Sozinhos, mas juntos escrita por Nyuu D


Capítulo 2
Segunda parte




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Claro que Saiki acabou indo junto para a viagem.

— Mikoto-chan, é tão legal que você esteja nos acompanhando nessa viagem — disse a mãe de Saiki, no banco da frente do carro. — Papa, eu nem acredito que nosso Kuu-chan finalmente arranjou uma namorada.

— Né, Mama? Aposto que a menina é doidinha, só assim para namorar o Kusuo.

— Ei, eu ‘tô aqui — Mikoto encarou Kuniharu pelo retrovisor.

— E dá medo também — complementou ele, espantando um arrepio.

Saiki estava no carro, embora não precisasse fazê-lo, mas costumava acompanhar os pais nas viagens daquela maneira. Pelo menos ajudava seu pai a manter um pouco de controle sobre as coisas, ou achar que mantinha.

Mikoto estava bem à vontade, e ficou mais ainda quando a viagem acabou e eles finalmente chegaram à casa dos avós de Saiki. Kumi, a avó, rapidamente recebeu Mikoto com um abraço carinhoso. Ela vestia roupas casuais, mas ainda descoladas. Mikoto ficava impressionada com a brilhante autoestima da mulher, já idosa, que ainda tinha o espírito jovem. Não à toa se deram tão bem, e tão rapidamente, quando se conheceram por acidente.

— Eu sabia que o Kusuo-chan iria acabar ficando com a Mikoto-chan. — Disse ela ao se aproximar do neto. — Eu sempre sei dessas coisas!

Mikoto sentiu o rosto esquentar, mas ouvir aquilo lhe encheu de confiança. O avô de Saiki, por outro lado, não parecia tão animado. Ela conseguiu vê-lo para lá da porta de correr; uma sombra mais densa que o normal parecia envolver o velho. Mikoto rolou os olhos discretamente.

“Meu avô é fã da Teruhashi-san, por isso ele está assim” — falou Saiki para Mikoto, que não ficou surpresa.

— Podem entrar, meus amores. — Kumi abriu espaço para que passassem pela porta. — Devem estar famintos da viagem. Vou preparar um almoço bem gostoso. Mikoto-chan, sinta-se em casa.

— Obrigada, já me sinto em casa. — Mikoto encolheu os ombros em seu formato mais meigo, fazendo Kumi sorrir, orgulhosa. Saiki caminhou em silêncio pela casa e logo sumiu através de uma das portas, enquanto seus pais socializavam com Kumi e tentavam fazer Kumagoro participar.

Mikoto decidiu seguir Saiki porta adentro, descobrindo uma sala de estar modesta. Deixou sua mochila de lado.

— O que quer fazer?

“Nada” — disse Saiki, sentando-se rigidamente no kotatsu no centro da sala. “Você quem inventou essa história, espero que possa convencer meu irmão a criar o dispositivo para você”.

Ela suspirou. Ele tinha razão; agora estava nas mãos dela.

Olhou para a mochila no chão e pensou em fazer um esforcinho e usar seus poderes. Era possível ver o futuro para ela, então, poderia muito bem usá-los para saber se o plano daria certo. Se em algum tempo ela estaria com Saiki no quarto, jogando algum jogo de tabuleiro e sorrindo um para o outro. Mas ela estava evitando isso ao máximo. Não queria arruinar a surpresa. Estava preferindo viver a surpresa e sentir as emoções quando os fatos acontecessem, já que, caso olhasse o futuro, os sentimentos poderiam ser transmitidos através da visão.

Saiki já estava lendo um mangá quando Mikoto deu por si.

— Vou procurar seu irmão.

“Deve estar na garagem, onde montou o laboratório”.

Mikoto assentiu e foi passear pela casa.

Não foi difícil encontrar a porta da garagem, só foi difícil fazê-la abrir. Decidiu bater algumas vezes, mas não foi atendida de imediato. Após algumas tentativas, Kusuke apareceu. Ele pôs uma expressão surpresa no rosto, mas quando Mikoto olhou o laboratório, desconfiou que ele já estava acompanhando tudo através de câmeras.

— Oi, sou Aiura Mikoto.

— Aiura-chan, é um prazer. — Kusuke sorriu gentilmente, convidando-a para entrar. — Meu nome é Kusuke, mas você já deve saber disso. Desculpe a intromissão, mas por que você está aqui? Não me diga que o Kusuo arranjou uma... namorada?

— É minha intenção. — Confessou ela.

— Que notícia maravilhosa! — Ele deu um sorriso. — É muito bom saber disso.

Mikoto reparou mais atentamente no dispositivo que ele usava na cabeça, parecido com o de Saiki, mas posicionado de forma diferente. Com certeza era o que impedia Saiki de ler a mente do irmão. Precisava de um, mas achou que não combinaria com suas roupas. Era melhor uma versão mais moderna.

Kusuke a analisou dos pés à cabeça, certamente tentando criar um perfil ou algo assim. De repente, Mikoto se sentiu constrangida pelo decote que usava. Mas isso não durou um segundo.

— Olha, eu preciso da sua ajuda. — Ela foi logo ao ponto. Não queria estender aquilo mais do que o necessário.

— Se eu puder.

— Isso na sua cabeça...

— É um cancelador de telepatia — explicou ele. — Eu montei esse dispositivo em conjunto com os limitadores do Kusuo. Serve para evitar que meu irmãozinho use seus poderes em mim.

— Eu quero um desses.

Kusuke não evitou uma risadinha, já que o pedido foi tão... direto.

— Por quê?

— Porque para que a gente namore em paz, ele não pode ouvir meus pensamentos.

— Parece justo. — Kusuke falou enquanto já se virava para mexer em algumas informações em seu enorme computador.

Ele começou a digitar coisas, analisar formatos, coletar dados. Fez perguntas para Mikoto sobre suas origens, seus gostos, interesses, idade, altura e peso. Esse último foi meio ofensivo, mas ele se justificou bem. Kusuke mostrou alguns modelos e Mikoto escolheu um que era parecido com suas fivelas favoritas.

— Vai demorar algumas horas para ficar pronto.

— Sabe, eu achei que você ia me fazer um monte de perguntas e criar muitos obstáculos.

— Eu? De forma nenhuma. — Kusuke sorriu. — É uma notícia surpreendente que Kusuo esteja com interesse romântico em alguém. Aliás, é algo que me interessa muito. Gostaria de manter contato com você, sabe, para você me contar como o Kusuo se comporta sobre isso.

Mikoto franziu as sobrancelhas, desconfiada.

— Você quer que eu te dê informações sobre o Saiki?

— Exatamente. Mas não se preocupe, não é nada demais. É só sobre... o relacionamento de vocês, como ele é, entendeu?

— Acho que entendi. Quer saber se ele é um bom namorado?

— Pode ser.

— Está bem, não vejo problema nisso.

“Não”! — Exclamou Saiki quando Mikoto lhe contou como foi com Kusuke. “Está louca? Vai ser informante do meu irmão”?

— Ele não me pediu nada relevante, só como é nosso namoro...

“Não percebe? Qualquer informação é relevante para ele. Eu devia ter imaginado que isso seria uma péssima ideia. Vamos cancelar tudo”.

— Nem pensar. — Ela se pôs na defensiva. — Foi você que deu a ideia de eu usar um dispositivo como o dele.

“Não dei essa ideia, você chegou a ela sozinha” — Saiki foi direto.

Mikoto revirou os olhos. Saiki podia ser muito teimoso, às vezes. Não via como comentar sobre o namoro com o irmão dele poderia ser tão prejudicial.

“Yare, yare. Vou ter que te contar, então” — ele baixou os olhos por um segundo, suficiente para deixar Mikoto intrigada. “Kusuke se comporta como meu rival, porque eu tenho poderes sobrenaturais, e ele não. Ele usa a tecnologia e a inteligência para tentar me superar, mas nunca conseguiu. Ter uma informação como essa em mãos, sobre nosso.... namoro... seria muito valioso para ele. Por isso, não podemos entregá-la de bandeja. Entendeu”?

Mikoto ficou surpresa. Claro que Kusuke parecia ser um cara estranho, dentro daquela garagem cheia de bugigangas, mas não imaginou que ele fosse tão longe. Ademais, não tinha ideia do relacionamento conturbado que Saiki tinha com o irmão mais velho. Sabia que eles não eram próximos, mas não passava disso.

— Pensando assim, é melhor ele não saber mesmo que eu posso ser uma fraqueza sua.

“O que disse”?

— Que eu posso...

“Você acha que é uma fraqueza minha”?

— Ora, Saiki, se eu for sua namorada, claramente posso vir a ser uma fraqueza para você, não? Ele pode me usar para te atingir, essas coisas.

Saiki não pareceu gostar muito da afirmação. Na verdade, ele até se irritou um pouco.

“Isso é uma bobagem. Eu não tenho fraquezas. Não posso me dar ao luxo de ter fraquezas. Você tem razão, não tem problema repassar informações sobre nosso namoro para ele, já que não é nada demais”.

— Nada demais? — Mikoto ergueu o tom de voz, insultada. — Se eu estou aqui para perder tempo com algo que não é nada demais para você, Saiki, pode esquecer. Não preciso da sua piedade. Eu posso conseguir o garoto que eu quiser. Ouviu bem?

Saiki ficou mudo, mas não demonstrou qualquer sentimento. Diante disso, Mikoto saiu do quarto como uma tempestade, batendo a porta de correr. Ela sabia que Saiki era complexo, e não achava que eles estariam deitados de conchinha nas primeiras noites que passassem juntos, mas tampouco esperava que ele colocasse o namoro como... algo irrelevante. Não era. Não para ela.

— O que foi, Mikoto-chan? — A avó de Saiki tentou interpelá-la no caminho, mas Mikoto deu uma desculpa qualquer e se esquivou, indo lá para fora.

A cidade era pequena, e ela precisava caminhar. Podia andar um pouco pela propriedade. Só precisava respirar um ar diferente do de Saiki, ou ia acabar dando-lhe um soco na cabeça. Se ele iria tratar o namoro com tamanha indiferença, ela não queria. Preferia ficar como já estava. Até então, acreditava que Saiki só estava se fazendo de difícil, mas aquela afirmação a magoou.

Talvez aquele namoro fosse uma perda de tempo, afinal de contas.


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