Mãe Solteira escrita por LaviniaCrist, mary788


Capítulo 7
Manhã no parque


Notas iniciais do capítulo

Peço perdão pelo vacilo, kkkks.
Eu sei que demorei, sei que reagendei postar esse capítulo várias e várias vezes, mas cá está ele: lindo, escrito, com várias coisas idiotas e várias referências.
O próximo vai demorar esse tantão também? Não vou mentir: talvez sim. Por motivo de matéria acumulada, trabalhos em grupo e provas começando no dia 10, não prometo uma atualização rápida.
Olhem pelo lado bom: com os atrasos, eu e a minha amiga temos mais tempo de programar as idiotices que vão acontecer nos capítulos! Confesso que esse foi um dos quais eu mais ri.
Ah! Observação importante: com certeza, no próximo capítulo, eu já vou ter iniciado uma fanfic que será o "complemento" desta, com um casal um tanto inusitado roubando os holofotes (não, não será a Nathalie).



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O costume de seguir a mesma rotina durante anos fez com que Nathalie acordasse às cinco e pouca da manhã. Ver a hora estampada na tela do celular do filho – 05:22 – fez com que ela levantasse em um pulo: era cedo, mas não era o horário em que ela sempre acordava.

Outra coisa fez com que Nathalie se assustasse naquela manhã: ela não estava no próprio quarto, tão pouco no quarto do filho. Demorou alguns segundos – tempo o suficiente para que ela pensasse várias coisas absurdas – até que se lembrasse do motivo de estarem em um quarto minúsculo e tão diferente: Félix a arrastou para a mansão Agreste para que ela pudesse descansar um pouco mais.

Automaticamente, as feições de espanto se tranquilizaram e esboçaram um sorriso.

Apesar de Félix não gostar nem um pouco do trabalho dela naquela casa, preferia estar lá com ela apenas para que a mãe conseguisse dormir algumas horas a mais. Mesmo sendo um tanto teimoso e ciumento, ele era um filho maravilhoso.

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Gorila acordou no mesmo horário de sempre – por volta das 06:00 – e seguiu a mesma rotina de todos os dias naquela mansão: se preparou para ficar horas de pé como uma estátua decorado a porta do quarto de Adrien. Na melhor das hipóteses, o garoto iria ter um dia atarefado e ele seria uma estátua no estacionamento. Ao menos agora, com suas teorias sobre Nathalie, ele ficava distraído o suficiente para que as horas do expediente passassem mais rápido.

Era um trabalho entediante, mas pagava bem. Claro, não bem o suficiente para compensar os aborrecimentos que Gabriel ocasionava, mas era suficientemente bem para permanecer ali.

Quando o grandalhão chegou na cozinha, ansiando pelo café da manhã que o chef sempre preparava, se deparou com uma cena de guerra apocalíptica. Dava para dedicar um capítulo inteiro do seu futuro livro para aquilo:

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“A artilharia de pães estava completamente armada e carregada com geleia de frutas e mel.

A guerra contra os presuntos foi vencida, com direito aos resquícios das fatias de queijo e demais frios assassinados esparramados pelo campo de batalha, vulgo: chão. Um dos cabos estava cuidando da limpeza: Plagg parecia estar adorando tudo aquilo.

A grã soldado daquela guerra, Nathalie, estava tentando esconder as provas do tráfico de pó de café arremessando algumas colheradas dentro da água fervente. Ao lado, ela tentava lidar com os respingos de óleo quente proveniente de alguma coisa fritando, provavelmente batatas – elas queriam vingança pelas verduras que tinham sido esquartejadas”

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Sem saber exatamente o que a colega estava tentando fazer, além de cozinhar para o que parecia ser um exército, ele ousou perguntar:

— Nathalie, quer ajuda?

— Tudo sob con... Droga! — ela esfregou uma região perto do pulso, provavelmente foi ferida com um dos respingos — Félix faz tudo isso parecer tão fácil... — a mulher resmungou, sem saber ao certo qual prato do café da manhã deveria focar a atenção.

— Tem certeza que não quer ajuda?

Mesmo sabendo que oferecer ajuda para Nathalie era praticamente duvidar das capacidades de ser impecavelmente eficiente que ela tinha, Gorila estava preocupado com o desfecho que aquela guerra poderia ter – principalmente caso a colega colocasse fogo em toda a mansão.

— Por que você não vai acordar o Félix?

Ele apenas acenou positivamente e saiu da cozinha. Talvez não fosse seguro acordar aquele projeto de mafioso, Agreste mirim e tantas outras mais derivações que correspondiam à Felix, mas era mais seguro do que continuar ao lado de Nathalie naquela batalha contra a comida.

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Quando chegou ao quarto em que os Sancoeur tinham ficado, o grandalhão bateu o mais suave possível na porta e, para a surpresa dele, estava apenas encostada. Seria bem mais eficaz chamar o rapaz do que simplesmente bater na porta, então, Gorila entrou no pequeno quarto.

Ele ainda não sabia ao certo se seria o suficiente chamar pelo nome, ou também arrancar as cobertas ou apenas prender o nariz de Félix por alguns segundos, porém, antes que conseguisse se decidir, notou algo um tanto curioso: só havia uma cama no cômodo. Sem conseguir conter sua mania de anotações, o grandalhão tirou o caderninho do bolso e riscou uma das últimas coisas que havia escrito, substituindo por outras:

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Nathalie desafiou as leis da física e enfiou duas camas dentro daquele quarto;

Nathalie e Félix realmente dormem juntos?

Onde ela dormiu?

Ela dormiu?

Ela saiu de madrugada para traficar café?

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Antes que conseguisse anotar mais qualquer coisa que fosse, uma voz ameaçadoramente sonolenta o interrompeu:

— O que fez com a minha mãe? — Como se já não soasse assustador o bastante por si só, a voz de Félix ainda saiu um tanto mais rouca por ele acabar de acordar.

Gorila tirou os olhos do caderno e encarou o rapaz, tentando pensar em uma resposta suficientemente curta e objetiva. Quando notou que Félix estava usando óculos, não conseguiu pensar em mais nada além do quão parecido ele e Nathalie eram.

Impaciente, o mais novo esperou apenas alguns segundos e perguntou novamente:

—  Onde está a minha mãe!?

— Cozinha! — Dessa vez o grandalhão se apressou em responder.

Félix respirou fundo, pareceu não se agradar nem um pouco com a resposta. O rapaz se levantou e começou a andar de um lado a outro do pequeno cômodo, desfilando com seu belo pijama de listrinhas combinando com a armação dos óculos – era discreto, apenas com as laterais coloridas em vermelho; de resto, praticamente transparente.

— Por que minha mãe está na cozinha!? Ela não trabalha como cozinheira, esqueceu!? Você deixou ela sozinha na cozinha!? Quer que ela coloque fogo na mansão ou algo do tipo!? Ficou louco, idiota!?

— Ela que me pediu para vir acordar você e eu...

— E você veio! — Ele passou a mão entre os fios loiros, colocando todos eles para trás.

— Mas ela...

— Era só ligar, mandar mensagem, qualquer coisa! — O rapaz bufou e soltou os cabelos, que no mesmo instante voltaram para baixo, ou melhor: voltaram para onde estavam, excerto uma pequena mexa que teimou em ficar na frente do rosto.

Apesar de ser loiro, até mesmo com um tom ainda mais claro que Adrien, era inegável o quão parecido aquele rapaz era com a mãe: os dois eram magros, pálidos, sérios, usavam óculos... até tinham o mesmo olhar, como se a qualquer momento fossem assassinar uma pessoa. Também tinham aquela mexa desobediente, que teimava em se soltar das outras e ficar na testa.

— Vai ficar olhando para mim, é!? Apaixonou!? Vai logo ficar com a minha mãe antes que ela exploda a cozinha!

Sem ter muitas escolhas, o guarda-costas obedeceu ao mafioso Jr e começou sua caminhada de volta de onde tinha vindo. Porém, quando ele mal tinha passado pela porta, o rapaz o chamou de novo:

— Ei! Não fica muito perto dela, um metro e meio de distância. No mínimo!

Gorila continuou a andar, sem nem ao menos olhar para Félix. Já estava claro o suficiente que aquele rapazinho era uma peste ciumenta e perigoso o suficiente para ser levado à sério... cada vez que passava um pouco mais de tempo perto do garoto, ele só parecia ficar pior.

Nathalie, em contrapartida, sempre foi uma figura caricata da eficiência. Eram colegas de trabalho, talvez até mesmo amigos, mas nada além disso. Não havia nada que fizesse com que o grandalhão a visse de outra maneira, excerto nos últimos dias, quando as tosses pioraram...

— Mas e se algo acontecer? — o mais velho estagnou no corredor, encarando a porta do quarto por cima do ombro. Nathalie em uma cozinha já parecia ser um desastre, com as crises de tosse poderia ser um grande cataclismo.

— Tipo? — O rapaz colocou a cabeça para fora, encarando o outro com uma das sobrancelhas levantadas.

— Er... — mesmo achando a decisão errada, Gorila não iria passar por cima do pedido da amiga e falar sobre a saúde dela com Félix — Ela pegar fogo, ou algo do tipo?

— Mantenha um metro e meio de distância, não importa o que acontecer! O jato do extintor alcança, no mínimo, dois metros. — Ele revirou os olhos — A minha mãe não vai colocar fogo em si mesma, mas se alguma coisa acontecer com ela... — Félix não precisou terminar a ameaça, apenas gesticulou passando a ponta do dedo lentamente sobre a garganta — ...e reze para não ficar com cicatrizes.

Sentindo um frio súbito percorrer a coluna, Gorila voltou a caminhar de volta para a cozinha. Não importava como, ele iria deixar a colega fora de qualquer risco em potencial – salvando a si mesmo, em escala.

— Espera, Gorila... — dessa vez, Félix o chamou educadamente. Quando recebeu a atenção do mais velho, continuou: — Não conte a ninguém que eu uso óculos, tá?

A única resposta que o guarda-costas conseguiu dar foi um aceno afirmativo. Ele ouviu a porta batendo antes de retomar o trajeto mais uma vez.

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Enquanto isso, Nathalie finalmente aceitou que como cozinheira, ela era uma ótima assistente pessoal.

As batatas viraram um verdadeiro purê quando acabaram de fritar; a salada mais parecia picotada do que cortada e ela não fazia ideia de quais temperos colocar; os pães, a única coisa que ela não teve como errar – até porque já estavam feitos – foram recheados com frios e cortados irregularmente. As sobras de tudo estavam servindo de alimento para Plagg.

— Eu não era tão ruim nisso... — ela murmurou, limpando as mãos no avental e encarando toda a bagunça — Ou era?

Faziam anos desde que ela simplesmente parou de tentar preparar algo nutritivo e gostoso na cozinha, deixando o encargo para Félix. Ela se contentava em apenas lavar as louças sujas, afinal de contas, limpeza era mais próximo de organização do que de alquimia gastronómica, cozinhar.

Com seus pensamentos, ela se afastou da bancada e voltou para a pia: tinham muitas louças sujas ainda. Uma grande bagunça para quase nada de aproveitamento. Em pensar que tudo poderia ter sido evitado caso o fluxograma no qual ela pensou aquela manhã tivesse ajudado mais:

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Vai acordar seu filho agora?

[Sim / Não, ele passou a noite acordado]

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E vai sair sem se despedir?

[Vou / Não vou exatamente sair da mansão, então...]

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Sabe que ele vai ficar triste...

[Ele supera / Félix precisa dormir]

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Seja uma boa mãe!

[Dar um beijinho e sair / Apenas sair furtivamente, sem riscos]

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O que você precisa fazer agora?

[Acordar Adrien / Fazer o café da manhã]

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Sabe que ele deve ter dormido no quarto do pai, não sabe?

[Sim / Não acho que o drama do senhor Agreste tenha permitido que ele dormisse adequadamente]

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Realmente vai querer acordar o Drama King?

[Posso não acordar ele, apenas o Adrien / Melhor não arriscar]

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Nathalie... Sabemos que não vai dar certo!

[Então que acordem os dois! / Eles podem acordar sozinhos uma vez na vida]

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Tem certeza que quer acordar eles? Seu dia mal começou, realmente precisa acordar os dois?

[É o que precisa ser feito / Vou preparar o café da manhã]

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E o que vai preparar?

[O que sempre comemos nas quartas de férias / Cereal e leite? ]

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Sozinha?

[Acordar o Félix... / O pior que pode acontecer é dar errado]

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— Já acordei o projeto de mafioso... — Gorila comentou estando mais uma vez na cozinha. Quando reparou a besteira que tinha acabado de falar, começou a tentar se explicar: — Quer dizer, eu acordei o seu filho, o que não significa que eu chame ele de projeto de mafioso porque você trafica café... — Nathalie apenas ergueu uma das sobrancelhas, encarando o colega por cima do ombro — Porque é obvio que você não faz isso! E eu não tenho provas! Nem teorias! Ninguém tem como provar que sou seu cumplice!

— Tá... — ela suspirou, voltando a dar atenção para a louça — Vou tentar descascar mais batatas antes dele chegar.

Imediatamente, o grandalhão foi até onde ficavam as gavetas de utensílios e começou a procurar pelo descascador, deixando claro o motivo de todo aquele alarde desnecessário:

— Pode deixar que eu descasco elas com o objeto potencialmente afiado e perigoso!

— Então eu vou cortar as...

— NÃO! — Gorila a interrompeu antes que ela terminasse a frase. A mulher se calou, surpresa por aquilo, mas deixando nítido o quão desagradada ela tinha ficado com o tom mais alto — Er... É que você é canhota e...

— E!? — Nathalie colocou as mãos atrás das costas, esperando uma justificativa válida o suficiente.

— E... eu li um artigo ontem sobre quantas pessoas canhotas morrem por usar uma faca do jeito errado... É uma morte horrível!

— Imagino o quão horrível deva ser... — ela disse entre os dentes, não muito satisfeita com tudo aquilo, mas parecendo acreditar naquelas palavras.

Gorila deu um sorrisinho discreto, tentando esconder o pânico interno que estava sentindo. Se Félix o ameaçando já era algo difícil de contornar, Nathalie irritada com ele significava uma morte lenta e dolorosa. Ela, por sua vez, ficou apoiada no balcão e pensando no que iria fazer para Adrien comer – ou talvez se existem facas para canhotos.

O silêncio se instalou naquele cômodo. Era um silêncio minimamente angustiante para o grandalhão, mas era muito menos angustiante do que ouvir a voz de Félix:

— Bom dia, mamãe.

No mesmo instante, Gorila deixou o que estava fazendo de lado e olhou para trás de si, bem em tempo de ver uma cena estranhamente aconchegante: o rapaz loiro estava abraçado em Nathalie, como costumava ficar na maioria das vezes, mas agora ele tinha dado um pequeno beijo na testa dela antes de esconder o rosto na curva do pescoço da mãe; ela apenas o abraçou e ficou mexendo no cabelo dele, mas com uma discreta curva nos lábios indicando um sorriso. Não era algo muito elaborado, mas para duas pessoas tão fria quanto eles, era algo morno...

— Eu acabei dormindo demais, desculpe... — o rapaz sussurrou, finalmente a soltando — Espere no salão, eu termino de preparar o café da manhã.

— Félix, o salão é apenas para as refeições do...

— É apenas para as refeições de pessoas importantes — o loiro a interrompeu — E se tem alguém nessa mansão mais importante do que a senhora, minha mãe, eu desconheço.

— Félix... — Nathalie acenou negativamente, tentando ignorar aqueles elogios e focar nas regras.

— Gorila, eu não estou certo? — o rapaz encarou o guarda-costas, sorrindo, como se fosse uma criatura incapaz de praticar o mal.

— Sempre certo — o grandalhão murmurou.

— Minha mãe não merece comer no salão também?

— Merece.

— Porque ela é uma dama.

— Uma rainha — Gorila o corrigiu, recebendo olhares desconfiados tanto de Félix quanto de Nathalie — Uma rainha porque é ela que controla tudo e é isso o que as rainhas faziam, não é? O Rei guerreava e a rainha cuidava do castelo, no caso a mansão é o castelo e...

— Tá, tanto faz! — Félix grunhiu, sem nenhum resquício da doçura de momentos antes. Mas a recuperou instantaneamente para se dirigir à mãe: — Mamãe, por favor, espere no salão enquanto eu preparo o seu banquete... — gentilmente, ele empurrou a mulher para fora. Nathalie não deu resistência alguma, ela realmente preferia não se envolver com culinária e poderia adiantar algumas coisas com o tablet. Quando a mulher já estava longe o suficiente para não se importar mais com o que estavam falando, Félix encarou o grandalhão e retomou o tom frio e sínico — E você: vá atrás dela e a proteja para que nenhum agreste atrapalhe o café da manhã da minha mãe, entendeu? — e, ao receber um aceno afirmativo, ele continuou: — Distância de um metro e meio, valete.

Gorila não ousou questionar, apenas obedeceu. Ao menos no salão, teria tempo para fazer algumas anotações novas no caderno de teorias:

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“O modus operandi do Félix depende exclusivamente de Nathalie:

Quando estão só os dois -> carinhoso e educado;

Quando alguém chega perto dela -> ciúmes doentios;

Quando é alguém com quem ela mantem convívio -> controlador e ameaçador;

Quando ela não está perto -> preocupado e obsessivo;

Começar a observar com mais atenção e aprender a lidar com todos os estágios pela minha própria sobrevivência. ”

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Adrien acordou enquanto tentava recuperar o folego e fazer o coração voltar a bater em um ritmo normal. Havia tido um sonho terrível em que estava pulando pelos telhados de Paris como ChatNoir, até que seu bastão escorregou por seus dedos e ele caiu no chão...

Olhando ao redor com mais atenção ele notou que não tinha sido exatamente um sonho.

O loiro estava caído no chão, ou melhor, parte do seu corpo estava estirada no chão enquanto suas pernas ainda estavam em cima da cama. Não foi uma queda completa, mas foi a gota d’água para o rapaz finalmente desistir de mais algumas horas de sono.

Sua noite havia sido um verdadeiro misto de melhor e pior madrugada dos últimos anos. Melhor porque estava passando um tempo precioso ao lado do pai, mesmo enquanto dormiam. Pior porque ele estava acostumado a dormir bem no centro de sua cama, coisa que o territorialismo de Gabriel não permitia que ele fizesse. Em suma, seus sonhos divertidos eram interrompidos por uma guerra pela posse dos cobertores, por almofadadas a cada ruído mais alto, pelas ordens aleatórias de seu pai sonambulo e, por fim, ao ser derrubado da cama em uma possível guerra pelo espaço.

Com certo esforço, ele esticou o braço e alcançou o celular no criado mudo.

— Ok Google. Que horas são?

O motivo de ele simplesmente não ter olhado os números no desbloqueio de tela eram desconhecidos, mas quando Adrien recebeu sua resposta daquele site de pesquisas que vinha ficando tão familiar, ficou surpreso ao ponto de soltar o aparelho e derruba-lo em seu próprio nariz.

— Droga! — ele grunhiu, se encolhendo e massageando o local machucado.

— Que deselegante... — Gabriel murmurou e fez com que o filho sentisse pânico, mas para a sorte do loiro o mais velho ainda estava dormindo.

Quando tanto o susto quanto a dor já haviam passado, Adrien se levantou e começou a juntar seus cobertores e o travesseiro com certa pressa. Já passavam das seis e ele estava atrasado com sua rotina, conseguia até mesmo imaginar o olhar de reprovação que Nathalie daria a ele, mesmo que agora ela fosse sua mãe emprestada...

— Nathalie é minha mãe emprestada... — ele repetiu baixinho, precisava ouvir as próprias palavras para ter certeza de que não estava louco.

No dia anterior, ele tinha descoberto que parte da sua infância foi uma mentira, que a assistente de seu pai tinha um filho e que este filho era seu irmão mais velho! Aquela história toda tomou um rumo tão surreal que ele levou alguns minutos até finalmente se lembrar de onde pararam no dia anterior:

Félix era irmão emprestado dele;

De brinde, ele conseguiu que Nathalie ficasse sendo sua mãe;

Plagg também era dele agora;

Por acidente, acabou contando aos amigos sobre Félix;

Ele e Félix tinham brigado pela Nathalie;

Gorila pediu que ele fosse ficar com o pai;

Seu pai estava com o cabelo pintado de roxo;

Gorila falava;

Ele e o pai passaram a noite vendo filmes;

O pai pediu para que ele tentasse achar a doença que ele tinha;

Ele aprendeu que praticamente tudo poderia ser um sintoma de gravidez;

Os dois acabaram dormindo em algum ponto;

Era um bom resumo, um tanto desordenado, mas reunia todos os acontecimentos do dia anterior. Era mais do que o necessário!

Em passos apressados e desajeitados, ele correu escadas abaixo e praticamente invadiu o ateliê. Se tudo aquilo fosse verdade mesmo, a única que poderia confirmar era a própria Nathalie e ela, como uma boa assistente pessoal, chegava pontualmente às seis. Entretanto, com certa tristeza, Adrien constatou que o cômodo estava vazio.

Talvez tudo fosse fruto de sua imaginação; talvez Félix fosse apenas seu amigo imaginário; talvez ele nunca tenha uma mãe novamente; talvez Nathalie simplesmente esteja em outro lugar...

Com um último fio de esperança, o loiro caminhou até as portas do salão. Ele não estava mais animado e muito menos ansioso, na verdade, ele tinha até mesmo medo de confirmar que aquele dia incrível foi apenas sua imaginação.

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Félix tinha terminado de arrumar todo o café da manhã sobre a mesa, mais parecia um banquete do que um simples dejejum: batatas fritas, geleias, mel, pães recheados com frios, fatias de queijo, uma salada colorida e café para acompanhar tudo – grande parte ele aproveitou o que a mãe já tinha feito. Um café da manhã que ele sentia saudades todos os dias no internato.

— Batatas fritas no café da manhã? — Gorila perguntou um tanto incrédulo, olhando com certa curiosidade tudo aquilo.

— É quarta-feira — Nathalie justificou.

— E vocês realmente vão comer tudo isso?

— Claro que sim, é uma quarta-feira — foi a vez de Félix responder — Porém, como você não é digno de entender o café-da-manhã das quartas-feiras, não pode comer.

— Félix! — O tom da mãe deixou claro que aquilo era uma repreensão.

— Mas é verdade!

E, antes que Nathalie conseguisse colocar um pouco de juízo na cabeça dura do filho, as portas do salão foram abertas. Todos ficaram em um silencio absoluto, relutantes em olhar quem estaria passando por elas.

— É VERDADE! — A voz de Adrien ecoou — Era tudo verdade mesmo! Eu tenho um irmão mais velho! E uma mãe emprestada! E o Gorila sabe falar! — Ele apontava sua lista de conquistas e descobrimentos enquanto se aproximava deles, com um sorriso enorme no rosto.

— Não tem um irmão mais velho e nem uma mãe emprestada... — um revirar de olhos acompanhou a contestação do Sancoeur, ele sabia onde aquilo iria parar. Nathalie chegou a abrir a boca para tentar amenizar as coisas, mas foi agarrada em um abraço antes de falar qualquer coisa — É só minha mãe!

Nossa, Félix! Somos irmãos agora! — provavelmente motivado pela competitividade, Adrien também agarrou a assistente de seu pai.

— Larga agora a minha mãe, Adrien!

— Larga você primeiro, Félix!

— Você nem deveria estar encostando nela, para começar! — movido pelos ciúmes, Félix agarrou os cabelos de Adrien com uma das mãos e tentou empurra-lo.

— Ela aceitou ser minha mãe também! — em uma tentativa de defesa, Adrien agarrou o braço de Félix e tentou empurra-lo para longe de si.

— JÁ CHEGA! — Nathalie finalmente disse algo, enraivecida o suficiente para que os dois rapazes parassem com as agressões e ficassem olhando para ela — Se querem se matar, se matem! Mas façam isso sem me colocar no meio! — aproveitando do choque em que os dois estavam imersos, ela se desvencilhou dos abraços e puxou os dois para as cadeiras ao lado dela, pelas orelhas — Vocês tem meia hora para comer. Eu não quero resmungos, brigas e nem abraços, entenderam!? — quando recebeu a afirmativa dos dois, ela finalmente respirou mais aliviada.

— Eu só acho que o Adrien deveria entender que não é nada seu... — Félix murmurou, emburrado, cruzando os braços e olhando para um canto qualquer.

— Eu quem passo mais tempo com ela, mesmo sendo adotado... — Adrien curvou os ombros.

— Realmente vou ter que colocar dois rapazes de castigo? Praticamente dois homens brigando como bebês? Se continuarem assim, vão acabar ficando igual ao...

— Ao nosso pai? — o Agreste completou.

— Ele não é meu pai, é só seu!

— Ele pode ser o pai do Félix também, não pode, mãe? — Adrien encarou a “mãe emprestada” com olhinhos de gato sem dono.

— Ele... e-ele... — Nathalie encarou os rapazes, de um lado era uma suplica calada de um rapaz carente, do outro era uma mistura de medo e curiosidade —  Calem a boca e comam — a voz saiu bem mais fria do que ela normalmente usava com eles, mas a paciência já tinha se esgotado.

— Mãe, ele não é o... — antes que Félix conseguisse completar a sua pergunta, foi interrompido por um olhar severo. Entendeu que se passasse daquele limite, estaria indo contra as vontades da mãe, logo, se calou.

O silencio dominou o ambiente nos minutos seguintes. Félix ainda estava emburrado e não ousaria abrir a boca; Adrien tentava entender o que havia dito de tão mal; Gorila estava anotando algo discretamente, feliz em não estar chamando atenção nenhuma para si;

— Eu mandei calarem a boca e comerem... — a assistente quebrou o silencio.

O loiro mais velho suspirou de uma forma derrotada, começando a preparar o próprio prato. O mais novo tentou replicar as ações, mas foi impedido por um tapa que levou em uma das mãos.

— Ei!

— Essa comida é apenas minha e da minha mãe!

— De novo não... — a mulher murmurou, apertando as têmporas — Deixa ele comer, Félix.

— Mas mãe! — o protesto foi acompanhado de um beicinho — Tem uma lista enorme de coisas que o Adrien não pode comer... — enquanto começava a explicar, o mais velho fez questão de arrastar o mais novo de volta para a cadeira — ... e eu preparei algo que ele pode comer à vontade.

— Mesmo? — um sorriso adorável brotou no rosto do Agreste.

— Claro! — e, com um sorriso maldoso, Félix foi até a cozinha e voltou com uma tigela para ele, posicionando bem na frente de Adrien — Leite com aveia e cereais integrais. Pode comer o quanto quiser!

— Hun... — o sorriso do mais novo se desfez completamente — Parece ser bem... — não haviam palavras para descrever aquela mistura sem atratividade e provavelmente sem gosto, ainda mais quando ao lado dele estavam coisas muito mais gostosas — ... Saudável.

— Se quiser posso colocar algumas frutinhas...

— É, me sinto um pouco melhor com isso... — o rapaz suspirou — Mãe, bacon é fruta? — ele encarou Nathalie, com uma pitada de esperança.

— Não, Adrien.

— Eu posso fazer bacon ser considerado uma fruta? Eu sou rico, meu pai diz que pessoas ricas são influentes...

— A resposta ainda é não, Adrien.

— Mas...

— Você pode comer carne de porco depois do desfile — ela o interrompeu, cansada de tantos comentários infantis — Lembre-se do que combinamos.

— Sim, mamãe... — o mais novo se calou e voltou a encarar a tigela.

Os minutos seguintes foram uma verdadeira guerra entre Adrien e a tigela de cereais. Não tinha um gosto tão ruim, afinal, não tinha gosto algum, mas ver Nathalie e Félix se deliciando com todas aquelas maravilhas gordurosas bem ao lado dele deixava qualquer coisa menos saborosa do que o normal.

Depois da terceira colherada, ele não conseguiu comer mais nada e ficou apenas mexendo a mistura de um lado para o outro. Ninguém pareceu se importar ou ao menos notar o desagrado do jovem Agreste... ninguém além de Plagg.

O gatinho negro havia subido na mesa sorrateiramente, fugiu do olhar dos outros dois donos e se protegeu perto de Adrien. Ele parecia entretido o suficiente com as pequenas ondas de leite.

— Que fofo! — Adrien acariciou os pelos dele — Gosta de leite, Plagg?

— Não Adrien, isso não é uma boa ideia... — Nathalie advertiu, observando o rapaz.

— Eu não vou deixar ele beber...

— Não é isso, só afaste ele de você.

— Mas por quê? — os olhos verdes do rapaz encararam a mãe emprestada, ele estava fazendo a cara de gato abandonado mais uma vez.

— Porque ele vai... — e, antes que ela conseguisse explicar o quão malcomportado aquele animal era e que uma das travessuras que ele mais fazia era pular no meio da comida alheia, Plagg já havia entrado dentro da tigela e estava brincando com a colher — Deixa pra lá...

— Quer que eu pegue outra? — Félix se ofereceu.

— Não! — instantaneamente o mais novo ergueu as mãos — Er... não precisa se preocupar, irmão. Eu já estava sem fome mesmo, deixa o Plagg comer.

Todos pareceram aceitar a desculpa, o silencio reinou novamente.

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Café da manhã terminado, era hora de voltar à rotina normal de todos os dias.

Nathalie ditou toda a lista de afazeres de Adrien, que incluía apenas uma sessão de fotos pela manhã e aulas de mandarim no fim da tarde. Ditou também a lista de Félix: ele precisava dar banho no gato e estar disponível para preparar o almoço e o jantar caso um substituto não fosse encontrado.

— Você quem cozinhou ontem? — o de olhos verdes encarou o outro, surpreso.

— Fui, por quê?

— Foi a sopa mais gostosa que eu já comi na minha vida inteira! — e, como se fosse possível, os olhos de Adrien brilharam ainda mais só dele lembrar o sabor magnifico do jantar.

— Sua vida inteira de... Quinze anos? — Félix revirou os olhos.

— Quinze anos e meio, na verdade.

— Assim parece mais ter onze, Adrien... — o mais velho suspirou, mas se rendeu ao elogio e mexeu gentilmente nos cabelos dele, algo próximo de um “bom garoto” — Obrigado mesmo assim.

O Agreste abriu um sorriso enorme, encarando o irmão mais velho.

Nathalie também sorriu, mas algo infinitamente mais discreto e reservado. Algo que apenas Gorila conseguiu captar, já que ela estava falando com ele na hora em que viu os dois.

— Talvez seja bom que eles fiquem próximos... — o grandalhão comentou. O jeito atencioso de Adrien poderia acabar contaminando um pouco o jeito mesquinho e controlador de Félix.

— Acha mesmo? — ela encarou o guarda-costas e recebeu um aceno afirmativo — Nesse caso...

Ela respirou fundo, se armando de toda a indiferença que iria precisar para que os dois rapazes dessem ouvidos a ela e não ousassem desobedecer. Quando já estava próxima dos dois mais uma vez, Félix recuou o braço e fingiu que nunca havia feito nada. Timidez, aparentemente.

— Félix, por que não acompanha o Adrien na ida ao parque?

— Porque vai ser entediante, eu não quero ir e nem poderia, já que ainda estou de castigo.

— Vou colocar em outras palavras: por que ao invés de ficar trancado no quarto de empregadas o resto da manhã, você não vai ao parque e leva o Plagg para passear um pouco antes que ele faça alguma sujeira na mansão que te dê trabalho extra para limpar? — ela ergueu as sobrancelhas, certa de que foi o bastante.

— Ótima escolha de palavras, mamãe... — o mais velho suspirou, derrotado — Vou ir pegar a coleira dele.

— Vou ir com você! — o mais novo, que não aguentava mais conter toda a animação, agarrou o braço do irmão e saiu o arrastando.

Uma vez sozinhos, Gorila se aproximou da colega e esperou pela enorme lista de cuidados e observações que deveria tomar com o filho dela. Fazia parte da rotina ouvir tudo aquilo quando ele precisava levar Adrien a algum lugar, imaginou que seria exatamente igual em relação à Felix. Porém, ele se surpreendeu quando as ordens não tomaram mais do que dois minutos:

— Já sabe a lista de cuidados com os rapazes... — Nathalie respirou fundo, parecendo buscar por algo que estivesse faltando — Tome conta principalmente do Félix.

— Você não deveria se preocupar com os dois na mesma quantidade? — se o grandalhão tivesse sobrancelhas, uma delas estaria arqueada agora.

— Acredite em mim: tome conta principalmente do Félix... — foi tudo o que ela disse antes de ir para a cozinha.

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Gabriel ainda estava dormindo como uma pedra.

A idade junto a uma madrugada de filmes foram a combinação perfeita para que ele não acordasse com o alarme do celular. Porém, ele foi obrigado a despertar quando sentiu algo mexer suavemente em seu cabelo, só poderia ser uma pessoa:

— Emilie? — ele sussurrou, deixando um sorriso fugir.

— Errado, senhor — Nathalie murmurou, não muito contente.

— Nathalie!? — o homem se sentou no mesmo instante, encarando a assistente como se acabasse de sofrer um ataque — Por que está aqui? Onde está o meu filho? Que horas são?

— Já passam das sete, imaginei que ainda estaria se sentindo mal e fiz alguns ajustes na sua agenda. Adrien está seguindo a dele normalmente — ela começou a se explicar, usando uma espécie de vareta para gesticular algumas coisas — Ah, e trouxe um coçador de costas para o senhor. Fui informada dos seus pedidos peculiares... acabei de testar ele no seu cabelo.

Eram informações demais sendo recebidas de uma vez só, mas algo soou na mente do agreste como um estalo: ele estava enfermo. Automaticamente, ele se ajeitou na cama e fez sua melhor feição de sofreguidão.

— Oh, Nathalie... sinto como se eu nunca mais fosse conseguir levantar dessa cama.

— Quer que eu chame um marceneiro para fazer uma bancada de trabalho aqui? — ela ergueu uma das sobrancelhas.

— Não é este o ponto! — ele respondeu um tanto irritado pela falta de empatia da assistente — Eu estou com uma doença incurável no estomago, preciso de um especialista gastrointestinal da Austrália!

— Perdão...?

Ele suspirou. Era algo simples de entender, como Nathalie tinha se perdido no meio daquilo? Aquele romance dela estava a deixando mais desatenta...

— Nathalie, o meu problema é no estômago. Preciso de um especialista...

— Sim, mas por que da Austrália, senhor?

— Já comeu comida australiana? É temperada demais! É obvio que lá deve ter o maior desenvolvimento de especialistas gastrointestinais.

A mulher pensou em perguntar quantas vezes o superior já tinha comido pratos daquele país, até mesmo onde ele havia comido, mas se concentrou em um detalhe mais importante:

— Pretende viajar sem aviso prévio com o prazo apertado antes do desfile?

— É da minha saúde que estamos falando aqui, Nathalie!

Ela suspirou, cerrou os punhos e colocou as mãos para trás das costas. Discutir seria inútil, ele não iria esquecer aquela história de doença incurável nem tão cedo. O melhor seria ignorara.

— Trouxe seu café da manhã, senhor. Presumi que iria se sentir mais confortável aqui, recuperando as energias enquanto... — ela olhou ao redor, a enorme TV ainda estava com um filme pausado — ... assiste RuPaul’s Drag Race? ... Oh, eu... E-Eu vou deixa-lo em paz até o almoço, senhor!

E, sem dar tempo para que o superior pudesse se explicar, Nathalie abandonou o quarto. Foi preciso muito autocontrole para ela só cair nas gargalhadas quando já estava longe o suficiente para não ser ouvida. Agora estava explicado de onde Gabriel Agreste tirava sua inspiração para a moda.

.

.

.

Gorila já havia levado os dois rapazes para o parque e agora estava segurando alguns dos equipamentos do fotografo – refletores de luz solar ou algo parecido, mas na verdade poderiam ser chamados de “espelhos estranhos”. Ele sempre fazia qualquer coisa para que o ensaio fotográfico de Adrien tivesse o tempo reduzido: não demorava até que as fãs do garoto descobrissem onde ele estava e começassem a atrapalhar.

Enquanto o modelo fazia suas poses e dava seus sorrisos, Félix estava sentado em um dos bancos da praça, lendo um livro enquanto Plagg dormia no colo dele. Mesmo sendo uma figura totalmente desprovida de carisma, Gorila tinha que admitir que o Sancoeur era comportado na medida do possível e parecia ser bem obediente à mãe.

— Vamos! Sorria como se a mamãe tivesse trago espaguete para o jantar! — o fotografo falava animado, tentando fazer seu modelo brilhar ainda mais.

— Podem ser batatas fritas? — o loiro perguntou tímido, sentindo a saliva inundar a boca só de se lembrar do café-da-manhã que poderia comer depois do desfile.

— Batatas fritas?

— E bacon? Ah! Croissants também, eu amo croissants!

— Não! — e, pela primeira vez em tantos anos modelando, Adrien ele teve suas sugestões recusadas — Nada de batatas fritas e todas essas porcarias! Quer ter problemas com o colesterol, garoto?

— Mas...

— Uma mãe de verdade não deixaria o filho comer tudo isso! Ela faria um espaguete no jantar, provavelmente alguma receita de família, com uma raiz na minha belíssima Itália!

E aquele foi o começo do grandioso discurso de Vincent, o fotografo, sobre todas as maravilhas da gastronomia italiana e de como a mãe dele cozinhava bem. Adrien ouviu tudo atentamente, sentindo o estomago ranger de fome.

Gorila aproveitou o intervalo não programado para checar se Félix estava no mesmo lugar, mas se surpreendeu ao ver que apenas Plagg continuava no banco, dormindo, com a coleira amarrada em um dos apoios de braço. Ainda calmo, ele olhou em volta em busca do mafioso mirim, afinal de contas, estavam em um parque, um local aberto, sem esconderijos para Félix! Porém, ele não estava em lugar nenhum.

Sentindo o sangue congelar só de imaginar o quão irada Nathalie ficaria, o grandalhão começou a olhar repetidas e repetidas vezes para todos os lados: haviam árvores, haviam arbustos, haviam pessoas andando, haviam pessoas tomando sorvete, haviam crianças brincando, havia até mesmo um vendedor de balão... mais ao longe, haviam carros no trafego, pessoas andando apressadamente, potenciais sequestradores de mafiosos juniores.

Nathalie tinha avisado: “tome conta principalmente do Félix”. Obviamente, ela não pediria isso sem ter um bom motivo, ela não iria ter mania de perseguição sem um bom motivo, ela não iria esconder sua vida na máfia sem um bom motivo! Estavam atrás deles! E ela sabia! E agora tinham pego o filho dela e isso acabaria resultando na terceira guerra mundial, estourando com a França contra Rússia – talvez os franceses pudessem contar com o apoio da Itália.

Antes que o guarda-costas conseguisse equilibrar aquele espelho refletor para pegar o caderninho de anotações no bolso, ouviu várias e várias comemorações e demais idiossincrasias que o fotografo fazia ao término de um ensaio fotográfico:

— Bravo! Bravo! Você foi um ótimo ajudante! — Vincent disse agarrando o equipamento que Gorila segurava e levando consigo — Vejo vocês no próximo, rapazes!

Uma vez com as mãos livres, o grandalhão começou a anotar tudo o que conseguia imaginar ter acontecido e o que poderia acontecer, deixando claro que a culpa não foi dele. Antes que conseguisse adicionar uma nota de que todos os seus bens e economias poderiam ser doados para uma instituição qualquer de caridade voltada para os pilotos de kart aposentados, a voz de Adrien tomou a atenção dele.

— Gorila?

— Já deu para mim, Adrien... — ele murmurou, voltando a anotar seus últimos pedidos.

— Como assim? — o loiro ergueu as sobrancelhas, completamente confuso.

— Logo eu serei só mais uma ferramenta descartada em um porta-malas qualquer em um carro em chamas...

— Que? Quem vai descartar você? Explica isso direito, por favor! — o loiro pediu, atordoado com aquelas frases.

— Eu nunca mais vou poder dirigir uma Mercedes e nem vou ter a chance de entrar numa Ferrari... — ele suspirou pesadamente, depois tentou sorrir — ... mas eu vivi bem, eu fui feliz...

— Gorila...

— Até o dia em que aquela peste apareceu na minha vida... — o sorriso se foi e ele apertou as têmporas — Apareceu só para me dar problemas sendo sequestrado...

— Quem foi sequestrado? — Adrien tentou novamente obter respostas concisas.

— Félix! Ele foi sequestrado pelos espiões!

Demorou algum tempo até que o mais novo se recuperasse do choque inicial e realmente acreditasse naquilo – Félix não estava mais no banco, mas Plagg continuava lá.

— E-Espera, podemos achar ele! Você não vai ser descartado e ninguém vai saber que o meu irmão foi sequestrado!

Apesar de apreciar a atitude nobre, Gorila apenas acenou negativamente e deixou claro que era uma péssima ideia:

— Eu não tenho nem mesmo uma arma, como eu poderia lidar com mafiosos altamente treinados e perigosos, Adrien?

— Só precisamos descobrir para onde ele foi levado, daí ligamos para a Nathalie! — ele sorriu, apontando a solução mais do que perfeita.

— É verdade... — finalmente o grandalhão abandonou as feições melancólicas — Ela vai saber o que fazer, ela está acostumada com esse tipo de coisa.

E, como se fossem detetives profissionais, os dois saíram pelo parque em busca de Félix. Gorila estava se inspirando em alguns filmes de espiões e investigação criminal que já tinha visto, estava olhando para todos como se fossem suspeitos; Adrien se inspirou em ChatNoir e se esgueirou pelas árvores, arbustos e demais esconderijos em busca de pistas.

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Não tão longe deles, Félix saboreava seu sorvete de limão enquanto voltava para o banco onde esteve sentado comportadamente nas últimas horas. Para o alivio dele, ninguém havia incomodado Plagg: o gatinho continuava preso no mesmo lugar em que ele havia colocado. Entretanto, não tinha nem sinal de Adrien, Gorila e nem do fotografo...

— Eu não acredito que eles ousaram me deixar aqui... — a voz saiu entre os dentes enquanto ele pegava o celular — ... Minha mãe vai adorar saber que fui esquecido em uma praça...

O rapaz começou a digitar os números do telefone do ateliê, mas ouvir a voz estridente de Adrien ao longe o fez parar no mesmo instante:

— FÉLIX!!!

O Agreste vinha correndo na direção dele, com os braços levantados e balançando. Não dava para definir se era uma imitação fajuta de babuíno, pânico porque o fim do mundo estava próximo ou Adrien começando a ser inconveniente entusiasmado por conta dos animes que ele via, mas uma coisa Félix tinha certeza: ele era o alvo daquela corrida.

Apressadamente, ele desatou a coleira de Plagg e agarrou o animal com uma das mãos enquanto equilibrava o sorvete na outra. Sem pensar duas vezes iniciou a corrida pela própria sobrevivência, entretanto, pouco mais de dois passos depois, trombou com o guarda-costas que também estava indo na direção dele.

Maldito azar que ele tinha...

Félix mal teve tempo de se recuperar do baque: Adrien praticamente pulou em cima dele enquanto o abraçava e falava coisas completamente sem sentido como “sequestradores”, “russos”, “espiões”...

Quando o rapaz mais velho finalmente tomou folego e se dispôs a falar algo, provavelmente uma reclamação e uma ordem para ser solto, foi a vez de Gorila agarrar aos dois em um abraço de urso, chegando a levanta-los do chão.

— Você está bem! — o grandalhão sorriu, aliviado, mantendo os dois presos no abraço.

— Ficamos tão preocupados com você, irmãozão! — Adrien também sorria.

A experiência era carinhosa e surpreendente, mas Plagg estava incomodado – o pobre animal estava sendo agarrado pelos três ao mesmo tempo – e o sorvete de limão estava derretendo e lambuzando toda a mão dele. Com a habitual frieza de sempre, o loiro exigiu:

— Me coloquem no chão e tirem as mãos de mim!

Ambos perderam o sorriso e obedeceram a ordem.

Félix observou os dois atentamente, com os olhos azuis quase os congelando no lugar enquanto dava algumas lambidas no sorvete.

— Eu saio por alguns minutos e quando volto vocês tentam me matar!

— Pensamos que você tinha sido...

— Eu não ligo! — ele interrompeu Adrien.

— Mas Félix...

— Quero ir para casa! Não vou ficar nem mais um minuto aqui, com todo mundo me olhando porque vocês dois agiram como malucos e me agarraram! — ele bufou, se jogando no banco.

Gorila reconheceu aquele estágio do Sancoeur como algo bem semelhante à quando Nathalie está prestes a surtar e tentar enforcar alguém. Ele também sabia que Félix não iria querer ir perto deles e que poderia acabar sendo sequestrado mais uma vez. Analisando atentamente todas as hipóteses e possibilidades, ele teve uma ideia brilhante.

— Volto logo! — avisou, saindo apressado o suficiente para que não tivessem tempo de perguntar o que ele iria fazer.

— Como se eu me importasse o suficiente para querer que volte logo... — o loiro mais velho resmungou, batendo um dos pés no chão — E você? Vai ficar me olhando, é? — não era preciso encarar Adrien para saber que estava sendo observado.

— Vou tomar conta de você... — enquanto falava, o mais novo se sentou no banco também — E do sorvete...

— Não!

— Mas eu nem...

— Não se divide comida, Adrien! — ele ainda fez questão de dar algumas lambidas no sorvete depois de advertir — Principalmente sorvete de limão!

— Mas Félix... — o Agreste lamuriou, tentando fazer os olhinhos de gato abandonado funcionarem com o irmão. Porém, uma dúvida tomou o foco dele antes que a tática surtisse efeito — Onde você conseguiu esse sorvete?

— Comprei, ué...

— Comprou aonde?

— Com um sorveteiro esquisito que fala rimando, André eu acho... — ele ergueu os ombros e deu mais algumas lambidas no sorvete.

— Você conseguiu um sorvete do amor do André!? — os olhos de Adrien se encheram de brilho — Então você está apaixonado por uma pessoa... — ele buscou na sobremesa gelada algum sinal de quem quer que fosse, mas era completamente branco — ... Você está apaixonado por uma pessoa?

— Não — Félix ergueu uma das sobrancelhas — Por que eu estaria?

— Porque os sorvetes do André são sorvetes mágicos para casais apaixonados...

— Nesse caso, acho melhor contar agora do que você descobrir sozinho... — com um sorriso fino e sínico, o mais velho se aproximou do “irmãozinho” como se fosse contar um segredo — Eu estou apaixonado pelo Homem das Neves...

— Sério!? — o Agreste arregalou os olhos, mas antes que pudesse falar qualquer frase motivacional para o “amor proibido” do outro, ele simplesmente questionou um princípio básico em tudo aquilo: — Mas o Homem das Neves existe mesmo?

— Claro que não, Adrien! — o tom de Félix saiu em um misto de irritação e incredulidade: aquela infantilidade era um verdadeiro exagero na maioria das vezes — Eu só comprei o sorvete de limão!

— Mas não é assim que os sorvetes funcionam!

— Mas eu gosto de sorvete de limão!

— Eu também gosto!

— Mas você não tem um sorvete de limão, eu tenho!

Apenas por pirraça ou por um desvio de caráter, Félix enfiou o sorvete na boca e fez questão de se deliciar apenas para incomodar Adrien. O que ele conseguiu não foi choramingo e nem mesmo suplicas, o Agreste simplesmente se levantou e olhou ao redor tentando encontrar o motorista.

— O que vai fazer?

— Vou pedir ao Gorila para comprar um para mim também — sorrindo vitorioso, o mais novo pegou o cartão de emergências em um dos bolsos da calça.

— Adrien, qual o seu problema? É de nascença? — e, depois de um suspiro pesado e um revirar de olhos, ele continuou — É uma carrocinha de sorvetes, não o Starbucks ou algo do gênero, não aceita cartão...

— Mas...

— E mesmo se aceitasse: você está proibido de comer sorvetes e coisas desse tipo até o desfile!

— Mas Félix...

— Não pode!

Agora sim, quando já não tinham mais esperanças, Adrien se deixou abater. Se sentou no banco de novo, ou melhor, escorregou sobre ele e ficou encarando o chão com um semblante tão dramático que deixava claro o quão filho de seu pai ele era.

— Não é para tanto!

— Mas eu queria sorvete de limão... — o rapaz sussurrou com a voz embargada.

— Não pode, Adrien.

— Mas eu estou com fome e queria sorvete de limão... — ele encarou Félix com os olhos cheios de lágrimas, provavelmente uma forma evoluída e mais eficaz dos olhos de gato abandonado.

O mais velho bufou, resmungou algumas palavras incompreensíveis e tateou os bolsos em busca de alguma coisa. Enquanto se dedicava à uma verdadeira caça ao tesouro, acabou se distraindo com o sorvete e Plagg deu algumas lambidas no doce – o que só fez com que o sofrimento de Adrien aumentasse ainda mais.

— Toma... — ele estendeu uma bala de gengibre para o mais novo, evitando olha-lo nos olhos — Vê se não se acostuma.

— O que...? — Adrien não teve tempo de terminar a pergunta, o irmão perdeu a paciência e enfiou o doce na boca dele. Não era a bala mais saborosa do mundo, mas era algo doce...

— Se contar para a minha mãe, eu te mato — Félix advertiu e recebeu um aceno afirmativo em resposta, assim como um sorriso adorável.

Gorila chegou logo depois da ameaça, mas julgou que os dois apenas estavam tendo uma conversa de meninos. Adrien estava sorrindo, Félix estava um pouco mais estável e Plagg estava sujo de sorvete – o grandalhão tomou uma nota mental para conversar sobre aquilo com Nathalie. Ele segurava nas mãos um balão de gás hélio e um arco de orelhas de gato.

— Arrumei um jeito de não perdermos mais a sua localização — ele avisou a Félix, estendendo o balão.

— Nem pensar... — o loiro virou a cara, encarando o nada e sentindo as bochechas ficarem quentes e provavelmente avermelhadas.

— Por que não?

— Porque já me fizeram passar vergonha demais hoje, guardem um pouco para caso algum dia eu aceite acompanhar vocês em alguma outra coisa para perder o meu tempo! Não vou sair por aí com um balão amarrado em mim!

— Mas se não amarrar, ele pode acabar voando... — Adrien, que não entendeu nem metade de toda aquela ironia e veneno, com toda a sua ingenuidade, pegou o balão e enroscou o fio nos próprios dedos — E não queremos que você seja sequestrado de novo, irmãozão...

— Já disse que fui comprar sorvete, eu não... — antes de conseguir completar a explicação, Félix se calou ao sentir algo sendo colocado ao redor de sua cabeça. Ele preferiu acreditar que poderia ser qualquer coisa, excerto aquele arco idiota de orelhas de gato — Você tem três segundos para tirar seja lá o que colocou na minha cabeça — a voz saiu entre os dentes.

— Pelo menos assim podemos achar você no meio das pessoas... — Gorila justificou, sem a menor intenção de obedecer a ordem dele dessa vez.

— Você está parecendo o ChatNoir... — Adrien observou-o com atenção enquanto comentava a semelhança — Gorila, eu quero um desses também! — ele pediu com os olhos brilhantes, como se fosse uma criança indo pela primeira vez à uma praça.

Seria humilhante demais para o guarda-costas explicar que não poderia arrumar um arco daqueles porque os trocados que tinha no bolso foram todos naquele balão caríssimo – o arco não era um brinde, ele havia pago o valor dos dois e ainda uma porcentagem de lucro, no mínimo. O grandalhão preferiu não mentir, mas omitir parte do motivo:

— Acabou.

— Ah... — automaticamente, os olhos verdes perderam todo o brilho de momentos antes.

— O Félix pode te emprestar quando chegarmos na mansão...

— Mas eu queria ir com o arco... se ele trocasse com o balão — Adrien contestou, com uma última suplica para o irmão.

— Leva o Plagg em cima da sua cabeça, pelo menos assim vai chamar mais atenção do que eu usando esse arco estúpido! — Félix revirou os olhos, estendendo seu animal de estimação para o mais novo.

Mais uma vez a inocência de Adrien não permitiu que ele entendesse todo o veneno contido naquelas palavras. Animado, ele realmente colocou o gatinho negro em cima da cabeça e o firmou com uma das mãos.

Gorila, sem ter coragem de proibir que o animal de presas afiadas fosse transportado tão próximo de áreas sensíveis e expostas – Adrien Agreste é um modelo famoso, vive de aparências -, foi durante todo o percurso de onde estavam até o carro olhando atentamente para os dois: ao menor sinal de presas para fora, ele precisaria agir. Félix os acompanhou, andando alguns passos mais a frente e por vezes alguns passos mais atrás, não queria que soubessem que os três estavam juntos.

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Gabriel Agreste continuava confinado em seu próprio quarto.

Mesmo acamado e mortalmente enfermo, ele dedicou uma parte de suas últimas forças para enviar dois e-mails para Nathalie. Em um deles, ele mandou a localização de um famoso líder de uma aldeia aborígene australiana o qual ele pretendia visitar para ser curado. No outro, ele enviou uma foto da tigela com cereais integrais e leite, reclamando que o chef foi descuidado e que haviam cabelos negros por toda a refeição.

Para recuperar-se da exaustão de tanto esforço, o Agreste se dedicou à um de seus passatempos recentemente descobertos – pouco antes de seu súbito amor por listas malignas e canetas coloridas -, era uma atividade altamente vantajosa para ele e suas inspirações: assistir quaisquer séries do Netflix relacionadas à moda.

A sugestão de começar a assistir tudo aquilo foi de Adrien: segundo ele, o pai era muito parecido com um dos jurados de Project Runway. Porém Gabriel não acreditava ser parecido com Tim Gunn nem fisicamente e muito menos em suas tomadas de decisões. Foi daí que surgiu a ideia de assistir a todos os episódios e dar suas próprias notas para os figurinos.

O jeito obsessivo com o qual o Agreste assistiu e julgou todos os episódios fez com que as temporadas disponíveis fossem poucas e ele precisasse migrar e dar suas notas para figurinos de outras séries – a com melhor pontuação foi a que estava terminando de assistir na noite anterior enquanto o filho buscava por sua doença: RuPaul’s Drag Race.

Não demorou mais do que duas horas até que ele também terminasse de assistir a esta série e se visse imergido em um tédio absoluto. Gabriel até pensou em ter uma melhora momentânea e voltar ao trabalho, mas uma ideia melhor surgiu antes que ele saísse do quarto.

Com um nervosismo prévio por mudanças, ele agarrou o controle da TV e mudou a categoria que estava assistindo. Por alguns segundos ponderou que talvez fosse o momento certo de imergir no mundo mágico dos desenhos chineses dos quais o filho vivia falando, mas um filme na aba de recomendados tomou para si toda a sua atenção:

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VELVET BUZZSAW

Um temido crítico, uma fria galerista e uma ambiciosa assistente roubam as pinturas de um artista recém-falecido – com graves consequências.

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Se aquele filme não era destinado a ele, não poderia ser para outra pessoa.


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Notas finais do capítulo

Perguntinhas rápidas:
O que vocês acham que o Gorila escreveu no caderninho?
Qual o motivo de Nathalie ter mania de perseguição?
Por que Félix estava com aquela bala guardada no bolso?
Qual a tradição por trás dos cafés-da-manhã das quartas-feiras? Algo relacionado com cor-de-rosa?



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