Harry Potter abriu os olhos. Não sabia quanto tempo havia dormido desde que finalmente teve a chance de descansar após derrotar o Lorde das Trevas, mas desconfiava que bastante, afinal, ao olhar pela janela, percebeu que já era noite. Teve um sono profundo e, depois de 16 anos, sem pesadelos, sem Tom Riddle invadindo sua noite. Todos os seus músculos doíam e ele se sentia acabado, mesmo após o seu tão merecido repouso. Só agora percebeu que estava sozinho. Era estranho encontrar seu velho dormitório da Grifinória sem Ron, Dino, Neville ou Simas. Percebeu também que precisava de um banho, ainda estava coberto de sangue e poeira. Ele havia chegado tão cansado da batalha que nem se preocupou em se limpar. Então foi ao banheiro e começou a tirar a roupa. Ao se olhar no espelho, notou que estava cheio de cortes e roxos por todo o corpo. Talvez fosse uma boa ideia passar na enfermaria depois.

Finalmente limpo, Harry se preparou para descer e encontrar todos. Foi então que percebeu que, por mais que se sentisse aliviado com o fim de tudo, não estava feliz. As lembranças da guerra ainda estavam muito frescas em sua mente. Snape, Tonks, Remo, Fred, Colin e tantos outros... Todos mortos por sua causa. Harry sabia q não devia se sentir assim, mas não conseguia evitar. Como iria encarar a família Weasley após a morte de Fred? O Eleito se encontrava cheio de outras dúvidas. O que iria fazer agora? Ele sinceramente não esperava sair vivo da guerra e acabou por ter uma vida inteira pela frente. Assim, pensativo, Harry seguiu seu caminho por uma Hogwarts vazia até o Grande Salão, onde esperava encontrar todos os seus amigos.

Quando finalmente chegou, encontrou o salão cheio. Todos estavam virados para a mesa dos professores olhando a Professora McGonagall discursar e ninguém notou a chegada de Harry. Como da última vez, não havia divisão entre as casas de Hogwarts.

— Agora é um momento de descanso, de ficar com a família e buscar conforto no próximo. Esses últimos anos foram difíceis, mas agora todos temos um grande futuro pela frente... Harry, finalmente! — disse a professora quebrando o tom sério de sempre.

Nesse momento, todos se viraram para ver o menino que sobreviveu novamente. Uma chuva de aplausos e assovios começou e não demorou muito para que uma sorridente Hermione aparecesse para puxar Harry e levá-lo para a mesa dos Weasley enquanto ele recebia elogios e tapinhas nas costas.

— Por Merlin, Harry! Achamos que nunca fosse acordar, você dormiu umas 20 horas — disse a amiga aliviada.

Enquanto passava pelas mesas, Harry viu Hagrid, Neville, Luna e seus outros amigos. Todos pareciam felizes em vê-lo bem, por mais que Harry não demonstrasse tanto entusiasmo. Quando chegou a mesa, Harry foi recebido por um grande abraço da Sra. Weasley, que já se encontrava em lágrimas.

— Harry, querido! Já estávamos preocupados com você, sente-se, coma alguma coisa — falou a matriarca da família, visivelmente ainda abalada pela morte do filho.

Harry sentou entre Gui e Ron, que o recebeu com um pequeno sorriso. Harry percebeu que Molly não era a única que ainda estava muito triste. Toda a família o cumprimentou da mesma maneira que Ron, exceto Fred e Gina, que não estavam lá.

— Onde estão os outros? — perguntou Harry.

— O Fred não sai do dormitório desde ontem, tentamos de tudo. Gina ficou cuidando de você..., mas a mamãe obrigou ela a ir dormir um tempo atrás — respondeu Ron.

 Então Harry pensou em Gina. Não acreditou que demorou tanto para que ela finalmente passasse por sua mente. Todos os sentimentos e a saudade voltaram e Harry sentiu vontade de ir até o dormitório feminino só para vê-la, mas se controlou. O que ele mais queria era estar ao lado dela, abraçá-la, beijá-la, mas ela havia a recém perdido o irmão, não era o momento.

— O que eu perdi até agora? — questionou Harry.

— Não foi tanta coisa cara, pouca gente foi embora. Shacklebolt é o Ministro interino agora. Ele e mais algumas pessoas importantes do Ministério tão tentando organizar as coisas lá em Londres. Parece que vai ter uma homenagem pra todos os que morreram amanhã e depois acho que todo o mundo vai embora pra começarem a reconstruir o castelo — respondeu Ron.

— E você vem pra Toca com a gente Harry, não a discussão! — já interviu a Sra. Weasley. — Mesma coisa pra você Hermione, vai ficar com a gente até resolver situação com os seus pais na Austrália. Esse é um momento que todos precisamos ficar juntos.

Os dois concordaram sem muito problema, afinal não havia outro lugar para irem mesmo. Estranhamente, Harry não ficou tão feliz em ir pra Toca. Todos estavam muito quietos, estavam de luto. Harry sabia o motivo e estava convencido de que era sua culpa. Não sabia como ia conseguir encará-los nesse momento. Então decidiu não falar muito também e voltou seus ouvidos para o discurso de Minerva.

— Então, como combinado, amanhã à tarde faremos a homenagem a todos os que perdemos na guerra. Em seguida começará a reconstrução do castelo. Os que se sentirem à vontade podem ficar, porém eu acredito que seja um momento para se ficar próximo das pessoas que amamos. Obviamente não houve formatura esse ano e as aulas, principalmente algumas disciplinas, não ocorreram da maneira correta, com o comando de Snape e dos Carrow. Assim, no próximo ano essas disciplinas terão que ser reforçadas. Quanto aos alunos que estiveram aqui no Sétimo Ano, estes poderão fazer seu NIEMs em cerca de um mês, ou refazer o ano se assim quiserem. Os que não estavam — Minerva disse olhando especificamente para o Harry, Rony e Hermione — obviamente serão aceitos quando as aulas recomeçarem. Ah, uma outra notícia, combinada com o Ministro e os outros professores, eu assumirei a posição de Diretora da Escola.

Nesse momento, todos aplaudiram com entusiasmo. A professora McGonagall estava na escola a muitos anos e merecia. Todos sabiam que seria uma excelente substituta de Dumbledore. Assim, com o fim do discurso as pessoas foram aos poucos indo para os seus dormitórios. O salão estava quieto, não havia clima de festa. A euforia inicial da vitória já havia passado e as pessoas estavam desanimadas, pensando nos que haviam partido. Muitos passavam para cumprimentar Harry, que timidamente atendia a todos. Ele também ganhou um grande abraço de Hagrid, que, pra variar, estava emocionado. No final, quase toda a família Weasley havia subido e restavam apenas Harry, Ron e Hermione. Harry percebeu que os dois estavam de mãos dadas.

 — Estão juntos então? — perguntou Harry sorrindo.

Os dois ficaram corados, mas sorriram também.

— Já era hora né parceiro, depois de uma guerra você coloca umas coisas em perspectiva e percebe que tem certas coisas na vida que a gente não pode perder tempo — respondeu Ron.

— Que fofo! Nem parece aquele cara com a amplitude emocional de uma colher de chá — disse Hermione, dando um beijo na bochecha de Ron enquanto ria.

Harry ficou feliz em vê-los juntos, sabia que era só questão de tempo e os dois mereciam aquilo depois de tudo o que passaram nos últimos anos. Além disso, seria importante para Ron principalmente nesse momento que havia perdido o irmão.

— Pode ficar tranquila que eu ainda sou o bom e velho Ronald. Tô com sono até, vamos subir? — respondeu já bocejando.

Então, os três voltaram para os seus dormitórios e descansaram para enfrentar o próximo dia, que prometia ser o começo de suas novas vidas.