Never Enough escrita por oicarool


Capítulo 21
Capítulo 21




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Mariana Benedito orgulhava-se de ter alma de irmã mais velha. Apesar de ser a filha número três, era comum que cuidasse de suas irmãs. Zelava pelas loucuras de Lídia, pela mente imaginativa de Cecília, pela sensibilidade de Jane. Mas sempre havia Elisabeta. A irmã que era mais parecida com ela. Que sempre tentava resolver tudo de sua própria maneira, e tentava nunca demonstrar fragilidade.

Por conhecê-la tão bem, Mariana tinha certa sensibilidade aos problemas da irmã. Reconhecia os sorrisos que não chegavam à seus olhos, as conversas distraídas, via a luz acesa pela fresta da porta quando a madrugada já avançava. Havia algo errado com sua irmã, e Mariana aos poucos ia tentando resolver o mistério. E a cada nova pista, ficava ainda mais surpresa por não perceber algo tão óbvio.

Era sútil, é claro. Mas Darcy Williamson agora morava no quarto de hóspedes do namorado de Mariana, Victor Brandão. Assim que o Coronel Brandão soube que um dos melhores amigos de Mariana estava procurando um lugar parar morar, ofereceu o seu quarto extra. E no último mês, quase todas as notícias de Darcy que Mariana recebia vinham de seu namorado.

Os dois viviam há algum tempo um relacionamento a distância. Mariana pretendia mudar-se para o Vale do Café em algum momento, mas ainda não sentia-se preparada para ser uma esposa. Como um bom apaixonado, o coronel respeitava suas vontades e adiava o pedido de casamento – para o desespero de Ofélia. Porém, a exigência de Brandão fora que Mariana aceitasse, em contestar, que ele instalasse um telefone na casa dos Benedito.

Apesar de não terem dinheiro de forma alguma para tal luxo, Ofélia não reclamou de ganha-lo como um presente. Inclusive ostentava para toda a vizinhança o fato de ter uma modernidade como aquela em sua casa. A bem verdade é que Brandão não conseguia passar um dia sequer sem ouvir a voz de Mariana, e por isso no início da noite o telefone dos Benedito sempre tocava.

Elisabeta, que nunca se interessava muito pelas conversas românticas das irmãs, de repente mostrou-se excessivamente interessada pelas notícias do Vale do Café. Adquirira o hábito de ler na sala, coisa que nunca fizera. E quando o telefone tocava, embora Elisabeta não demonstrasse qualquer reação, sua irmã permanecia ali, como se nada estivesse acontecendo.

Aos poucos, porém, Mariana começou a notar que ouvir o nome de Darcy atraia a atenção da irmã. Eram meros segundos em que ela erguia a cabeça e demonstrava prestar atenção. Nos dias em que Darcy era um assunto, Elisabeta questionava a irmã como estavam as coisas no Vale do Café – Brandão, os avós, e até mesmo Darcy. Demorou alguns dias para notar, afinal já eram quase dois meses desde a mudança do vizinho.

Havia também os dias em que Mariana pedia para conversar com Darcy, e prestando mais atenção, eram dias em que as mãos de Elisabeta ficavam inquietas e ela parecia impaciente. E então, quando Mariana dividia as novas aventuras de Darcy Williamson, havia uma tristeza nos olhos de sua irmã, que ela se esforçava para esconder. Demorou para que juntasse todos os pontos. Acreditava que os dois tinham desenvolvido uma proximidade pelo acidente de Felisberto. Mas um romance?

E então, como Cecília era a melhor das cinco para desvendar um mistério, Mariana um dia dividiu suas suspeitas. Ficou ainda mais surpresa, porém, quando Cecília ficou vermelha e não conseguiu esconder sua falta de espanto pela possibilidade. E então, como uma boa irmã mais velha, Mariana fez com que Cecília confessasse que já vira os dois em um momento mais íntimo.

Por isso Mariana aproveitara os horários de trabalho de Elisabeta para combinar um plano com Brandão. E, em alguns instantes, quando o telefone tocasse, Mariana pediria para Elisabeta atender. Já havia entrado no banheiro e apenas aguardava seu plano funcionar. Porque também não seria Brandão do outro lado da linha, e sim Darcy, inocentemente acreditando que Mariana precisava falar com ele.

Sem imaginar os planos de Mariana, Elisabeta sentou-se em sua poltrona de sempre. Há quase dois meses tinha o hábito de ouvir as conversas da irmã, apenas para saber notícias de Darcy. Era infantil, ela sabia. Poderia enviar uma carta, ou ligar para ele, mas Darcy não fizera contato, e talvez fosse melhor assim. Sabia sobre sua nova vida através de Mariana, e uma vez por semana os Williamson invadiam sua casa para conversar com Darcy pelo telefone.

Ele adorava seu novo trabalho, ela sabia. Estava bem adaptado ao Vale do Café. Morava com Brandão, e por isso estava feliz por economizar. Mandaria um dinheiro para os pais assim que pudesse. E às vezes perguntava à Mariana sobre suas irmãs e sobre ela. Sempre brevemente, mas era quase o suficiente para Elisabeta. Estava conformada com não poder viver este amor. Darcy estava em outra cidade, e até onde ela sabia, não sabia quando poderia visitá-los. Contentava-se, então, com saber que ele estava bem.

Sua vida parecia um pouco mais vazia sem ele. Apesar de seus empregos fantásticos, de finalmente estar conquistando espaço e respeito no jornal, de seu pai estar quase completamente recuperado, Elisabeta sentia falta de alguma coisa. E era do vizinho implicante, com quem brigara quase que uma vida toda, apenas para que ele roubasse seu coração em menos de um ano. Era estranho pensar que fazia pouco menos de um ano desde que Darcy voltara, apenas para ir embora de novo.

E naquele período as implicâncias e brigas de sempre deram lugar à beijos, carícias e palavras calmas. Quase como se fossem outras pessoas, quase como se finalmente conseguissem ver um ao outro da forma real. Mas nada disso importava agora, porque Darcy estava longe demais para que pudesse implicar com ele, quem diria beijá-lo. O telefone tocou na mesa ao lado, e Elisabeta chamou por sua irmã.

— Elisabeta, atenda por favor. Diga à Brandão que estou saindo do banho. – Mariana gritou, com um sorriso no rosto.

— E o que é que eu vou conversar com o seu namorado, Mariana? – Elisabeta resmungou, mas ainda assim pegou o aparelho. – Alô?

O silêncio na linha fez com que Elisabeta tirasse o aparelho do ouvido e olhasse para ele, em confusão.

— Alô? – ela repetiu. – Coronel?

— Elisa? – a voz grave soou do outro lado, fazendo seu coração sobressaltar.

Elisabeta praticamente caiu no sofá, segurando com força o telefone. Seu coração parecia querer saltar de seu peito.

— Darcy? – ela perguntou, fraca, sem acreditar.

— Oi. – ele disse, e Elisa quase ouviu o sorriso dele.

— Oi. – Elisabeta respondeu, débil, e o silêncio tomou conta por alguns segundos. – Você quer falar com a Mariana?

— Brandão disse que ela queria falar comigo. – Darcy soou do outro lado, e ela mal podia acreditar que estava ouvindo a voz dele.

— Ela está tomando banho. Você quer ligar mais tarde ou... – tentou dizer, mas foi interrompida por Darcy.

— Não, por favor. – ele pediu. – Faz muito tempo que eu queria ouvir sua voz, mas achei que poderia ser estranho.

— Seria estranho. – Elisabeta sorriu. – Mas eu teria gostado de ouvir a sua voz.

— Como você está? – Darcy perguntou, e havia tantas respostas para aquela pergunta.

— Você quer que eu seja sincera? – Elisabeta mordeu o canto da bochecha, insegura.

— Sempre. – ele suspirou.

— Eu sinto a sua falta. – Elisabeta falou, sentindo o coração apertar.

Darcy suspirou do outro lado da linha.

— Eu esperava que você me dissesse que nunca esteve tão bem. – Darcy disse, triste.

— É o que você sente?

— Eu nunca precisei tanto ver alguém como eu preciso ver você, Elisabeta. – ele resmungou. – Eu trabalho o dia todo pensando em você e quando anoitece eu sinto tanto a sua falta, tanto.

— Quando você vem? – Elisabeta perguntou, sentindo os olhos marejados.

— Logo. – Darcy suspirou novamente. – Logo, eu prometo.

Mariana saiu do banheiro, e encontrou a irmã ali, uma lágrima solitária correndo pelo rosto. Aproximou-se devagar, sentando-se ao lado de Elisabeta.

— Mariana está aqui. – Elisabeta suspirou. – Você quer falar com ela?

— Eu prefiro continuar ouvindo a sua voz. – Darcy disse, e novamente ela podia ouvir o sorriso dele.

— Eu também. – Elisabeta sorriu. – Mas Mariana está gesticulando desesperadamente ao meu lado.

— Boa noite, então. – ele respondeu desapontado. – Fique bem, por favor.

— Você também. – ela suspirou.

— E Elisa, eu... – ele pausou. – Eu vou logo, eu vou tentar.

— Eu vou esperar você.

E a contragosto Elisabeta entregou o telefone para Mariana, ouvindo apenas a frase da irmã, sem ouvir a resposta de Darcy.

— Darcy Williamson, eu não acredito que você finalmente teve a chance de ser meu irmão de verdade e foi embora.

Então Mariana desligou o telefone e puxou Elisabeta pela mão até o quarto da mais velha. E não saiu de lá até ouvir sobre todas as brigas, noites, lágrimas, beijos e desejo. Não sem antes fazer Elisabeta admitir que estava completamente apaixonada por Darcy. Não sem antes dizer o quanto era absurdo que tivessem escondido isso justamente dela. E então, levantou-se decidida, como se nada pudesse impedi-la.

— E você trate de arrumar suas coisas e pedir uma folga no trabalho. Em dois dias nós partimos para o Vale do Café. – falou, em tom autoritário.

— O que? – Elisabeta disse alto.

— É um pouco difícil sair da casa de vovó e vovô sem que eles notem e voltar antes do amanhecer, mas eu já fiz isso muitas vezes. – Mariana ergueu a sobrancelha ao ver a expressão incrédula. – Elisabeta, se os amores da nossa vida estão no Vale do Café, é para o Vale do Café que nós vamos.

Mariana saiu batendo a porta, e o coração de Elisabeta acelerou apenas pela possibilidade de ver Darcy.


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Notas finais do capítulo

Feliz um ano de Orgulho e Paixão ♥



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