Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 86
Planos




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Estava no MTAC, finalmente os meses de vigília tinham dado resultado. Benoit apareceu em solo americano e Tony conseguiu colocar o rastreador em sua mala.

Ele não estava só. Outras três pessoas estavam com ele. E, ao ver uma delas, Tony deu um passo para trás.

— O que foi Tango 8?

— Eu já vi aquele homem antes. – Ele murmurou ao colocar as malas no porta-malas da limousine.

— Qual deles?

— O careca. – Ele bateu a porta e se afastou do carro, indo pedir uma gorjeta à Benoit. Falou qualquer besteira e não conseguiu nada. – Já reparou que quanto mais rica a pessoa, mais mão de vaca ela é? – Ele disse ao acompanhar o carro se afastando.

Eu tinha agora o sinal do GPS das malas e do carro. La Grenouille não iria muito longe sem que eu soubesse.

— Tony, o que você estava falando sobre conhecer um dos homens? – Perguntei.

— Senhora, não posso falar por aqui. Reporto mais tarde. O Chefe está me ligando.

— Tudo bem. Vá para a cena do crime. – Passei as informações.

— Ele não vai ficar nada feliz com o meu atraso. É o terceiro em menos de dez dias.

— DiNozzo, não se preocupe com o Jethro.  – Garanti.

— E como tem tanta certeza, senhora?

— O que Jethro não sabe, não nos fere.

— Isso está soando como uma das regras do Gibbs.

— Essa é minha regra #01, DiNozzo.

— Espero que funcione tanto quanto as do Chefe. Tenho que desligar.

DiNozzo se foi, o MTAC ficou vazio. E eu fiquei observando as fotos na tela. Finalmente eu poderia começar a tecer a teia que derrubaria Benoit no final.

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— Papai!! Papai!!! – Uma criaturinha vinha pulando entre as mesas. – PAPAI!! – Ela demandou quando eu não dei a atenção que ela queria.

— Não, Sophie! – Falei.

— Mas eu nem falei nada! – Ela protestou. Levantei meu olhar na sua direção e ela tinha os braços cruzados e me olhava com cara feia.

Não.

— Todo mundo vai!!

— Não! E nada de insistir.

— É o casamento da Kelly!

Ela veio e ficou parada do meu lado. Me encarando até que eu desse a resposta que ela queria. Sophie estava passando dos limites com essa história de casamento.

— Você não vai escolher a minha roupa, Sophie. – Falei entredentes. Essa discussão já era uma velha conhecida dentro da agência. Chegou ao meu ouvido que tinha gente apostando que Sophie ganharia a batalha.

— Então quem vai? – E a maneira que ela me olhou me indicava que ela não iria aceitar outra pessoa que não fosse ela.

— Você já se divertiu escolhendo as roupas da Abby, da Ziva e até o vestido da Kelly. Já chega de bancar a estilista.

Eu também escolhi a da mamãe.— Ela disse como que me lembrando de um detalhe muito importante. – Se eu não posso escolher a sua, quem vai?

Pelo canto do olho, vi McGee e Ziva pararem o que estavam fazendo para escutarem a minha resposta.

— Eu.

Sophie deu dois passos para trás.

— Não. O senhor não vai escolher a sua roupa. As últimas que o senhor comprou eu fui com a Kells. Quem vai? - Ela não desistiria.

— Kelly.

— A Kells me pediu para fazer isso, então o senhor não tem opção. Sou só eu.— Ela abriu um sorriso vitorioso ao dizer isso.

— Você não vai me arrastar por incontáveis lojas só para que você possa passear, Sophie.

— Mas eu não vou arrastar o senhor para lugar nenhum. Eu já sei onde o senhor tem que ir.

— O vestido da sua irmã já foi caro o suficiente, não vou comprar nada que você tenha escolhido. – Me levantei e minha intenção era deixá-la fumegando na sala do esquadrão e depois ir resmungar no ouvido da mãe. Só que ela é teimosa, e quando coloca algo na cabeça não desiste, assim, Sophie saiu me seguindo prédio afora, repetindo a mesma ladainha.

Definitivamente era filha da Jenny.

Uma hora depois e cansado da falação que ela tinha aprontado até do lado de fora da sala de autópsia, parei de repente, Sophie que vinha enumerando os motivos pelos quais ela deveria escolher a minha roupa, só trombou nas minhas pernas e caiu sentada no chão. E esse foi o único momento em que ela não falou sobre o casamento da irmã.

— Isso doeu! - Reclamou.

— Ótimo. Agora pare de ficar me seguindo e de tentar me convencer a comprar o que você quer que eu compre.

Sophie se levantou do chão esfregando a testa e ficou do meu lado, esperando o elevador. Agora eu tinha conseguido mandá-la para perto da mãe.

O elevador chegou, ela entrou e apertou o botão para o quarto andar. Começamos a subir e antes que eu percebesse, ela parou o elevador e me encarou muito seriamente.

— A Kelly me mandou deixar o senhor muito bonito para o casamento dela. Não tem muito o que eu possa fazer para ajudá-la. Só isso, só as roupas. E eu não vou decepcionar a minha irmã. Logo ela vai estar casada e vai ter terminado a residência e se formado na Academia Naval, assim, é bem provável que todo mundo só a veja de vez em quando, porque ela vai ser mandada para Deus sabe onde. Assim, é o meu dever como irmã, fazer com que ela fique feliz no casamento dela. E se para isso acontecer eu tiver que arrastar o senhor para comprar um smoking, eu vou fazer, porque a Kelly é a minha irmã e eu amo a minha irmã. – Ela parou para respirar e antes que eu falasse qualquer coisa, continuou: - O senhor pode não estar feliz com tudo isso, pode não gostar de que sou eu e a mamãe ajudando a Kelly, mas a Kells não gosta da sua namorada e não quer nem ela ou a Sra. Sanders dando palpite. Mas como pai da noiva, o senhor TEM que fazer o que a noiva quer. E a noiva ME MANDOU escolher a sua roupa, ME MANDOU te deixar tão bonito quanto o senhor estava no baile do Fuzileiros que o senhor foi com a minha mãe. E EU VOU FAZER ISSO. Depois o senhor pode ficar com raiva de mim, pode voltar para o México ou viajar com a sua namorada, eu não vou me importar, não vou ficar triste. Mas eu não vou deixar o senhor fazer a Kelly ficar triste. Assim, com a ajuda da Abbs e da Tia Ziva, eu já combinei com o Tim, com o Jimbo, com o Tio Ducky e com o Tony onde vamos comprar as roupas deles e o senhor vai, nem que para isso eu tenha que pedir para a Tia Ziva te algemar, te jogar no porta malas do carro dela e te levar até lá. Vai ser nesse sábado, às nove da manhã. Não se atrase e esteja de bom humor. Isso tudo é pela Kelly, não é por mim. E, por favor, eu não quero conhecer a sua namorada, então não leve ela. – Ela se virou para o painel e apertou o botão para o elevador voltar a funcionar.

Eu tinha acabado de levar um sermão da minha filha de seis anos.

Parei o elevador e ela me encarou novamente, cruzando os braços.

— Se o senhor quiser ficar com raiva de mim, pode ficar, eu não ligo. Mas eu não vou deixar a Kelly na mão.

Olhei para a pequena ruiva na minha frente, ela estava cada dia mais distante de mim, e não era só ela, Abby e Ziva também estavam.

— Quando foi que a Hollis entrou nessa história? – Quis saber.

— Quando ela apareceu aqui no NCIS. – Foi a resposta rápida que ela me deu.

— Você nem a conhece e não gosta dela?

— Ouvi dizer que os Fuzileiros não gostam do pessoal do Exército... Sou filha de Fuzileiro, deve estar no meu sangue... – Ela deu de ombros.

— Quem te falou isso? A Kelly?

— Não. Não foi a Kells. Ela disse que não vai falar nada com o senhor. Mas eu sei que a Coronel não vai no casamento dela. – Ela disse isso com tal certeza, que comecei a pensar que a Jenny pudesse estar falando na cabeça dela.

— E por que não?

Porque se ela for, eu não vou! E a Kelly vai ter que arrumar outra Dama de Honra...

— Você fez chantagem com a sua irmã?

— Não, a Kelly me disse que quer a família lá, não estranhos.

— Sua mãe...

— Minha mamãe não falou nada. Eu não gosto da Coronel e ponto final. – Ela bateu o pé no chão para dar ênfase ao que estava dizendo. – E não culpe a mamãe por tudo, ela não tem culpa de nada!

— Isso é um ataque de ciúmes, Sophie?

Ela ficou rubra em menos de dois segundos.

— Não. Eu só quero fazer a minha irmã feliz. E não quero que a minha mãe fique ainda mais triste. E nada parece que tá fazendo efeito, porque a Kells tá triste e minha mamãe também! – Ela estourou e era a primeira vez que eu via a minha filha tão furiosa.

— Tudo bem, vamos deixar a Kelly feliz. Vamos atrás da minha roupa. Sábado às nove da manhã. Passo para te pegar. Tem certeza de que vai estar de pé? – Tentei contornar a situação.

— Não precisa. Vai ter festa do pijama na casa da Abbs. Ela vai me levar. Mesmo assim, obrigada. - Me dispensou.

— A Abby ainda está te ensinando informática?

— Sim, ela está.

— E é o que vocês vão fazer na casa dela?

— Não. Nós vamos jogar um jogo que ela tem, depois vamos jogar videogame e aí ver um filme... mamãe já me deixou ir.

— E não pode ser em outro final de semana?

— Por que em outro final de semana? – Ela quis saber.

Coloquei o elevador em movimento, já tinha gente batendo na porta e me gritando do outro lado.

— Tem muito tempo que você não vai me ajudar no porão... os móveis da Kelly estão atrasados.

— Ah! Por isso... Bem... posso ir na semana que vem... a Kells tá querendo vir na semana que vem. – Ela tentou sair pela tangente.

Chegamos no terceiro andar e assim que as portas se abriram, Ziva, McGee, DiNozzo e Abby quase caíram dentro do elevador.

— Ahn... Chefe! Oi! Nós só estávamos preocupados se o elevador tinha estragado... – Ele olhou para mim e depois para Sophie.

— Obrigado por se juntar a nós, DiNozzo. – Falei assim que desci do elevador. Ele entenderia a mensagem. Sophie ficou lá dentro esperando para poder ir para a sala da mãe.

— Oi Jibblet! Animada para sexta-feira?

— Pode ter certeza de que estou, Abbs! – Sophie abriu um autêntico sorriso. – E sábado vamos atrás das roupas dos meninos. – O sorriso continuou ali.

— Conseguiu convencer o seu pai, Pingo de Gente? – Quis saber Ziva.

— Não tinha o que convencer, é pela Kelly. – O sorriso desapareceu.

— Melhor eu preparar a minha carteira. Ouvi dizer que você tem gostos caros, Peste Ruiva! – Tony tentou animar o lugar.

— Com coisa que seus sapatos são baratos, né Italiano de Araque!! – Retrucou a pequena. – Agora vocês têm que trabalhar. Até sexta-feira!! E Tim, não esquece o jogo!! – Ela gritou com as portas se fechando.

Segundos depois pude ouvir o elevador chegar ao andar de cima, Sophie saiu saltitando pelas portas e ficou assim, até que trombou na mãe que saía do MTAC ao mesmo tempo.

Jenny parou para observar a filha. Fez qualquer pergunta que não ouvi, ou não entendi, as duas tinham mania de conversarem em outros idiomas, e depois de dar um sorriso para seja o que for que a filha respondeu, saiu guiando a menina até a sala dela. Em hora nenhuma elas olharam na minha direção.

A conversa em volta de mim estava alta, os quatro fazendo planos para sexta e sábado. Eu só captei uma frase:

— McMãoDeVaca, hora de abrir a carteira, a Sophie vai te ensinar a se vestir de verdade! – Era DiNozzo que falava.

— Voltem ao trabalho. – Mandei e rapidamente os três se sentaram e Abbs foi para o laboratório.

Novamente olhei para cima, nem mãe ou filha estavam à vista. E eu comecei a pensar no que Sophie havia me dito. Jenny estava triste com algo e, principalmente, na forma como Sophie pronunciou a frase:

Depois o senhor pode ficar com raiva de mim, pode voltar para o México ou viajar com a sua namorada, eu não vou me importar, não vou ficar triste. Mas eu não vou deixar o senhor fazer a Kelly ficar triste.

Quando que Sophie iria me perdoar de verdade?

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AMETony: Chamando Chefinha. Você está aí?

Chefinha: O que foi agora, Tony?

AMETony: Pode parar de se preocupar com a roupa do seu pai, sua irmã o convenceu.

Chefinha: Sério? A Sophie conseguiu isso?

LabQueen: Depois de ficar quase meia hora presa dentro do elevador com ele. Pela cara dos dois quando seu pai saiu de lá, acho que Sophie passou um sermão nele.

Chefinha: Ela não consegue segurar a língua.

MossadNinja: Não mesmo. Creio que deve ter falado coisas bem desagradáveis.

Chefinha: Vocês ouviram algo?

ElfLord: Mais ou menos...

Chefinha: Desembuchem!

AMETony: Sua irmã soltou a famosa “eu não quero conhecer a sua namorada” para o chefe.

Chefinha: o.O

LabQueen: E depois garantiu que se a Coronel for no seu casamento, ela não vai.

Chefinha: E ela tá viva?

ElfLord: Até onde escutamos, ela chegou muito bem no escritório da Diretora.

MossadNinja: E você não sabe da maior, quando perguntamos para ela como ela tinha convencido o pai para sair e comprar a roupa no sábado, ela simplesmente respondeu...

AMETony: “Não tinha o que convencer, é pela Kelly”

Chefinha: Sério?! Ela disse isso?!!!

ElfLord: Pode acreditar, Kelly, foram essas as palavras da Pequena.

LabQueen: Ela comprou briga com o seu pai, por você.

Chefinha: Não era para me surpreender, mas estou surpresa. Achei que a Soph nunca ia bater de frente com o meu pai...

MossadNinja: Talvez tenha algo a ver com a presença da namorada e Sophie tentando proteger a mãe também...

Chefinha: Pode ser. Mudando de assunto antes que alguém pegue vocês por aí: Sábado à noite tudo certo?

AMETony: Você não viria na semana que vem?

Chefinha: Prova do vestido...

AMETony: Credo! Então até sábado, Chefinha.

LabQueen: Até sábado! E pode esperar que vamos te contar tudo o que a sua irmã aprontar.

Chefinha: Vocês vão?

ElfLord: Todos nós, com a exceção da Diretora...

Chefinha: Queria poder ver de longe Sophie opinando nas suas roupas, mas me contento com o relato DETALHADO!! Até lá.

Essa coisa toda vai ser mais engraçada do que eu imaginava... dependendo da hora que eu chegar, talvez eu vá atrás deles, para dar um apoio moral para meu pai e tentar salvar a Sophie de ser estrangulada ou ter um AVC muito nova.

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Tony só foi aparecer com o relatório da missão da manhã depois do expediente. Sophie tinha sumido para a autópsia, Ducky tinha vindo aqui em cima para chamá-la para tomar um chá com ele e ela foi mais do que feliz acompanhar o Médico Legista.

— Então, DiNozzo, de onde você conhece aquele homem? – Fiz a pergunta que me perturbou o dia inteiro.

— Lembra do aniversário da Sophie, que um homem chegou desfiando a Ziva?

— E vocês saíram mais cedo do parque porque ela não gostou dele?

— Sim. É o mesmo homem.

— Você tem certeza, DiNozzo?

— Absoluta, senhora. Agora como um assistente/negociador do Benoit foi parar em um parque de diversões eu não faço ideia.

 - Talvez ele seja algo mais do que assistente... – Conjecturei.

— Como assim, senhora?

— Ele pode estar fazendo o mesmo que você...

Tony deu um passo para trás.

— Não sabia que tinha outras agências atrás desse homem!

— E até onde eu saiba não tem. Porém, em D.C., até as paredes tem segredos, Tony... e pode ser que alguém queira estar tão abaixo do radar quanto nós.

— A senhora quer que eu tente alguma informação com a filha, com a Dra. Benoit?

— Tony, você está disposto a se infiltrar a esse ponto? Porque as coisas podem ficar muito pessoais e eu detestaria que você e a Ziva passassem por uma crise.

— Eu não tenho nada com a Ziva. – Ele negou rápido demais e com veemência demais.

— Tem certeza disso, Tony?

— Sim, Senhora.

— Por experiência própria, Tony, não deixe seus sentimentos te atrapalharem. E se começar a ficar pessoal demais, caia fora.

— Isso não vai acontecer, Jenny. Não vai.

Eu tinha falado a mesma coisa comigo anos atrás, e agora tenho uma filha...— Quis dizer a ele.

— E o que vamos fazer com o cara do aniversário de Sophie? – Ele quis saber.

— Você tem certeza de que ele não te reconheceu?

— Tenho.

— Vou passar o rosto dele no reconhecimento facial e ver se encontro alguma correspondência.

Tony ficou calado por um tempo. Porém, antes que ele pudesse dizer algo, escutamos a voz de Sophie, ela vinha conversando com Ducky sobre qualquer coisa.

— Isso é tudo, Agente DiNozzo? – Perguntei para encerrar o assunto.

— Sim, senhora. Até amanhã. – Ele foi para a porta e logo encontrou com Sophie. – Passeando pelo prédio, né, Peste Ruiva?

— E você fazendo hora extra, né, Italiano de Araque?

Tony deu uma risada e depois soltou:

— Até sexta-feira, e se prepare, vou ganhar de você no videogame.

— Mas não vai mesmo!! – Sophie gritou, já que ela estava quase dentro da minha sala.

— Aqui está a pequena Sophie, Jennifer.  – Ducky me informou quando os dois entraram pela porta aberta.

— Muito obrigada, Ducky! - Agradeci.

Sophie foi até ele e deu um beijo na bochecha e um abraço.

— Obrigada pelo chá, Tio Ducky!

— Não há de que, minha criança, sempre é bom ter companhia lá embaixo. Agora, se me derem licença, vou imitar o gesto de Anthony e ir para casa. Aconselho as duas a fazerem o mesmo. – Ele se despediu.

— Boa noite, Ducky!

Ainda pensando no que Tony havia dito, e não sendo capaz de ter o tempo necessário para rodar o reconhecimento facial nessa noite, resolvi indagar Sophie sobre uma coisa.

— Filha... – A chamei. – Me conta uma coisa.

— Sim, mamãe? – Ela já tinha vestido o casaco e estava pegando a mochila.

— Por acaso você notou se tem alguém te seguindo ou te vigiando?

— Não, mamãe. Não vi ninguém, até os fotógrafos sumiram... – Ela disse vindo me ajudar com as minhas coisas. – Mas por que a senhora está perguntando isso?

Eu tinha o motivo perfeito, porém decidi não preocupá-la. Ela não precisava de nada disso.

— Por nada, filha, só para saber se o todo o treinamento que a Ziva está te dando está surtindo efeito.

— Mas é claro que tá! Sou uma ótima aluna!

— Você é muito convencida, isso sim! – Brinquei com ela. – Então, quer dizer que sábado, você irá comprar a roupa do seu pai?

— Algo assim... – Ela não me deu os inúmeros detalhes que eu pensei que ela daria.

— Por que esse desânimo todo?

— Não vai ser uma festa legal, igual sempre é com a senhora, ou como foi com o papai antes do seu aniversário. Eu e o papai só fizemos um acordo. Ele está indo para deixar a Kelly feliz. E isso é o que importa.

— Você está chateada com o seu pai. Posso saber o motivo? – Perguntei quando entramos no carro.

— Porque ele está deixando a senhora triste. A senhora está triste desde o acidente. Melhorou um pouco depois que ele voltou, mas piorou agora. Mamãe, até a Abbs notou! A senhora quase não participa mais dos casos, quase não vai mais no Lab dela. e tanto ela quanto a Tia Ziva têm certeza de que é para que a senhora não veja o papai... Eu não gosto disso.

Esse era um dos motivos, mas não o principal. Jethro sabia como ninguém como eu reagia a tudo, bastaria uma boa olhada em mim e ele saberia o que estou fazendo. E vindo dele, tenho a certeza de que tentaria me impedir. Assim, decidi, mais uma vez, deixar a minha filha no escuro.

— Não é por isso, Miniatura. É por excesso de trabalho.

Sophie me encarou, como que tentando ler a verdade ou a mentira, em mim.

— Só isso? Muito trabalho?

— Pode apostar que sim.

— Por isso a senhora vai ficar até mais tarde na sexta-feira?

— É.

— Mamãe, eu acho que a senhora tem que trabalhar um pouco menos...

— Seu conselho foi anotado. Agora me conta... o que você planejou para sábado?

E Sophie começou a contar tudo o que eles estavam pensando em fazer durante o dia.

— E sabe da melhor? – Ela perguntou assim que desceu do carro, tínhamos chegado em casa.

— Não. Qual vai ser a bomba?

— A Kells vai vir!! Não vai poder estar aqui cedinho, mas ela prometeu que chega para o almoço.

Jethro teria que ter muita paciência. Ri internamente.

E, tão rápida quanto inesperada, eu tive a sensação de que estávamos sendo observadas. Antes de fechar e trancar muito bem a porta, dei uma olhada em torno da casa. Não vi nada. Teria que pedir para o detalhamento de segurança dar uma conferida no perímetro. Só para provar para mim mesma que eu estava ficando paranoica e impressionada com a descoberta de DiNozzo.

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Abby veio buscar Sophie na sexta à noite para a já tradicional festa do pijama. Minha única recomendação:

— Por favor, Abbs, não deixe que ela entre ou chegue perto do seu caixão.

— Pode deixar, Jenny! Nada de caixões.

Deixei passar a tatuagem de henna dessa vez. Pois da última, Sophie chegou em casa com alguns smiles pelo braço e três estrelinhas no pescoço.

— E Jenny. Também não vai ter tatuagens... Amanhã ela vai ver o Gibbs! - Abbs me garantiu como se soubesse o rumo dos meus pensamentos.

— Vocês vão direto para a loja?

— Essa é a nossa ideia.

— Durmam cedo, pelo menos. Ninguém quer um sermão do Jethro sobre o horário de dormir dessa aí. - Apontei para minha filha que já saltitava do lado da cientista.

— Isso já sabemos também! – Abby falou depois que ajeitou Sophie no banco da frente do Rabecão.

— Boa noite, mamãe! – Sophie me acenou adeus enquanto Abbs contornava o carro.

— Boa noite, Miniatura. Até amanhã!

Vi o carro se afastar. Era hora de voltar para o estaleiro, Tony tinha uma tarefa antes de se juntar à bagunça.

Esperei por um momento e depois despistei meu detalhamento de segurança. Me encontrei com Tony em meu escritório, ele já estava vestido à caráter.

— Mendigo cantor?

— Ninguém vai desconfiar de mim, senhora!

Realmente DiNozzo estava irreconhecível, mas comecei a temer pelos meus ouvidos.

E eu tinha razão, pois ele cantou passo a passo dos nossos quatro observados – com direito a até resmungo de um pobre cachorro abandonado que estava por perto, nem o cachorrinho aguentou tamanha falta de talento.

— Você não vai cantar tudo o que está vendo, vai Tango 8?

Ele nem se deu o trabalho de me responder, continuou cantando o que está vendo.

Duas horas depois, eu permiti que ele ficasse com o dinheiro que havia ganhado. Tenho certeza de que só deram o dinheiro para que ele parasse de cantar tão mal!

Sem nenhuma novidade e sem quem eu queria ter aparecido em tal jantar, dei por finalizada a noite, Tony saiu correndo, gritando que estava atrasado para ver o McAzul perder de lavada no pôquer de mentiroso.

Para mim só me restou voltar para casa e tentar entender o motivo de Benoit não ter aparecido no restaurante. A cada quilômetro que eu andava mais claro ficava para mim que, de algum modo, ele tinha desconfiado de algo. Como? Eu não saberia dizer.

Talvez fosse o homem que DiNozzo tinha reconhecido, talvez La Grenouille tinha um senso de preservação aguçado. Vai saber...

A única coisa que eu sabia nesse exato momento era que alguém também estava me vigiando. E eu não gostei dessa sensação.

Em casa, depois de deixar minha Glock ao alcance de minha mão, comecei a pensar em cima de cada uma das informações de inteligência que eu tinha. Distribui os documentos em cima da minha mesa e enquanto eu bebericava uma dose de Bourbon, analisei o que tinha.

Documentos do meu pai que eu nunca entreguei para o Departamento de Defesa. Informações de contatos de vários lugares da Europa, e cópias do que se tratou a operação que meu pai se envolveu. Um nome me chamou a atenção.

Um russo. Poderia ser um ponto de partida se eu quisesse entender tudo isso e ainda ter provas suficientes contra Benoit. E o que era mais interessante, dentro de dois meses teria uma Convenção em Paris para todos os diretores das agências armadas mundiais. Dar uma escapada até a Rússia não deveria ser tão difícil. Seria até fácil, era só saber quais agentes escolher para meu detalhamento de segurança. Ninguém que me conhecesse muito bem, e muito menos agentes experientes demais. Assim, seria fácil sumir do radar por vinte e quatro horas.

Eu só tinha que tomar todas as precauções necessárias com a segurança de Sophie. E ninguém melhor para tomar conta dela do que Jethro.

Agora era esperar o que Tony me traria de novo e o que eu conseguiria obter na minha futura visita.


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Notas finais do capítulo

"O que Jethro não sabe, não nos fere!" É uma frase dita pela própria Jenny quando ela está no Lab da Abby e Tony descobre quem é o contato que Ziva usava. Achei interessante para colocar aqui!
Sophie ama todo mundo e detesta injustiças e não tem um pingo de medo de se levantar e defender as pessoas que ama! Nem que seja contra o próprio pai!!
E vamos ter mais uma festinha do pijama, enquanto Dona Jenny se prepara para fazer um movimento meio arriscado.
E só para constar, eu fiz algumas mudanças no plot do La Grenouille, portanto, não está 100% fiel à série.
Obrigada a você que leu!!!
Até o próximo!!



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