Sozinhos, mas juntos escrita por Nyuu D


Capítulo 1
Primeira parte


Notas iniciais do capítulo

Fiz as falas do Saiki entre aspas porque achei que, visualmente, dá para imaginar que ele não abre a boca para falar, e sim, conversa por telepatia. ♥



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“Está bem. Estamos namorando, mas ninguém pode saber”.

Mikoto quase saiu rodopiando pelo quarto quando ouviu a voz de Saiki em sua mente, horas depois de uma conversa que tiveram no café. Ela já estava exausta de tanto explicar a Saiki os motivos pelos quais eles seriam o casal perfeito. Dois paranormais, cabelos coloridos, gostos semelhantes para doces... o que mais ela podia dizer para convencê-lo?

Na manhã seguinte, Mikoto correu para a sala para encontrar Saiki, mas ao vê-lo, sentado em sua carteira, ela se lembrou: ninguém pode saber. Era uma condição simples, considerando que ele não gostava de chamar atenção. Namorar uma menina linda e interessante como ela poderia chamar atenção dos outros.

Assim, Mikoto casualmente passou por Saiki e desejou bom dia num tom de voz baixo. Ele não olhou para o lado. Sequer respondeu.

Tudo bem, fazia parte do plano, ninguém pode saber.

A manhã de aulas passou normalmente. E os dias subsequentes. Mikoto não falou com Saiki em nenhum desses dias, diga-se de passagem, em prol do plano perfeito. Ficava tão animada pensando nos beijos que ia dar nele no fim de semana que...

Sequer percebeu a artimanha do esperto Saiki Kusuo.

Abordou-o no café novamente naquela tarde.

— Você me enganou — disse ela em tom acusatório, jogando-se sentada nas confortáveis poltronas.

“Yare, yare. Você percebeu”.

— Ugh — ela revirou os olhos. — Quanto tempo achou que ia durar?

“Tempo suficiente. Fiquei praticamente uma semana sem ouvi-la tagarelar no meu ouvido. Foi uma semana muito boa”.

Mikoto revirou os olhos novamente, puxando os cabelos com pouca força. Ficava louca com a arrogância de Saiki, às vezes. Não um “louca” bom, entretanto; era mais um louca de raiva.

“Se pensar bem, você também ficou feliz, acreditando que estávamos namorando em segredo. Então, eu deixei você feliz também. Meu plano foi perfeito para nós dois”.

Ela encarou Saiki, que mantinha a expressão plácida. Analisou cuidadosamente as fivelas de bolinha, os óculos verdes e os cabelos rosa chiclete. Não sabia dizer se era atraída por ele de uma maneira realmente carnal, ou se era apenas pela inteligência. Não é como se Saiki fosse bonito, porque apesar das excentricidades, o rosto era bem... normal.

“Obrigado” — ele falou na mente dela.

— Quer parar de ouvir o que estou pensando? — Ela bateu a mão com unhas coloridas na mesa. — Você acha que está me fazendo um favor, mas não está. Eu gosto... gosto de você, de verdade. Se for para namorarmos em segredo, será sob as minhas condições.

“Yare, yare. E quais são as condições”?

— Que você também queira namorar escondido, e não que queira me ignorar a semana toda de propósito.

Saiki não mudou de expressão. Continuou igual. Ficou olhando fixamente para Mikoto por alguns instantes, que pareceram mais longos do que realmente foram. Ela ficou ansiosa, tentando ouvir o que ele pensava de forma quase inconsciente. Ouvia Saiki falando em sua mente o tempo todo, por que não podia agora? Claro, ele não queria. Só ouvia o que ele queria. Era injusto, porque naquele exato momento ele provavelmente estava ouvindo todos os pensamentos dela, mas imune do contrário.

“Só tem um problema” — a voz de Saiki fez-se ouvir. “Não sei o que namorados fazem, muito menos escondidos”.

O rosto de Mikoto resplandeceu de imediato, os olhos amarelos brilharam. Começou a pensar em tudo o que poderiam fazer juntos como namorados, ainda que escondidos: assistir filmes, seriados e animes; cozinhar doces; tirar cochilos no meio da tarde; ficar abraçadinhos na cama; se beijar até cansar, tirar a roupa e...

Ela enrubesceu só de imaginar, e Saiki ergueu uma sobrancelha.

“Bom, pelo que eu percebi, namorados ficam juntos, o que é uma desvantagem para mim, já que gosto de ficar sozinho. O que eu ganho com isso”?

Mikoto mordeu o interior dos lábios, pensando. É verdade: em tese, Saiki não ganharia nada que o interessasse com esse namoro, exceto, é óbvio, namorar uma mulher incrível como ela.

— Mas podemos ficar sozinhos juntos.

“Isso não faz o menor sentido”.

— Claro que faz, eu vou estar com você, mas faremos cada um uma coisa. Enquanto você joga videogame, eu estou lendo um mangá. Em silêncio, juntos.

“Seria ótimo, pena que eu vou ouvir seus pensamentos o tempo todo, e com isso não estarei realmente sozinho”.

— Mas você já escuta o pensamento de todo mundo, o tempo todo. Que diferença faz ouvir o meu?

“Tem razão, mas se a pessoa está perto, o pensamento dela se destaca dos demais. Não posso usar o anel de germânio para bloquear a telepatia, pois acabo ficando alarmado e posso destruir a casa se meu pai entrar no quarto sem bater, o que ele faz o tempo todo”.

Mikoto ficou animada ao perceber que Saiki já estava ponderando as possibilidades de eles estarem sozinhos no quarto.

A garçonete serviu a gelatina de café que Saiki havia pedido, e Mikoto pediu um milk-shake.

— Eu não posso usar esse anel de germânio, então?

“Não funciona assim. O único que conseguiu bloquear minha telepatia foi meu irmão, Kusuke. Ele criou um dispositivo que me impede de ler seus pensamentos”.

— Então peça para ele criar um para mim.

“Yare, yare. Talvez ele possa fazer isso” — mentalizou Saiki enquanto abocanhava um pedaço da gelatina de café, demonstrando sua satisfação nos olhos.

Mikoto o admirou carinhosamente. Era nesses detalhes que ela percebia que o rosto comum de Saiki era complementado por seus poderes psíquicos, seu gosto por doces e mangás de baixa qualidade que ninguém lê. Era por isso que gostava tanto dele.

Por isso, e pelo coração de ouro. Ele podia dizer o quanto quisesse que odiava as pessoas e que elas o incomodavam, mas a verdade é que não conseguia ficar longe delas.

“Mas eu ficaria devendo um favor para ele, e eu odeio dever favores aos outros”.

— Tecnicamente ele estará fazendo um favor para mim, então eu vou ficar devendo um favor a ele. E não me importo com isso.

“Você quem sabe. Iremos visitar meus avós no fim de semana, e ele está morando lá. Pode ir no meu lugar, se quiser”.

— Ahn?! Não acha que eu devia ir junto, e não no seu lugar?

“Não. Já que ele está lá, eu não quero ir”.


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