Mar ficou no meio da sala. As cinzas da lareira estavam frias e escuras. O fogo havia se apagado sem deixar lugar às dúvidas. 

 Mas como ela faria para apagar o fogo que havia surgido entre ela e Thiago? 

*** 

 Thiago tinha que ir ao hotel para se trocar, então chegaria atrasado em seu escritório.

 — Chegou um fax urgente de Mendoza, senhor Bedoya. Deixei em sua mesa. - Lhe disse a senhora Torres assim que o mesmo passou pela porta, olhando-o com curiosidade. 

 Thiago leu o fax, fez duas chamadas e pediu à Torres que fosse ao escritório. 

 — O senhor Lozano, do contrato de Mendoza, quer que eu vá até ele pois precisamos resolver algumas coisas. Não posso adiar, e nem tenho como fazer isso pois o fax não chegaria a tempo para ele, então tenho que ir sim ou sim. Pode reservar a passagem, por favor? Cancele minha reserva no hotel daqui. Também preciso de um carro para ir ao aeroporto. 

 Raul Lozano era o presidente de uma associação internacional de Conglomerados, com a qual Thiago queria fazer negócios.

 – Sim, claro que sim, senhor. - Lhe respondeu a senhora Torres antes de deixar o escritório. 

 Thiago buscou em sua agenda telefônica o número de Paisagens Rinaldi. Um homem atendeu a ligação, provavelmente seria David, mão direita de Mar, o homem dos hormônios a flor da pele. 

 — Boa... Posso conversar com a Mar, por favor?

 — Não se encontra no momento. Provavelmente chegará por volta das onze. Posso te dar o número de seu cliente se quiser...

 Não queria interromper uma reunião de trabalho para dizer que tinha que viajar e não voltaria. 

 Lozano tinha fama de ser uma pessoa perseverante e incansável para os negócios, então não poderia estar com ela no fim de semana. E também, na semana seguinte ele tinha que ir para Mar del Plata. 

 — Diga que Thiago Bedoya ligou e peça para que ela me retorne assim que possível. Pode me fazer esse favor? 

 — Sim, claro.

 A senhora Torres apareceu na porta para consultar os horários dos voos, e Thiago decidiu por escolher o mais cedo. Durante as duas horas seguintes deixou organizado todo o trabalho que tinha em Rosario, e quando escutou seu telefone tocar, pediu á Torres que o deixe sozinho. 

 — Thiago? - Perguntou a voz quente do outro lado da linha. 

 — Sim. Sou eu, Mar. Sinto muito, mas tenho que ir embora esta tarde... - E explicou brevemente o assunto - O problema é que vou estar em Mar del Plata na semana que vem, com a possibilidade de ter que viajar a Hong Kong depois. 

 — Ah... Entendo. – foi o único que pôde responder.

 — Tive que trabalhar muito para conseguir o contrato Mendoza. Se não tivesse sido assim, eu teria dito que era impossível ir. 

 — Não acho que você diria isso.

 — Você fala com muita educação. Não se incomoda que isso tenha trincado nosso encontro?

 — Claro que sim. - Mas ele não achou aquilo uma resposta tão certeira. 

 — Sabe o muito que eu desejava passar o fim de semana contigo! - A resposta dela veio por um som indefinido. Thiago se sentiu totalmente frustrado e explicou. - Tem vezes que odeio o telefone, mas não tenho tempo nem de comer com você... Vão vir me buscar em duas horas. 

 — De qualquer jeito não daria. Tenho uma reunião meio dia. 

 Thiago bateu a mão na mesa de seu escritório. 

 — Vou enviar um faz a Lozano e direi que não posso ir até amanhã. 

 — Não, não! Não pode fazer isso! 

Era a primeira frase que Mar expressava com alguma emoção.

 — Não te interessa. É isso, não? – Ele estava bravo. - Depois de tudo, já conseguiu o que queria e não precisa mais de mim. 

 — Thiago, não é que... 

 Mas ele estava bravo demais para conseguir escutar. 

 – Dentro de um mês te ligo para saber se está gravida. E espero que assim seja, pelo bem dos dois, porque não quero te impor minha presença mais tempo que o necessário. 

 — Não foi o que você disse ontem a noite. - Disse ela, e alguém bateu na porta de Bedoya. 

 — Tenho que ir agora. Te ligarei mês que vem. - E Thiago desligou o telefone com uma violência anormal.

 A senhora Torres entrou com outro fax de Lozano, o qual confirmava a entrevista que teriam às três e meia desta tarde. A sorte estava lançada, pensou Thiago. Era uma maneira de sair de tudo aquilo também. Mariana Rinaldi lhe provocava sensações que seria melhor evitar. 

 Indiretamente, Raul Lozano estava fazendo um favor. 

 Continua...