A Bastarda de Lily Potter - LIVRO 2 escrita por thaisdowattpad


Capítulo 17
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Capítulo Dezessete
Portas Misteriosas.

— O quê? Por quê ela seria demitida? Ela ficou tão mal quanto você, inclusive saiu daqui fazem poucas horas. Vocês duas tiveram sorte pelo professor Morcegão ter aparecido do nada! — Jorge explicou e ergueu uma das sobrancelhas.

— Ficou mal? — Tori franziu a expressão, confusa — Ela me viu em apuros e não fez nada para me ajudar. Ficou parada como uma estátua enquanto eu era atacada! — relembrou, abraçando o próprio corpo devagar.

— Tori, o professor Snape retirou ela desacordada da água. — foi a vez de Aurora comentar, comprovando a versão de Jorge.

— Poderia ser teatro puro da parte dela! — a Grifinória resmungou — Eu estou dizendo: as criaturas nem cogitaram se aproximar dela, eu que fui o total alvo. Ela ficou lá parada sem fazer nada, eu me lembro muito bem! — garantiu e sentiu o corpo começar a tremer, mesmo se tentou contê-lo com os braços apertados em volta.

— Descanse um pouco, Tori. Você sofreu algo terrível e deve estar confusa. — Fred se aproximou e a empurrou de leve pelos ombros em direção ao colchão.

— Eu não estou confusa! — a menina empurrou os braços do amigo e o olhou feio — Se eu estou dizendo, vocês tem que acreditar em mim! — falou de um jeito quase desesperado.

— Mas não faz sentido algum o que você está dizendo. Eileen ficou desesperada quando viu que você não acordava de jeito nenhum. Se preocupou de verdade com o que aconteceu, Tori, e isso não é o tipo de atitude que alguém que quer fazer mal costuma ter. — Jorge concordou com o irmão, o que irritou ainda mais a menina.

— O que não faz sentido é vocês acreditarem em alguém que acabaram de conhecer, em vez de acreditarem em mim. Isso só prova que são ótimos amigos! — Tori se chateou com os meninos e começou a arrumar o edredom para se cobrir de novo — Aurora, conversamos amanhã de manhã, pode ser? Se eu não tiver alta, você pode vir me visitar. Agora preciso muito descansar... — expulsou a menina com jeitinho, a encarando com um pequeno sorriso que se esforçou para usar.

— Já entendi, você precisa gritar. Está tudo bem, Tori, eu colaboro para isso. — Aurora deu de ombros e retribuiu o sorriso pouco antes de caminhar para a saída do local — Boa sorte, meninos, pois vocês vão precisar! — ainda sussurrou para os meninos, soltou um risinho maldoso e então saiu.

Aproveitando que haviam apenas os quatro ali e Pucey parecia meio morto para se incomodar, Tori encarou os meninos com um olhar entre magoado e irritado.

— Eu sei que faz pouco tempo que tenho amigos, que sei o que é uma amizade de fora da família, mas acho que já entendi muito melhor do que vocês, que já tiveram muito mais experiências do que eu. — começou a falar em um tom baixo, encarando as próprias mãos apertadas no colo — Amigos estão com você quando você mais precisa, amigos confiam e são confiáveis, amigos te apoiam, amigos não te trocam por qualquer encanto passageiro causado pelos hormônios da idade... Porque, quando tudo se vai, sempre quem sobra são os amigos para te manter de pé. — o tom estava carregado por mágoa e a voz falhou no final, mas a menina não se permitiu chorar, não ainda, e apertou ainda mais as mãos.

Os três meninos ficaram encarando os pés, completamente calados e parecendo não querer piorar a situação com qualquer frase mal formulada que soltassem no impulso.

— Podem sair e não me procurem pelo resto da semana, se não quiserem ser azarados. Só se arrisquem se acreditarem de verdade em mim. Mas enquanto isso, saiam daqui. — Tori soltou as mãos e gesticulou para a porta, mas não sendo obedecida de imediato — ANDEM LOGO! — aumentou o tom de voz quando Lino moveu os lábios em uma tentativa de se explicar.

Com o grito tão alto e por se tratar da última coisa que alguém deveria fazer em um ambiente hospitalar, Madame Pomfrey apareceu por ali e encarou os visitantes por poucos segundos, antes de captar no ar o que estava acontecendo.

— Vão! — Pomfrey ordenou ao trio de meninos — Já ficaram tempo demais esforçando a menina. Voltem, talvez, em outra ocasião. Boa noite, boa noite! — falou rapidamente enquanto os empurrava porta à fora, fechando-a algum tempo depois.

— Obrigada, senhora Pomfrey. — a paciente sorriu e uma lágrima escorreu pelo rosto, que ela tratou de secar imediatamente.

— Quer alguma Poção? Está sentindo alguma dor? — a Curandeira se aproximou e verificou a temperatura da menina tocando em sua testa.

— Não, eu estou bem.... na medida do possível. Só preciso descansar mais um pouco e vou ficar bem melhor. — respondeu e se deitou de lado, puxando o edredom até a altura das orelhas.

Com o gesto, os passos de Pomfrey foram ouvidos se afastando dali, o que deixou o local em silêncio absoluto, como se não houvesse mais ninguém.

Aproveitando a situação, Tori virou o corpo e olhou em volta, se certificando que não estava sendo observada. Pucey permanecia imóvel, sendo o único movimento a sua respiração lenta, porém alta e também exausta. Notou também o barulho distante da Curandeira em uma outra parte da Ala Hospitalar, onde não era possível de se ver dali.

Sentindo-se segura para agir, a menina empurrou o edredom devagar e escorregou para fora da cama mais uma vez. Ela calçou seus chinelos e vestiu um roupão que estava pendurado na ponta da cama, ainda dando uma boa olhada pelo quarto antes de prosseguir com sua ideia de fuga.

Ainda teve tempo de pegar alguns doces e guardar nos bolsos, pois estava morrendo de fome, e então se sentiu pronta para caminhar de fininho até a porta e girar a maçaneta com o máximo de cuidado o possível. Não confiando totalmente em sua sorte até então, Tori abriu a porta com o máximo de cuidado o possível, temendo que a madeira velha a deletasse para a Curandeira.

Quando obteve sucesso e pôde soltar o ar aliviado, saiu correndo dali sem ousar olhar para trás.

◾ ◾ ◾

Se escondendo sempre que ouvia passos de alguém se aproximando, Tori demorou bastante tempo para chegar ao sétimo andar. Mas quando enfim chegou, foi direto para a entrada da Sala do Diretor, a gárgula de pedra, e começou a pensar em como entraria ali sem ter a senha.

Pensou em gritar, mas sabia que isso chamaria muita atenção. Pensou em bater palmas, mas sabia que se cansaria a toa e não surtiria efeito algum. Em um último caso pensou em tentar fazer cócegas, mas levando em consideração que o Castelo era cheio de magia, temeu em levar uns tapas da gárgula e voltar ainda pior para a Ala Hospitalar.

Estranhamente, assim que todas as ideias se esgotaram e Tori desistiu da visita ao padrinho, mal teve tempo de dar três passos com destino a Ala Hospitalar e teve que voltar a se virar. A gárgula girou sozinha até a entrada surgir com a escadaria que levava ao escritório. Sem demoras e por temer que sua sorte possuísse prazo de validade, a menina correu para lá, subindo de dois em dois degraus, não se importando em ficar quase sem fôlego.

Ao passar pela porta, tudo estava exatamente como da última vez que esteve ali, os mesmos objetos estranhos que sempre atraíam sua atenção o suficiente para querer tocá-los, mas que sempre eram impedidos pela razão. Não sabia do que se tratavam e não gostaria de perder as mãos.

— Victoria, é muito bom te ver, muito bom mesmo! — Dumbledore foi recebê-la alguns segundos depois, aparecendo de repente e a assustando de leve — Principalmente aparentando tão boa saúde, apesar dos últimos acontecimentos. Fico muito feliz que seja mais forte do que imaginamos. — sorriu, um sorriso calmo sem esforço algum.

Era difícil de imaginar o que Aurora falou, que ele havia se exaltado com alguém, mesmo se com motivos suficientes para isso. A calmaria exalava do velhote, podendo acalmar até mesmo os ânimos em volta.

— Muito bom te ver também, padrinho. — tentou sorrir, mas sabia que apenas conseguiu uma careta estranha.

— Levando em consideração que nem fui informado que você havia acordado, suponho que seja recente, certo? — ele perguntou e cruzou as mãos para trás; a afilhada assentiu em positiva — Papoula sabe que está aqui? — ergueu uma das sobrancelhas.

— Sabe sim. — Tori concordou — Não sei se estou em condições e criatividade para tapear alguém, padrinho. — desviou o olhar para encarar os chinelos e esconder o olhar de mentirosa.

— Victória... — o adulto a encarou desconfiado, um olhar intimidador demais para não se abalar.

— Ok, ok, eu menti. Ela não sabe que estou aqui, padrinho, pois eu fugi assim que ela foi para os afazeres dela. — acabou contando toda a verdade e sentiu as bochechas quentes — Eu realmente precisava falar com o senhor, senão nem teria desrespeitado as regras da senhora Pomfrey. É algo muito grave e não tinha como deixar para depois! — tratou de se justificar antes da possível bronca.

— E o que te traz aqui com tamanha urgência, Victória? — o padrinho foi para trás de sua mesa e se sentou, apontando para o assento à sua frente para a menina se acomodar também.

Durante o percurso até a cadeira, Tori se permitiu chorar, todo o choro que acumulou desde a Ala Hospitalar, falhando em todo o esforço em não ser a menina sempre chorona.

Permaneceu assim por algum tempo e parou apenas quando conseguiu unir forças para se recompor de novo. E soltando um longo e pesado suspiro, ela conseguiu começar a se explicar, contando até mesmo os detalhes que não tinha tanta certeza, já que ninguém além dela acreditava naquilo.

— Estranho, muito estranho. Eileen me parece uma pessoa confiável e incapaz de deixar que alguém se machuque. — Dumbledore mexeu em sua barba longa — Todavia, vou marcar uma reunião com ela para saber mais a respeito. Tudo vai ser esclarecido, se isso te deixará em paz. — colocou as duas mãos sobre a mesa e tomou apoio para se levantar dali.

— Não, é melhor não! — Tori negou enquanto tocava a mão dele e o impedia de se afastar, o que atraiu um olhar de curiosidade do velhote — Eu percebi que ela é boa de conversa e sei que dobraria o senhor facilmente. Então... demite ela e inventa alguma desculpa convincente. Ela vai ter que aceitar! — voltou a se sentar direito, com as mãos no colo, e mexeu os ombros algumas vezes, indiferente.

Percebendo tal frieza nunca presente na afilhada, Dumbledore se arrumou em sua cadeira e encarou a menina por cima dos óculos.

— Lamento, Victória, mas não posso fazer isso com uma funcionária que apesar de novata, já é tão elogiada por muitos alunos e até mesmo outros funcionários. Seria antiético fazer isso sem um motivo grave e com provas. — o diretor avisou e manteve o olhar, sendo retribuído com uma expressão inconformada — Além de poder trazer problemas para a escola. Quem soubesse do nosso relacionamento entenderia isso como "privilégios de batizado". Você não quer isso, certo? Não quer que todos vejam seus benefícios conquistados sozinha na escola como "é porque é afilhada do diretor", quer? — argumentou.

Percebendo a razão naquelas palavras e sabendo ser injusto rebater, a menina amoleceu os ombros e soltou um suspiro pesado.

— Mas ela pode ser perigosa para outras pessoas além de mim, padrinho. Eu não queria prejudicar a "ética", só não quero que ninguém se machuque. — Tori falou e sua voz falhou um pouco, com o medo presente em sua voz e causando novas lágrimas em seus olhos.

— Se for mesmo perigosa, cedo ou tarde vai se revelar e resolveremos isso. Fique tranquila, Victória. — pediu e mudou a expressão drasticamente para uma tranquila e mais descontraída — Um pouco de chocolate quente com biscoitos cairia muito bem agora. Você aceita? — se levantou sem mais ser interrompido.

— Prefiro Coca-Cola do que chocolate quente! — suspirou e notou o olhar confuso do padrinho ao ouvir sobre a bebida trouxa — Chocolate quente está ótimo, obrigada. — abriu um sorrisinho, se esforçando mas não conseguindo tanta sinceridade no gesto.

Enquanto o Diretor preparava o lanche da noite com alguns gestos de varinha, a aluna se levantou e caminhou devagar pelo escritório observando tudo, mas mantendo uma distância segura.

Ousou se aproximar bastante de algo apenas quando viu uma espécie de armário com vidros aparentemente sujos, o que parecia ser o mais normal entre tudo ali naquele cômodo.

Se incomodou com a sujeira e quis ajudar o padrinho mesmo sem poder depender de magia de limpeza, usando modos trouxas, então tocou com a mão e a deslizou pelo vidro tentando tirar o excesso de poeira presente ali. O toque fez com que as portas se abrissem sozinhas e a assustasse.

— Foi sem querer, eu só queria... — ia se desculpando, quando algo lá dentro, que parecia brilhar, atraiu a atenção dos seus olhos e a calou.

Tori ficou olhando fixamente para uma espécie de tanque pequeno com um líquido meio brilhante, atrativo aos olhos de qualquer criança curiosa. Ela foi atraída pela curiosidade e foi se aproximando devagar, disposta a espiar, apenas espiar sem ousar tocar, e tentar descobrir do que se tratava.

Mas sua curiosidade foi desapontada quando as portas se fecharam sozinhas, tão rápidas quanto ao abrir, fazendo a menina dar um pulo de susto e apertar uma mão contra o peito enquanto a respiração se acelerava.

— Nosso chocolate quente está pronto. — Dumbledore surgiu às suas costas e convidou a menina para voltar à sua cadeira, parecendo ignorar perfeitamente o que havia acontecido ali.

— Padrinho, o que é isso? — ela perguntou, disposta a não deixar para lá.

— Nada! — se aproximou com uma xícara e a entregou — Tem mais açúcar e chocolate ali na mesa, caso você queira. — tentou mudar o rumo da conversa.

— Não parecia ser nada... — desconfiou Tori, que segurou a xícara e deu um gole rápido na bebida enquanto mantinha os olhos fixos no adulto — Assim está ótimo, padrinho, obrigada! — logo depois sorriu sem mostrar os dentes.

— Por hora é melhor que seja nada mesmo. Confie em mim, Victória, é melhor assim. — o Diretor pediu e voltou para a mesa, onde se acomodou outra vez e se serviu com outra xícara — Tem biscoitos aqui, além de geleia de abóbora, que suponho que você não irá querer. — sorriu de leve e depois assoprou devagar o líquido antes de beber um gole.

— Não mesmo! — a menina soltou um riso e voltou para a mesa com a intenção em entrar em outros assuntos, mesmo com a curiosidade ainda fazendo-a olhar mais de uma vez em direção às portas misteriosas.

◾ ◾ ◾

Assim que se despediu de Dumbledore, Tori resolveu voltar para a Ala Hospitalar e enfrentar a possível e gigantesca bronca de Pomfrey. Por conta do horário do jantar, acabou não precisando se esconder para não ser vista por ninguém e acabou chegando rápido ao local desejado, por mais que não estivesse corajosa o suficiente para o que a aguardava. 

Ao passar pela porta pela qual havia escapado, já preparando milhões de perdões e desculpas, percebeu que o quarto parecia mais despertado. Ela olhou para o outro lado e teve suas suspeitas confirmadas, encontrando Adrian acordado e acompanhado de uma mulher, provavelmente parente por tamanha semelhança com o menino, com os cabelos pretos e olhos claros, além da beleza delicada porém chamativa. 

— Resolveu ter alta por conta própria, Victória? — Pomfrey apareceu carregando consigo uma pequena bandeja com uma refeição mais saudável e suco de abóbora em um cálice. 

Ela parecia tão descontente, que Tori não teve coragem de manter o olhar e o abaixou para o líquido da bandeja, depois para os pés. 

— Eu precisava ver meu... Diretor. É... ter uma conversinha com o senhor Dumbledore. — quase falou demais, levando em consideração a presença de estranhos no quarto, mas se corrigiu a tempo.

— E não poderia esperar até amanhã? Precisava passar por cima de minha autoridade por aqui? — a adulta piorou ainda mais a expressão, novamente intimidando a mais nova e a fazendo desviar o olhar. 

— Desculpa, senhora Pomfrey, eu nunca quis te desrespeitar. Mas eu realmente precisava falar com o senhor Dumbledore, era urgente! — Evans se explicou, encarando as mãos apertadas em frente ao corpo — Mas veja só, poderia ser pior: eu poderia não ter voltado para cá depois da conversa. Porém, estou aqui e muito bem, obrigada. — abriu um sorriso amarelo que não foi retribuído.

— Vá se deitar, que vou trazer sua dieta da noite. — a Curandeira ordenou, pouco antes de seguir apressada para a cama de Pucey.

Obedecendo a mais velha, Tori subiu em sua cama e puxou o edredom com pressa, para se deitar logo e evitar mais broncas. Com o gesto, o buquê que ainda estava por ali escorregou para o lado e caiu no chão. 

— Que desastre! — a menina resmungou consigo mesma e voltou a se levantar, pulando para o chão e abaixando-se devagar para recolher as flores que se soltaram.

Quando se moveu para ficar de pé outra vez, notou em sua frente um par de sapatos que pareciam caros, além de muito elegantes, e pernas femininas. Ela foi erguendo o rosto até encontrar a possível parente de Pucey.

— Então você é a famosa Victória? — ela sorriu de leve — E vejo que recebeu as flores. Que ótimo! — encarou o buquê nas mãos da menina e empinou um pouco o rosto logo depois.

— Lindas flores, senhora, mas não precisava disso. — Tori retribuiu o sorriso e corou, aproveitando a timidez para colocar o buquê de volta nos pés da cama.

— Precisava e isso é só o começo. Por ter se arriscado tanto para salvar a vida de meu filho, ainda é muito pouco. Você merece mais! — ela encarou Adrian do outro lado do quarto, que comia de cabeça baixa e parecia desconfortável — Eu sei reconhecer alguém quando este merece. Então, faço questão de fazer um banquete nas férias de Natal em sua homenagem e não aceito uma resposta negativa! — avisou, voltando a encarar a menina.

Adrian soltou um suspiro alto demais, o que atraiu a atenção da Grifinória que arqueou uma sobrancelha em curiosidade. Não sabia se o menino demonstrava desconforto pela mãe não saber que os dois não se davam muito bem ou por outra coisa.

— Sinto muito, senhora Pucey, mas não tenho autorização dos meus guardiões para sair da escola. E como eu disse, não precisa de nada, eu fiz o que fiz sem esperar nada em troca! — a menina voltou a olhar a mais velha e sorriu.

A frequência começava a deixar suas bochechas doloridas, mas ela disfarçou arrumando a aparência de seu roupão.

— Ainda assim, quero alguma forma de te retribuir. — a Pucey mais velha insistiu e tocou um ombro da menina de forma gentil, logo depois estreitou os olhos enquanto encarava — Eu a conheço de algum lugar, mas esqueci onde. — confessou.

— Provavelmente por eu ser filha de Lily Evans, só Evans na ocasião, e muitos me acharem parecida com ela. — sorriu de leve ao citar a mãe que pouco se lembrava, nem se importando em ignorar sua manchete no Profeta Diário ao qual citava Rosier.

Tais palavras fizeram a senhora Pucey afastar a mão imediatamente, parecendo que levou um choque ou algum outro incômodo dolorido na ponta dos dedos. Ela engoliu em seco e voltou a abrir um sorriso, mas que não chegou em seus olhos e parecia custar bastante esforço.

— Uma nascida-trouxa? — a Pucey perguntou e o nariz deu uma leve franzida.

— Mestiça. — Tori a corrigiu — Meu genitor é puro-sangue. Mas, se eu fosse nascida-trouxa, teria algum problema? A senhora mudou a expressão de repente... — mesmo sabendo bem a resposta, resolveu questionar.

— Mudaria o status, o nível de pessoa. Mas isso não vem ao caso agora. — a mulher respondeu e empinou o nariz.

— Discordo totalmente. Se a pessoa for honesta, não fizer mal para outras pessoas, ter bondade, para mim ela é do mais alto nível, não importando o tipo de sangue, mágico ou não mágico. Todos temos sangue da mesma cor. Ou o da senhora, por acaso, é azul? — ela rebateu e cruzou os braços.

— Você é jovem demais para entender. — Pucey voltou a sorrir, um sorriso levemente desdenhoso.

— Então espero nunca envelhecer, se for para ter um pensamento preconceituoso. — deu de ombros e segurou nas pontas da camisola — Com licença, senhora, que preciso me deitar. Tenha uma boa noite e melhoras para o seu filho. — fez um cumprimento típico de damas, abriu um sorriso e voltou a posição normal.

— Boa noite, Victoria. — a mulher retribuiu e ficou algum tempo observando a mais nova.

Tempo o suficiente para constranger, para se tornar exagerado.

— Ainda está de pé, Victória? — Pomfrey voltou trazendo consigo outra bandeja, onde aproximou da mesinha ao lado da cama da menina.

— Já estava indo para a cama agora mesmo, senhora Pomfrey. — com um suspiro aliviado, Tori se virou para a cama e se sentou na ponta — Com licença, senhora Pucey. — foi educada mais uma vez; depois recolheu as pernas para cima do colchão e as cobriu.

— Melhoras, Evans. E espero que possamos conversar outra vez em condições melhores. — disse a visitante, antes de lançar um último olhar e voltar para a cama do filho.

Observando a mulher até que ela estivesse longe o suficiente, Tori desviou o olhar para Pomfrey e franziu a testa.

— Esse foi o "obrigado" mais esquisito da minha vida! — sussurrou e fez uma caretinha.

◾ ◾ ◾

No dia seguinte, Tori passou o café da manhã e as primeiras aulas evitando os três amigos. Ainda estava chateada com eles e preferia manter certa distância para evitar novos desentendimentos.

Aproveitou esse tempo para conversar com Carlinhos e descobrir que, com toda a preocupação do acontecimento do lago, ele havia se esquecido de fazer uma busca por Totó na Floresta Proibida. E com muito protesto e argumentos para assegurar que estava bem, a menina o convenceu de permitir que ela o ajudasse na situação, sendo concedido após uma ameaça de choro.

Como combinado entre eles, Tori e Carlinhos escaparam mais cedo do almoço com uma desculpa qualquer, mas aparentemente convincente. Eles seguiram para fora do Castelo, correndo vez ou outra para chegarem logo ao local desejado e logo depois diminuindo o ritmo para não parecerem dois fugitivos. Seguiram sem problemas, mas sempre tomando cuidado para continuar dessa forma.

Por sorte, Hagrid parecia ocupado nos últimos dias e quase não era visto. Sua Cabana estava vazia e os dois amigos não tiveram preocupações ao passarem por ela.

Chegando ao começo da Floresta Proibida, Tori e Carlinhos pararam para combinar o que fariam dali em diante.

— Eu tenho um palpite de onde Totó pode estar. Não é certeza, mas é melhor do que não ter nenhum plano. — a menina falou e tocou no tronco de uma árvore, passando os dedos de leve pela textura familiar e os afastando logo depois.

— Vamos até lá, então. — o mais velho assentiu enquanto tirava sua mochila das costas e a segurava pelas alças.

Devagar, Tori respirou fundo e então começou a tocar em árvores seguidas de árvores, enquanto contava cada uma baixinho. Carlinhos a seguiu em silêncio, mas havia puxado a varinha em determinada parte do caminho e ficava em posição de ataque a cada ruído mínimo da floresta.

— Dezesseis... — Tori avançou mais um pouco e então parou, as mãos tremendo sobre a textura de uma árvore.

As lembranças vinham com mais força conforme ela ia se aproximando do local que ela e Fred quase morreram há alguns meses atrás. Lugar onde descobriu que sua origem, aquilo que imaginava para um nascimento, que é o amor entre duas pessoas, era uma farsa. Um lugar que a fez crescer, mesmo se da pior forma possível.

Ainda assim, mesmo com o passar do tempo e ao aparentar para todos ter superado tudo o que viveu ali, se aproximar do lugar ainda lhe causava temor. E percebendo isso, Carlinhos tocou no ombro dela enquanto tomava à frente.

— É nessa direção, aproximadamente na vigésima árvore, certo? — ele perguntou para a menina, que assentiu em resposta — Então fique, que eu continuo daqui. — avisou.

— Não! — Tori negou — Viemos juntos e temos que permanecer assim, independente dos meus dramas. — abraçou o próprio corpo e desviou olhares para os lados.

— Mas eu reparei no quanto esse lugar está te afetando, logo você que acabou de sair da Ala Hospitalar e está se recuperando! — Carlinhos se preocupou, ainda mais ao ver o olhar assustado da menina — Temos que voltar ao Castelo. Depois arrumo alguém de confiança para me acompanhar na busca, mas você precisa sair daqui. — usou o tom autoritário que sempre usava quando estava em seu posto de Monitor.

— Se já estamos aqui, não vamos voltar atrás. Não se preocupe comigo, Carlinhos. Eu aguentei duas experiências de quase morte, então nada mais me surpreende! — riu de leve para descontrair o ambiente e cruzou as mãos nas costas para disfarçar os novos tremores — Dezessete... Dezoito... — voltou a contar enquanto caminhava.

O garoto a seguiu em silêncio, mesmo descontente com a tentativa da Evans em demonstrar estar totalmente bem. Manteve a postura de defesa conforme eles iam entrando cada vez mais na floresta, nem sequer piscando para não deixar nada passar despercebido.

Quando uma clareira surgiu, Tori parou de repente e Carlinhos esbarrou em suas costas, a fazendo cambalear um pouco mais para frente. Além dos tremores, falhou em disfarçar as lágrimas que surgiram conforme observava a destruição ainda presente por ali.

Haviam árvores rasgadas ao meio, troncos que viraram meros palitos de dente, a terra sem qualquer sinal de grama outra vez, tudo parecendo sem vida.

— Tori? — Carlinhos a chamou e parecia alarmado.

— Eu estou bem, Carlinhos. — resmungou com a voz um pouco baixa e secou o rosto.

— Tori, nos vamos vo... — tentou falar algo, mas foi interrompido no mesmo instante.

— Vamos continuar a busca. Totó pode estar perto. — ela impulsionou para a frente para continuar a andar.

Um som de madeira quebrando aconteceu ali perto, muito perto, e Tori teve tempo apenas de erguer o rosto devagar, antes de receber um enorme empurrão e cair no chão. Carlinhos gemeu de surpresa e caiu para trás, derrubando a varinha longe e tendo que usar braços e pernas para se defender de algo.

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