Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 90
Como Anthony DiNozzo conseguiu encrencar uma Miniatura de Ruiva e a si próprio.


Notas iniciais do capítulo

Voltei... atrasadinha, mas voltei.
Como o título diz, temos Tony e Liz aprontando. Mas antes, um momento Jibbs pra vcs... e claro o embate da noite entre Kelly x Mann.
Boa leitura!!



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Sophie não melhorou nada. Passou mal o restante do dia e noite adentro. A certa hora começou a enjoar e se ela não tivesse feito aquela bateria de exames meses atrás eu teria ficado apavorado.
Kelly ligou várias vezes, na primeira, pediu para falar com Sophie, quando eu comentei como a irmã estava, ela ficou realmente preocupada e isso chamou a minha atenção. Parecia que ela não estava acreditando na dor de cabeça, como se as duas tivessem armado alguma coisa.
E tudo ficou pior, quando a equipe inteira apareceu na porta da casa de Jen. Todos eles muito preocupados e culpados. Aí tinha coisa. E eu nem gostaria de saber a verdade por trás dessas caras.
Eles não ficaram muito, os únicos que fizeram questão de ver Sophie foram Abby e Tony, que também não se demoraram no quarto dela. Logo foram embora, restando Jenny e eu para tomar conta da Ruiva.
O remédio para dor só foi fazer efeito tarde da noite, e mesmo nocauteada, Sophie não ficou quieta, revirava e murmurava por todo o tempo, às vezes choramingava e se encolhia na cama. Nenhum de nós deixou o seu quarto.
Jen estava deitada ao lado dela, eu fiquei sentado ao pé da cama. Já na madrugada, Jen me chamou:
— Jethro, tem um quarto pronto. Vá lá descansar um pouco.
— Você vai dormir? – Retruquei, pois eu sabia que ela não dormiria com a filha agitada dessa forma.
— Você sabe que não. Mas eu estou deitada aqui. Você está na mesma posição há horas, Jethro. – Ela protestou. – Ao menos vá tomar um banho e trocar essas roupas, ainda tem roupas suas aqui, eu te chamo se ela precisar. – Ela não desistiria, já que eu tinha conseguido convencê-la a fazer a mesma coisa horas atrás.
Diante do olhar insistente dela, cedi. Internamente me perguntei onde estariam as tais roupas. Quando notei, ela estava passando por mim e indo para o quarto dela. Parei na porta do quarto de Sophie, não querendo deixá-la sozinha e de lá pude ver Jen mexer em uma cômoda e depois voltar com roupas nos braços, roupas minhas que eu realmente tinha notado que haviam sumido. Vendo algo na minha expressão, Jenny sentiu a necessidade de se explicar.
— Você deixou várias de suas roupas aqui, eu deveria ter te entregado assim que... – Ela parou sem graça e me entregou as roupas. E, depois de anos, Jen ficou vermelha. As bochechas rubras igual ao seu cabelo e o cabelo da filha. E essa visão me trouxe mais uma avalanche de lembranças, desde Positano até Paris.
Por mais que estivesse cansado, não me demorei e muito menos cedi à cama que parecia confortável. E quando voltei ao quarto de minha filha, Jen estava sentada, escorada na cabeceira, Sophie com a cabeça em seu colo, atravessada na cama. Jen acariciava seus cabelos e cantarolava qualquer coisa.
Entrei no quarto devagar, Sophie se virou na minha direção.
— O senhor ficou!! – Ela abriu um sorriso tão feliz que mesmo à luz fraca do abajur eu consegui ver.
— Eu te falei que ele tinha ficado, filha. – Jen disse baixinho.
Olhei para Jen enquanto Sophie se ajeitava no colo dela, querendo saber o que a tinha acordado.
— A crise deu uma piorada, mas ela não pode tomar remédio agora. Temos que esperar mais algumas horas e que ela tenha algo no estômago. – Me informou, mas preferiu ficar concentrada em acariciar os cabelos da filha a me olhar.
— Senta aqui, papai. – Sophie me indicou o lado oposto ao de Jen.
Antes de fazer o que ela me pediu, me inclinei e dei um beijo na sua testa e lhe entreguei o dragão que ela tanto gosta, depois me sentei ali do seu lado. A Ruiva logo colocou as pernas no meu colo e, mesmo com dor, abriu mais um sorriso.
— Agora tá perfeito! – Disse e ficou quietinha, esperando que a dor passasse.
Jenny olhava para Sophie com um discreto sorriso nos lábios, vendo o quanto a pequena estava feliz. Depois levantou o rosto e seu olhar encontrou com o meu.
— Obrigada. – Ela murmurou. – Soph precisava disso.
Assenti e me ajeitei ali. Certo de que nem Jenny ou eu conseguiríamos dormir, mas ficaríamos ali, quietos, cada um perdido em seus próprios pensamentos.
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A crise de enxaqueca de Sophie serviu para duas coisas, primeiro, ter a certeza de que Kelly, Sophie e toda a equipe tinham aprontado para que Sophie conhecesse a Coronel. Eu não sabia o que eles tinham na cabeça ao planejar isso. Só sei que a mulher teve a audácia de me parar no elevador para me perguntar se Sophie estava bem e quando eu deixaria que Jethro a apresentasse para a filha.
Desse dia em diante, eu preciso passar uma hora por dia no estande de tiro para me ver livre do pensamento de atirar em cada um da equipe, em Kelly, em Jethro e na Coronel. E só quando a raiva passa é que eu posso voltar para meu escritório ou para casa.
Se esse foi o lado ruim, o lado complicado foi outro.
Jethro.
Ele agora era uma verdadeira incógnita para mim. Continuava com a Coronel e, ao mesmo tempo, passou a aparecer com mais frequência na minha casa. Chegando até a dormir algumas noites lá, no quarto de hóspedes, é claro.
A noite em que ele e eu ficamos de vigília ao lado de Sophie nunca foi mencionada, principalmente o fato de que as roupas dele ainda estavam (e estão) no meu quarto. E muito menos a manhã, já que nós três amanhecemos deitados na mesma cama, Sophie no nosso meio e eu o fazendo de travesseiro. Nunca parei para pensar com detalhes como acabamos nessa posição.
E, assim, uma semana tinha se passado. E eu estava mais perdida do que tudo. E agora tinha outro problema, as férias de final de ano de Sophie tinham chegado e como Noemi pediu folga nesse ano, ela estava o tempo todo do meu lado, dentro do NCIS, vendo a mudança no comportamento do pai.
E, para variar, não cansava de me fazer um milhão de perguntas e, para a grande maioria delas, eu só tinha uma resposta:
— Eu não sei, filha.
Sophie se conformava por um tempo, e depois lançava outra enxurrada de perguntas.
Até que inesperadamente, eu uma quarta-feira o mundo tinha que virar de ponta cabeça novamente.
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Não tinha condições de continuar sentado na minha mesa nem por mais um minuto. E muito menos ficar lendo casos antigos atrás de alguma pista nova. Estava fazendo isso durante toda a semana. Uma espécie de castigo que o Chefe tinha imposto depois que ele descobriu que nós fizemos parte do Plano: “Vamos Apresentar a Filha Mais Nova do Chefe para a Namorada Coronel”.
Na verdade, ele não poderia provar nada de concreto, mas como todos nós sempre estamos juntos e somando a isso o fato de as nossas caras de excesso de preocupação com a Sophie foram exageradas, para dizer o mínimo, bastou a famosa intuição do Chefe para que todos nós ficássemos de castigo, sobrou até para a Abby. Kelly se safou, por hora, porque precisou ir com urgência para Camp Pendleton, já Sophie jurava de pé junto que nós não tínhamos nada a ver com o fato da cabeça dela estar doendo. E nós, bem, nós juramos igual à Sophie. Não sabíamos de nada. E nada disso colou.
Mas na verdade, todo mundo sabia. O plano mirabolante da Kelly deu resultado. Para pior. Agora a Coronel estava rondando ainda mais o NCIS. E estava atrás da caçula do Chefe, para fazer amizade, enquanto Sophie fugia dela de todas as formas. E a Diretora queria matar alguém por isso, e passou a ir ao estande de tiro com mais frequência. Aposto que imaginando o rosto da Mann no lugar do alvo. Pelo menos é nisso que eu quero acreditar. Tem gente jurando que ela anda xingando cada um da MCRT cada vez que dá um tiro...
O certo é que hoje é uma quarta-feira. Véspera do início das festas de final de ano. Sophie, que está de férias, está aqui no prédio, mesmo que eu só a tenha visto de relance. E nós estamos lendo casos antigos. Tem tanto tempo que estes casos estão em aberto que só de abrir os respectivos arquivos todos tiveram um ataque de espirros.
E o Gibbs, você me pergunta? Saiu, para o sétimo café do dia.
Já que o Chefe saiu, acho que eu vou fazer um lanchinho também...
Estava a dois passos da minha mesa, quando Ziva me perguntou:
— Vai aonde, Tony? Estamos todos de castigo!
— Só comer algo. Não demoro.
A israelense me olhou torto.
— Quer alguma coisa? -Perguntei por educação.
— Ficar livre desses arquivos chatos!!
— Isso é o que todos nós queremos!! – McGee gemeu de tristeza.
Deixei os dois chorando na sala do esquadrão e fui para a lanchonete no andar de baixo. Tudo bem que não tem lá muita coisa, ainda mais quando o expediente está terminando, mas dava para enganar o estômago.
Estava descendo as escadas, quando ouvi pulinhos atrás de mim. Ninguém dentro do NCIS desce as escadas aos pulinhos. Porém, hoje, tínhamos uma visitante que gostava muito de sair pulando por aí...
— Onde você está, Peste Ruiva?
— Bem atrás de você, Italiano de Araque! – Ela me respondeu rindo.
Na mesma hora me virei em sua direção.
— E a sua mãe deixou você vir até aqui? – Perguntei encarando a miniatura de ruiva na minha frente.
— Bem... ela disse: “Dentro dos limites do prédio, Sophie Shepard-Gibbs, e, principalmente, fora da área destinada à MCRT e bem longe dos elevadores.” – Ela falou imitando perfeitamente o tom de voz da mãe. - Então, sim... eu posso estar aqui!
— Quem você está evitando?
— A Coronel... eu não gosto dela. Ela é falsa! – Sophie me garantiu.
— Se serve de consolo, eu também não gosto dela. – Pisquei para ela e ganhei um sorriso de volta.
— Ela acha que pode mandar no papai. Eu não gosto disso! Só a mamãe pode mandar nele! – Ela disse com toda a certeza.
Era um assunto interessante, Sophie sempre tem informações novas, mas, ao mesmo tempo que aguçava a minha curiosidade, eu sabia que era injusto interrogar uma criança e, ainda muito mais perigoso fazer isso nos domínios da Diretora Shepard e do Agente Especial Gibbs.
— Bem, sobre isso, eu não sei. O que eu sei é que eu estou com fome, quer alguma coisa?
— Chocolate!!
— Por que eu perguntei?! – Olhei para ela espantado. E ela só deu de ombros.
Ao invés de fazer como todas as pessoas e colocar o dinheiro na máquina para que pudesse comprar o doce, eu fiz a minha especialidade, simplesmente empurrei a porta no local exato e o doce caiu.
Só tinha um problema. Sophie tinha visto, e pela cara de feliz dela, com toda certeza a Peste Ruiva iria querer aprender a fazer isso!
— Tooonnnyyyyyy!!! – Ela começou cantarolando o meu nome assim que eu entreguei o doce para ela. – Você tem que me ensinar a fazer isso! – Ela pediu, pulando.
— Não. É a minha técnica de pegar doces. E você nem pode mais ficar comendo tanto chocolate assim, esqueceu das suas crises de enxaqueca?
— De roubar doces... – Sophie me corrigiu, para então continuar. - Me ensina, por favor!!!!! Por favorzinho!!
— Sophie!! – Tentei fazê-la parar, todavia, quando ela pedia desse jeito...
— Mas Tony... agora eu vou poder vir pegar doces para você todas as vezes que você quiser e nem você e nem eu, teremos que gastar dinheiro!! Por favor!!!
Pelo amor de Deus, essa pestinha só tem seis anos!! E me olhava com olhinhos pidões, como dizer não?!
— Tudo bem, mas o seu pai não pode saber e muito menos a sua mãe. Eu perco o meu emprego e a vida se eles souberem que eu te ensinei isso.
— Eu não vou contar! Regra 1 combinada com a 15, beleza?
— Isso aí. Então...
E eu mostrei para ela como fazer o roubo do doce. Quando a barra caiu, ela veio correndo e tentou. Sem sucesso.
— Tirando o fato de que sou pequena, o que fiz de errado? – Ela quis saber, encarando a máquina, com as mãos na cintura.
— Faltou força.
— Mas eu fui com toda a força que tenho! – Ela protestou.
— Vamos dizer que você precisa ir com mais força que isso.
E Sophie tomou uma distância enorme da máquina e veio de encontro a ela, com o impacto, ela caiu sentada no chão. Mas o doce caiu.
— Eu consegui!! – Ela sorriu, me mostrando o doce.
— Ótimo. Agora, de novo. – Peguei a barra da mão dela e comecei a comer.
Mais uma vez ela se afastou da máquina e correu de encontro. Batendo com um enorme estrondo no vidro e caindo sentada, só para se levantar, sorrindo, com a barra de chocolate na mão.
— Eu amei isso!! Vou vir aqui toda hora para pegar um!!!
— NÃO!! Você tem que ser discreta. Ou os funcionários vão desconfiar dessa nossa trapaça. Manter a discrição quanto a isso, essa é a chave do sucesso, me entendeu?
— Mas já foram quatro!
— Por isso mesmo temos que manter a discrição.
— E você comeu duas e meia!! Eu estou no prejuízo aqui!
Olhei para a pequena que batia o pé nervosamente na minha frente.
— Tudo bem, um para mim e outro para você.
— Cada um em uma máquina, então?
— É claro, assim ninguém desconfia de nada! – Sorri para ela e Sophie me retornou com o sorriso mais diabólico que ela tinha.
— No três!! – Pisquei para ela.
— No três! – Ela me respondeu, tomando distância da máquina.
— Um... – eu disse.
— Dois.... – Ela falou.
Eu consegui ouvir a risada dela. Ela tinha paixão por aprontar.
— TRÊS!!!!! – Falamos juntos e eu dei um tapa na máquina e Sophie bateu nela.
Nós dois nos levantamos, sorrindo, com as provas de nossas trapaças nas mãos, só para virar e dar de cara com... pelo visto toda a agência estava parada na porta, inclusive uma das pessoas que não podia nem sonhar com o que a Peste Ruiva estava aprendendo.
— Oi Chefe! – Eu falei, puxando Sophie para o lado e tentando sair pela outra porta, só para dar de cara com Ziva, McGee e Kelly.
— Kelly!! Quanto tempo!! Você não tinha sido escalada para Camp Pendleton?? – Cumprimentei a primogênita do meu chefe.
E ela me encarava da mesma forma que o pai.
Olhei para Sophie, ela estava mais nervosa do que eu, porém foi corajosa o suficiente para sussurrar os números um e quinze.
— Vocês têm dez segundos para começarem a falar. – O Chefe começou.
Sophie ficou quieta do meu lado.
— Cinco segundos. – E eu garanto, se eu fosse filho do Gibbs e ele me olhasse daquele jeito, eu tinha contado tudo.
— Tudo bem... McGee, você pode pegar os registros das câmeras de vigilância.
À menção às câmeras, Sophie se encolheu.
McPuxa-Saco apareceu com um notebook em menos de um minuto e, acessando a rede interna, pegou as imagens da minha aulinha de furtar doces.
— Vocês dois têm certeza de que não irão falar nada? – Ziva disse.
Peste Ruiva se fez de desentendida e fingiu estar concentrada em abrir a barra de chocolate. Só para ter as duas que ela tinha tomadas de sua mão.
— Que ideia sem pé nem cabeça foi essa de vocês dois? – O Chefe falou, encarando a filha. Tinha escolhido ela para dobrar.
Sophie olhou para mim e depois para o pai. Preferindo o silêncio ou não.
— Quem foi o x-9? – Ela perguntou mal-humorada.
Se a situação não estivesse tensa o suficiente, eu teria rido. Muito. Pois para encarar o Chefe desse jeito, só quem tinha o DNA da única mulher que consegue encarar o Chefe, mandá-lo fazer algo e ainda sair viva para contar a história.
— Por que você acha que alguém contou? – O Chefe continuou.
Foi quando o olhar de Sophie foi atraído para uma pessoa parada na porta, alguém que eu ainda não tinha visto. Segui a direção do olhar da pequena para encontrar ninguém mais, ninguém menos que, Hollis Mann.
Se a Sophie já não ia com a cara da Coronel e a mulher não tinha feito nada além de namorar o pai dela, imagina agora que ela pode ter dedurado a travessura da pequena.
A Ruivinha continuou encarando a mulher. Encarando de verdade. E, ela não precisava falar para expressar a sua opinião quanto a presença da Coronel ali.
— Sophie Shepard-Gibbs, eu te fiz uma pergunta! – O Chefe chamou a atenção da filha, em um tom de voz que colocava qualquer suspeito em seu lugar.
— Porque ela não estava aqui no prédio! E agora está. Foi ela! – Sophie apontou deliberadamente para a porta em direção à namorada do pai.
— Por que não foi o barulho de você batendo na máquina que chamou a nossa atenção?
— Porque se fosse o barulho, a mamãe teria descido, assim como a Tia Ziva. Até a Abby, que tem o laboratório aqui embaixo, teria aparecido. Não foi o barulho. Foi ela. E ela nem trabalha aqui. E não tem nenhum caso com o CID, então eu nem sei o que está fazendo aqui. – Sophie disse em direção à Coronel e todos que estavam entre as duas se afastaram. Se Sophie fosse alguns anos mais velha, ou se ela fosse irmã gêmea de Kelly, eu tenho certeza de que a Mann não estaria mais aqui dentro, ou talvez não estivesse nem mais nesse planeta.
— Devolva os chocolates. Os dois. – Foi Jenny quem disse, chegando de não sei onde e tirando a filha de perto do pai. Sophie fez o que a mãe mandou. E eu também, afinal, eu já estava encrencado com os pais da pequena, não queria ter a minha cabeça cortada.
— Agente DiNozzo, sabe aqueles casos antigos em aberto que vocês estão reexaminando? Pois bem, agora é uma tarefa exclusiva sua. Durante o próximo mês. Quero os relatórios diretos na minha mesa, diariamente. – Ela ordenou. - E quanto a você, Sophie. Conversamos no meu escritório. Agora venha comigo. – E ela levou a garota, tomando o cuidado de não passar perto da Coronel.
O restante da equipe, junto com a Coronel, ficou me encarando.
— O que você tem na cabeça, Tony? – McGee começou, quando os demais agentes começaram a se dispersar.
— Cala a boca, novato!
— Mas Tony, olha o que você ensinou ao Pingo de Gente a fazer!
— Ziva! Pode parar, como se você não estivesse ensinando a ela como usar uma faca! Ela só queria um chocolate, mas deve ser proibido, pelo visto! – Respondi e sai da lanchonete.
— Ela tem crises de enxaqueca, chocolate é algo que ela tem que evitar comer! – Ziva retrucou alto o bastante para toda a agência escutar.
Eu estava bravo comigo mesmo por ter caído na carinha de cachorro pidão de Sophie. Estava bravo comigo mesmo, porque agora, lá no quarto andar, a Diretora está xingando a filha pelo que eu tinha ensinado a ela. E estava ainda mais furioso, porque uma pessoa tinha dedurado a pequena diretamente para o pai dela. Ninguém mais na agência teria feito isso. Ninguém. Mas uma pessoa tinha que fazer.
Quando dei por mim, Kelly estava do meu lado.
— Eu já sei o que você vai falar, portanto, pode poupar a garganta.
— Para com isso. Meu olhar de ódio não era para você, era para a Coronel. E eu nem me importo se a Sophie sabe a técnica de pegar o chocolate sem pagar... isso me beneficia. – Ela disse me empurrando para o elevador e nos levando para o laboratório da Abby.
Parei em encarei a garota. Ela tinha ficado doida?
— Eu sei... é completamente fora de mim aceitar algo errado que você faz, Tony. Mas pense bem... Quem foi que dedurou vocês?
Nessa hora, Ziva e McGee apareceram e Abby estava tentando entender o que estava acontecendo ali.
— Resumo: Tony ensinou a Soph como se pega uma barra nas máquinas, a Coronel viu e chamou o meu pai. Jenny ficou sabendo e a tirou de lá, o sermão deve estar apenas começando para Sophie nesse momento. – Kelly falou correndo.
— A Mala Sem Alça dedou a Soph? – Abby tinha um olhar assassino para a porta.
— Sim... as coisas devem estar pegando fogo lá em cima agora. – McGee a respondeu.
— E o que você tem em mente agora, Kelly? – Perguntei curioso. Era lógico que Kelly iria salvar o pescoço da irmã.
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— Sophie Shepard-Gibbs, mas você não me dá um minuto de paz!!! O que foi que eu falei para você? Será que você é incapaz de me escutar?
Minha filha estava de pé, ao lado da minha cadeira, se balançava nos próprios pés e não me encarava.
— Olhe para mim. – Ordenei.
Ela levantou a cabeça e me vi encarando os olhos azuis de Jethro. Ótimo!! Poderia ficar dez vezes mais furiosa agora.
— O que eu te falei? – Demandei.
— Para ficar longe da área da MCRT, longe dos elevadores e dentro dos limites do prédio. – Ela recitou as minhas palavras.
— Então me diga, o que você pensa que estava fazendo?
Ela me encarou.
— Estava com fome. – Mentiu descaradamente.
— Não, você não estava. Acabou de lanchar aqui na minha sala.
Ela desconversou e observou o porto.
— Não faça isso, mocinha. Não me ignore.
— Estava pegando doces. – Ela disse.
Sem pagar. Você sabe o que isso significa, Sophie?
Ela desviou o olhar e começou a se balançar com mais velocidade.
— São só chocolates! – Se defendeu.
— Não são chocolates, Sophie. Isso se chama furtar. Você deliberadamente pegou não uma ou duas, mas seis barras de chocolate de dentro da máquina sem colocar a devida nota para comprá-la, Sophie. Isso é errado. Muito errado. Isso é um crime, Sophie. Você entende o que eu quero dizer?
Ela se encolheu quando eu disse que era um crime.
— Eu vou ser presa? – Me perguntou.
Eu encarei a minha filha. Mostrei as quatro barras de chocolate que tinha tirado das mãos dela e de DiNozzo. Outras duas foram comidas.
— Não. Mas eu vou fazer você devolver essas barras para dentro da máquina com toda a agência vendo E vou te emprestar o dinheiro para você pagar pelas outras duas que vocês comeram e a senhorita vai me pagar, porque eu sei que você tem dinheiro guardado.
— Sim, senhora. – Ela disse em um tom bem baixo. – Assim que chegar lá em casa eu te entrego o dinheiro.
— Acho muito bom. E Sophie... – Ela se encolheu – Nunca mais repita isso. Nunca mais. Não importa quem te ensinou, você nunca mais vai fazer esse truque de tirar uma barra de chocolate de dentro da máquina sem pagar.
— Eu não vou, mamãe, me desculpe. – Ela foi sincera. – A senhora quer que eu vá lá embaixo e coloque as barras no lugar?
— Vamos nós duas. – Me levantei da cadeira e mandei que ela seguisse na minha frente.
Passei com ela na frente de metade da agência, para que ela soubesse que o que tinha feito era completamente errado, a cada pessoa com quem ela cruzava pelo caminho, ela ficava cada vez mais vermelha. A última sendo Jethro.
— Onde vai? – Ele perguntou para a filha.
— Devolver as barras de chocolate e pagar pelas que comi.
Logo em seguida, a trupe toda apareceu. DiNozzo olhou para Sophie, depois para mim e para Jethro.
— Diretora, Chefe eu... – Ele começou. – Quero pedir desculpas por ter ensinado Sophie o que ensinei. E quero dizer que isso não vai mais se repetir.
Era a primeira vez em muito tempo que Tony chamava Sophie pelo nome e não pelo apelido que ele tinha inventado.
Eu só encarei o Agente Sênior. Jethro fez o mesmo. Ele entendeu a deixa e pediu licença, tinha uma pilha de relatórios para terminar ainda hoje.
Sophie ficou olhando DiNozzo ir, antes que ele desaparecesse escada acima, ela o chamou.
— Tony! Tony!
Ele se virou na hora.
— Não foi só culpa sua... eu pedi que você me ensinasse, se lembra? Então eu também tenho que te pedir desculpas, se eu não tivesse te pedido para me ensinar, nós dois não estaríamos encrencados. Me desculpe. – Ela pediu olhando para ele. A essa altura, alguns agentes já tinham parado para ver a parte dois “Das Confusões de Tony e Sophie” e minha filha aproveitou o momento para continuar.
— E eu quero pedir desculpas para todo mundo, o que eu fiz foi errado e não vai se repetir. Mas quero pedir mais desculpas ainda para minha mãe que sempre me ensinou o que é certo e hoje eu a deixei triste por ter feito isso e, ainda, fiz o que fiz dentro do local de trabalho dela, para o meu pai e para todo mundo que ficou ofendido com a minha atitude. – Ela terminou. – Como vou devolver os chocolates, mamãe?
Pedi licença e com a chave reserva que tenho, abri a máquina.
Sophie ficou na ponta dos pés para colocar o chocolate no lugar onde pertencia. Depois que a máquina foi fechada, fez como se fosse pedir duas barras e inseriu as notas, só não terminou o pedido e as duas barras que ela e Tony haviam comido estavam pagas.
— Pronto. – Disse toda sem graça.
— Agora a mocinha vem comigo, pois está de castigo até o final do recesso de inverno. – Apontei para a porta e ela foi sem reclamar.
Quem assistiu a cena só abriu caminho para que pudéssemos passar, ninguém falou nada.
De volta ao meu escritório, Sophie se sentou no sofá e pegou o livro das Crônicas de Nárnia para ler. Ficando quieta até a hora em que fomos embora.
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— Você por acaso tem algum plano se formando nessa sua cabeça, Kelly? – Tony me perguntou assim que acabei de atualizar, Abby.
— Na verdade, Tony, eu até tenho. Mas não envolve nenhum de vocês. Esse é só comigo.
— Me diga que você vai nos envolver, por favor! Alguém tem que colocar aquela fofoqueira no lugar. – Abby falou.
— Já não está tão assim nas minhas ou nossas mãos, Abby. Nós tentamos, e ela não desistiu. Agora eu vou conversar com ela pessoalmente. Ela mexeu com a garotinha errada. – Disse e saí do laboratório.
— Se você precisar de alguém para ser seu álibi em alguma coisa, me chame! – Ziva falou alto.
Eu não precisava de um álibi. Não, eu precisava jogar na cara da Loira Chata que com a minha irmã ninguém mexe, mesmo se ela estiver fazendo alguma arte.
Saí em direção ao elevador, eu sabia onde essa criatura iria estar. Cheguei na sala do esquadrão e lá estava ela, se despedindo do meu pai. Ai que vontade de brincar de tiro ao alvo. E hoje em nada tinha a ver com o fato de que ela era a namorada do meu pai... hoje tinha a ver com o fato de que ela tinha encrencado a minha, já encrencada, irmãzinha.
Eu nem prestei muita atenção no que os dois diziam, só fiquei observando, à espera do momento certo. Quando ela se despediu e foi em direção ao elevador que a deixaria na portaria eu fui atrás, e nem o meu pai me chamando iria me parar hoje.
Cheguei quando as portas estavam se fechando e coloquei a mão para impedi-las. A Coronel, que estava em seu uniforme me olhou assustada e deu um passo para o lado. Apertei o botão para as portas se fecharem mais rápido, temendo que o meu pai se intrometesse no que eu tinha para fazer. O elevador começou a descer e eu o parei com o botão de emergência.
— O que você fez?
Me virei para a mulher.
— Não, a pergunta aqui é: o que você fez? – Retruquei. Feliz em notar que ela era exatamente da minha altura.
— Garota, coloque esse elevador em movimento. – A mulher achou que poderia me mandar a fazer alguma coisa. Tadinha.
— Não. E sabe por que, Coronel?
Ela deu um passo à frente como que tentando me intimidar.
— Quem é você? – Quis saber.
— A irmã mais velha da garotinha que você, muito sorrateiramente, teve a brilhante ideia de dedurar.
E ela deu um passo para trás.
— Você é a filha mais velha de Jethro!
— Parabéns! Quer ganhar um prêmio, Sherlock?
— Não seja tão sarcástica. Estava ajudando a sua irmã, o que o Agente DiNozzo...
— Pode ir parando! - A cortei. – Você não vai ajudar em nada com a minha irmã. Você não é a mãe dela, não é parente e muito menos uma das pessoas de quem ela gosta. Você nada mais é do que uma intrometida que se achou no direito de tentar ser a mãe de uma menina que você nem conhece.
— O que ensinaram para ela é errado!
— Dá para parar te tentar defender o seu ato com o que o Tony estava fazendo? Será que você não entendeu o ponto aqui? Você está sobrando!! Ninguém liga para você! E o mais importante aqui: FIQUE LONGE DA MINHA IRMÃ!!! COMPLETAMENTE LONGE!! EU NÃO QUERO SABER DA SUA PRESENÇA PERTO DELA DE JEITO NENHUM!!! E mais um desses ataques de querer ser mãe de filha que não é sua, e eu vou ter todo o prazer o mundo em fazer de você um alvo móvel para a minha aula de tiro. E te digo uma coisa, eu sou a melhor aluna da turma na Academia Naval, então, você já sabe.... – Me virei e coloquei o elevador para funcionar. – Agora suma desse prédio e nem ouse dar as caras em lugar nenhum perto da minha família enquanto eu estiver por aqui. Porque se eu quiser te matar, eu conheço as pessoas certas para encobrirem um crime para mim.
Chegamos ao lobby e a Coronel me olhava assustada.
— Não sabia que Jethro tinha uma defensora tão ferrenha.
— Não estou defendendo o meu pai. Estou defendendo a minha irmã!! E você tem sorte de estar viva. – Falei quando as portas se fecharam.
Não faço a menor ideia do que ela fez da infeliz vida dela, só sei que quando voltei para a sala do esquadrão, Tony estava sentado em sua mesa, praticamente escondido atrás dos arquivos de casos em aberto. Ziva e McGee pareciam felizes de ficarem livres daquilo.
— Seu pai acabou de sair daqui para te procurar. Acho que ter as duas filhas aprontando no mesmo dia, foi demais para ele. – McGee comentou.
— A Peste Ruiva já pediu desculpa, já devolveu os doces e aprendeu a lição dela. – DiNozzo a defendeu.
— É Tony, ela não estaria de castigo até o fim do recesso de inverno se não fosse por você, não é mesmo? – Ziva alfinetou.
Tony voltou sua atenção para os relatórios.
— E a Sophie? – Perguntei.
— Na sala da Diretora. Castigo. – McGee me informou apontando para o quarto andar.
Pensei se valia a pena ir lá agora.
— Melhor eu não tentar tirar a minha irmãzinha do castigo... – Pensei em voz alta.
— Acho muito bom. – A voz do meu pai soou bem alta atrás de mim.
— Ah.. oi pai! – Disse na maior cara de anjo que consegui.
Ele só me encarou.
— Sério?! Tá preocupado com a loira aguada?
Ele fechou ainda mais a cara.
— Se te deixa melhor, ela estava bem viva quando deixou o elevador. – Dei de ombros.
— Kelly você...
— Eu só pedi que ela ficasse bem longe da minha irmã. E pedi educadamente. – Complementei.
Meu pai não aceitou muito bem a minha resposta, mas preferiu não discutir na frente da equipe.
— Vocês dois – apontou para Ziva e McGee – podem ir. DiNozzo, acho que você tem que entregar alguns relatórios para a Diretora.
— Sim, Chefe. – Era a primeira vez que eu via Tony tão quieto.
Tim e a Ninja Louca foram embora e eu me vi parada no meio dos dois, sem ter o que fazer.
— Quer saber? Eu vou também... vejo vocês na festa do Ducky amanhã. – Me despedi.
Antes de sair, ainda consegui ver Jenny parada no alto das escadas, esperando a boa vontade do Tony de entregar os relatórios para que ela pudesse declarar o recesso de Natal iniciado. Sophie estava parada do lado dela, completamente quietinha e cabisbaixa.
É, os sermões da diretora funcionam.


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Notas finais do capítulo

Septo que tenham gostado... as coisas vão dar uma pequena acelerada agora, mas nada que comprometa o andamento da história.
Obrigada a você que leu!! Até o próximo!!
Xoxo



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