocasionalmente. Às vezes é um envelope no vidro da minha caminhonete, outras, algo jogado debaixo da minha porta. A frequência não é certa. A única certeza que tenho é a de que, todas as vezes que uma pista aparece, a sensação de ser observado volta. E depois de um tempo, tudo volta ao normal.

Uma vez cheguei a pensar que poderia ser uma certa pessoa. Mas descartei a ideia. Agora volto a pensar na mesma possibilidade. Certas coisas andaram aparecendo do nada desde que Liz tinha quatro anos. Era muita coincidência para ser verdade. Mas coincidências não existem.

A foto que eu tirei de Jenny e que foi entregue ou dada para Liz.

O distintivo do NCIS que Liz deixa guardado na caixa de madeira com as iniciais JS entalhadas.

Ice perto do aniversário de quatro anos de Liz.

O corpo do atirador, logo depois que ela foi tirada de perigo há um ano atrás.

O papel deixado na cabeceira da cama do hospital, quando eu não estava perto, pela misteriosa enfermeira.

A primeira pista veio na data do meu aniversário.

As duas seguintes foram deixadas próximas à data em que conheci Jenny pela primeira vez, dentro do meu porão, e desde que Lizzy foi morar comigo, a porta da casa fica trancada, agora eu tenho alguém importante lá dentro para proreger.

No dia do aniversário de seis anos de Liz, enquanto a equipe comemorava no quintal da casa de Ducky, alguém bateu campainha, quando Abby correu para atender, só tinha uma caixa, destinada para Elizabeth. Saímos para ver se achávamos algo, mas nada nem ninguém foi visto. Porém a sensação estava lá.

E a última pista, os documentos do Comandante chegaram hoje, no dia em que Jen foi morta. E estes documentos provam o envolvimento da CIA. Mostram que ele descobriu um segredo que não deveria ter sequer visto e a Agência de Inteligência resolveu matá-lo para que ele não comentasse com ninguém. Junto com a autorização do assassinato veio a identificação do atirador. Um ex atirador de elite da marinha que virou assassino profissional para a CIA, eliminando alvos importantes ou que, de alguma forma, poderia trazer problemas para a agência.

Qual é este segredo? Eu não faço ideia. Ou faço. Se eu estiver certo, quando chegar em casa, e depois de ser recebido pela tempestade que é Elizabeth descendo as escadas gritando “Papai você chegou!” e logo em seguida pulando para que eu pegue no ar, isso, logicamente acompanhada de Ice e da gatinha ruiva, ainda sem nome, que ela ganhou misteriosamente de aniversário, saberei que tem alguém me vigiando, não é por mal, é mera curiosidade. Sei que ela não pode aparecer. Que ela tem que se manter fora de vista, mas também sei que ela não resiste ficar muito longe, não resiste não vê-la de perto e saber se ela está bem. Contudo, espero que, tarde da noite, quando tudo estiver tranquilo, ela apareça para tomar o Bourbon que deixei separado no porão. Sei que ela gostava daquele.

Eu estava certo. Ela esteve aqui. Ou ela ainda está aqui. Dessa vez, tomou coragem e subiu as escadas, eu a ouvi quando passou em frente ao meu e, depois, quando abriu a porta do quarto de Lizzy. Sei que ficou lá um pouco, velando o sono da minha filha adotiva, e tinha certeza que pegaria a foto e que hoje ficava no criado ao lado da cama de Liz e sorriria, lembrando de um passado que não voltará mais. Eu tive a vontade de ir lá vê-la, saber se havia mudado muito, se ela estava bem ou se precisava de algo, mas decidi deixá-la voltar ao seu tempo. Quando fez o seu caminho de volta, parou na porta do meu quarto. Vi a maçaneta girar, mas ela desistiu no meio do caminho. Ouvi sua respiração pesada e depois passos no corredor, ela desceu as escadas e fez seu caminho para a porta.

Quando me levantei, cedo demais até mesmo pra mim, e sabendo que Liz não é lá uma criança que gosta das manhãs, decidi ir para o porão trabalhar no meu barco. E lá, pregado na minha estação de trabalho tinha um bilhete sem assinatura, mas eu reconhecia a caligrafia

 “Obrigada pelo Bourbon, você ainda se lembra de qual eu gosto! E muito obrigada por cuidar de Lizzy. Fico te devendo mais uma. Um dia prometo te contar tudo, mas ainda não é a hora. E espero que esse barco que está construindo não se chame Diane, pelo amor de Deus!

Te amo.”

— Não, o nome desse barco não é Diane. É o seu nome. Jenny.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu sou uma pessoa ruim de trazer semelhanças entre as duas mortes mais choradas de NCIS? Sim, mas foi pra dar um drama, ainda maior, na história. Como se as lembranças de Kelly já não fossem dolorosas o suficiente para o pobre coitado do Gibbs!
Mas, enquanto eu faço Gibbs sofrer de verdade, eu coloco meu amado Tony DiNozzo como o rei da palhaçada, porque sim!
Vocês não acharam que o Gibbs iria mandar a garotinha pro orfanato, né? Agora ele tem uma ruiva que não vai abandoná-lo jamais!
Paralelos, paralelos... um cachorro branco de olhos azuis e uma gata ruiva... tadinha da Lizzy, vai ter trabalho com os bichinhos dela!
E que protetora a Lizzy tem, hein? Bom a Liz e o Gibbs!
Espero que tenham gostado!
Obrigada por lerem!
xox



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coincidências não existem... será?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.