English Boy escrita por Kiki, Tyke


Capítulo 13
Capítulo 13




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/773819/chapter/13

Entrei pela porta do meu quarto com James atrás de mim. Ele foi logo sentando no final da minha cama, onde sempre sentava. Nas últimas semanas havia se tornado um hábito James passar muito tempo alí comigo e Danilo. Varavamos a noite jogando conversa fora ou jogando xadrez. Por vezes até Tião dava as caras pra importunar Danilo mexendo no guarda roupa dele e experimentando as roupas só para dizer que eram feias. Com sorte ele nunca ousou fazer o mesmo comigo, pois ele deveria saber que eu o chamaria de "burguês safado" e mandaria me dar roupas novas se estava incomodado.

James abriu um livro, que trazia nas mãos, e começou a lê-lo Agora eu tinha coragem de olhar para o garoto, sabendo que estava tudo bem. Ele estava com os cabelos molhados de um banho. Vendo aquele livro nas mãos dele lembrei de um presente que eu e Danilo tínhamos feito para ele.

Com nossos estudos na biblioteca, percebi que talvez James precisava de algo para aumentar o vocabulário. Foi então que lembrei de uns livrinhos do primário que minha irmã possuía. Eles eram destinados a ensinar escrever, era uma espécie de dicionário em desenhos. Muito simples. Por exemplo: havia o desenho de uma abelha e na frente vinha escrito "abelha".

Mandei uma carta para minha irmã a uma semana pedindo os livros. Ela já estava quase no ensino médio das escolas trouxas, eu tinha certeza que não precisava mais dos livros. No dia anterior o correio de aves tinha os trazido. Eram sete no total. Peguei os livros e sentei na cama ao lado de James.

ꟷ Toma. ꟷ estendi a pilha para ele.

ꟷ Que ser isso? ꟷ ele tentou perguntar.

ꟷ Um presente. Pega.

James pegou um dos livrinhos e abriu aleatoriamente. Seus olhos varreram as páginas desenhadas. Eu ia explicar como funcionava, mas antes ele acabou tocando um dos desenhos sem querer.

ꟷ Cachorro. ꟷ disse o livro, a voz desse era menos envelhecida que o da biblioteca.

James sorriu e eu olhava para ele com expectativa. Ele passou os dedos por outra palavra e o livro disse:

ꟷ Árvore.

O seu sorriso ficou ainda maior. James fechou o livro e tornou abri-lo observando a contra capa. Tinham muitos rabiscos alí, feitos a muito tempo com lápis de cor.

ꟷ O que é Letícia? ꟷ ele perguntou lendo um dos escritos na contra capa.

ꟷ É o nome da minha irmã. Os livros eram dela, eu e Danilo colocamos esse feitiço para ele falar. ꟷ expliquei.

ꟷ Nossa! ꟷ ele disse impressionado. ꟷ Legal!

ꟷ Gostou? ꟷ mordi os lábios ansioso pela resposta dele.

ꟷ Sim. Obrigado, Luca! ꟷ James sorriu outra vez.

Eu sorri de volta. James abandonou seu livro, um conto bruxo que eu nunca tinha visto antes, e deu toda atenção para os livrinhos infantis. James parecia uma criança sorrindo a cada nova palavra descoberta. Fiquei satisfeito por ter sido uma boa ideia.

Em seguida fizemos como sempre fazíamos na biblioteca, James se perdia em concentração com o livro enquanto eu ficava em silêncio por perto fazendo qualquer outra coisa.

ꟷ Sua irmã é uma artista. ꟷ ele comentou rindo observando, outra vez, os rabiscos que a Lê fez nas contra capas dos livrinhos. ꟷ Esse é você?

ꟷ Onde? ꟷ me inclinei para mais perto. Olhando quase por cima do ombro dele.

James me apontava um desenho de um menino palito com o cabelo colorido de bege, na cabeça havia um boné do Pokemon parecido com o que eu costumava usar na infância. Sobre o corpo de graveto foi colocado uma capa de bruxo, em uma das mãos ele segurava uma varinha, enquanto a outra estava atada com as de uma menininha de palito. Da varinha saia as palavras “abra cadabra” escritas dessa forma.

ꟷ Arrisco dizer que ela gosta de você.

ꟷ Sim, bastante. ꟷ eu sorri para o desenho lembrando da minha irmãzinha.

ꟷ Toda sua família é muggle? ꟷ  James me perguntou.

ꟷ Todinha. Sou o único bruxo.

ꟷ Todinha. ꟷ ele repetiu a palavra sorrindo.

ꟷ Você se dá bem com seus irmãos? ꟷ perguntei de curioso lembrando da carta que tinha bisbilhotado.

ꟷ Na maior parte do tempo, sim. ꟷ James deu de ombros. ꟷ Eles são divertidos, mas não são de confiança. Nesse quesito acabo conversando mais com meus primos… sabe, minha família é bem grande.

ꟷ Aposto que a minha é mais. ꟷ falei em tom de desafio.

ꟷ Impossível. ꟷ  ele riu pelas narinas em descrença.

ꟷ Meus avós maternos tiveram doze filhos. Cada tio e tia tiveram mais uma renca de crianças. Quando nos reunimos em festas, Natal ou velórios é tanta gente que fico meio tonto. ꟷ meu tom foi de presunção, pois eu sabia que sairia dessa vitorioso.

ꟷ Doze? Você ganhar. ꟷ James parecia surpreso.

James passou as mãos pelos cabelos deixando os fios ainda mais desorganizados que o normal. Notei pelos seus gestos que ele queria dizer alguma coisa, mas estava em dúvida.

ꟷ O seu pai está melhor? Você me disse uma vez que ele estava doente. ꟷ  por fim ele comentou o que queria.

ꟷ Ah… não muito. ꟷ respondi um pouco relutante ao recordar de como as coisas iam mal em minha casa.

ꟷ O que ele tem? ꟷ  perguntou com um quê de preocupação.

ꟷ Problema na coluna. Não é algo que mata, mas ele precisa trabalhar sentado o dia todo e não está conseguindo. ꟷ tentei soar como se não fosse um grande problema.

ꟷ Qual o trabalho dele? ꟷ  James havia largado os livrinhos de desenhos e me olhava atentamente.

ꟷ Ele faz sapatos.

ꟷ Sapatos?! Tipo...sapatos? ꟷ  James arregalou os olhos apontando para o seu próprio tênis marrom. ꟷ Caramba! Mas como se faz um sapato? ꟷ  ele parecia impressionado demais para algo tão simples.

ꟷ Uai! No mundo trouxa? Colando as peças e pespontando. ꟷ cocei a cabeça me sentindo constrangido com o interesse dele naquilo, ninguém nunca tinha me feito esse tipo de pergunta.

ꟷ Incrível!

ꟷ São só sapatos, James. ꟷ revirei os olhos para a animação exagerada dele. ꟷ Aposto que é muito mais interessante ser filho de Harry Potter.

ꟷ Nop!ꟷ  fez uma careta ꟷ Onde vamos com meu pai, as pessoas ficam nos encarando. O que fazemos pode até sair nos jornais, principalmente nossos erros… É melhor estar aqui onde quase ninguém me reconhece e não preciso dizer meu sobrenome nunca, assim sou apenas um aluno comum.

ꟷ Sério? Eu podia jurar que você gostava de se exibir. ꟷ brinquei e ganhei um soco bem fraquinho no braço ꟷ James… então, aquela garota na foto, é a Coira?

Não sei de onde veio isso. Antes mesmo que eu refletisse sobre, já havia perguntado. James ficou um pouco pensativo, me olhando. Eu estava preste a dizer, "a foto em cima da sua mesa", achando que não tinha sido claro. Então ele respondeu com um sorriso tímido:

ꟷ É.

ꟷ Bonita. ꟷ comentei quando James não falou mais nada.

ꟷ Sim, ela é e não está respondendo minhas cartas. ꟷ suspiro triste ꟷ Eu não tenho culpa, sabe, eu tinha acabado de chegar aqui quando ela descobriu que estava… eu não teria feito o intercâmbio se soubesse antes. ꟷ  ele desabafou de repente.

ꟷ Ela está brava por você estar aqui?

ꟷ Não sei, algo assim.

Num primeiro momento fiquei sem reação por ele se abrir comigo mesmo depois de eu simplesmente ler as cartas dele. Aquele garoto era sempre imprevisível pra mim.

ꟷ Foi mal ter mexido nas suas coisas. Sou muito xereta às vezes ꟷ falei diante da vergonha que não saia da minha cabeça.

ꟷ Xereta, palavra engraçada. ꟷ James repetiu rindo. ꟷ Eu já disse que está tudo bem, não tem nada demais naquelas cartas.

ꟷ Nem que alguém te perguntou se eu sou sexy? ꟷ pela segunda vez naquele dia eu falava sem pensar pelo menos umas cinco vezes para garantir.

ꟷ Então, você não estava só olhando a foto? ꟷ James me provocou um ar fingido de reprovação. Era engraçado, mas fiquei vermelho. ꟷ Meu irmão é meio sem noção. Ele perguntou isso, porque te mencionei em uma carta. Desconsidere. ꟷ  ele explicou em seguida bem tranquilo.

Então houve um click no meu cérebro: James escrevia sobre mim para os parentes. Eu era importante o bastante para estar entre as novidades que ele contava à família. O rubor tomou o meu rosto e meu peito se esquentou.

ꟷ Ok. Sua resposta, qual foi? ꟷ o provoquei de brincadeira, mas talvez estava curioso de verdade para saber.

ꟷ Que "sim" é claro, mas não conte a Lina, tenho medo de ser azarado. ꟷ ele sussurrou como se não estivéssemos sozinhos, ainda mantinha aquele sorriso amigável e divertido.

ꟷ Lina nunca te azararia por isso, mas não se preocupe, pois, minha boca é um túmulo. ꟷ foi o que consegui dizer.

Por algum motivo eu estava nervoso. Queria continuar brincando com ele sobre aquilo, mas minha cabeça travou. James ficou me encarando por um longo instante em silêncio.

ꟷ Túmulo? O que eu devo supor que isso significa? ꟷ  finalmente ele falou confuso.

Comecei a gargalhar sem controle. O tradutor não adaptou a expressão e imaginei o quanto deve ter sido doido ouvir aquilo ao pé da letra.

ꟷ Hey! ꟷ James me chamou ainda esperando explicação. Essa tardou ser dada a ele, pois passei um longo tempo rindo, principalmente, da cara que ele fazia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "English Boy" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.