English Boy escrita por Kiki, Tyke


Capítulo 20
Capitulo 20




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/773819/chapter/20

Eu tinha um problema!

Esse problema era tão pessoal que ninguém, além de Lina, sabia. Ele era um tanto constrangedor, pode-se dizer, e juntos tentávamos lidar com isso, mas tenho minhas dúvidas se estava funcionando. Bem, vamos resumir a situação:

Aquele era um dia de jogo de quadribol e como de costume eu e Lina ficávamos no dormitório… Imagino que seja óbvio o que fazíamos, e nesse ponto que temos as minhas frustrações. 

Digamos que meu relacionamento com Lina era perfeito em tudo, ou quase tudo. Não posso negar que ela era a garota mais linda, carinhosa e divertida que eu conhecia. Vale ressaltar que éramos grandes amigos além de namorados e tudo dava muito certo... isso pelo menos até tirarmos nossas roupas. 

Sexo! Desde o momento que ele se fez presente na minha vida achei que aquilo não funcionava para mim. Cheguei a considerar que o problema fosse minha idade. Não sei, dezesseis anos parece muito novo para você? Não parecia para os meus amigos. Com certeza não! Mesmo que Danilo não gostasse de falar sobre sexo, ele nunca pareceu ter problemas com a execução. Já Tião, bem, ele me dava detalhes que eu preferia não saber por isso sempre o impedia de falar demais, mas tenho certeza que aquele safado não tinha empecilhos.

Nunca contei meu problema aos meus amigos, de forma que quando aquele assunto surgia (principalmente porque Tião sempre o jogava na roda) eu fingia que estava tudo bem. No começo, ao achar que conforme ficasse mais velho a experiência me ajudaria era algo que me deixava otimista. No entanto, o tempo estava passando e chegou o momento onde notei que nada mudou. Assim, eu desisti e não queria mais tentar, por isso me empenhava em fugir de todas as oportunidades de ficar assim com Lina. 

Um raciocínio lógico a se seguir é que eu não tinha interesse em Lina, mas eu não conseguia pensar assim, pois não havia outra garota que me despertava qualquer sentimento além dela. Eu não sabia como explicar que o problema estava em mim, então nunca trouxe esse assunto a tona com ela. Entretanto, quase nada fugia daqueles olhinhos perceptíveis, sei que ela sabia mesmo que eu nunca dissesse nada.

ꟷ Não? ꟷ ouvi a voz de Lina no fundo da minha mente e despertei para a realidade.

A garota estava em cima de mim, minhas mãos em sua cintura e as roupas ausentes. Pois é estávamos no meio de algo acalorado, mas minha mente não conseguia ficar presente. Foquei minha atenção naquela garota perfeita cujo os cabelos longos caiam sobre nós e fazia cosquinha no meu dorso conforme ela se movia. Era uma imagem bonita...qual o meu problema?

ꟷ Não. ꟷ confirmei. 

Mesmo que as palavras não foram todas ditas eu sabia o que Lina me perguntou. Fazia um bom tempo que estávamos daquela forma e eu não conseguia ter um orgasmos. Frustrantemente eu chegava perto, mas não o bastante. Reparei como Lina estava ofegante e cansada, acho que ela só queria que acabasse logo também. Naquela posição ela tinha que fazer quase todo o trabalho, não é por mal, era a única que eu me sentia confortável. Inclusive um tempo atrás desse jeito até que funcionava para mim, mas pelo visto não mais. Não importava o quanto eu me concentrava simplesmente não acontecia.

Logo chegou o momento em que desisti ao ver no rosto de Lina que a persistência estava começando lhe causar dor. A ideia de machucá-la era completamente insuportável, quanto a mim, não havia nenhuma vontade de continuar e meu corpo estava refletindo isso. Por fim, suspirei desapontado comigo mesmo.

ꟷ Você quer parar? ꟷ perguntei a ela em um sussurro.

ꟷ Sim! ꟷ respondeu prontamente e se jogou do meu lado.

Lina me abraçou e sua cabeça repousou em meu ombro. Passei meu braço esquerdo ao redor dela e ficamos em silêncio. Haviam muitas coisas para se dizer da situação, mas acabamos escolhendo não comentar como sempre.

 Uma vez Lina até me perguntou se eu não sentia atração por ela. Eu neguei essa suposição, pois podia ver a insegurança nela, mas a verdade é que eu não sei…Eu amava muito ela, muito mesmo! Queria tanto que desse certo, mas sempre parecia que algo estava faltando em mim. Isso é o máximo que consigo explicar do meu sentimento tão confuso. Às vezes suponho que meu problema real era pensar demais, mas nunca pude evitar tentar entender o que acontecia comigo. 

ꟷ Eu te amo. ꟷ disse enquanto fazia um carinho suave na cabeça dela.

ꟷ Eu também te amo. ꟷ Lina sussurrou de volta.

ꟷ Foi ruim? ꟷ perguntei fechando os olhos e a vergonha tomando conta do meu rosto. 

Sempre evitei fazer esse tipo de pergunta, pois na minha cabeça se eu precisava perguntar era porque as coisas já estavam erradas. Lina ergueu a cabeça e beijou meu rosto antes de responder:

ꟷ Não.

Ficamos assim por um tempo e em silêncio até que um barulho no corredor fez Lina enrijecer os músculos. Ela sentou de um pulo escutando atentamente os sons de fora.

ꟷ Calma, ninguém fica por aqui quando tem jogo.

ꟷ Será que já acabou? ꟷ ela perguntou receosa.

ꟷ Não costuma acabar tão cedo. ꟷ eu disse sabendo que as partidas de quadribol levavam horas para terminarem.

Entretanto, na dúvida, também sentei na cama atento aos sons do corredor. Vai que dessa vez o jogo foi breve. Não escutamos nenhum outro som.

ꟷ Melhor a gente se vestir. ꟷ Lina disse preocupada

Encostei na parede, sentado, observando ela passar o vestido pela cabeça e puxa-lo para cobrir até metade das coxas. Ela sorriu para mim, recolheu as minhas roupas no chão e as estendeu para mim. 

ꟷ O que foi? 

ꟷ Nada, só estou admirando sua beleza. ꟷ eu disse. 

ꟷ Hum ꟷ ela deu um sorriso um pouco... triste.

Apesar de tudo, eu achava Lina muito bonita, com toda certeza. Acontece que meu corpo só não parecia importar com isso. Vesti minhas roupas, enquanto Lina foi até minha mesinha de cabeceira pegar seus brincos e pulseira. Ela parou na frente do espelho e puxou seu longo cabelo para prendê-lo em um rabo de cavalo.

ꟷ O que vai fazer agora? ꟷ ela perguntou ajeitando a franja na frente do espelho.

ꟷ Não sei.

ꟷ Você não ia nesse jogo? ꟷ Lina sentou na beirada da minha cama, ao meu lado.

ꟷ Não dei certeza. ꟷ dei de ombros.

ꟷ O jogo não acabou, né?

ꟷ Acho que não, por quê?

ꟷ Gostaria de ver um pouco. ꟷ ela me disse com um sorriso enorme.

Encarei Lina atentamente, porque nunca a vi demonstrar interesse por quadribol antes.

ꟷ Da onde vem esse interesse por quadribol? ꟷ questionei desconfiado.

ꟷ Ah! James me explicou tantas coisas que fiquei curiosa. ꟷ  ela disse ainda sorrindo. ꟷ Ele disse que eu deveria assistir pelo menos uma vez. Vamos?

Lina me deu aquele olhar que eu nunca conseguiria dizer não. Ao que parece James tentou de tudo para me fazer ir ao jogo, até convencer Lina que seria legal. Fala sério, eles precisariam ter conversado por bilhetes para que pudessem traduzir com a folha mágica de James. Ou ter obrigado Danilo ser o tradutor. Tinha que ser assim, pois eu não presenciei essa conversa. Era muito esforço da parte dele e eu não entendia o porquê. Nem Danilo, meu melhor amigo, me obrigou assistir um jogo em anos. Suspirei alto me dando por vencido e respondi:

ꟷ Ta bem.

***

Nós atravessamos o imenso gramado em direção ao campo de quadribol. A uma boa distância era possível ouvir os gritos da torcida e ver as cores chamativas das bandeiras esvoaçando. Quando chegamos próximos o bastante da bagunça pude distinguir que de um lado da arquibancada havia alunos exibindo as cores amarelo e preto, enquanto do outro lado dominavam o rosa com salmão e branco. Agarrei bem a mão de Lina e a levei em direção ao grupo amarelo, pois sabia que eram a torcida do Mirim. Já que estávamos aqui é óbvio que eu torceria para os meus amigos.

 Eu e Lina passamos com dificuldade pela multidão na arquibancada lotada e encontramos um assento vazio. Ao nosso redor os alunos, de todas as idades estavam com os rostos pintados e sacudiam bandeiras. Após me ajeitar no assento, olhei para o campo no momento em que Danilo rebatia uma gole para não atravessar o arco. Eu nunca tinha visto meu amigo jogar em todos esses anos, mas sabia que ele era goleiro. 

No momento seguinte um garoto de uniforme amarelo carregava a gole nos braços e voava rapidamente na direção dos arcos adversários, no caminho ele desviava habilmente de balaços e outros artilheiros. O garoto (que não consegui reconhecer quem era) jogou a gole para outro jogador aliado quando um dos adversários veio em sua direção e esbarrou com força. Eu estremeci ao ver o garoto quase cair da vassoura com o impacto. Definitivamente eu não gostava desse jogo.

ꟷ Mais dez pontos para o Tamã Mirim! ꟷ disse a voz do professor Pyhare que estava narrando o jogo.

A plateia decorada de amarelo se ergueu fazendo barulho e um garoto ao nosso lado, quartanista com certeza, quase pisou em mim enquanto pulava de agitação. Observei ao redor confuso com o que havia acontecido. Aparentemente enquanto eu estava preocupado em assistir se o garoto esbarrado cairia da vassoura, o outro jogador do Mirim, que pegou a gole, marcou os pontos. Consegui localizar a tabela que marcava o placar ao lado da arquibancada dos professores e nela dizia:

80 Tamã Mirim  x 120 Montaraz.

Pelo visto meus amigos estavam perdendo. Varri com o olhar o campo em busca de James e não foi difícil identificá-lo. Até porque era o único que possuía o cabelo laranja brilhando com a luz do entardecer. 

ꟷ É divertido. ꟷ Lina soprou no meu ouvido.

Admirei o sorriso dela que me contagiou, se ela achava legal então me sentia melhor de estar alí. Segurei a mão dela entrelaçando nossos dedos.

ꟷ Parece que James avistou o pomo de ouro. ꟷ ouvi novamente a voz do professor amplificada.

Me voltei para a partida e James estava voando rapidamente ao redor do campo atrás de algo impossível de enxergar. Eu tinha que admitir que ele possuía muita habilidade com voo para conseguir controlar a vassoura naquela velocidade e fazendo curvas o tempo todo. Recordei das antigas aulas de voo que tínhamos nos primeiros anos, onde eu era um fracasso completo como bruxo. Vassouras nunca foi meu forte e espero nunca precisar usá-las na minha vida.

Um dos jogadores do Montaraz, provavelmente o apanhador, emendou atrás de James parecendo querer derrubá-lo. Senti meu corpo ficar tenso ao observar aquilo, porque se James caísse naquela velocidade e altura iria se machucar feio. Um balaço passou de raspão perto de James e foi quando percebi que os batedores adversários o miravam de propósito. Fiquei indignado que tal tipo de jogada fosse permitida no jogo. Por sorte, ou treino no caso, James conseguiu desviar de todos os balaços e, no final, até despistou o outro apanhador.

James esticou o braço e conseguiu segurar algo e com isso toda a plateia pareceu prender a respiração. Até que...um sino tocou e a torcida do Mirim pulou e gritou de alegria. Os jogadores de ambos os times abandonaram suas posições o que deveria indicar o fim da partida.

ꟷ Tamã Mirim vence o jogo com 230 pontos. ꟷ falou o professor.

No meio de tanta gritaria ao meu redor e gente pulando, consegui erguer o pescoço e observar o time de amarelo desmontando de suas vassouras e se juntar em um abraço coletivo. Do lado oposto o time rosa fez o mesmo, porém mais desanimados. Eu não entendia como funcionava o campeonato da escola, mas pelo desânimo da outra torcida concluí que o Montaraz foi eliminado de algo.

Depois de muita festa e agitação, os alunos começaram a descer das arquibancadas para fazer mais bagunça em outro lugar. Normalmente, esse lugar era o gramado do Aloja ou o Centrinho. Ainda segurando a mão de Lina descemos os degraus da arquibancada, mas ao invés de seguir o fluxo de pessoas agitadas fomos na direção dos jogadores de amarelo que ainda estavam no campo.

ꟷ Não acredito! ꟷ gritou Danilo assim que me viu. ꟷ Não acredito que você veio!

ꟷ Lina me conven...

Danilo correu na minha direção e me agarrou dando um abraço, ele parecia estar explodindo de alegria.

ꟷ Eca, me solta! Você tá suado.  ꟷ me agitei nos braços dele até conseguir empurrá-lo.

ꟷ Vocês são bons. ꟷ Lina elogiou. Em resposta Dan a agarrou também, só que a levantando do chão. ꟷ Não, Danilo! 

James veio em nossa direção sem notar que uma garota alta de cabelos tingidos de loiro estava vindo atrás. Levei alguns segundo para reconhecer que aquela era Bruna, importante ressaltar que ela ficava muito diferente com o uniforme amarelo e os equipamentos de quadribol.

ꟷ Ei, vocês dois! Vamos lá pro Centrinho, está todo mundo comemorando. ꟷ ela bateu nos ombros de James ꟷ Mandou bem hoje, Jamie.

ꟷ Jamie ꟷ eu repeti rindo e James deu uma encolhida envergonhado.

Aparentemente Bruna estava tão agitada com a vitória que não percebeu que eu e Lina estávamos presentes. Digo isso pela forma que seus olhos castanhos se arregalaram ao nos ver.

ꟷ Nossa! Lucas, você no campo de quadribol? ꟷ Bruna tentou soar divertida, mas vi o sorriso dela amarelar e desviar o olhar para longe de nós. 

ꟷ Pois é, talvez chova hoje. ꟷ respondi mesmo que Bruna não parecesse estar interessada em me ouvindo. De qualquer forma Danilo e Lina riram do comentário.

Mas chove todo dia. ꟷ James contrapôs confuso. 

Essa é a piada, Jamie. ꟷ expliquei dando batidinhas no ombro dele. James fez uma careta horrível para o apelido como se doesse ouvi-lo de mim.

Começamos a caminhar juntos em direção ao Centrinho. No caminho Danilo, James e Bruna discutiam sobre técnicas e estratégias que deram certo durante a partida. Eu não entendia bulhufas do que eles falavam.

Assim que chegamos no Centrinho em festa, mal pisamos dentro do alojamento e Iara parou diante de nós. Segurei um riso quando Danilo quase tropeçou ao vê-la a poucos metros dele.

ꟷ Oi, Danilo. Posso falar com você? ꟷ a garota perguntou encarando o chão e as mãos torcendo ao redor da barra da camisa.

ꟷ Agora não dá, Iara, a gente…ꟷ Bruna começou dizer.

ꟷ Tá bom. ꟷ Danilo concordou de prontidão sem dar ouvidos à capitã.

Danilo e Iara subiram as escadas para os dormitórios. Lina estava sorrindo para cena dos nossos amigos e eu pude imaginar que Iara havia tomado uma decisão que minha namorada estava a par. Não precisava que me contassem, era óbvio que Danilo e Iara ficariam bem. 

ꟷ Ok, né! ꟷ Bruna suspirou vendo seu jogador ir embora da festa. ꟷ  Vamos, James. ꟷ assim ela puxou James para o centro da comemoração junto com os outros jogadores e torcedores empolgados.

Eu e Lina  fomos para perto de um pilar, um pouco afastado da agitação, e nele escoramos apenas observando. Passei os braços ao redor dela, por trás, apoiei meu rosto em sua cabeça e senti ela fechar os dedos ao redor dos meus braços, me abraçando de volta. 

De longe observei James ser cumprimentados por todos. Todo mundo na escola gostava dele. Isso porque ele era filho de um grande herói ou porque jogava quadribol ou porque era europeu (e todos sabem como brasileiros amam estrangeiros)  ou simplesmente por ele ter “jeito de popular”. James podia negar aquilo o quanto quisesse ou dizer que não gostava de chamar atenção. Entretanto, era nítido como ele se sentia confortável em ser o centro das atenções. 

Meu olhar encontrou com o dele no meio da agitação e eu não consegui desviar principalmente quando ele sorriu, me mostrando uma medalha de papel que alguém lhe deu escrito “número um”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

oi
Comentem, pls



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "English Boy" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.