Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 87
Provação


Notas iniciais do capítulo

Tem resquícios de Festa do Pijama, tem família reunida, tem aposta e tem surpresa!!
Espero que gostem!
Boa leitura!!



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— Já tivemos festas melhores, eu tenho que admitir! – Abby choramingou assim que nos levantamos no sábado de manhã.

— Não foi tão ruim assim... – Ziva disse. Ela tinha sido incumbida de ser o despertador de Sophie. Isso teria sido fácil, se a Peste Ruiva não tivesse se enfiado dentro do caixão. – Anda, Pingo de Gente, sai daí.

— Uma hora ela sai. Costuma ficar muito abafado aí dentro. Daqui a pouco ela pula fora daí. – Abby disse.

Ziva estava igual à uma onça enjaulada andando na frente do caixão.

— Pensa bem, Ziva, podia ser pior. Anda temos quase duas horas até o horário combinado com o Gibbs. – McGee tentou apaziguar a situação.

— Será que o Chefe vai levar a Coronel? – Abaixei o tom para perguntar.

Abby apertou Bert e disse:

— Tomara que não. Ou a nossa festa de compras vai virar um velório.

— Sophie abre logo esse caixão ou eu vou dar um tiro nisso! – Ziva perdeu completamente a paciência.

Sophie abriu o caixão, olhou para a “tia” e depois para Abby.

— Abbs, isso aqui é feito de que?

— Esse é de metal.

Sophie voltou seu olhar para Ziva:

— Se atirar nisso, tia, vai acabar acertando em qualquer coisa, menos em mim. – E fez menção de fechar o caixão novamente.

— Mas você não vai fechar isso de jeito nenhum! – A israelense soltou, segurando a tampa.

— Ainda é cedo... – A Peste Ruiva choramingou se deitando novamente e cobrindo o rosto.

— É hora de levantar! Vamos logo! – Ziva tirou Sophie de dentro do caixão e a colocou de pé do seu lado. – E nada de contar para a sua mãe que você cochilou dentro do caixão. É bem provável dela ter um trem.

Treco! – Falamos ao mesmo tempo.

— Isso aí também.

Sophie desistiu de dormir e veio se juntar a nós na bancada da cozinha. Abby colocou as panquecas na frente dela e depois a calda de chocolate.

— O que acontece na Festa do Pijama, fica na Festa do Pijama. – Dissemos juntos.

— Mas essa ainda poderia ter sido melhor! – Abby continuou a resmungar.

— Abbs, só faltou dependurar o McGee na janela... O que mais a gente poderia ter feito? – Ziva perguntou.

— Não sei... algo realmente memorável.

— Abbs... memorável ou não. A Festa foi boa! – Garanti.

— Eu acho que se fizermos mais barulho da próxima vez, é bem capaz que você seja despejada! – Sophie disse. – Esqueceu da sua vizinha ameaçando chamar a polícia?

— É claro que não, Jibblet. Ziva não vai deixar...

— “A polícia já está aqui!” Com certeza foi o melhor jeito de espantar a mulher, não foi Ziva? – Falei imitando-a

— Não enche, Tony. Ela queria chamar o Seguro Social para levar a Sophie embora.

Serviço Social. E ela estaria errada. A Peste Ruiva tem mãe e pai, que não estão conversando direito, mas ela tem. – Respondi e à menção aos pais, Sophie me olhou feio.

— Que foi agora? Tá mal-humorada hoje? – Dei um puxão na ponta do rabo de cabalo que ela usava.

— Não... só não gosto que me lembrem que meus pais quase não estão conversando...

— Foi mal aí, Pestinha. Já acabou com as panquecas?

— Posso comer mais?

— Você comeu cinco! – Abby exclamou.

— Estão gostosas, e eu quero mais chocolate... digo, calda de chocolate.

— Se essa garota aparecer com dor de cabeça não é nossa culpa! – McGee foi logo falando.

— É claro que não, McMeuBichãoDePelúcia!! A culpa é do sol! Ou da namorada do meu pai! – Sophie falou com toda seriedade. – Kells já deu sinal de vida?

— Sim. Vai nos encontrar ainda de manhã. Depois quer conversar com a gente, antes que você volte para casa.

— E eu acho que sei o assunto! – A Pestinha abriu um sorriso diabólico.

— Que bom, agora vamos trocar de roupa, você sabe como seu pai detesta esperar! – Ziva pôs marcha na molenga.

— Papai não odeia esperar. Ele odeia comprar roupas.

Quarenta minutos depois saímos. E íamos chegar atrasados... Coitada da minha cabeça.

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— Bom dia, pai!! – Kelly chegou com um sorriso, o rosto cansado e com olheiras enormes.

— Achei que você só chegaria depois do almoço! Que horas você saiu?

Ela deu uma risada.

— Para falar bem da verdade, mal dormi... saí às três da manhã. Estou muito curiosa com o que a Moranguinho vai aprontar hoje. E tinha que buscar uma pessoa. – Ela apontou na direção das costas dela. Levantei meus olhos e vi meu pai.

— Você saiu de Annapolis e foi para Stillwater buscar o seu avô? Dirigiu tudo isso sozinha?

— Na verdade, passei para pegar Henry. Dividimos o volante e ainda conseguimos dormir em Stillwater. Mas vovô também estava ansioso para ver a pequena. Que está atrasada, por sinal... – Ela conferiu o relógio.

— Sim, eles estão atrasados. Festa do Pijama na casa da Abby.

A risada de Kelly foi mais alta ainda...

— O que será que aprontaram dessa vez?

Levantei a minha sobrancelha.

— Na última festa, Sophie saiu da casa de Abby cheia de tatuagens de henna pelo braço e no pescoço. Jen levou quase uma semana para tirar tudo aquilo. E como o senhor pode imaginar, ninguém tinha a menor cara de culpa. Foi hilário ver Sophie toda tatuada... e de maria-chiquinha e de coleira e plataformas... Vou parando por aqui, antes que o senhor dê um treco.

— Acho bom. – Falei entredentes e tentei imaginar a minha caçula tatuada, de coleira e botas plataformas. Era uma imagem que não combinava com a garotinha ruiva e fashionista que eu conhecia.

Henry e meu pai se juntaram a nós, mais atrás, vinham Ducky e Jimmy.

— Bom dia, vejo que a nossa estilista particular não quis cair da cama hoje. Me pergunto se Jennifer vai vir também, ou se só vai deixá-la aqui. – Ducky começou dizendo.

— Jen não vem. – Kelly deu certeza. – Mas pediu que Soph estivesse em casa antes das dezoito.

— É claro. Vinte e quatro horas longe da filha deve ser demais para ela. – Meu pai disse.

— VOVÔ JACK!!! – Ouvimos o grito antes de vermos a dona. Logo Sophie entrou no nosso campo de visão, atrás dela, vinha o restante da equipe. Fiquei curioso com as presenças de Abby e Ziva.

— Olá Pimentinha! Quanto tempo! E você não vai parar de crescer nunca?? – Jack a cumprimentou. Sophie se esticou toda para que ele não tivesse que se abaixar.

— Bom dia para todo mundo! – Sophie disse depois de cumprimentar o meu pai.

— Então é você quem vai nos deixar apresentáveis para o casamento? – Ducky perguntou.

— Mais ou menos. Eu só vou mostrar os locais que a Kelly mais gostou das roupas... Mas se precisarem, eu dou pitaco também! – Ela apontou para um trio de lojas no final da rua.

— Eu não falei nada! – Kelly se defendeu.

— Você não precisa falar, Kells. Basta olhar! E eu sei o que você está pensando! – Sophie garantiu, depois deu a mão para o meu pai e o guiou rua abaixo.

— Peste Ruiva não se esqueça de mim!

— Meio difícil me esquecer de você, Meu Italiano de Araque Preferido. Você não fica quieto. – Ela se virou para Tony ao dizer isso. E depois resolveu por Kelly na conversa: - Kells, a gente já despacha o Tony de uma vez, ou deixa ele esperando?

Pronto, estava iniciada a briga.

— Deixa esperando. – Todos falaram ao mesmo tempo.

— Tony, sendo isso uma democracia. Você vai ser o último. – A ruivinha disse.

— Gosto menos de você a cada dia! – DiNozzo murmurou.

— Você sabe e eu sei que isso é mentira, Tony. – Ela falou toda convencida.

Tony, numa atitude infantil, mostrou a língua para ela. Eram duas crianças.

Chegamos na primeira loja. Smokings. Precisei me segurar para não respirar fundo e sair correndo dali. A provação estava prestes a começar.

— Sério, já vamos para a roupa do noivo e do pai da noiva? – Ziva quis saber.

— Assim o papai pode ir embora mais rápido, ele não gosta disso. – Sophie falou e ficou sentada em um canto, bem longe de mim, esperando que Kelly resolvesse qualquer coisa com a atendente.

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Eu juro que odiei a fala de Soph. “Assim o papai pode ir embora mais rápido, ele não gosta disso.” E ela nem tinha feito questão de chegar perto de papai. Definitivamente tinha algo muito errado acontecendo. E eu precisava saber o que.

— Hei, Pestinha. O que foi? – Perguntei enquanto meu pai, meu avô e Henry iam tirar as medidas.

— Nada.

— Então me explica, por que você nem cumprimentou o papai?

— Eu dei bom dia para ele.

— Sophie, você não me engana, o que foi?

— Ele não queria vir. Não queria que eu viesse. Ele não disse, mas preferia que fosse a Mala Sem Alça. Além do mais, o papai está deixando a minha mãe triste. E eu não gosto de ver a minha mãe triste.

— E por isso você vai deixar o papai triste?

— Ele não tá triste, Kelly. Ele só não gosta disso. Logo a parte dele acaba, e ele vai poder ir embora, para fazer sei lá o que. – Ela deu de ombros.

— E se eu dissesse que não quero que ele vá? Que quero todo mundo junto, inclusive a Jenny?

— Minha mãe não vai vir. Ela me disse que isso era entre mim e papai. E eu acho bom, o papai fica soltando piadas para a mamãe quando ele acha que eu não estou prestando atenção. Outro dia a chamou de Diretora, mas pareceu que ele fazia pouco caso do cargo dela. Eu não gostei disso. Minha mãe trabalha muito para conseguir fazer o que faz e eu já vi ela conversando por horas com o Secretário da Marinha ou com alguma rede de TV, pedindo desculpas pelo comportamento do papai, e garantindo que ele não vai mais fazer isso, só que o papai vai lá e faz tudo de novo... e faz a minha mãe de boba, porque quem toma xingo é ela. E tudo fica sempre igual para ele. Minha mãe merece respeito.

— A Jenny te falou isso? – Fiquei intrigada, ela jamais comentou algo assim comigo.

— Eu já escutei algumas dessas conversas quando estava no prédio do NCIS e, também, é fácil ver que a mamãe tá triste, e quando eu pergunto, ela sempre faz o mesmo gesto, brinca com o cordão dela. E nos dias em que a Mala Sem Alça aparece são sempre piores. Eu queria poder fazer alguma coisa para a Coronel sumir desse planeta e tentar mostrar para o papai como nós estávamos antes da explosão. Mas, às vezes, eu acho que é ele que não quer saber disso. Assim, eu quero desistir também.

— Você não pode desistir! É você o elo entre os dois!

— Kells, o papai já me deixou uma vez. Ele pode fazer isso de novo. Eu não quero pensar que agora ele vai ficar para sempre, porque ele não vai. E foi isso que eu falei para ele.

— Você falou o que? – E aqui chegamos na conversa do elevador que eu tinha ficado sabendo algumas partes.

— Foi meio um trato, falei que ele tinha que vir hoje, não porque eu iria ajudar, mas por você, para te deixar feliz. Pedi que ele não te deixasse mais triste, e disse que depois do seu casamento, ele pode voltar para o México, pode ir embora com a namorada que eu não me importaria. Eu não me importo se ele se for de novo. Talvez assim as coisas fiquem mais fáceis, depois de um tempo.

Eu estava pasma. Boba com até onde Sophie tinha ido para que eu ficasse feliz, para tentar deixar a mãe dela feliz. A ciumenta estava desistindo para não ver ninguém sofrer.

— Você não pode falar uma coisa dessas! Papai vai achar que foi a Jen quem te mandou dizer.

— Ele já falou isso. E eu defendi a minha mãe. Ela não falou nada. Mamãe não fala do papai ou com o papai, a não ser quando ela precisa. Ela tá magoada. E isso está me deixando magoada.

— Eu vou conversar com a Jen mais tarde.

 - Não vai não!! Eu não vou deixar ninguém falar com a mamãe sobre o papai. Ela não merece isso!! – Sophie disse naquele jeito protetor que ela tem. Um jeito bem parecido com o do meu pai.

Eu ia retrucar, mas o três apareceram com a primeira prova dos smokings.

— Sua deixa. O que você acha? Qual das três faixas fica melhor? – A empurrei para perto dos três, para que ela desse o seu pitaco.

A atenção da minha irmã foi tomada pela escolha. Que todo mundo participou. E depois de meia hora de discussão, acabamos com a faixa prata, já que os smokings em si eram de um tom escuro de cinza.

— Quantas provas vão ser? – Perguntei. Tony tinha clamado a minha irmã logo depois da escolha e arrastado para o outro lado da rua.

— Três, senhorita Gibbs. Contudo, não precisa ficar preocupada, te comunicaremos com antecedência por conta do seu avô.

— Muito obrigada, era exatamente com ele que eu estava preocupada. – Agradeci e vi os três vindo na minha direção.

— Bem, pai. O senhor está liberado. – Falei para ele. Decidi seguir a cabeça de Sophie, ela estava por perto com mais frequência do que eu. - Vai ter que vir aqui mais três vezes. Mas será com hora marcada e quando o senhor puder. Sem complicações. – Garanti.

Ele assentiu e procurava por algo, ou melhor, por alguém.

— Ela está do outro lado da rua. Tony a levou para lá. E pelo visto isso vai demorar, DiNozzo pode ser mais indeciso que uma mulher. – Tentei fazer uma piada.

— Achei que seria pior. – Ele falou me seguindo para a próxima loja. E eu estranhei, já que pensei que ele iria embora na primeira oportunidade.

— Falando em pior... – Eu comecei, antes dei uma olhada em volta e vi que vovô estava conversando com Henry, sobre como as duas netas dele são teimosas e cabeças dura, eles não escutariam a nossa conversa.

— O que foi Kelly?

— Dá para disfarçar a sua birra com a Jenny quando o senhor estiver perto da Sophie? Ela tem a tendência de ser superprotetora com quem ela ama, mas com Jen isso é elevado a outro nível. E eu não quero ver o que aconteceu, ou melhor, está acontecendo aqui hoje de novo. Sophie está te evitando porque viu o senhor ser, como eu vou explicar, desrespeitoso com Jen e o cargo que ela ocupa... e a pequena odiou isso.

Meu pai parou e me encarou.

— Sim, Sophie ama o senhor, apesar de que está muito mais magoada do que nós pensamos que ela estaria com toda a história do México e da sua namorada, mas saiba, pai, que, se ela tiver que escolher, ela vai escolher a mãe. E nem vai olhar para trás. Assim, trate de começar a respeitar a Jenny e controlar o seus pensamentos e suas ações perto da sua caçula, ou o senhor vai despencar da escala de preferência para qualquer ponto bem abaixo do DiNozzo.

Abby apareceu na porta da loja e chamou nossos nomes. Ela estava disposta a incluir todo mundo por quanto tempo ela conseguisse. E faria qualquer coisa para o clima ser melhorado.

— Dê um jeito na Sophie, pai. Ela tem seis anos, ou isso só vai piorar à medida que ela ficar mais velha. Sophie não sou eu. Eu passo por cima de tudo, engulo muita coisa ruim para poder perdoar as pessoas, Sophie é muito parecida com o senhor. Até demais. Ela não perdoa facilmente. Apesar de ter um bom coração, ela não faz isso, ainda mais se alguém que ela ama está sendo maltratado. – Indiquei com a cabeça o local onde ela estava, papai saberia o que fazer.

Agora sim, ela estava dando um milhão de pitacos nas roupas dos meninos da equipe. Tony tinha tirado algumas gravatas para poder brincar com Tim, a maioria com estampas bem duvidosas, e uma dessas, agora estava amarrada em volta da cabeça de Sophie, e ela parecia o Rambo...

— Então, Rambete. Qual gravata vai ser para o McCharmoso aqui?

— Mas Tony, temos que começar pelo terno. Tim fica bem de azul e de cores bem escuras. – Ela dizia.

— Eu vou de azul! – Tony falou.

— Não, você vai com aquele terno cinza claro ali. – Ela apontou. – Aquele com três peças. Vai ficar muito bom em você. – Ela tinha um sorriso bem sapeca quando falou isso. Observei o terno em questão e notei que, no geral, combinava com o vestido de Ziva. Olha o vespeiro que essa garota estava se metendo!

DiNozzo foi até o terno, que estava bem perto de nós.

— Esse aqui, Peste Ruiva?

— Sim! – Ela pulou do sofá onde estava. – Vai lá e experimente. – Saiu empurrando o pseudo italiano até os provadores.

— Rápido assim, convencer o Tony? – Meu avô perguntou espantado.

— Vovô, o Tony não vai ficar só naquele terno hoje... quer apostar? – Ela abriu um sorriso enorme.

— Pode ir parando, já estou vendo que você tá passando muito tempo ao lado do DiNozzo. – Intervi. Meu avô me encarou. – Vai por mim, vovô. Ela tá adorando fazer isso e depois falir a pessoa.

O olhar inocente de Sophie para mim, não enganava ninguém. 

— É mesmo, Sophie? – Ele quis saber.

E a danadinha só olhou para o outro lado da loja, como se estivesse muito concentrada em uma determinada gravata borboleta para Ducky. Vovô vendo isso, só deu uma risada.

— Eu não conheço a Jenny muito bem, não sei como ela foi quando criança, mas isso aí... Isso ela herdou do pai.

Logo os meninos voltaram. E como minha irmã bem disso, Tony resolveu que precisava renovar o guarda-roupas. E aí veio a brincadeira, até um terno cor-de-rosa apareceu na roda, não sei quem pegou se foi Abby ou Tim, que estava cansado de ser o alvo constante das brincadeiras por conta das gravatas. Sorte a nossa que ele não fazia ideia da gravata e das meias estampadas de abacaxis que colocamos no meio das compras dele.

Duas horas depois de muita risada – e de termos espantado metade dos clientes da loja – Tony se deu por satisfeito com três ternos, sem contar o que ele usaria no casamento, e resolveu fechar a conta. A essa altura, Ducky já tinha feito as compras dele, já estava do lado de fora tomando um chá e conversando com o meu avô que achou toda a nossa brincadeira barulhenta demais. E durante estas duas horas, Sophie não chegou perto do meu pai.

— Tony, eu acho que você está esquecendo uma coisinha... – Sophie foi toda saltitante para perto dele. Mais atrás, Abby e Ziva estavam rindo.

— Peste Ruiva, o que você aprontou dessa vez?

— Eu não estou sempre aprontado... Até parece que eu tenho uma agenda onde está escrito o que eu vou fazer com cada pessoa que conheço durante o dia!

— Não comprei isso. Você sempre vai aprontar...

— Eu não apronto... – Ela garantiu.

Tony olhou para ela. Nem Tim estava escondendo mais a risada. Henry teve que sair da loja ou ele ia dar uma parada cardiorrespiratória.

— Sophie Shepard-Gibbs... o que você fez agora. – DiNozzo estreitou os olhos em direção à minha irmã.

— Ha! Chamou na responsabilidade, agora eu quero ver o que você vai fazer, Pequena! – McGee desafiou.

Sophie muito deliberadamente só mostrou a camisa. Uma camisa cor de rosa.

— Você esqueceu essa camisa, Tony. – Ela colocou junto com as demais peças.

DiNozzo só olhou para a peça e depois para a minha irmã. Dependendo da resposta dele, alguém ia ganhar muito dinheiro. Tínhamos apostado que Tony não levaria uma camisa cor de rosa nem por decreto, nem se meu pai o estapeasse repetidas vezes na cabeça. Sophie disse que ele levaria e que usaria. Assim, cada um apostou uma grana, até Sophie – e não me perguntem onde ela conseguiu dinheiro – E a reação de Tony definiria o grande ganhador. Até o meu avô entrou na brincadeira. Ducky também queria saber o vencedor. Meu pai não deu ouvidos e saiu murmurando qualquer coisa sobre sermos cegos.

— Eu esqueci isso? – Ele quis saber.

— Esqueceu. – Ela sorria.

— Tudo bem. É uma ótima cor para se usar na praia. – Foi a resposta dele e depois se virou para o atendente e pediu que embrulhasse.

Eu tinha acabado de perder cinquenta dólares. McGee apostou setenta e cinco, Ziva cem. Abby apostou o que ela tinha na bolsa, algo entorno de sessenta dólares mais um chiclete. Henry tinha perdido cento e cinquenta dólares e uma vida de escravidão, que incluía fazer o que Sophie quisesse, quando ela quisesse.

Tony pagou pelas roupas, depois foi a vez de um muito pasmo Tim fazer o mesmo. Do lado de fora, encontramos com os demais, e eles queriam saber quem era o grande vencedor. Caminhamos até eles, ainda muito chocados para dizermos algo.

— E então, quanto eu ganhei? – Henry quis saber.

Ducky olhou para todos nós e parou em Sophie.

— Você, Henry, me deve cento e cinquenta dólares e uma vida de escravidão. – Minha irmã respondeu.

Meu pai segurou a risada.

— Gibbs, não é para rir. Eu perdi até o meu chiclete para essa pessoinha aqui! – Abby chorou.

Meu pai riu com gosto. E ninguém entendeu.

— Se importa em explicar onde está a graça da situação? – Perguntei enquanto abria a carteira e pegava o dinheiro, Sophie estava parada do meu lado com a mãozinha estendida, esperando que eu entregasse a nota. Assim que eu entreguei a nota, ela passou a cobrar um por um.

Tony muito calmamente estava sentado em uma das cadeiras, observando minha irmã pegar o prêmio. E para o meu espanto, quando ela pegou o dinheiro de Henry, se sentou do lado dele e falou:

— Temos $545, isso dá $272,50 para cada um. – Ela disse toda feliz.

— O QUE?!! – Gritamos ao mesmo tempo.

Foi só então que entendi a gargalhada do meu pai.

— O senhor sabia?

— Eu avisei que vocês são cegos. Esses dois combinaram essa aposta enquanto vocês estavam discutindo a gravata do Palmer.

Olhamos para os dois trambiqueiros.

— Me devolve meus cinquenta! – Demandei.

— NÃO! – Os dois disseram.

— Aposta é aposta, Kelly. E você deveria ser mais esperta que sua irmã quanto a isso. – Tony disse com um sorriso no rosto.

Olhei para Sophie, ela, feliz da vida, guardava o dinheiro na bolsa que ela levava.

— E o que você vai fazer com esse dinheiro? – Abby quis saber.

— Guardar no meu cofrinho.

— Mas são quase trezentos dólares aí!

— Eu sei, Henry... meu cofrinho já tá cheio, a mamãe sempre me dá o troco do supermercado...

— E depois que não couber mais dinheiro no cofrinho, o que você vai fazer com ele? – McGee perguntou.

— Vamos todos para a Disney!! E eu vou pagar!

Minha irmã me surpreendia a cada dia.

— O único lugar para onde vamos agora é almoçar. – Meu pai disse.

Começamos a andar, Tony e Sophie ficaram para trás, até o chiclete eles tinham divido de forma igual – um foi partido na metade. E foi quando ouvi:

— Como vamos dividir a vida de escravidão do Henry? – Quis saber Tony.

— Vocês não comecem! – Sibilei na direção deles e foi a mesma coisa de não ter feito nada, eles nem se abalaram.

— Muito simples, depois do almoço eu te mostro. – Sophie falou misteriosa e um arrepio percorreu o meu corpo.

O almoço foi tranquilo, tão calmo quanto pode ser quando tantas pessoas estão reunidas assim. E logo depois que saímos do restaurante, escutei a minha irmã:

— Onde está o meu escravo particular?

— O Tony está ali atrás... – Ziva disse.

— Não o Tony, o Henry!

— Sophie pode parar! – Ordenei.

— Henry... está na hora de você começar a pagar a sua aposta. Eu quero um sorvete com duas bolas, uma de chocolate belga e a outra de morango.

— Você não pode comer chocolate. – Henry disse.

— Chocolate belga e morango. – Sophie insistiu.  – Tony e você?

Tony pensou e pediu menta com chocolate.

— Eu não vou comprar sorvete de chocolate para você, Sophie. Todo mundo sabe que a sua mãe praticamente cortou o chocolate da sua vida!

Sophie olhou ameaçadoramente para meu noivo e disse:

— Minha mãe não está aqui, e ela não vai ficar sabendo disso. E, acho muito bom você comprar o sorvete para mim, ou.... – Ela parou.

— Ou o que? – Henry não tinha comprado a ameaça.

— Ou eu conto para a Kelly sobre o presente que você comprou para ela! – Ela soltou.

Henry deu um passo para trás.

— O que você comprou? – Eu quis saber.

— Como você sabe? – Henry perguntou para Sophie.

— Vá comprar o sorvete e eu te conto.

— Você é uma pestinha diabólica, garota. – Henry murmurou e saiu andando.

— Que presente que ele comprou? – Eu tornei a perguntar. Ziva, Abby e Tony estavam tão curiosos quanto eu.

— Eu não sei. – E Sophie estava sendo sincera. – Eu chutei que ele tinha comprado algo, e pelo visto acertei...

— Você não sabia? – Henry estava parado atrás dela.

— Eita... – Sophie se virou para ela. – Então eu... – E ela não conseguiu formular uma boa desculpa.

— Já que você não sabe, não tem barganha, Sophie. – Henry pegou o sorvete e me entregou.

— Mas é meu! A Kelly nem gosta de sorvete de morango!

— Nada feito, pestinha. Dessa vez você perdeu.

Sophie encarou Henry com os olhos arregalados, ela não estava acreditando no que estava acontecendo.

— Se deu mal, Sophie. – Tony falou com a boca cheia de sorvete.

Então minha irmã voltou a si, abriu um enorme sorriso e fez menção de sair andando. Só para ser bloqueada por meu pai.

— Tá indo aonde?

— Eu me lembrei que tenho dinheiro, vou comprar o meu sorvete! – Ela disse, tentando desviar dele.

— Mas não vai mesmo! A mocinha não pode comer chocolate e ao contrário do que você disse, a sua mãe vai ficar sabendo sim. Então nada de sorvete e acabou esse papo de ficar passeando na rua. – Meu pai a pegou no colo – apesar de que ela tentou sair correndo e se esconder atrás do meu avô. – e começou a levá-la em direção ao carro.

Acompanhamos os dois, tentando não rir da cara de mártir que minha irmã fazia.

— Henry, eu te odeio! Muito! – Ela soltava toda vez que as nossas gargalhadas ficavam mais altas. – E você, Tony, TINHA que ter ficado do meu lado.

— Sophie, pode parar com a birra. – Meu pai xingou e ela ficou calada, cruzando os braços e olhando para frente. Quando ele falava com tal autoridade até ela sabia que não tinha alternativa.

Papai pegou a mala de Sophie no carro de Abby e disse que a levaria para casa, assim como meu avô. Eu aproveitei que eles foram e pedi que os demais ficassem, eu tinha que conversar com eles.


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Notas finais do capítulo

Sophie não tem sete anos e já saiu cheia de tatuagens de henna... e agora dormiu no caixão... acho que a Jenny vai ficar com o cabelo branco antes da hora.
Pegaram a referência à Hawaii Five-0??
E no próximo capítulo, Sophie X Gibbs de novo!!
Obrigada por lerem!
Até!!
xoxo



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