Glorious Gift escrita por Onni


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

A ideia da história literalmente veio de um evento que aconteceu comigo, onde minha melhor amiga de infância que eu não via nem conversava há oito anos apareceu na porta da minha casa (sendo que eu tinha me mudado daquela em que morava quando pequena). Foi completamente surreal, e a partir daí surgiu a ideia para esta história. Então eu estou colocando um pouco de mim aqui e espero que vocês tratem com muito carinho ♥ e é claro, apreciem ;)



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12 de dezembro

 

A sutil camada de neve cobria as ruas de Tóquio por onde quer que passasse, e ainda assim a cidade estava em constante movimento mesmo com a caída da noite; isto porque, com a época gelada, o Natal também se aproximava. As lojas ficavam abertas até mais tarde, crianças arrastavam seus pais para as vitrines e casais apaixonados faziam suas voltas à noite, tudo para apreciar o ambiente enfeitado e iluminado da cidade para este evento.

Averso a isso, Katsuki se encontrava dentro de seu apartamento, no lugar de fazer caminhadas românticas ou aproveitar as liquidações absurdas das lojas, vasculhava seu notebook em prol do trabalho – mesmo com a época natalina, o crime não parava e ele também não podia o fazer. Acompanhado de uma xícara de café e com uma vista privilegiada dos andares mais altos para quase a cidade inteira, ele fazia seus relatórios e procurava casos ao seu alcance.

O Natal por si só era uma época chata, quando em datas assim alguns bandidos eram permitidos sair da prisão para se encontrarem com seus familiares e comemorarem juntos as festividades, Katsuki tinha que ficar de olho neles, porque nunca se sabia qual desses pilantras iria usar a chance para escapar da polícia. Nunca conseguiam, embora, não com Katsuki em seu encalço, os vigiando como um tigre que vigia um cervo. Na sua visão, eram um bando de idiotas que achavam que seriam espertos o suficiente para fugirem do radar da polícia.

Ele tomou um gole de seu café enquanto digitava. O celular vibrou ao lado notebook, estranhou, ninguém costumava ligar depois das cinco da tarde.

— Sim?

É assim que você atende sua mãe agora?

Oh. Fazia uns meses que sua mãe não o ligava ou vice-versa, principalmente a essa hora. Se bem que, sua mãe não era daquelas que ligavam para saber sobre como seus filhos estavam ou besteiras parecidas, de longe ela estaria preocupada consigo.

— Bem, sim, o que você quer? Eu estou ocupado no momento.

Que tipo de coisa seria mais importante que sua própria mãe? — Ela parecia levemente indignada sobre sua voz naturalmente irritada.

— Estou fazendo um relatório que precisarei entregar à perícia semana que vem. Você definitivamente não me ligou para falar sobre boas vizinhanças, especialmente a esse horário. Diga logo o que você quer, velha bruxa.

Você está certo — admitiu por fim numa voz supostamente calma demais para o conhecimento de Katsuki sobre sua mãe. Ela estava aprontando algo. – Só quis avisar que estamos nos mudando de volta para Musutafu para comemorar as festas, passaremos o Natal e Oshogatsu lá.

— E? – Katsuki trocou a orelha para apoiar o telefone, suspeitando.

E que você passará as festas desta vez conosco, pirralho.

Katsuki soltou um riso nasalado.

— Sinto muito, mas eu tenho trabalho a fazer, se você não está sabendo.

Te garanto, não terá. — A sutil mudança para uma voz totalmente confiante foi o suficiente para Katsuki arquear as sobrancelhas e endireitar o corpo. Ele apostava que sua mãe possuía um sorriso perverso do outro lado da linha. Não dando o braço a torcer, ele sorriu de lado e soltou um som debochado.

— Diga isso ao meu chefe.

Conversei com ele, o seu chefe, Sr. Kei, não? Ele disse que você estará liberado a partir de amanhã durante duas semanas, tempo o suficiente que precisamos para nos divertir.

— Você o quê? – O silêncio revelou que sua mãe estava convencida de que havia ganhado a discussão e a derrota de Katsuki sobre qualquer argumento, não importava o que ele dissesse ou perguntasse. Bakugou Mitsuki era uma mulher ordinária e esperta que sempre estava um passo à frente. – Sua velha bruxa, eu sabia que estava tramando algo.

Arrume suas malas, estaremos partindo amanhã.

 

*

 

Mesmo que sua mãe o dissesse, ele somente pôde ir três dias depois do que ela havia combinado. Seus pais chegaram em Musutafu antes dele, obviamente, ainda com a insistência da sua mãe, ele teve que ficar e arrumar a papelada para sua dispensa por duas semanas – como alegou seu chefe. Katsuki se sentia incomodado por se ter deixado sua mãe tomar conta da situação sem seu consentimento antes, ele não gostava quando não tinha controle sobre algo e isso o deixava bastante puto. Acima de tudo, ela ainda continuava sendo sua mãe, claro que ela o faria arrastar sua bunda por malditos longos quilômetros para retornar para sua antiga cidade.

Ele chegou em Musutafu dia quinze, e durante o caminho sofreu com uma enorme nostalgia ao passar pelas ruas tão familiares apesar das decorações. A cidade em si continuava a mesma, tirando o fato de que um lugar ou outro não estava mais lá, como a velha casa da Sra. Mikio, que depois de seu falecimento, uma consultoria de carros foi colocada no lugar, ou o velho hospital na rua de cima que foi reformado, ou também aquela locadora algumas quadras à frente que se tornou uma sorveteria, assim como várias casas do quarteirão foram totalmente reformadas. Rostos novos, rostos conhecidos; indiferentemente, o lugar continuava o mesmo pacato como sempre.

Ele parou em frente a moradia que costumava chamar de casa, dando uma boa olhada na estrutura, além da pintura velha e desgasta com o tempo, as paredes com uns rachos aqui e ali, assim como o resto da rua, continuava o mesmo. Absorvendo uma boa quantidade de ar, ele desceu do carro. A grama precisava seriamente ser aparada, com algumas camadas finas de neve sobre, como também as árvores que precisavam ser podadas; talvez seus pais se encontravam ocupados demais para o fazer ou talvez a neve os limitasse.

Enfim, ele estava de volta.

Chaves.

Seus pais não pareciam estar em casa e ele também não tinha a chave, Katsuki não podia acreditar que sua mãe o deixaria plantado em frente a porta até eles chegarem, isso seriamente crueldade, porém, se tratando de sua mãe, até que não estava tão distante assim da possibilidade.

Pense, Katsuki, pense.

Embaixo do tapete? Clichê, todos sabem dessa.

Sua mãe nunca seria tão óbvia.

O vaso de planta ao lado da entrada? Com certeza.

Pegando a chave reserva e tirando a terra acumulada, ele encaixou no trinco e girou, a porta rangeu ao ser aberta revelando sua pouca utilidade, ele buscou pelo interruptor e o corredor se iluminou. Katsuki retirou os sapatos na entrada e andou até o fim do corredor em busca de outro interruptor, revelando a sala de estar do mesmo jeito que ele se lembrava da última vez.

Pelo o que pôde observar, e contando os últimos dois dias em que seus pais estiveram aqui, eles fizeram uma faxina entanto, considerando que a casa grande de três andares estivesse completamente limpa e livre de poeira e do mau cheiro, como se nunca estivesse inabitada por anos. Katsuki subiu para seu antigo quarto e mais nostalgia invadiu sua mente, o quarto permanecia intacto, a cama sem cobertores e lençóis, ele abriu guarda-roupa revelando suas antigas roupas de quando tinha quatorze anos.

Céus, ele era um verdadeiro punk revoltado com a vida, suas roupas com estampas de bandas e caveiras, calças largas e desajustadas. É, ele era um pirralho.

Quando eles se mudaram, sua mãe não quis jogar nada fora e simplesmente deixou a casa como estava, então era bem provável que tivesse um monte de velharias para se livrar.

Seu quarto em si não tinha muita coisa, só a escrivaninha, o guarda-roupa, sua cama e as prateleiras vazias que antes ficavam seu livros escolares. Por incrível que parecesse, não sentia falta daquilo.

Katsuki resolveu desfazer suas malas em cima da cama e organizar o máximo possível, ligou o aquecedor e aproveitou para tirar o casaco, foi o tempo suficiente para a campainha tocar. Estranhou, pois seus pais tinham a chave e não precisavam tocar a campainha para isso – a menos que seu pai tivesse perdido a chave, a culpa era dele por sempre perder as coisas mais insignificantes –, ele desceu as escadas já pensando em maldições para soltar, porém ao abrir a porta tudo ficou entalado em sua garganta porque a pessoa que se apresentou definitivamente não eram seus pais. No lugar estava um rapaz de cabelos crespos esverdeados que de longe ele conhecia muito bem, olhos num tom verde natureza encantadores e sardas estúpidas cobrindo suas bochechas coradas pelo frio. Ao aqueles olhos fazerem contato com os seus, o mundo de Katsuki parou.

O verde se chocou contra o vermelho intenso e eles rebatiam-se de um lado para o outro em um misto de confusão, curiosidade e reconhecimento.

Ali, se não não mais que o garoto que Katsuki passou praticamente a infância inteira e o começo de sua adolescência junto consigo, na sua porta, a lhe encarar com uma expressão também confusa, brincando com os dedos enluvados a soltar um sorrisinho tímido. Ele parecia escolher as palavras enquanto trocava o peso dos pés, incerto de como começar uma conversa adequada, Katsuki permanecia petrificado, ainda em choque pela aparição repentina.

— Deku? – Sua boca agiu sem sua permissão ainda com o cérebro processando as informações.

Em resposta, o rapaz soltou um riso que saiu algo como vergonha e nervosismo.

— Oi, Kacchan… – disse ele com as bochechas e o nariz ruborizados pelo frio, sua voz madura e firme foi um baque maior para Katsuki que ainda tinha uma voz infantil e noviça gravada no seu subconsciente.

Céus… aquele maldito apelido, há anos não o ouvia e estava tão estranho saindo de sua boca agora.

— Eu estava com medo de você não me reconhecer mais. – E junto, sorriu expandindo aquelas bochechas sardentas ainda mais.

“Que diabos?” ele estava pronto para dizer, porém toda e qualquer pergunta que Katsuki sabia que tinha que fazer morreu em sua garganta e no lugar ele soltou um som não muito inteligente.

Midoriya Izuku, o garoto que morava a cinco casas depois da sua, que viveu e cresceu junto consigo, o mesmo que ele se lembrava de irem caçar besouros no bosque nos dias de verão, ou quando iam nadar no pequeno riacho, até mesmo brincar no playground a algumas quadras, Midoriya vivia o seguindo para baixo e para cima como um patinho atrás da mamãe, o idolatrado e que não parava um segundo de falar. Visitavam constantemente a casa um ao outro e até dormiam lá. Todas as memórias esquecidas vieram como um soco em seu rosto.

— Uh… – Midoriya continuou brincando com seus dedos nervosamente, sem saber o que fazer por Katsuki ainda não ter dito uma sequer palavra.

Deku estava mudado. A primeira coisa que Katsuki notou foi o jeito que a roupa se agarrava aos seus ombros e braços, escondendo obviamente uma certa musculatura por trás, o rosto de feições delicadas e redondas fora substituído por um firme e quadrangular compacto, as bochechas minimamente ainda possuindo certa camada de gordura dando destaque às suas sardas – elas se multiplicaram? Porque Katsuki podia contar umas novas –, os olhos não mais tão grandes e amedrontados agora transmitem confiança e escondiam segredos por detrás deles que talvez Katsuki nunca poderia descobrir, a voz profunda talvez foi a mais marcante, causando um impacto de realidade em Katsuki de uma vez só. Eram muitas informações que ele tinha que processar para seu maldito cérebro que deu um curto-circuito.

Viu Midoriya abrir a boca para talvez dizer alguma coisa, porém fora interrompido por alguém o fazer isto antes.

— Katsuki! – A voz da sua mãe era estridente roubando sua atenção de Midoriya por pouquíssimos segundos, só para ver seus pais vindo em sua direção. Sua mãe parou, abrindo um sorriso por ver a segunda figura presente. – Oh, Izuku querido!

— Tia Mitsuki! – devolveu alegremente o rapaz.

A Sra. Bakugou subiu os pequenos degraus para envolver o corpo de Midoriya num abraço quente.

— Céus, desde quando você achou que poderia ficar maior do que eu? – Ela comentou, graças aos saltos vermelhos, ela perfeitamente se encaixava na curva do ombro do rapaz. Midoriya somente pôde rir abafado enquanto suas mãos passavam pelas costas dela. Ao se soltarem, a Sra. Bakugou segurou seus ombros lhe dando um olhar conhecedor de mãe, feliz por ele. Sr. Bakugou estava logo atrás e cumprimentou Izuku com um aperto de mão e sorrisos afáveis.

Tudo isso enquanto Katsuki ainda estava parado na porta, usando o batente para se segurar do imenso impacto diante de tudo.

— Katsuki, mexa a sua bunda! Eu estou congelando aqui fora – bradou sua mãe passando por si.

 

*

 

Fazia minutos que Katsuki estava encarando Midoriya interagir com seus pais sem parar um momento sequer. Eles estavam na cozinha, sua mãe resolvendo preparar uma janta digna para um convidado tão especial, enquanto seu pai e Midoriya conversavam empolgadamente sobre um assunto que Katsuki não se importou em saber, apenas observando a maneira que o outro rapaz gesticulava e expressava alegre, dominando maior parte do diálogo e fazendo seu pai estar realmente interessado. E pensar que antes ele não conseguia dizer uma frase sequer sem gaguejar ou tropeçar nas palavras, não conseguia se expressar direito e preferia ficar calado e deixar os outros tomar as rédeas por si.

Midoriya tinha se livrado do casaco e as mangas longas de seu suéter bege estavam dobradas até seu braço, revelando os bíceps rigorosos junto à musculatura que Katsuki suspeitou que ele tivesse, ao contrário do magricela que ele costumava ser, também notou várias cicatrizes em seus braços que definitivamente não estavam ali antes, deixando Katsuki curioso em relação a elas. Talvez estivesse sendo um pouco atrevido ficar olhando para seu amigo de infância assim, e quando Izuku percebeu, seus movimentos começaram a ficar mais rígidos e ele vez ou outra se remexia na cadeira; Katsuki não podia se culpar, era estranho em tudo! Tudo aconteceu de uma vez só, e agora, seu amigo de infância – Katsuki realmente poderia chamar assim? – estava em sua casa, conversando com sua família, fazendo presença na sua vida como se fosse tão normal quanto respirar. Para Katsuki, estava sendo quase um insulto.

— Katsuki, venha se juntar à mesa conosco – convidou seu pai fazendo um gesto com a mão. – Izuku está aqui, por que não troca uma palavrinha com ele?

Como Deku pode?

Ao contrário do pirralho que ele costumava ser, no lugar de resmungar e soltar palavrões, ele simplesmente desviou o olhar para o lado, enfiou as mãos no bolso e ocupou o lugar ao lado de seu pai e de frente com Deku; o sorriso bobo de seu pai não escondia o quanto ele estava feliz por seu filho cabeça dura aceitar seu pedido simples. Porém, Katsuki não encarou Izuku sequer uma vez.

Mesmo com a presença de Katsuki, a conversa voltou a sua normalidade em poucos minutos, isso até Mitsuki arrumar a mesa para todos jantarem em comunhão, ainda assim, Katsuki preferiu o silêncio.

— Então, Izuku querido, como está sua mãe? – Mitsuki iniciou casualmente, era verdade que estava com saudade da sua amiga querida.

— Oh! Ela está muito bem, tirando a dor na coluna que recentemente vem sentido. Eu vivo dizendo para ela pegar leve e não fazer tudo sozinha, é apenas eu dar as costas que ela teima!

Todos riram com isso, menos Katsuki que franziu o cenho.

— Inko costuma mesmo dar uma de durona, não me surpreende. É uma mulher de fibra – disse Mitsuki apreciativa.

— É meio difícil eu ter controle sobre ela, já que praticamente fico o dia todo fora por conta do trabalho e faço o máximo que posso quando chego, mas quando vejo, ela já fez praticamente tudo.

— Oh, quer dizer que trabalha? Um garotão desse, quer dizer que esses músculos que você ganhou rendem alguma coisa.

Izuku coçou a nuca e riu sem graça.

— E essas cicatrizes? – Agora quem comentou fora Masaru um tanto preocupado. Realmente, a metade enorme da cicatriz em forma de mancha que se encontrava em seu braço direito era muito destacada sobre as outras, porém Izuku não pareceu se importar.

— Isso… realmente não é uma história para se contar enquanto comemos. – Sobretudo, ele sorria. – Talvez outra hora.

— Bem – disse Masaru –, não se sinta intimidado. Nosso Katsuki aqui também possui algumas, mesmo que não as mostre. Quer comentar sobre seu trabalho, filho?

Katsuki estava mastigando quando levantou o olhar para seu pai e depois para sua mãe, voltando a cair para o prato de comida, ainda em silêncio constante. Ele podia sentir os olhos da sua mãe ferverem sobre si e o pressentimento de um chute na sua canela ou uma pontada com seu salto agulha no seu pé debaixo da mesa, porém, não veio. Talvez a época de sua mãe lhe dar uns croques na cabeça para o consertar tivesse passado e ela preferisse uma conversa civilizada além da gritarias constantes e ameaças que eles costumavam ter; ele não era mais um adolescente indisciplinado.

— Verdadeiramente, muito tempo passou. – Masaru quebrou o silêncio. – E aqui estão vocês novamente, crescidos, homens formados, comendo em nossa mesa!

Izuku assentiu em concordância e somente isso.

Katsuki estava inconformado porque não entendia como Izuku ainda podia agir normalmente de como quando eles tinham quatorze anos, sentar à mesa junto consigo e a sua família, conversar numa normalidade surpreendente, e principalmente, como ele podia ocupar espaço, ali, como se nada mais importasse além de conversas casuais e momentos união. Era como se ele não ligasse para tudo que Katsuki causou a ele, todo o sofrimento e dor, os rebaixamentos e xingamentos, as palavras maldosas e o ódio gratuito… nada disso importasse. Era como um salto no tempo, que eles nunca passaram por isso, que nunca existiu e interferiu na sua vida; contudo, ele estava ali, sorrindo, rindo, feliz; e o tratando como se realmente fossem melhores amigos de infância.

Uma novidade chocante: eles não eram.

Por isso, Katsuki não se deu nem ao trabalho de o olhar nos olhos. Porque ele ainda sentia esse buraco na história deles, não era como se Katsuki voltasse depois de anos e essa parte simplesmente se apagasse como uma borracha apagava o grafite no papel; ainda estava lá, presente, consignado.

Existia uma coisa que se chamava karma – ação e retorno, o preço dos teus atos, o que você planta hoje, colherá amanhã – e o karma de Katsuki veio em forma de pessoa com cabelos crespos esverdeados, olhos da mesma cor e sardas estúpidas. E Katsuki sabia que o preço era alto a partir do momento em que ele apareceu em sua porta.

Após sua refeição, ele agradeceu a comida, colocou o prato na pia e se sentou no sofá ligando a televisão, sem mais nem menos.

Izuku foi embora um pouco depois disso, sua mãe o levou até a porta e se despediu dele, após a partida, invés do tratamento que ele esperava, seus pais completamente fingiram que ele não estava mais ali, subiram para seus quartos e deixaram Katsuki sozinho com seus pensamentos.

 

*

 

Na manhã seguinte, seus pais estavam estranhos, isso porque, por mais que sua mãe agisse normalmente, havia rugas em suas têmporas e ela estava jogando encaradas demais para si, já seu pai possuía uma expressão estranha, Katsuki não sabia dizer ao certo se era incerteza, receio ou preocupação – talvez um pouco de tudo. Demorou um tempo até que sua mãe quebrasse o silêncio tenso sobre a mesa de café.

— Termine de comer porque estaremos indo visitar Inko.

Katsuki arqueou as sobrancelhas para ela engolindo a comida em sua boca.

— Isso mesmo, e você vai se desculpar com Izuku por ter agido tão rude. Onde está a educação de merda que eu te dei?

— Mitsuki, palavreado sobre a mesa – alertou Masaru e ela respirou fundo cerrando seus punhos e voltando a falar.

— O coitado veio aqui para te ver depois de anos e nem uma palavra você teve a capacidade de se dirigir a ele, seu imprestável? Isso é inadmissível até mesmo para você, achei que tivesse ao menos um resquício do bom senso e educação que tentei te ensinar, mas pelo o que vejo, até aqui isso lhe falta. Você precisa melhorar seus hábitos ou quer que eu volte a te tratar como um pirralho de antigamente que eu precise te acertar nos murros? Melhore, Katsuki. Filho meu não vai me fazer passar esse vexame, marmanjo barbado, do tamanho que você tem e agindo como uma criança. Engula logo essa comida porque eu não sei com que cara ou vou aparecer lá, e você irá se desculpar, nem que eu te faça o fazer pelos cabelos!

Katsuki somente teve tempo de colocar mais dois pedaços de comida na boca a largar seu café da manhã e ir fazer a vontade de sua mãe, sem argumentar.

Sua mãe prezava sua boa reputação e a boa amizade que tinha com Inko, mãe de Izuku, e ela não se deixaria abalar pelo filho bastardo que tinha.

Eles apareceram no apartamento dos Midoriya não muito depois, sua mãe batendo o pé inquieta desejando internamente que o chão fosse a cara de seu filho ou no mínimo puxar sua orelha como um moleque insolente, porém seus desejos foram reprimidos quando a porta finalmente se abriu revelando uma mulher de baixa estatura, cabelos lisos verdes e olhos grandes e cansados com rugas em sua face mostrando sua fatiga.

— Mitsuki? – A mulher disse surpresa.

— Há quanto tempo, minha amiga! – Sra. Bakugou fez o melhor sorriso que pôde e Inko não demorou para envolver a amiga num abraço saudoso com seu corpo rechonchudo.a

— Céus, não posso acreditar! Bem que meu Izuku disse que você tinha voltado. – Inko abriu os olhos a tempo de ver Katsuki parado atrás de sua mãe enquanto elas se abraçavam. – Este é Katsuki? Meu Deus! Como cresceu! É praticamente um homem de bolso cheio!

Embora Katsuki desse um aceno em cumprimento, a mulher estendeu os braços e o envolveu num abraço incrivelmente apertado, ele teve que se curvar para que seus corpos estivessem em mesma linha. As mãos gorduchas dela passaram por seus cabelos espetados e ela lhe olhou com um carinho imensurável, Midoriya Inko era uma mulher muito gentil e de bom coração e foi impossível Katsuki não sorrir para ela.

— Olá, tia – cumprimentou ele.

— Deus, lembro de quando era apenas um menino… olhe só para você! Meu Izuku ia para baixo e para cima com você, ó, Deus, bons tempos!

Eles se soltaram e Katsuki estava sem jeito com as palavras, mesmo que tivesse vinte e seis anos, Inko nunca pararia de os enxergar como crianças.

— Izuku! Apresse-se! – Ela chamou, houve uma resposta abafada e não demorou para o garoto surgir do corredor, vestindo calças moletons e uma blusa simples, ao se deparar com Katsuki, congelou no mesmo lugar.

Katsuki inspirou fundo não perdendo a tranquilidade para não estragar o reencontro de sua mãe com a mãe de Izuku.

— Entrem, entrem! – Inko deu espaço na porta e eles entraram retirando os sapatos. O apartamento era bem menor do que Katsuki lembrava, sendo o adequado para somente duas pessoas. Ele se lembrava de passar as noites aqui para assistir o programa The Adventures of All Might que ele e Izuku simplesmente adoravam, ele possuía os dvds fazendo com que Katsuki dormisse lá às vezes.

Ele sentiu uma pisada em seu pé quando Inko se virou para ir de encontro com seu filho, Katsuki teve que reprimir o chiado de dor que tendia a soltar por sua mãe ter lhe acertado em sua raiva mal contida a sustentar um sorriso convincente – ou na sua visão, diabólico. Assim que a atenção de Inko retornou para a velha amiga, Katsuki não perdeu tempo em se aproximar de um Midoriya nervoso, Izuku de imediato evitou lhe encarar, porém com nenhuma palavra dita de Katsuki, ele teve que o fazer com muito custo. Seus íris natureza se encontraram com o carmim flamejante e ele estava incerto do que dizer ou fazer. Todavia, Katsuki dera o primeiro passo dizendo um:

— Podemos conversar?

Viu quando Izuku abriu a boca em espanto, tratando de fechá-la o mais rápido possível para sorrir desconcertado.

— Claro.

Katsuki jogou um olhar para suas mães e notou que elas tinham muito o que conversar ainda e matar o tempo perdido numa conversa bem longa. Izuku voltou para o seu quarto e Katsuki o esperou no sofá. Quando Midoriya retornou vestindo uma roupa adequada para o frio de lá fora, num anúncio de partida para sua mãe e após a confirmação, eles saíram.

Não, Katsuki dizia mentalmente para si que não estava fazendo isso por sua mãe, nem de longe. Ele apenas queria esclarecer questões mal mastigadas e assuntos cruciais deixados de lado com Midoriya, apenas isso. Antes que o orgulho lhe afogasse e ele passasse noites e mais noites remoendo sobre aquilo e as palavras que não disse ou que deveria ter dito no momento.

O silêncio se tornou companheiro durante a caminhada pelas ruas geladas da cidade, nenhum dos dois realmente pronto para iniciar um diálogo, contudo, Izuku se demonstrou deveras paciente e compreensivo, dando o espaço e momento de Katsuki.

Ele não sabia por onde começar, a história deles fora escrita entre linhas tortas e Katsuki não queria mais perdurar com esse assunto engasgado em sua garganta.

Ele queria dizer “Você é idiota?” e questionar o porquê Deku agir tão despreocupado em sua presença, ou um “Não sei o que você está tramando, mas pare porque está sendo ridículo”, ou talvez ele ser educado? Como um “É bom ver você de novo” – talvez? Realmente?

Havia inúmeras possibilidades e pensamentos que passavam à mil em sua cabeça, contudo, o que ele disse foi:

— Me desculpe.

Izuku parou sua caminhada e demorou uns passos até Katsuki notar que não era mais seguido, ele se virou para o outro rapaz que tinha uma face de confusão e espanto, jogando seus olhos para si em todas as direções.

— O que você disse?

Katsuki se virou completamente para ele, erguendo de leve o queixo, decidido.

— Você é surdo ou o quê? Eu disse: me desculpe…

Surpreso era pouco para descrever a expressão que Izuku tinha, claro, com a montanha monstruosa de orgulho que Bakugou Katsuki era, um pedido de desculpas ou um agradecimento estaria longe de seu dicionário pessoal, porém ao longo dos anos, Katsuki aprendeu que era necessário deixar seu orgulho de lado por um bem maior, e aprendera isso da pior maneira.

— … Por tudo aquilo que eu te fiz na nossa infância. Agora vejo e entendo.

Irritado por Midoriya não reagir, ele deu as costas voltando a caminhar, demorou uns segundos até passos apressados o alcançasse e Izuku estivesse ao seu lado, olhando para si com um olhar de urgência, ele ergueu as mãos para que Katsuki esperasse.

— Você não tem que se desculpar, Kacchan! – Ele obrigou Katsuki a parar para olhar diretamente para ele, ainda com as mãos levantadas. – O que aconteceu não importa mais, está no passado e não vai mudar, por mais que eu gostaria muito de mudar certas coisas… – ele murmurou essa última parte para si mesmo. – Mas! Mesmo assim, ainda que eu não possa entender o porquê de você de repente me maltratar, eu aprendi com você. Foi duro, mas aprendi. Eu não ligo mais para isso, Kacchan, porque, eu, você, nós mudamos e não somos mais os garotos de antes e tudo o que eu quero é recomeçar com você, como bons amigos que podemos ser, que eu sei que podemos.

Incrivelmente, Katsuki estava um tanto abalado pelas palavras de Deku mesmo que ele continuasse murmurando para si mesmo e se perder em sua linha de pensamento, aquilo teve certo efeito dentro do seu interior, causando uma química estranha que se transformou num sorriso sem motivo aparente, fugaz porém.

— Cale a boca, nerd.

No mesmo instante Izuku remeteu-se e notou que estava falando demais para si mesmo, e vendo o sorriso extremamente raro e curto em seu rosto, Izuku se sentiu contagiado e sorriu também.

— Eu aceito suas desculpas, Kacchan.

Katsuki não lhe deu respostas, e também não encontrava palavras para tal mesmo que quisesse.

— E… eu gostaria de fazer uma proposta. Aceita começar de novo comigo?

— Tá, certo, tanto faz. – Ele cobriu o rosto com seu cachecol para escapar do frio, uma desculpa na verdade para Izuku não notar suas bochechas coradas de timidez, talvez?

Eles voltaram a caminhar e Izuku não parava mais de sorrir mesmo que a conversa tivesse acabado há tempos, e Katsuki admitia dizer que se sentia levemente refletindo toda essa felicidade se Midoriya, ainda que muito sutil. Eles caminharam até o parque da cidade apreciando a companhia um do outro, o lugar estava parcialmente cheio por conta da época, mas em si, era tranquilo e reconfortante.

Um fato um tanto peculiar que Katsuki notou, foi que Izuku andava agora ao seu lado e não mais atrás, ele estava estranhando um pouco isso, já que Izuku sempre viveu atrás de si, acompanhando seus passos e o seguindo; porém agora, tê-lo ao seu lado e não mais em seu encalço, era um tanto incomum e Katsuki não estava acostumado com isso – não que significasse que ele não pudesse acostumar.

— Então, Kacchan… – Katsuki tornou sua atenção para ele enquanto caminhavam por entre a estrada de pedra do parque. – O que você tem feito? Você sabe, estudado, morado, namorado… você realmente não quer que eu adivinhe, né? – E riu fraco.

Katsuki voltou sua atenção para a frente, considerando a pergunta.

— Quando me mudei, estudei numa escola perto de casa temporariamente, isso até a velha coroa resolver uma questão do trabalho dela só para nós mudarmos um tempo depois. No geral, a maioria das nossas mudanças foi por conta dela e de seu trabalho e não conseguimos ficar muito tempo em um só lugar, no máximo um ano e meio, para depois tudo acontecer de novo.

— Uau! Você foi para tantos lugares!

— Bom, por conta disso, eu não conseguia me relacionar com ninguém, não que eu estivesse interessado em ter malditos extras me seguindo só para quererem se aproveitar da minha pessoa. Só tive alguns relacionamentos, mas nada que levasse realmente a sério. Eu não me importava também com essas coisas, não queria me preocupar com algo sério, só me traria dor de cabeça e eu não queria problemas para mim mais tarde, então evitei. Sempre tentei deixar isso bem claro, mas alguns sempre eram insistentes como o diabo.

Midoriya estava em silêncio agora, portanto Katsuki achou melhor continuar:

— Depois que acabei o ensino médio, fui morar em Tóquio para fazer a faculdade lá, fiz minha matrícula na UA e acabei por fazer meu ensino superior.

— Espere… você entrou na UA? A universidade mais requisitada em todo o país? – Izuku estava surpreso e tinha sua boca formando um perfeito “o” . – São somente cento e setenta e cinco candidatos que passam por vaga! Fora os bolsistas que pagam fortunas! Eu sei que era o seu sonho entrar lá, mas ouvir agora que você realmente conseguiu passar, é ainda mais incrível! Parabéns, Kacchan!

— Hump. Qualquer idiota com metade de um cérebro pode se inscrever, mas só os verdadeiramente qualificados são chamados. Eles sabem quem tem potencial. – Agora Katsuki possuía um sorriso convencido por Izuku inflamar seu ego, digamos que ele era sensível para elogios.

— Eu sempre quis entrar na UA, eu também me inscrevi, mas infelizmente eu cheguei um pouco tarde e as vagas do meu curso já haviam acabado, então fui para Handai, em Osaka e fiz meu mestrado de ciências e tecnologia lá.

— A terceira melhor do país? O que esperar de um nerd nato como você? – Embora o tom arrogante, Katsuki tinha um sorriso matreiro e isso fez com que Midoriya risse.

— Eu me esforcei bastante para entrar nas três mais requisitadas já que a UA não me aceitou… é tudo feito do meu próprio esforço e trabalho e eu não poderia estar mais feliz. Acho que… é isso que torna mais especial ainda. Se não fosse uma pessoa a me incentivar e ter investido em mim, talvez eu realmente tivesse desistido da UA e estaria fazendo qualquer outra coisa e extremamente infeliz com a posição que eu me encontraria, e… ele foi o primeiro a depositar certa fé em mim, e hoje eu sou muito grato.

A última parte ele disse entre as mãos enluvadas que levantou até o nariz para baforar um ar quente e as esquentar, abafando sua fala para ele se esconder minimamente.

— Agora, me diz, você trabalha no ramo profissional dos nerds? Deve ter um certificado de maior nerd.

— Kacchan! – Izuku riu.

A vibração que emanava deles era boa, uma que Katsuki nunca teve o privilégio de sentir antes, e foi com Deku. Eles estavam em uma harmonia que Katsuki pensou nunca que poderia sentir ao lado de Deku, mas lá estava ele, sorrindo e rindo para ele como nunca fez anteriormente. A conversa se estendeu por vários minutos e Katsuki se viu descobrindo sobre Deku novamente, coisas que ele não imaginava, coisas que não esperava vindo dele, provando que Midoriya realmente havia mudado, ele não era mais o bebê chorão que conheceu, ele tinha as cicatrizes para mostrar sua superação sobre situações que pareciam impossíveis de se resolver, porém de que alguma forma, ele as inverteu e agora as possuía como troféus – mesmo que ele não falasse aprofundadamente sobre. Ele era mais positivo, otimista, confiante e sorria para todos os cantos e para tudo o que dizia, sua postura era diferente e como Katsuki suspeitava, aqueles olhos verdes guardavam tantos segredos privados do conhecimento de Katsuki ou de qualquer um a mais, indignos de Deku compartilhá-los, algo que só ele sabia e que morreria com ele se dependesse, e por um momento – só por um mísero momento – Katsuki o temeu e se perguntou se realmente aquele era o mesmo com quem viveu junto.

Porém, velhas manias nunca morriam. Ele ainda mexia os dedos quando ficava nervoso ou quando dizia algo que não queria dizer e encolhia os ombros para se esconder, divagava sempre em voz alta e se perdia nos próprios pensamentos esquecendo que havia um interlocutor ao lado até Katsuki o chamar de volta, e a faladeira que não parava mais quando ele abria a boca.

Por meio disso, ele soube tudo o que Midoriya tem feito nos últimos anos, fez amigos, conquistou pessoas, descobriu que ele fazia artes marciais tinha uns anos e que treinava em seu tempo livre, ele demonstrou muita afeição por seu suposto mestre e obviamente o homem era um ídolo para ele, também soube de todos os namoros que Midoriya teve e Katsuki se surpreendeu por ele revelar seu gosto por caras absolutamente discreto e entrelinhas.

Primeiro, ele namorou com uma tal garota de cabelos curtos castanhos que obviamente Katsuki não se lembraria do nome dela depois, e sendo a primeira garota quem Deku conversou na vida – Katsuki até tirou sarro fazendo piadas sobre como Midoriya era virgem e clichê –, depois fora com mais outros dois rapazes que ele já esqueceu, e atualmente estava sozinho por questão de escolha. Bem, Katsuki suspeitasse mesmo que Deku fosse dos tipos de relacionamentos duradouros e sinceros e que ele selecionava bem o que queria e como queria. Deku era esperto e sabia usar sua cabeça quando queria.

Os minutos se tornaram horas e Katsuki realmente estava impressionado em como ele conseguiu manter uma conversa tão longa com Deku assim, e principalmente, durante o diálogo, ele não parou de sentir aquela sensação agradável em seu âmago, os fogos de artifício subindo cada vez mais toda vez que Midoriya se empolgava com o que dizia e ele começava a gesticular mais e mais, fazendo expressões engraçadas e as bochechas rosadas em animação. Katsuki somente podia sorrir mais e mais e nem o notava que o fazia, isso porque Midoriya o distraia demais sendo tão… adorável.

Adorável?

Era essa mesma a definição para o que ele estava sentindo, fazendo os fogos de artifício acenderam e subirem, explodindo em uma sensação quente e agradável fazendo ele sorrir bobo daquele jeito?

É, Katsuki não tinha uma elaboração melhor para a resposta. Por enquanto, seria isto. Adorável. Midoriya era adorável.

Não muito depois, eles voltaram para o apartamento de Midoriya e Katsuki acabou por ficar para o almoço lá, Inko estava super positiva por ter mais pessoas se juntando a eles este dia, ela cria que era o espírito de Ano Novo invadindo seu pequeno apê e fazendo uma mudança. Deku não parecia estar diferente de sua mãe por Kacchan ficar mais um pouco consigo.

Todos estavam entretidos quando a porta se abriu e Inko largou as panelas para ir receber o recém chegado, Katsuki ficou meio surpreso por uma figura de um homem esquelético, de cabelos loiros e olhos azuis num contorno preto, fatigados pela tristeza e dificuldades da vida entrar na pequena cozinha. Ele trocou olhares com sua mãe que estava estava confusa também. Logo, o homem revelou ser Toshinori Yagi, e surpreendentemente, padrasto e mestre de Izuku, o queixo de Katsuki quase caiu com a revelação. O homem estava bem acomodado na casa, mostrando que ele entrou na família tinha um certo tempo já, e toda a atenção foi voltada para ele, que, mesmo com a expressão sofrida e fatigada, trouxe uma alegria sem igual dentro do pequeno apartamento. Não demorou muito para ele se juntar à mesa para o almoço junto com todos.

— A história é meio engraçada – denotou Izuku num sorriso sem jeito a chacoalhar as mãos. – Há doze anos, um pouco depois de você ter ido embora, Kacchan, eu estava voltando da escola quando fui pego de surpresa por um assaltante no caminho, eu estava completamente sozinho e podia jurar que ia morrer ali, então Toshinori-san incrivelmente apareceu para me salvar, ele me trouxe em seu dojo que era ali naquela região e passei um tempo lá tentando me acalmar do susto, ele fez um chá para mim e me serviu muito bem, eu não queria voltar para casa e que minha mãe soubesse o que tinha acontecido, eu não queria a preocupar.

— Demorou um pouco para eu saber disso, e quando soube, quis bater nesse menino por não ter me contado antes, me matando de preocupação desse jeito. – Dona Inko comentou num tom típico de repreensão de mãe.

— Bem, meio que depois disso se tornou um costume eu passar no seu dojo quando saía da escola, eu ficava em torno de dez minutos a meia hora, que futuramente se tornou uma hora ou duas horas. Eu gostava de ficar lá e das histórias que ele me contava, seu dojo não era muito conhecido e quase ninguém frequentava. Foi nessa época que comecei a me interessar por artes marciais e passei a praticar um pouco, para saber me defender sozinho caso isso viesse a acontecer de novo.

— E além disso – pronunciou o homem –, esse menino me cativou por ter um fogo em seu olhar de querer ajudar as pessoas, foi uma das razões por eu querer treiná-lo.

— Tudo isso escondidos de mim – bufou Dona Inko.

— E também, em parte é por conta disso que ganhei minhas primeiras cicatrizes. – Ele puxou a manga de seu braço direito, mostrando os dedos tortos com cicatrizes em volta deles e do braço. – Toshinori-san não pegava leve comigo. E, eu meio que excedia o meu limite também.

— Jovem… – suspirou Toshinori.

— E conforme os treinos avançavam e eu ficava mais experiente, comecei a participar de torneios subterrâneos por conta própria. Eu sabia que minha mãe não se agradaria de eu fugir dos estudos para lutar em lugares perigosos com um monte de gente igualmente perigosa. – Riu ele ao dizer as mesmas palavras de sua mãe. – Então fazia isso escondido, toda madrugada eu saía para me encontrar nesses lugares.

— Izuku querido, eu nunca esperava isso de você – comentou Mitsuki surpresa, logo um sorriso traquino brotou em seus lábios. – E você derrubava quantos?

Izuku soltou um riso nervoso.

— No começo eu apanhava mais que um saco de pancadas, mas com o tempo eu comecei a pegar o jeito da coisa.

Katsuki interrompeu sua fala para soltar uma gargalhada satírica.

— Deku? Realmente? – Ele apoiou o antebraço na mesa para se inclinar mais para frente do outro rapaz. – Você surtou? Dizem que os mais quietinhos são os piores, mas isto, eu nunca poderia imaginar vindo de você, um nerdzinho loser e chorão numa briga de cachorro grande?

Katsuki precisou tomar fôlego, ele estava rindo depois de meses ou talvez anos. Seu rosto estava vermelho e ele até perdeu o ar, dentre todas as pessoas, Deku? O garoto tão certinho e medroso?

— Bem… eu derrubava cinco por noite, respondendo sua pergunta, tia Mitsuki.

Imediatamente a gargalhada de Katsuki sumiu para encarar Deku com uma sobrancelha arqueada.

— Só isso? Eu derrubo vinte caras em uma noite e ainda acho pouco – provocou se inclinando sobre a mesa a soltar um sorriso convencido.

— Levando em conta que esse é o seu trabalho e não caras com três se não cinco vezes maior que o seu tamanho – devolveu Midoriya se inclinando na mesa também a encarar desafiador Katsuki de uma maneira que ele nunca tinha visto antes, o que só aumentou o sorriso do loiro.

— Eles caem como uma luva na minha mão – rebateu Katsuki.

— Seria mesmo? – Sorriu provocativo.

— Quer brigar?

— Já basta, vocês dois – chamou Toshinori erguendo as mãos na esperança de afastar os dois jovens.

Katsuki voltou para seu assento de braços cruzados e Midoriya estava com uma cara birrenta como uma criança.

— Deixe eles – mediou Mitsuki balançando uma mão. – Garotos são assim mesmo. Eu mesma era briguenta quando mais nova, igualzinha a Katsuki.

— Contando que você quase quebrou o nariz do papai quando o conheceu – murmurou Katsuki e de brinde levou um chute na canela e teve que fazer uma careta para não grunhir de dor.

— Ah, bons tempos. Desculpe, Izuku querido, onde estava?

— Oh? Ah! Claro, sim, sim. Eu passei a voltar para casa todo machucado e às vezes Toshinori tinha que me carregar.

— Foi a partir daí que Inko e eu começamos a nos aproximar, eu fazia constantes visitas para ver se ele estava bem e estava se recuperando, eu ficava às vezes enquanto ele estava de repouso e Inko sempre vinha tentar conversar comigo para dispersar aquela tensão.

— Bem, e aqui estamos nós – concluiu ela por fim.

A mão gorducha de Inko passou por cima da de Toshinori e eles compartilharam um sorriso tímido.

— Quem diria que meu treinador se tornaria meu padrasto – comentou Izuku sem graça diante da situação.

Após o almoço, eles ficaram mais um pouco na casa de Midoriya, conversando, e depois Mitsuki teve que ir embora por conta que ela estava preocupada em deixar Masaru esperando por tanto tempo, eles se despediram. E pelo resto do dia, Katsuki não parou de sorrir.

 

*

 

20 de dezembro

 

Com a aproximação do Natal e graças a amizade que sua mãe tem com Inko, as visitas e estadias na casa dela se tornaram constantes e ele sempre acabava vendo Midoriya, ou senão, quando ele estava em casa com seu pai, ele próprio vinha para o ver. Como nos velhos tempos – meio clichê dizer isso.

De uns dias para cá, Katsuki tem estranhado um pouco a relação que eles estavam tendo agora. Não era tão simples para Katsuki dizer um “desculpe, fui babaca” e Midoriya aceitar e eles estavam bem, não. Ele via que Izuku ainda tinha certo receio em ficar muito próximo de si ou invadir seu espaço pessoal – coisa que Katsuki detestava –, e ele tinha certa cautela ao redor, e meio que isso estava incomodando um pouco, afinal, a prova de que Midoriya também não estava muito confortável com a relação atual deles, mas que também queria quebrar essa tensão.

Eles ainda estavam num processo de redescoberta um do outro e era uma coisa que estava impressionando Katsuki de um jeito bom, assim como Midoriya também descobria coisas novas sobre Katsuki. Por exemplo, ele adorava quando Izuku se perdia em sua própria fala para que ele ficasse contando suas sardas e imaginando quantas constelações elas poderiam formar – ele teria o prazer de pegar uma caneta e contorná-las – e ele descobriu que Izuku não estava acostumado a vê-lo rir muito, contudo com o jeito que Deku era desajeitado e nervoso, fazia Katsuki soltar um sorrisos aqui e ali, deixando Deku sem reações. Ele estava começando a fazer piadas e relações sobre Deku, em como seus cabelos verdes poderiam facilmente ser confundidos com uma árvore de natal e alguém acidentalmente o enfeitar com bolas e pisca-pisca, ele estava gostando das reações constrangidas de Deku em relação aos seus comentários.

Agora eles estavam no sofá da casa de Bakugou, assistindo um dos vários dvds antigos de Adventures of The All Might que Deku trouxe por livre e espontânea vontade para eles assistirem depois de anos – Katsuki não estava a par disso, tudo foi ideia do Deku. O nerd tinha tudo relacionado sobre a franquia: os mangás com todos os volumes publicados, os dvds do anime de todas as temporadas, os filmes e até os live-actions. Katsuki teve a ousadia de perguntar se ele ainda tinha os posters do All Might em seu quarto, e graças ao bom Deus Izuku disse que eles estavam guardados numa caixa assim como todas as outras coisas relacionadas ao seu herói favorito.

Havia um grande porém, embora Izuku estivesse super animado com a série mesmo que tivesse assistido milhares de vezes, na primeira meia hora Katsuki já estava com os olhos cansados e o sono o atingindo, Deku nem parecia ter notado enquanto tinha os olhos vidrados na tela. Katsuki soltou um bocejo discreto e disse a si mesmo para aguentar talvez mais uma hora, isso porque as expressões e reações infantis de Deku como se fosse a primeira vez que ele assistia estavam sendo deveras divertidas de ver.

Ele não se cansava se observar Deku, isso porque estava sendo muito curioso e novo pra ele, não era mais o garotinho que ele batia na escola, mas sim alguém amadurecido e quase completamente diferente; Katsuki tinha uma sutil curiosidade em saber mais e mais sobre esse novo Izuku.

Seus olhos, quando menos dava-se conta, estavam olhando para Deku, o analisando, desde sua fisionomia até sua personalidade, nada escapava daqueles olhos carmim. E Katsuki sabia que era uma preocupação que ele deveria ter em mente, porém, não ligava o suficiente, apenas estava curioso, esta era sua desculpa.

Quando notou, suas pálpebras já tinham se fechado e ele entrou em um cochilo, deixando Deku sozinho a assistir a televisão.

 

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Katsuki acordou um tempo depois, totalmente grogue de sono e se amaldiçoando por ter dormido e esquecido de Deku, porém, não mexeu um músculo por um peso ao seu lado direito do peitoral lhe impedir. Assim que retornou a consciência, viu que era Deku ali, deitado sobre si a bater a respiração quente contra seu peito, a ponta de seus cabelos faziam cócegas em seu nariz e talvez tenha sido isso que o acordou, a televisão estava numa tela azul indicando que o dvd de mais de uma hora havia acabado. Que horas eram, por falar nisso? Provavelmente bem tarde. Ele não conseguia alcançar seu celular por conta que Deku estava sobre ele e parecia tão pacífico e fofo dormindo, Katsuki não queria acordá-lo, então ficou bons minutos ali parado, somente apreciando o calor do corpo de Deku e seu peito subir e descer na respiração tranquila, sua face estava esmagada contra a superfície de Katsuki, dando a impressão de uma gordura a mais que o deixou parecido com um hamster quando enche as bochechas. Irritado com o cabelo pinicando seu nariz, ele passou a mão por cima para baixá-los, os fios crespos se mostraram mais macios e fofos ao toque, o qual Katsuki não resistiu. Meio desajeitado, ele afagou o cabelo de Deku e se sentiu num paraíso quando a maciez dos fios de chocou contra a sua palma grossa, fugaz, pois logo sentiu Deku se remexer embaixo de si e piscando aqueles olhos verdes sonolentos até tomar conta da situação.

— Kacchan?

— Yo. O dvd já acabou.

— Por quanto tempo eu dormi? – questionou coçando um dos olhos e Katsuki fez menção de se levantar, fazendo Deku dar espaço a ele para pegar o controle e desligar a tevê.

— Eu vou saber? Eu acordei há pouco também.

— Desculpe ter dormido em cima de você, eu não queria…

— Calado, Deku.

Katsuki olhou no relógio para disfarçar seu constrangimento, ele ouviu Deku se espreguiçar atrás. Eram exatas meia-noite e oito.

— Está tarde, você deveria ir embora.

— Oh? Oh! É mesmo!

Midoriya se apressou em arrumar suas coisas enquanto Katsuki tirava o cd e o colocava na caixinha, entregando a Deku. Katsuki o acompanhou até a porta e de lá eles se despediram, nem uma palavra a mais e nem uma a menos. O que Katsuki não notou, era que demorou um pouco mais a fechar a porta, olhando Deku virar a esquina e sumir, só então percebeu que estava um tanto mais quente que o normal e suas bochechas queimavam e eu coração estava num ritmo acelerado. Tudo isso era culpa de Deku?

 

*

 

24 de dezembro

 

Véspera de natal. As ruas estavam cheias e havia pessoas andando de um lado para o outro para comprar presentes de última hora. Sua mãe havia o arrastado para fazer compras com ela porque seu pai estava ocupado retirando a neve da calçada e tentando aparar a grama crescida, a desculpa da sua mãe era de que ela queria uma companhia e opinião masculina, uma clara calúnia para que Katsuki carregasse as sacolas que ela arrumaria, porém, como ele estava imune, não podia reclamar muito.

Incrivelmente sua mãe havia passado na casa de Inko para ver se eles queriam alguma coisa ou presente e foi nesse momento que Midoriya sugeriu para acompanhá-los, Katsuki queria protestar, mas também não gostaria de ficar sozinho a carregar as sacolas de sua mãe. E lá estavam eles no meio da cidade lotada. Em parte, era por isso que Katsuki não gostava dessas festas, cheia de pessoas, sua mãe o obrigando a ir em conventos de família e Katsuki brigando com ela por fazer coisas contra a vontade dele, e no final ele saía com um galo enorme na cabeça. Ele tinha fugido disso por dois anos. Era sempre a mesma história.

Agora era diferente, Midoriya estava ao seu lado e conversava com sua mãe alegremente. Como eles podiam estar alegres nesse clima estressante?

— Katsuki, melhore essa cara – protestou sua mãe se virando para ele.

Katsuki grunhiu em resposta. Midoriya sorriu compreensivo para si e Katsuki virou a cabeça fazendo uma careta.

Ele não gostava desse clima natalino muito menos de um amontoado de pessoas ao redor.

No fim, nem sua mãe teve paciência de enfrentar as lojas lotadas e as filas enormes, eles andaram o centro da cidade inteiro para no final Izuku sugerir uma loja mais na periferia, onde segundo ele os produtos eram de qualidade. Katsuki preferiu esperar no lado fora por eles, que logo de cara retornaram com duas sacolas cada e sua mãe elogiando a loja.

Ao fim do dia, Katsuki simplesmente perdeu a conta de quantas sacolas carregava, apenas estava ciente de que seus braços doíam. Já estava escurecendo quando eles decidiram fazer uma pausa num restaurante de ramen, Katsuki deu graças a Deus que eles haviam sentado, ao contrário de si, sua mãe e Deku ainda estavam animados e ele se perguntou onde raios conseguiam tanta energia positiva. Eles fizeram o pedido e aguardaram sentados nas mesas do restaurante, Katsuki estava batucando os dados na madeira a fim de se distrair quando uma mão grande segurou firme seu ombro, ele estava pronto para virar um soco na cara do infeliz quando seus olhos deram de encontro com um rosto que não via há meses.

— Bakugou? – indagou a pessoa.

— Cabelo de merda? – devolveu arqueando uma sobrancelha.

— Bakugou!

Um sorriso mostrando seus dentes afiados brotou na face de Kirishima e seu rosto se iluminou como o próprio sol – Katsuki quase ficou cego –, Bakugou se levantou e cumprimentou o amigo num aperto de mão bem firme e uns tapas no ombro, Kirishima colocou sua outra mão no outro ombro de Katsuki sorrindo amplamente.

— Quem diria que eu encontrar você aqui – disse o ruivo num tom de voz um tanto exagerado, atraindo atenção das pessoas ao redor.

— E você, cabelo de merda? Pelo tempo que eu fiquei sem te ver achei que tivessem finalmente te mandado embora.

— Oh, é bom te ver também, Bakugou! – Kirishima puxou o loiro até que seu braço estivesse envolto no pescoço dele para dar tapinhas no seu peitoral.

Katsuki soltou um sorriso de lado, fazia um bom tempo que não via Kirishima desde quando ele havia mudado de área na polícia, sendo mandado para outra região a qual Bakugou não atuava, tornando difícil o encontro frequente dos dois.

— O que veio fazer aqui em Musutafu? – questionou o ruivo soltando o amigo depois que ele fez uma menção para se afastar.

Antes de responder, Katsuki fez muxoxo.

— Aqui é onde eu morava, e vim passar as festas com a velha.

— Eu ouvi isso, Katsuki – protestou a Sra. Bakugou assustando os dois que simplesmente se deram conta de haver outras pessoas ao redor. – Mais respeito com a senhora sua mãe.

— Oh! – rugiu Kirishima expandindo o sorriso e passando por cima de Katsuki para chegar mais perto da mesa. – Sra. Mitsuki? Lembra-se de mim? – Ele apontou para si mesmo com a mão aberta.

— Eijirou! Como não esquecer? Eu reconheceria esse cabelo ruivo em qualquer lugar.

— Você continua deslumbrante, se me permite dizer! Não mudou nada desde a última vez que nos vimos.

— Ora, querido, obrigada. – Diante dos elogios, Mitsuki colocou uma mão na bochecha sorrindo para Kirishima. – Que rapaz modesto. Por que não aprende a ter modos como ele, Katsuki? – De dócil, seu tom mudou para um enxotado ao falar com o filho.

Katsuki grunhiu.

Kirishima queria abraçar a mãe do seu amigo, mas não podia por uma outra figura impedir sua passagem, o ruivo só se deu conta dele ali, e Midoriya acenou tímido para ele. As peças na cabeça de Kirishima começaram a se encaixar e ele soltou vários “oh” a cada entendimento a ter um sorriso de orelha a orelha.

— Oh! Entendi! Vocês estão num encontro, não é?

Foi de imediato, o pescoço e rosto de Katsuki ficaram completamente vermelhos da cor do seus olhos e ele soltou um som engasgado com a pronúncia, cerrou os dentes e acertou um murro na cabeça do outro.

— Não seja idiota!

Midoriya não estava muito diferente de si, seu corpo inteiro estava encolhido em constrangimento e suas bochechas coradissimas dando um quê a mais nas suas sardas, ele ergueu as mãos no ar as balançando.

— Não, não! Eu e Kacchan crescemos juntos, apenas isso!

— Kacchan?

Pronto. A merda estava feita. Eijirou iria o atormentar com aquele apelido pelo resto da vida, ele pôde ver através do sorriso aberto besta que surgiu em seu rosto. Ele desejou que Deku mortalmente calasse a boca.

— E o que você está fazendo aqui? – Katsuki tornou o rumo da conversa imediatamente antes que ele cometesse um assassinato.

— Ele está com nós! – Uma voz feminina ecoou chamando a atenção e todos para a mesa ao lado, lá estava um grupo de jovens adultos, quem havia dito foi uma menina de cabelos selvagens cor de rosa e pele morena.

— Eu meio que soube que você viria para cá e tentei arrumar um meio de vir também, já que faz tempo que não nos encontramos. Admito, eu sabia que cedo ou tarde acabaria trombando com você – disse ele coçando a nuca e desviando o olhar.

— Estamos em praticamente um encontro triplo – proferiu um dos homens na roda, de cabelos negros e caídos abraçado a uma outra garota.

— Gostaria de se juntar a nós? – A mesma menina sugeriu com um sorriso convidativo.

Katsuki trocou olhares entre Deku e sua mãe, realmente indeciso com tudo acontecendo de uma vez só. Sua mãe fechou os olhos pensativa.

— Podem ir, meninos – autorizou ela num sorriso estranhamente simpático. – Eu peço para Masaru vir me buscar, enquanto vocês podem aproveitar a noite. Já não tenho mais idade para acompanhá-los.

— Mesmo, tia Mitsuki? Não tem problema? – Midoriya, silenciado até então, perguntou numa voz baixa e preocupada para ela.

— Absoluta, querido. – Ela apertou uma das bochechas de Izuku. – A noite é de vocês.

Por mais que soasse muito convincente, Katsuki era o único que sabia e entendia por trás das ações de sua mãe, ela mentiu em partes porque além que parecesse, ela tinha mais fogo jovial do que qualquer um ali, ela só não queria atrapalhá-los e dar a devida privacidade.

— Katsuki. – Ela trocou um olhar conhecedor com ele e Katsuki assentiu ciente. A única restrição dela era ele não chegar bêbado em casa e/ou acompanhado de alguém. Seu filho era adulto, ela sabia disso, porém, agora que eles estavam morando juntos novamente, Mitsuki era sua mãe, a mais velha, então, debaixo do mesmo teto, ela quem mandava e ditava as ordens sobre seu filho. Mitsuki só não aceitava essas duas coisas.

Sra. Bakugou pediu para que colocassem seu ramen para a viagem junto com o do seu marido também, que logo a veio buscar e ela deixou seus meninos para a noite.

Kirishima não parava de sorrir e chamou os dois para se juntarem a eles, Katsuki notou que desde que Kirishima apareceu, Deku estava um tanto receoso com a nova companhia e com mais pessoas em volta, pôde perceber pelo jeito que ele se encolhia e mantinha a cabeça para seu colo, fugindo do contato, e o sorriso torto. Bom, desde sempre ele não lidou bem com interações sociais, isso era fato, e Katsuki estava minimamente, minimamente, preocupado com ele.

Tentando lhe dar um voto de segurança, ele jogou seu braço ao redor do corpo de Deku o trazendo para próximo de si, ignorando o pequeno tremor, Katsuki respondeu uma pergunta ou duas que lhe foram feitas com um sorriso de lado querendo transmitir confiança.

Ele e Kirishima discutiram o resto da noite com fervor sem igual, Katsuki tinha certeza que se o amigo tivesse um rabo de cão, não pararia de o abanar por um segundo; fazia tempo que não se viam. Depois de um tempo em silêncio e somente observando, Deku finalmente pareceu mais confortável a se enturmar, respondendo as perguntas curiosas que lhe eram feitas e adquirindo um rubor às mais ousadas. Quando ele dava sinais de confiança, Katsuki retirou o braço de lá e deixou Deku tomar as próprias rédeas.

Eles saíram do estabelecimento um tempo depois para irem caminhar e apreciar as decorações incríveis e chamativas da cidade, obviamente não era como Tóquio onde tudo era extravagante e altamente impressionante, mas não deixava de serem bonitos as iluminações, os enfeites e a arquitetura.

Ao longo do tempo, todos estavam começando a ficar encantados com Deku, de alguma forma. Era uma coisa que Katsuki detestava, toda a atenção de repente mudou o percurso para o nerd tirando os holofotes de Katsuki, ele bufou em desgosto por isso, pelo menos Kirishima ainda mantinha a conversa com ele, era o que importava. Deixe os extras babões para Deku.

Depois de tudo, Katsuki descobriu que Kirishima estava namorando com Mina – aquela garota do cabelo rosa gritante que provavelmente ele esqueceria o nome depois – e como o clima natalino geralmente era romântico, ela sugeriu que eles chamassem o resto de seus amigos para fazer um encontro mútuo, que se tornou um passeio com a chegada de Katsuki e Izuku.

Conversas foram e vinham a todo momento e Katsuki se pegou rindo com as idiotices de todos ali e suas experiências contadas em determinados assuntos, vez ou outra fazia um comentário sobre e ficava por isso mudando rapidamente o tópico para outro assunto. Deku se revelou muito conhecedor e estava dando vários discursos, sem dúvida ele era o mais intelectual ali – como o nerd que era – e eles ficaram babando com o que Deku dizia. Bom, pelo menos agora ele havia se soltado e feito novas amizades.

Kirishima lhe contou que voltaria para Tóquio a comemorar o Oshogatsu e que ele não estava de licença como Katsuki, eles ainda precisavam dele por alguns dias e Kirishima alegou que estava empolgado para ver os fogos de artifício que lançariam na capital, Katsuki comentou uma coisa ou outra e o papo se desenrolou. Era bom ver seu amigo de novo, por mais que não admitisse.

Quanto mais profunda a noite ficava, o frio começou a dobrar e uma fina garoa de neve começou a cair na cidade. Deveria ser talvez nove ou dez horas. O grupo resolveu se refugiar debaixo de uma lona de uma loja já fechada até que a neve cessasse um pouco, o que não demorou muito e esse foi o ponto para a deixa das despedidas. Katsuki achou melhor voltar para a casa antes que a neve engrosassse e se tornasse uma dor na bunda, todos compartilhavam o mesmo pensamento.

Infelizmente a noite não havia durado muito ao lado dos outros, mas pelo menos eles se divirtaram e jogaram conversas fora – principalmente por parte de Deku. Eles se despediram de Kirishima e dos demais para voltarem para casa, no caminho Deku não parou de tagarelar em como seus novos amigos eram legais e sobre coisas incríveis que eles faziam. Kirishima era policial que nem Katsuki e os dois já foram parceiros antes e estudaram na mesma academia. Mina era arquiteta, mas seu hobby era a arte. Kaminari e Jirou eram músicos e tinham uma banda. Sero trabalhava no restaurante de seu pai e logo o herdaria. E Hagakure era apaixonada por animais.

Seus olhos brilhavam enquanto recordava de tudo o que ele havia aprendido e suas mãos gesticulavam sem parar, Katsuki só concordava com a cabeça e sorria discreto vendo sua animação sem igual.

Ao chegarem na rua de suas casas, eles se viraram de frente pro outro, Deku disse que a noite foi incrível apesar de Katsuki não achar tudo isso, eles se despediram e foram para suas casas. Deku sorria sem igual e talvez iria dormir com o sorriso besta. Katsuki sorriu ao pensar nesse sorriso de Deku.

 

*

 

25 de dezembro

 

Katsuki não gostava do Natal e muito menos do clima ou as compras. Ele detestava quando as pessoas ficavam ridiculamente felizes a amorosas umas com as outras só por causa da época. Quando pirralho, ele gostava do Natal porque ele ganhava vários presentes – uma das vantagens de viver em uma família com renda acima do comum. Porém agora, não significava nada para ele.

Ele assistia um filme na televisão com seus pais, Inko, Deku e Toshinori na sala de sua casa. Eles conversavam alegremente uns com os outros a qual Katsuki não se deu ao trabalho de ouvir, querendo se distrair com o filme entediante para a noite igualmente entediante. Deku estava ao seu lado no sofá, um tanto quieto, ele não sabia se era por causa do filme ou da conversa ou qualquer merda parecida, ele também não prestou atenção nisso. Katsuki apenas desejava que a noite acabasse logo.

— Ah! É mesmo! – abordou sua mãe de repente chamando a atenção de todos erguendo as mãos na altura do busto. – Hora de trocar os presentes!

Santa merda…

Tinha como ficar pior?

— Katsuki, você trouxe seu presente? – Sua mãe o encarou com um olhar aparentemente ingênuo, mas Katsuki sabia que ela o fuzilava por detrás. Ele fez uma careta. Ele tinha que perguntar? – Katsuki!

— Você esqueceu seu presente? – Quem perguntou fora seu pai, um tanto aflito.

Katsuki jogou a cabeça para trás grunhindo.

— Temos mesmo que fazer isso? – bradou ele.

— Vamos, querido. É divertido – disse Inko alcançando sua perna e fazendo um pequeno carinho ali em incentivo. Ao seu lado, Midoriya riu suavemente.

Num bufo derrotado, ele tornou a dizer:

— Eu não tenho presentes para todos. Lamento.

Antes que alguém dissesse mais alguma coisa, ele subiu para seu quarto e se deitou na sua cama. O que não notou foi o grave erro de deixar a porta aberta, a qual não muito tempo depois um Izuku adentrou com leves batidas na porta.

— Oi – começou ele com um sorriso pequeno. – Está chateado?

Katsuki se sentou na cama para o receber melhor, e Izuku o copiou se sentando na sua cama com certa relutância.

— Não é isso – resmungou.

— Está tudo bem, Kacchan. Entendo que não goste das festas, e você não é obrigado a participar sempre.

— Para você é tão fácil falar assim…

Izuku soltou um riso cúmplice.

— Eu apenas me meti aqui, sei que a velha coroa só queria passar o Natal e Oshogatsu com sua família inteira reunida, porém não gosto quando sou forçado a fazer algo que eu não gosto…

— Está tudo bem, Kacchan – repetiu ele sereno. – Você está aqui com ela, com seus pais, acredito que apenas esse fato já é o suficiente. E… eu meio que concordo com eles. Talvez sua mãe só quisesse um Natal normal como qualquer outra família, acredito que ela mereça isso. Não seja tão radical, você não quer magoá-la, quer?

Katsuki, porém, não deu respostas. Bem lá no fundo ele estava consciente disso, ele apenas não gostava de ser forçado a algo por vontade de outras pessoas – mesmo que fossem seus próprios pais –, era algo que ele não podia evitar.

Repentinamente ele teve um sobressalto quando algo tocou sua cabeça, ele ergueu os olhos para encontrar o braço de Deku estendido e sua mão no seu cabelo, um pouco hesitante, mas com um sorriso simples no rosto. Droga, se ele estava agindo como um pirralho, agora estava sendo tratado como um bichinho de estimação. Grunhiu, porém não tirou a mão de Deku lá.

— Bom – disse ele retirando sua mão da cabeça de Katsuki para a ajeitar melhor na cama e se virar completamente para ele. Viu Deku tirar detrás de suas costas um pacote embrulhado da cor bege e fitas verdes para prender e decorar a embalagem, Katsuki não tinha notado isso quando ele entrou. – Este é meu presente para você. Feliz natal, Kacchan.

Ele estendeu o pacote a Katsuki como se estivesse dando seu próprio coração e Bakugou admitia que ficou completamente sem reações, talvez estivesse fazendo cara de bobo.

— É um cachecol que minha mãe tricotou. Bom, eu pedi para ela tricotar para mim, porque eu notei que você sempre anda de cachecol e quis te presentear com isso… ah! Bom, espero que goste.

Bakugou suspirou e deixou cair o olhar para suas mãos, na verdade, ele queria esconder o rubor em suas bochechas, ele não queria que Deku o visse corar por algo tão simples e idiota. Ele pegou o embrulho e ficou o encarando.

Num suspiro alto tentando se recompor e pensar em outras coisas além do momento presente, ainda sem encarar Deku, ele se levantou e abriu o guarda-roupa, tirando de lá uma sacola com um pacote dentro e estendeu a Deku.

— Eu comprei isso há dois dias, ainda não usei. Eu achei que iria usá-los para combinar, mas… descobri tarde demais que não eram do meu gosto de fato.

Eram o par de tênis novinhos que Katsuki tinha comprado, e surpreendente, eram da cor vermelha e de cano médio.

Deku abriu com uma pressa e seus olhos se iluminaram.

— É parecido com o modelo que eu usava no fundamental e ensino médio! São até da mesma cor! Obrigado, Kacchan. Não precisava me doar seu próprio presente.

— Que se dane. Apenas fique com eles logo.

Katsuki não estava mentindo, ele realmente se tocou depois que os tirou da caixa. Na loja eles pareciam tão legais e maneiros… e de fato, Deku tinha razão. Os tênis antigos que ele usava estavam mais desgastados do que qualquer outra coisa e ele tinha pavor de sempre ver Deku com os mesmos par de tênis vermelhos por sua vida inteira. Bom, já que eram parecidos, Deku não poderia ficar mais feliz.

 

*

 

31 de dezembro

 

Véspera de Ano Novo. O festival fora montado nas ruas principais de Musutafu e perto dos templos para a celebração de Ano Novo.

As ruas estavam cheias, para dizer o mínimo, ainda era dia, então portanto Katsuki dava um desconto, porque à noite se tornaria infernal. E olha que a cidade não era nem comparada à Tóquio.

Tudo bem que Katsuki não era tradicional como sua família, desse modo, ele não vestia um quimono tradicional ou chinelos de madeira e nem estava animado para o evento. Apenas se contentava que o ano estava com seus segundos contados. Por outro lado, seus pais, Inko, Deku e até mesmo Toshinori estavam aversos a ele.

Não era nem mesmo quatro da tarde e ele se encontrava exausto. Sua mãe se rebelou na limpeza da casa no último dia do ano – um pouco tarde considerando a tradição Osouji e pelo tempo que eles chegaram –, jogando todas as velharias fora e dando um outro quê de limpeza à casa antiga, expulsando as imundícies e toda a sujeira que atraiam os maus espíritos e outras negatividades. O que resultou em ele e o seu pai carregando caixas e móveis pesados para a rua onde a coleta de Ano Novo seria feita. Katsuki acreditou que foi quase totalmente a casa inteira para fora.

Depois, eles partiram para o festival de Oshogatsu, porque sua mãe queria aproveitar o máximo possível e foi aí que a família Midoriya veio também a convite de sua mãe. Eles caminhavam pelas ruas admirando as decorações incríveis.

Izuku caminhava ao seu lado enquanto os outros vinham atrás. Deku usava um quimono verde com estampas de flores bregas e parecia bem animado, ao contrário de todos, Katsuki somente usava calças jeans, uma blusa de manga comprida preta, jaqueta bege e de quebra seu cachecol laranja com padrões em xadrez que ganhou de presente – nem era necessário comentar a felicidade de Izuku por ele estar usando.

Primeiramente eles passaram pelo Santuário e esperaram na fila, quando chegou a vez, ele e Izuku foram juntos, jogaram algumas de suas moedas no osaisenbako, balançaram o sino e bateram palmas três vezes, a última fechando as mãos numa oração silenciosa e balançaram o sino outra vez. Izuku se virou sorridente para Katsuki e ele se perguntou por que diabos ele não parava de sorrir, era apenas um procedimento para desejar bonanças e virtudes, como saúde e sorte no ano que virá.

Sua mãe sugeriu que eles pegassem o Omikuji, para receber a sorte que os papeizinhos lhes traria, eles ficavam mais ao exterior do tempo, onde possuía uma mesa com uma pequena estante com pequenas gavetas e um recipiente para receber as moedas. Como ainda era dia, havia poucas pessoas e eles conseguiram tirar os papéis das gavetas, um por um. Todos leram em união.

— O meu fala sobre bonanças na área profissional – comentou Izuku primeiro.

— Mudanças em qualquer tipo de convívio – emitiu Mitsuki.

— Proteção residencial e boa saúde familiar. Tudo o que mais desejei! – declarou Inko abraçada a Toshinori que sorria por ela.

— Redirecionamento na vida atual – disse Katsuki arqueando uma sobrancelha.

— Significa que algo grande está por vir em sua vida, Katsuki – abordou seu pai orgulhoso.

Ainda que indicasse algo bom, Katsuki tinha suas incertezas em relação a isso. Por via das dúvidas, ele escolheu guardar o papel para futuramente ter a prova se esse tal acontecimento de fato aconteceu ou não.

Izuku estava mais empolgado para ver o Takoage, porém aconteceria no final da tarde, onde os ventos se tornavam mais fortes para as pipas subirem. Eles tinham tempo de sobra ainda. Decidida, Dona Inko sugeriu que eles fossem às barracas para comprar algumas bugigangas interessantes, na saída do templo possuía algumas onde vendiam talismãs e amuletos, Toshinori fora primeiro e comprou logo um pingente decorado para Inko que ficou vermelha em constrangimento. Katsuki deu uma olhada pelos amuletos e viu alguns omamori, ele pegou um de cor laranja, o analisando, quanto mais cores fortes e vivas, maior era a benção por trás deles. Ele comprou este.

No geral, o passatempo fora eles visitando as lojas e comprando uma coisa aqui ou ali, isso até o anúncio do Takoage ter seu início, Izuku o apressou para que eles fossem até a área que o evento aconteceria, um campo aberto com várias pessoas presentes para apreciar as pipas.

O evento foi lindo e cada pipa mais extravagante do que a outra, e ainda mais, Izuku não parava de sorrir e chamava a atenção de Katsuki a cada nova pipa que subia, Katsuki o igualou a uma criança ansiosa, porém nem isso foi capaz de abalar aquela felicidade.

 

*

 

Já passava das onze horas e após todos terem jantado em um restaurante tradicional ali perto, todos se juntaram à multidão perto do Templo onde Joya no Kane aconteceria em pouco tempo. Izuku aproveitou para comprar velas que soltavam faíscas para as acender para comemorar a vinda do Oshogatsu.

— Oh, não! – Inko praguejou mexendo em sua bolsa.

— O que foi, querida? – Toshinori segurou seus ombros em amparo.

— Não encontro meu cartão com cupons do Oshogatsu! Eles liberam preços ótimos para as compras na loja que eu gosto. Será que eu esqueci em casa?

— Quando foi a última vez que você o viu? – Masaru perguntou.

— Eles estavam na minha carteira junto com o dinheiro, eu o tirei para pagar meu prato… oh…

— Você esqueceu a carteira no restaurante? – Desta vez foi Izuku quem perguntou. – Oh, mãe.

— Tudo bem, tudo bem. Sem alarde – disse Toshinori maneando com as mãos para todos manterem a calma. – Se voltarmos, é capaz que ainda esteja lá.

O primeiro baque do sino ecoou por toda a região dando início a contagem regressiva para o Oshogatsu. Eles trocaram entreolhares preocupados, ninguém queria perder a cerimônia.

— Vocês, meninos, fiquem – proferiu Mitsuki.

— Não, nós vamos com vocês. – Katsuki protestou.

— Não é necessário que tanta gente se envolva, é só uma carteira. Voltamos rápido. – Seu pai comentou.

— E também, não queremos ficar muito atrás da multidão, fiquem guardando lugar. – Com a última palavra dita por sua mãe, eles foram.

Katsuki resmungou algo, mas deixou por isso mesmo. O segundo baque foi emitido. Faltavam mais cento e seis batidas.

— Tomara que eles voltem a tempo – murmurou Izuku com as mãos em frente o nariz e a boca para esquentar as mãos.

Katsuki acariciou seu ombro com uma mão e logo tornou de volta para seu bolso, estava frio demais e ele não sabia como Deku estava se mantendo com apenas o quimono.

 

… 93… 92 … 91…

 

Com o mínimo de toque, Izuku se aproximou mais de Katsuki em busca de calor, já que o mesmo era o próprio sol do quão quente ele poderia ser. Katsuki passou o braço por cima de Izuku para que eles estivessem num meio abraço e viu Izuku estremecer com o contato.

 

… 75…

 

… 68…

 

A cada badalada, a preocupação de Izuku crescia mais por seus pais ainda não terem chegado. Katsuki sentiu Izuku ficar inquieto no lugar, olhando para trás e para o chão.

— Ei – chamou ele –, está murmurando outra vez.

 

… 55… 54…

 

— Desculpe.

 

… 46…

 

… 37…



— Que tal já acender isso? Está chegando.

— Certo…

A animação e ansiedade estava se fazendo presente dentre a multidão com as últimas batidas e os últimos instantes para a chegada do Ano Novo. As faíscas começaram a sair e Izuku as balançou para os últimos instantes e um sorriso pequeno começou a brotar ali.

 

… 22… 21 … 20 …

 

Por um instante, Katsuki realmente pôde apreciar aquele sorriso e ser contagiado por ele, como a primeira vez em minuto tempo, sorrindo genuíno e livre de qualquer malícia ou crueldade.

 

… 10… 9…

 

— Oh, Deus! Eles ainda não chegaram! – Izuku se virou bruscamente para trás, porém agora havia inúmeras pessoas e ele não conseguia enxergar mais nada, nem as ruas. – Talvez eles estejam perdidos do nós com essa gente, vamos procurá-los…

 

… 8… 7…

 

Izuku. – Katsuki segurou seu braço para o impedir de ir em algum lugar.

 

… 6… 5…

 

Sob seu aperto, ele parou, por um momento paralisado. Ele virou aqueles olhos verdes e confusos para Katsuki, rebatendo-se de um lado para o outro e se perdendo naquele mar vermelho que eram suas pupilas.

 

…4 … 3…

 

Katsuki puxou Izuku para mais perto para que a única coisa que ele conseguisse ver era Katsuki a sua frente, sem desgrudar sua atenção. Involuntariamente os olhos de Katsuki caíram para os lábios rosados e aparentemente macios de Izuku, tão imaculados e convidativos.

 

… 2…

 

Com mais um puxão, ele fez o que sua mente apenas desejava naquele momento.

 

… 1.

 

As pessoas pularam e gritaram em plenos pulmões, se agitando e comemorando com fulgor. Porém, tudo parecia em extrema câmera lenta e o mundo inteiro se silenciou misteriosamente, sua mente ficou em branco e os olhos grandes arregalados.

 

Katsuki selou seus lábios e isso parecia tão certo.

 

 


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Notas finais do capítulo

*Oshogatsu: Ano Novo;

*Osouji: limpeza geral das casas japonesas para tirar toda a sujeira e acúmulo de imundícies, livrando a casa de e coisas que não servem mais e espírito sujos;

*osaisenbako: aquele caixote de madeira onde joga as moedas nos templos;

*Taokege: evento de soltar pipas no Ano Novo;

*Omikuji: são sortes aleatórias escritas em tiras de papel nos templos xintoístas e budistas;

*Omamori: amuletos que são saquinhos com papéis dentro contendo mensagens de sorte e prosperidade, nomes de divindades ou uma oração e que carrega bênçãos, tem uma para cada determinada área, existem 8 ao todo e você pode levar com você para ter proteção;

*Joya no Kane: o sino dos templos tocam 108 baladas no Ano Novo, na última balada, é o momento exato em que o relógio marca meia-noite e o novo ano começa. Acredita-se que se espanta os maus espíritos e pecados e desejos mundanos, purificando o homem para que ele entre no Ano Novo.

É isso. Saiu muito grande porém menor do que o esperado (umas 3 mil palavras a menos) então me perdoem por qualquer coisa e se tiverem dúvidas sobre a história é só me falar.



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