09 de Setembro de algum ano

"Deixem-o dormir, porque nos sonhos entramos num mundo inteiramente nosso, deixem que flutue na mais alta nuvem ou que mergulhe no mais profundo oceano."

Harry estava com o olhar voltado para seu prato de comida enquanto sua mãe o chamava várias e várias vezes de irresponsável. Era domingo e ele se encontrava na cozinha com seu pai e seu padrinho, os dois se mantinham calados, não queriam que a raiva de Lílian se voltasse para eles.

— Como você teve coragem de colocar a Gina no meio disso tudo?!

— Ei! – ele protestou finalmente elevando seu olhar para encontrar uma ruiva furiosa de pé à sua frente. – Foi tudo culpa do Snape, eu disse pra ele que a Gina não tinha nada a ver com isso, mas ele falou que seria um castigo a mais pra mim conviver com a culpa.

— Que babaca. – Sirius soltou nervoso enquanto Harry concordava com ele. – Mas eu sempre soube que o ranhoso não prestava.

— Se lembra que a gente dizia que ele queria dominar o mundo? – James relembrou sorrindo junto com o amigo.

— Ele iria acabar com toda a diversão e alegria, e ainda faria com que a gente usasse aquele gel de cabelo seboso. – o Black comentou enquanto passava a mão sobre seus fios escuros. – Isso daqui é patrimônio, deve ser preservado pela humanidade.

Nem James nem Harry conseguiram conter a gargalhada enquanto Sirius balançava a cabeça como se estivesse em um comercial de shampoo.

— Eu estou cercada por idiotas! – Lílian gritou irritada fazendo os três homens se calarem. Ela se voltou para Harry e apontou o dedo indicador de forma rígida. – Agora me escute, Harry James Potter. Eu não quero saber de você me trazendo mais dores de cabeça, não quero nem sonhar que você já está pensando em se meter em mais merdas e, definitivamente, não quero receber uma ligação que seja reclamando de seu comportamento. Está me ouvindo?

Ela perguntou se aproximando dele e colocando as duas mãos na mesa que os separava, apoiando seu corpo para frente de forma que olhasse o filho diretamente nos olhos. Ele afirmou repetidas vezes de forma nervosa e ela abriu um sorriso contente, havia conseguido assombra-lo.

— Você me assusta. – Sírius comentou enquanto dava alguns passos para longe dela.

— E olha que você não é casado com ela e pra criar o combo, pai dos filhos dela. – o Potter mais velho lembrou enquanto mandava um beijo para ela que o encarava entediada.

— Filhos? Tipo, no plural?

— Sim Harry, tipo no plural. – a ruiva comentou animada enquanto via os olhos do filho brilharem enquanto ele se levantava para envolvê-la em um abraço apertado.

— Nossa mãe, eu vou ganhar um irmão!

— Ou irmã. – James lembrou enquanto se juntava ao abraço vendo Lílian já se debrulhar em lágrimas.

— Eu não acredito que vou ser padrinho de novo! Viva a família! – Sírius gritou tentando se juntar ao abraço, mas Lílian se separou dos dois e o encarou confusa.

— Quem disse que você vai ser o padrinho dessa criança?

— Como assim? – Ele devolveu outra pergunta abrindo a boca indignado.

— O Remus e a Tonks é que vão ser padrinhos desse pinguinho. – Ela informou colocando a mão sobre a barriga.

— Isso é injusto. James.

— Nem me olha assim, eu escolhi os padrinhos do Harry e agora é a vez dela. – deixou tudo claro levantando as mãos em rendição e se afastando para se apoiar no balcão.

— Eu tenho uma madrinha? – Harry perguntou confuso vendo os três trocarem olhares nervosos.

— Falamos sobre isso depois.

— Mas mãe.

— Depois, Harry. – disse entre dentes dando o assunto por encerrado. O Potter mais novo cruzou os braços emburrado. – Larga de besteira meu amor, até porque eu tenho uns avisos médicos para dar.

— São gêmeos? – O Black interrompeu animado recebendo um revirar de olhos por parte dela. – Porque se for, fica tudo acertado. O Remus pega o primeiro bebê e eu o segundo.

— Sirius, desisti. – Lílian disse em um tom impaciente, mas com um sorriso doce estampado no rosto. – Agora prestem atenção, eu não sou mais uma garotinha.

— Disso a gente claramente sabe, amor.

— James!

— Mas ele não está mentindo, mãe.

— Harry! Calem a boca os dois! – gritou novamente, só que dessa vez mais alto e de forma mais assustadora. Andou em direção a geladeira e pegou uma garrafinha de água. – Continuando, eu não sou mais tão nova, por isso preciso de cuidado redobrado com essa gravidez. Ou seja, não me irritem, não me causem nenhum transtorno físico, psicólogo ou emocional, não me dêem sustos e nem façam pegadinhas. Nada de ligações da escola, polícia ou hospital. – citou olhando de forma dura para cada um deles que concordaram nervosos. – Ótimo, vou me deitar.

Avisou saindo da cozinha e soltando um longo bocejo no caminho.

— Cara, parabéns e tudo, mas vocês estão completamente ferrados.

— Com toda a certeza. – James concordou ainda olhando pela porta por onde a esposa saiu.

Harry se levantou para lavar o prato tendo a certeza de que seriam longos nove meses. Ele teria que andar mais na linha que Hermione.

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A noite estava fria e silenciosa, Hermione se preparava para dormir quando escutou batidas em sua janela, ao olhar para o motivo do barulho encontrou um loiro lhe sorrindo divertido. Bufando impaciente ela se dirigiu até ele e levantou a janela de vidro.

— O que você está fazendo aqui?

— Você parou de responder as minhas mensagens e ignorou minhas ligações. – ele respondeu enquanto entrava para dentro do quarto.

Por conta da casa de Hermione ter só um andar, se tornava bem mais fácil que ele "invadisse" durante a noite.

— Você não pode ficar aqui, criatura! – afirmou em um sussurro irritado. Caminhando para a porta ela a trancou e ligou a caixa de som para colocar uma música razoavelmente em volume baixo. Ele tomou aquilo como um convite e deu alguns passos em sua direção a abraçando por trás. – Me solta projeto de doninha.

— Ei! – exclamou indignado elevando um pouco a voz a voz a fazendo tampar sua boca com a mão.

— Sem barulho. - falou novamente vendo ele assentiu enquanto ela retirava calmamente sua mão.

O Malfoy saiu de perto dela e se jogou em sua cama dando batidinhas em seu lado para ela fazer o mesmo. Ignorando todos os avisos de seu cérebro ela foi em sua direção.

— Por que você sumiu? - Ele perguntou em um sussurro assim que ela deitou ao seu lado.

— Estou de castigo. Dona Molly ligou para os meus pais assim que eu saí da casa dela e bem, como você é você, eles passaram horas me dando um sermão e estou de castigo por um mês.

— Tudo isso? - perguntou deitando de lado para encara-la e a vendo fazer o mesmo.

— Sim. E seus pais?

— Meu pai brigou um pouco, mas foi chamado para uma viajem de negócios e já esqueceu o assunto. - começou, dando de ombros indiferente e ela percebeu que ele realmente não ligava. - Já dona Narcisa ficou extremamente irritada e disse que meu castigo começa amanhã, mas eu consigo dobrar ela fácil, fácil.

— É, você é mesmo bom em convencer os outros. - Ela teve que admitir fazendo esforço para sorrir baixo quando ele lhe puxou para mais perto.

Seus narizes se tocavam levemente e a mão do loiro estava a segurando pela cintura. Hermione queria passar o resto da noite entre os braços de Malfoy, mas não poderia ignorar a pergunta que estava martelando tanto em sua mente quanto em seu coração.

— Draco. - chamou só para ver se ele a estava ouvindo.

— O que foi?

— O que nós somos? - Ela queria tanto que ele desse a resposta certa, mas Hermione também não sabia que resposta queria escutar.

Respirando fundo ele demorou alguns segundos para formular uma reposta.

— Acho que somos duas pessoas que realmente se gostam e que sabem que no fim estão destinadas a caminhos completamente diferentes, mas querem aproveitar os momentos que possam ter ao lado do outro. - Ela realmente havia ficado surpresa com essa resposta, Draco percebeu e soltou uma risada baixa. - Nós somos tipo água e óleo Hermi's, mas eu realmente gosto de ficar com você.

— Eu também gosto de ficar com você, mas.

— Mas você quer uma garantia, algum compromisso. - ele completou a vendo morder o lábio indecisa sobre o que falar, mas por fim resolveu confirmar com um aceno de cabeça. - Eu não quero brigar, nem começar uma discussão idiota, mas eu não sou assim. Não sou o cara que vai comprar flores para você, que vai te levar ao cinema para assistir filmes românticos de mãos dadas, nem fazer declarações grandiosas na frente de todos. Eu não sou assim, e eu também não me sinto pronto para ter algo sério, algo realmente sério com alguém.

— Eu sei, mas.

— Me deixa continuar. - pediu com cuidado. - Eu gosto de você Hermione Granger. Gosto do seu sorriso, da sua companhia, dos seus carinhos. Gosto do fato de você gostar de mim também.

— Idiota. - interrompeu sem conseguir controlar o sorriso.

— Sério, você me aturar é algo incrível. Mas o fato é que eu gosto de quem eu sou quando estou ao seu lado e quero continuar com o que quer que esteja acontecendo entre a gente.

— Também quero e vou tentar não te pressionar. - falou levando sua mão para o rosto dele e o puxando para um beijo calmo.

— Eu sinceramente acho melhor eu ir antes que eu lhe cause mais encrenca. - disse lhe dando um selinho e se levantando com cuidado para não esbarrar em nada.

Assim que chegaram a janela ele lhe puxou para outro beijo.

— Hei. - Ela chamou assim que ele passou uma das pernas pela janela. - Existem outras? - perguntou insegura e com medo da resposta.

Ele sorriu de forma tranquilizante e falou sincero antes de ir embora.

— Só existe você.

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Luna foi acordada pelo som de seu celular que vibrava insistente na mesa de cabeceira. Abrindo os olhos relutante ela ligou o abajur e viu no relógio que eram 2 horas da madrugada, quem ligava nesse horário?!

Pegando o pequeno objeto de capa amarela, ela fechou os olhos com a luz forte que vinha dele, mas assim que abriu viu o nome de Ronald na tela. Ela iria matar aquele ruivo idiota!

— O que você quer? - perguntou de forma bruta assim que atendeu.

— Pedir desculpas. - ele respondeu rápido, deveria estar com medo dela desligar.

— Como assim?

Foram ouvidos alguns suspiros nervosos do outro lado da linha, como se ele estivesse reunindo coragem para falar.

— Eu fui um idiota, Lua. - ele admitiu a fazendo abrir um sorriso e se deitar novamente. - Eu não devia ter te usado, você é uma das minhas melhores amigas e eu te meti em encrenca. Eu sei que deveria ter dito isso antes, mas só que eu não tava conseguindo dormir por conta da culpa. Me desculpa? - Ele perguntou novamente e ela ficou em silêncio por alguns segundos. Sabia que ele iria ficar louco se não recebesse uma resposta logo. - Lua? Luna! Se você tiver dormindo enquanto eu estou me humilhando aqui pra você, eu juro que.

— Cala a boca, Ronald! - Ela mandou sorrindo e escutando um suspiro de alívio abafado. - Eu fiquei com muita raiva de você, você me usou Ron e isso foi horrível, mas eu te conheço e sei que não foi por mal.

— Ainda bem que você me conhece. - ele falou sorrindo e ela escutou alguns farfalhares de tecido. Ele deveria estar se deitando também.

Ela apagou a luz do abajur e colocou o celular no viva voz, no volume mínimo.

— Ron. Você ainda está acordado? - perguntou depois de alguns segundos em silêncio.

— Estou, na verdade eu tô sem sono. E não me chama assim.

— Assim como?

— De Ron, eu gosto quando você me chama de Ronald, só você me chama assim. Além da minha mãe, claro.

Ela assentiu mesmo sabendo que ele não poderia ver.

— Tudo bem, Ronald.

— Bem melhor, Lua. - afirmou enquanto ela sorria baixinho, mas logo a Lovegood soltou um bocejo alto. - Vai dormir loira, não é justo você ficar fazendo companhia pra um cara chato como eu.

— Você não é chato. - rebateu abrindo outro bocejo em seguida. - Mas eu realmente estou com sono, mas não queria te deixar sonzinho.

— Eu estou bem. É só insônia.

— Que tal você me falar do seu sonho de ontem? Talvez assim seu sono venha.

— Você por acaso está dizendo que meus sonhos são chatos?

— Não complica, Weasley. - pediu o escutando sorrir.

— Tá bom. Eu estava no colégio, só que o colégio não era o mesmo, tinha alguma coisa estranha acontecendo. Tipo quando a gente tá em um cemitério e senti que as almas estão nos observando, só que aí apareceu um dragão, tipo, do nada, Lu. Aí eu vi.

O ruivo continuou contando cada detalhe do seu sonho enquanto Luna fechava os olhos aos poucos, enbalada pelo som da voz dele. Depois de alguns minutos ele também caiu no sono.

E com o celular perto de seus rostos, eles tiveram sonhos tranquilos com o coração calmo por saberem que estava tudo bem entre eles.