Amor, em primeira pessoa escrita por Anaruaa


Capítulo 19
Paternidade




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—Você está dizendo que os gêmeos… Os seus filhos são… Meus filhos?

—Sim. Você é o pai dos meus filhos. — Ela disse sem me olhar nos olhos.

—Mas, daquela última vez… A gente usou camisinha. Você tem certeza disso?

Ela deu uma risada irônica.

—Carlos, eu não transei com ninguém além de você desde que eu me mudei. Eu não tive nem um namorado. Não sei como aconteceu, talvez a camisinha estivesse furada, eu não sei. Mas você não precisa acreditar em mim. Eu não espero nada de você em relação aos meus filhos. Eles são meus.

—E são meus também! Meu Deus, eu já os amo tanto! Eles são tão espertos e inteligentes… Meu Deus, eu sou pai!

Eu estava de fato emocionado, feliz. Eu queria tanto ter um filho, e agora eu tinha dois filhos incríveis, com a mulher que eu amei tanto e por tanto tempo!

Então eu senti um enorme ressentimento. Isabel escondeu meus filhos de mim por 5 anos! Eu podia ter vivido essa paternidade desde o início. Eu podia ter pegado meus bebês no colo, trocado suas fraldas, ouvido aquele chorinho gostoso de neném. Ela me impediu de viver isso, e eu não sabia se podia perdoá-la por isso.

—Você não tinha o direito de ter me escondido isso Isabel. Você tinha que ter me dito que estava grávida, que teria meus filhos. Eu podia ter feito tanto por vocês…

—Nada faltou para mim ou para eles. Você tinha sua vida, aquela que você escolheu, com uma esposa e suas coisas caras e refinadas. Nós dois fizemos nossas escolhas e não temos o direito de cobrar nada um do outro!

—Ah não? Você me tirou algo muito precioso Isabel, você me tirou o direito de ser o pai dos meus filhos! Você ao menos falou sobre mim a eles? Você falou que eu era uma pessoa ruim?

—Não! Eu nunca falaria mal de você para eles nem para ninguém!

Isso me acalmou um pouco.

—O que você disse então Isabel? O que meus filhos sabem sobre mim?

—Eu disse que quando a vovó e eu nos mudamos para longe de todos os que nós conhecíamos, nós estávamos tristes e nos sentíamos muito sozinhas, então meu melhor amigo ficou com pena de mim me deu duas sementinhas de presente, eu plantei as sementinhas dentro de mim e os dois nasceram.

—Então eu quero que você conte a eles que esse amigo sou eu!

—Eu vou pensar sobre isso.

—Não! Não vou abrir concessões em relação a isso! Eu quero que meus filhos me chamem de pai, que me conheçam, que saibam que eu os amo!

—Que você os ama? Há cinco minutos você nem sabia que eles existiam! Você nem os conhece!

—E você pode me culpar? Eu não estou te pedindo Isabel. Se você não contar a eles eu conto. Simples assim!

—Eu não estou suportando olhar pra você agora. Saia da minha casa, por favor!

—Eu vou sair. Mas essa conversa ainda não terminou!

Aquela foi uma noite difícil e eu quase não dormi. Os sentimentos se misturavam dentro de mim: alegria, por ter me descoberto pai; desapontamento, por ter tido isso escondido de mim por todos esses anos; decepção, por Isabel ter me excluído sem pensar duas vezes; e medo. Eu estava com medo de falhar como pai, de ser rejeitado por meus filhos e de ter que ficar longe deles novamente.

Eu me levantei muito cedo, antes do sol sair e fui caminhar na praia. Mais tarde naquela manhã fui até o centro da cidade e fiz algumas compras. Eu entrei em uma loja de brinquedos e roupas infantis e fiquei com vontade de comprar tudo para os meus filhos. Acabei comprando um urso de pelúcia enorme para cada um, então fui até a casa deles.

Dona Carmem me recebeu e disse que as crianças logo voltariam da escola e iam adorar o presente. Ela me perguntou como eu estava me sentindo em relação a elas e a Isabel.

—Eu não entendo, Isabel não tinha motivos para mentir para mim.

—E você tinha motivos para mentir para ela? Você quebrou o coração da minha filha, ela ficou muito mal. Quando soube da gravidez, ela ainda estava com raiva e magoada. Ela tinha medo Carlos!

—Mas medo de quê? Ela devia me conhecer bem para saber que eu não a prejudicaria.

—Acontece que ela não sabia. Você se afastou dela por anos e quando se reencontraram, sua vida era diferente e você escondeu isso dela. Ela não te conhecia mais. Tudo era novo e Isabel estava confusa e com medo. É fácil para você julgar e ficar com raiva agora, mas se você conseguir se colocar no lugar dela, vai entender.

Eu passei a manhã na casa delas e ajudei dona Carmem a cuidar das galinhas e dos cachorros, colhi verduras na horta e ovos para o almoço. Nós conversamos e eu relaxei, me senti leve, a vida que elas tinham na chácara era uma vida boa.

Quase meio dia, Isabel chegou com as crianças. Ela não costumava almoçar em casa durante a semana, mas dona Carmem tinha avisado que eu estava lá.

As crianças ficaram felizes em me ver e pularam para o meu colo. Quando eu lhes mostrei os presentes, eles quase choraram de emoção, abraçando os ursos de pelúcia e deitando-se sobre eles, até que Isabel os mandou trocar de roupas e lavar as mãos para almoçarem.

—Eles estavam loucos por esse bicho, mas são muito caros. Eu ia dá-los no aniversário deles. — Disse Isabel sorrindo.

Eu fiquei feliz por poder realizar um desejo dos meus filhos. Eu não sabia o que Isabel esperava de mim, mas eu estava certo de que eu queria estar perto dos meus filhos e fazer todas as suas vontades.

—Quando é o aniversário deles?

—Daqui a exatos 2 meses.

—Vai ter festa?

—A gente não costuma fazer nada grande. Nos anos anteriores fizemos na escola, depois um almoço especial, só pra gente, com os pratos que eles escolhem, bolo e sorvete, e os presentes da mamãe e da vovó. Eles ficam felizes.

—Então esse ano vai ter os presentes do papai também.

O sorriso de Isabel ficou um pouco menor e ela ficou claramente desconfortável. Eu continuei falando.

—Olha Isabel, eu pensei muito essa noite, nem dormi direito. Eu fui injusto com você, falei coisas que não devia. Eu entendo o que você fez e o porquê de ter feito, talvez eu tivesse feito a mesma coisa se pudesse estar em seu lugar. Você pode me perdoar por tudo o que eu disse, e por tudo o que eu fiz?

—Claro, eu também entendo sua frustração. Está tudo bem.

—Isa, eu viajei até aqui, porque sentia que tínhamos assuntos inacabados e eu queria resolver tudo com você, para poder seguir com a minha vida. Mas agora eu sei que estamos ligados para sempre, e eu estou muito feliz com isso. Eu não posso ficar muito tempo desta vez, mas eu quero voltar, eu quero ser um pai presente, mesmo estando longe. Eu quero que eles vão me visitar, fiquem comigo algum tempo, quero apresentá-los aos meus pais. Eu te peço que não tire isso de mim, por favor. Conte a eles sobre mim.

Isabel suspirou, baixando a cabeça, depois a ergueu e me olhou com firmeza.

—É para isso que estou aqui. Vamos contar a elas depois do almoço. E aí, você pode ajudá-los com o dever de casa.


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