Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 70
Ataque de Ciúmes


Notas iniciais do capítulo

Querem saber como uma pequena ruiva, filha de duas pessoas com personalidades fortíssimas se comporta quando é contrariada? Então leiam esse capítulo!!
Boa leitura!!



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Depois da festa de Halloween, Sophie não quis conversar com o pai e nem aparecer no NCIS, aparentemente ela não é lá muito fã de competições e gosta muito menos quando as pessoas fazem pouco caso dos presentes que ela dá.

Precisou Kelly vir de Annapolis para resolver a situação. Logicamente ela ficou sabendo de tudo, nos mínimos detalhes, Abby e Tony se encarregaram de contar, e, assim que teve um tempo para poder visitar a todos, foi logo dando um jeito de trazer a irmã também.

Não sei ao certo o que conversaram, só sei que uma semana depois da festa de Halloween, em uma sexta-feira à tarde, Kelly apareceu toda uniformizada, arrastando uma emburrada Sophie com ela, para o alívio e alegria de Jethro que já não sabia mais o que fazer para tentar fazer a caçula falar com ele.

— Fiquei sabendo que tem uma pessoa que anda evitando vir aqui e conversar com vocês. Já que estou na cidade resolvi solucionar esse problema. – Kelly disse assim que desceu do elevador, acompanhada de Henry e Sophie.

Na verdade, Sophie não queria sair de dentro do elevador, e a cada vez que Kelly a puxava, ela pedia para ser deixada onde estava, que não tinha nada para fazer naquele andar.

— Sua mãe está aqui. – Kelly informou.

— Eu vou ver a mamãe hoje à noite, ela sempre volta para casa. – Foi a resposta imediata da minha filha.

A conversa entre irmãs durou mais uns dois minutos e eu já estava a ponto de intervir quando, para minha surpresa, Henry voltou para o elevador e saiu de lá carregando Sophie nos ombros.

— Henry me solta! Me deixa voltar para o carro. É a Kelly e não eu quem quer ficar aqui! – Ela falava enquanto dava tapas nas costas dele.

Porém Henry só a soltou quando ele já estava entre as mesas, e de frente para o sogro, acho que essa foi a coisa mais corajosa que ele fez na vida, depois de pedir Kelly em casamento, lógico.

— E você, cabeça-dura, fica aqui. – Henry falou assim que Sophie estava no chão.

— Eu confiava em você, Henry. – Foi a resposta que ela deu apontando para ele com cara de poucos amigos. – Não confio mais. E nem em você, Kelly.

Kelly revirou os olhos para a irmã.

— Quando foi que ela ficou tão dramática? – Ela perguntou rindo. – Está passando tempo demais perto do DiNozzo.

Sophie, que não estava achando nada disso engraçado, só encarou a irmã, logo depois de se esconder atrás das minhas pernas.

— É educado cumprimentar as pessoas. – Falei.

Ela se fez de surda e olhava para o mural dos mais procurados.

— Sophie agora! – Mandei.

Ela me olhou de lado e sem animação nenhuma, disse:

— Boa tarde a todos. – E foi só isso que ela falou pelos próximos dez minutos.

— Você vai mesmo me ignorar, Peste Ruiva? – DiNozzo perguntava a cada trinta segundos.

Como eu estava ajudando a equipe no caso, minha filha teve que se contentar em ficar na sala do esquadrão, não querendo ficar perto de ninguém, acabou por se sentar debaixo da janela e simplesmente ficar encarando o céu lá fora.

— Ô Peste Ruiva, fala comigo! – Tony dizia e como ela continuava a ignorá-lo, ele continuava. – Eu vou te chamar a cada dez segundos, até você não aguentar mais e conversar comigo.

— Boa sorte, Tony. Tem uma semana que ela não fala com meu pai. Essa aí sabe ser teimosa quando quer! E tudo porque ela não aceita concorrência. – Kelly falou.

E essa foi a primeira vez que Sophie fez alguma coisa, silenciosamente, se levantou, caminhou para o outro lado da divisória e, de lá, depois de subir em uma cadeira, deu um sonoro tapa na cabeça da irmã.

— Isso é para você aprender a me deixar quieta! – Avisou. E depois foi em direção à escada, onde se sentou e continuou a olhar para o porto.

Cada um ali, inclusive Abby que tinha aparecido com uma atualização e não tinha arrancado uma palavra de Sophie a olhou boquiaberto.

— Isso ainda não explica o seu chilique, Cabeça Quente! – Kelly se dirigiu a irmã que continuou calada e concentrada na vista do lado de fora.

Foi Ziva quem respondeu, de uma forma nada ortodoxa:

— Eu posso resumir tudo isso, Kelly, sua irmã ainda não pode se defender por conta própria dos inimigos, então ela está usando as armas que tem.

Eu, por respeito à israelense, deliberadamente, resolvi ignorar essa resposta.

— Peraí, você está dizendo que... – Henry começou.

— Que se a Sophie soubesse de verdade se defender, - Ziva continuou séria. – Ela teria pegado a fadinha e mostrado para ela quem é que manda aqui dentro, só isso.

— Você está falando que a minha irmã tinha que ter batido na Fadinha?

— Claro. Só assim para ela ter respeito. Se o Pingo de Gente quiser eu posso ensinar a ela alguma coisa.

Com essa frase, vi que minha filha tinha voltado a sua atenção para a Oficial do Mossad e parecia considerar a opção.

— ZIVA! Ela tem cinco anos.  – Avisei. – E você, para a minha sala agora. – Mandei-a subir.

— Estou indo mamãe. – Ela educadamente me respondeu e subiu correndo, mas pelo olhar dela eu sabia que ela não deixaria passar a oferta.

Encarei Ziva.

— O que você está pensando, Ziva? Ela é uma criança.

— Mas eu...

— Ziva, por favor, nada de falar sobre isso perto dela. Eu não quero que a Sophie pense que pode resolver tudo na briga.

— Então para que ela faz aulas de artes marciais?

— Para se defender. E antes que alguém pergunte, sim tem diferença! Se ela usar o que aprendeu em alguém, ela perde a faixa e não pode mais frequentar aulas.

Ziva ficou quieta, McGee ainda não tinha conseguido esconder a sua feição de assustado, Kelly ainda esfregava a cabeça e Jethro olhava na direção para onde a filha mais nova tinha ido quando escutamos:

— Oi Cynthia! Quanto tempo! Estava com saudades de você! – Sophie cumprimentou a minha assistente, toda alegre.

E essa foi a gota d’água, Jethro, que até então tinha ficado calado observando a filha mais nova e esperando que ela voltasse a conversar com ele, subiu as escadas de dois em dois degraus e logo estava chegando na porta da antessala do meu escritório.

— Agora, mocinha, nós vamos conversar. – Ele disse, e eu nunca tinha escutado um tom tão sério vindo dele, era diferente de todas as formas com as quais ele assustava os suspeitos que interrogava.

Olhei para Kelly, como que a culpando pelo que estava prestes a acontecer no andar de cima.

— Grande ideia a sua de trazê-la aqui hoje.

— Eu não pensei que as coisas estivessem tão ruins. – Ela tentou se defender.

Respirei fundo. Estava me decidindo em subir e não subir. Por fim, achei melhor Jethro resolver esse pepino sozinho, afinal, Sophie estava brava com ele, não comigo, e, para matar um pouco da saudade de ser agente de campo, acabei por liderar a investigação enquanto ele tomava conta da minha sala.

— Então, McGee, onde foi que paramos? – Coloquei todos para trabalhar e esquecer o que estava acontecendo lá em cima.

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Kelly tinha me perguntando o que havia acontecido, expliquei até onde sabia. Porém, em hora nenhuma eu achei que Sophie fosse ficar tão brava e por tanto tempo.

— Mas é claro que ela vai ficar brava por muito tempo, pai! Olha a ascendência dela! Nem você ou Jenny são muito bons para perdoar as pessoas. – Ela falou séria e tinha que me relembrar do meu maior arrependimento. – Eu fico imaginando como vai ser quando ela estiver namorando. O primeiro passo em falso e o pobre do rapaz vai apanhar feio! – Ela riu.

Decidi não pensar nessa hipótese e me concentrei no ataque de ciúmes de Sophie. Kelly nunca demorou mais do que um par de horas para voltar a conversar comigo.

— Tinha que ter puxado justo essa parte, Sophie. – Reclamei.

— Pai, não se preocupe, eu vou estar em D.C. na sexta, vou pegá-la na escola e leva-la para o NCIS, lá tudo vai se resolver, ela vai perceber que sentiu falta de todos por lá e mais ainda do senhor, e vai voltar tudo ao normal.

Só que não tinha voltado ao normal. Sophie só nos dirigiu a palavra depois que Jen a ordenou a fazer isso, e, ao invés de ficar sentada ao lado da minha mesa, como já tinha virado o costume, ficou longe de todos, sentada debaixo da janela de onde encarava o mundo lá fora, mesmo que DiNozzo enchesse a paciência dela para que ela conversasse com ele a cada dez segundos.

Pelo canto do olho vi que Jenny não estava muito feliz com isso, e eu sabia qual seria o resultado, Sophie ou ficaria de castigo, ou escutaria um enorme sermão. Da minha parte, eu ainda esperava que ela fosse conversar com qualquer um a qualquer minuto, nem que fosse com Abby. Mas Abbs apareceu, mexeu com ela e Sophie nem deu atenção.

Tony continuava tentando e depois de Ziva ter dado a entender que Sophie deveria ter batido na concorrente naquele dia, Jen mandou a filha para a sala dela.

Porém, ao chegar lá em cima, Sophie muito alegremente cumprimentou Cynthia e disse que estava com saudades. Foi a gota d’água. Quando vi, estava subindo as escadas e parando na frente da pequena e teimosa ruiva que estava de pé ao lado de Cynthia.

— Agora, mocinha, nós vamos conversar.

Ela olhou para Cynthia como se buscando por ajuda e, sabiamente, a assistente de Jenny apenas disse:

— Acho bom você ir com seu pai.

Com um suspiro cansado, ela me seguiu para dentro do escritório da mãe, sem falar uma palavra. Com um gesto a mandei se sentar no sofá, pois ela, muito sorrateiramente, já estava indo para trás da mesa da mãe para se sentar na cadeira da diretora.

Sophie, contando passos, me seguiu, e se sentou do outro lado do sofá, o mais longe que podia de mim, a expressão neutra e os braços cruzados.

— Você pode me explicar o motivo de não estar conversando comigo? – Perguntei o mais calmamente que podia.

Ela não me respondeu, apenas olhou para o quadro que estava na parede atrás de mim.

— Eu não vou perguntar de novo, Sophie Shepard-Gibbs. – Engrossei o tom e ela pareceu assustada por um tempo, e, antes de falar, respirou fundo. Eu estava preparado para qualquer coisa boba, menos para aquela frase.

— O senhor prefere a menina vestida de Fadinha. – Seu tom completamente acusatório, como se tudo fosse a minha culpa.

Levantei uma sobrancelha, incrédulo diante da acusação, mas isso não a impediu de continuar, mesmo que ainda não me olhasse diretamente.

— Eu fiquei parada na sua mesa por um tempão. E o senhor só ficou tomando conta dela. O senhor e toda a equipe.

— Sophie, por favor, ela precisava daquilo.

— Vocês deram os doces que eu dei para vocês para ela! E ninguém me agradeceu. Ninguém. – Ela tinha os olhos marejados e magoados.

— Filha, nós estávamos tentando ajudá-la, ela passou pela mesma coisa que você, lembra do aeroporto...

— O Tony me falou. Mas o senhor estava feliz quando ela te abraçou e a Abby saiu com ela para pegar doces. Ela tinha combinado que iria fazer isso comigo. E eu fiquei a tarde inteira esperando por vocês para contar que eu tinha ganhado o prêmio de melhor fantasia da escola, prêmio que eu até dividi com vocês e ninguém me notou. – Agora ela chorava de soluçar.

Minha caçula era ainda mais dramática do que a irmã.

Tentei chegar perto dela para poder abraçá-la, mas a ruivinha se esgueirou, não tão rápido e nem tão longe, porém, eu pude alcançá-la antes que ficasse de pé e coloquei no meu colo.

De início, ela encarava os próprios pés, ainda chorando.

— Sophie, olhe para mim. – Pedi.

Ela fungou e continuou olhando para o chão, teimosa igual a mãe.

Tive que levantar o rosto dela para que ela me encarasse, e assim que o olhar dela ficou da altura do meu falei:

— Primeiro, eu estava feliz, não porque ganhei um abraço, mas porque nós conseguimos resolver um caso que teve um final feliz. Sempre ficamos assim. A fadinha perdeu a festa de halloween na escola, e por isso Abby estava com ela. Você conhece a Abbs, sabe que ela não perde um motivo para poder deixar alguém feliz.

— Mas... – Sophie tentou me interromper.

— Espere...- Coloquei um dedo sob os lábios dela para que ela prestasse atenção no restante da minha explicação. – Quanto aos doces, até no ano passado, quem passava nas mesas deixando doces e chocolates era a Abby. E todos nós sabemos que ela não se importaria se os déssemos para outra pessoa, desde que essa pessoa ficasse feliz também. Ninguém sabia que tinha sido você. E, diferente do que você disse para a sua mãe, nós não te ignoramos, só não te vimos, você sabe ser bem silenciosa quando quer, filha.

Ela não parecia convencida e ainda chorava.

— E posso te falar uma coisa? – Apelei para a curiosidade dela.

E Sophie não me decepcionou, por mais que tenha tentado, não conseguiu me ignorar.

— O que? – Ainda não era a resposta que eu buscava, mas estava quase lá.

— Seus abraços são muito melhores do que o da Fadinha. – Falei e dei um beijo na bochecha dela. – E eu estou sentido falta de ganhar um. Será que estou perdoado a esse ponto?

Minha filha me encarou por vontade própria pela primeira vez em quase oito dias, e como eu tinha sentido falta de ver aqueles olhos coloridos. Sem falar nada, ela se ajeitou e me deu um de seus abraços apertados e depois, sem que eu pedisse, me deu um beijo na bochecha.

— Acho que isso significa que eu estou perdoado. – Falei.

Sophie, ainda me abraçando, tinha se ajeitado para esconder o rosto na base de meu pescoço, e, do nada, soltou:

— Eu senti a sua falta, papai. Me desculpe.

— Regra #06: nunca peça desculpas...

— É um sinal de fraqueza. – Ela continuou por mim. – A mamãe não gosta dessa regra. Ela sempre fala que todas as outras tem sentido, menos essa.

— É mesmo?

— Sim. Ela diz que sempre devemos pedir desculpas quando estamos errados ou quando fazemos algo que não agrada as pessoas. Diz que é um ato nobre assumir os erros e consertá-los.

Eu não poderia contrariar tudo o Jen havia ensinado para nossa filha, mas também não poderia deixar que Sophie se desculpasse cada vez que alguém não gostava das atitudes dela, um dia ela teria que se impor, bater o pé no chão e defender o que ela acreditava ser o certo, mesmo que isso fosse contra algumas pessoas, ou até mesmo contra mim.

— Vamos então fazer uma exceção à regra #06? – Perguntei a ajeitando no sofá ao meu lado.

— Que exceção?

— A regra continua valendo, porém, não é sinal de fraqueza se desculpar com os amigos e família. O que você acha?

Ela parou para pensar e, por fim, disse:

— Acho que pode dar certo.

— Ótimo. E só mais uma coisa, Sophie.

— Sim, papai...

— Eu sempre soube que você ganharia o prêmio de melhor fantasia. E não era só eu, todo mundo já sabia. – A peguei no colo e a levei comigo até a sala do esquadrão.

Nem tinha começado a descer as escadas quando Kelly olhou para cima e começou a sorrir.

— Acho que essa aí é mais teimosa e cabeça-dura do que eu. Te levou o triplo do tempo para convencê-la a te perdoar! – Ela riu.

Com isso, todos tiraram os olhos do que faziam – inclusive Jen que tinha se apossado da minha mesa e estava liderando a minha equipe – e olharam para a nossa direção.

— Isso quer dizer que eu agora posso ganhar o meu abraço? – Tony perguntou já estendendo os braços.

Sophie olhou para mim e disse:

— Entre família não é sinal de fraqueza...

Coloquei-a no chão e logo ela estava ao lado de DiNozzo.

— Me desculpe pela minha falta de educação, Tony! – E deu um abraço e um beijo nele.

— Que isso, Peste Ruiva, às vezes você tem o direito de dar um ataque! – Ele falou dando um beijo na cabeça dela.

E Sophie repetiu o pedido de desculpas com Ziva e McGee e depois que todos já estavam conversando normalmente, ela falou:

— Preciso pedir desculpas para a Abbs também... posso ir até lá?

— Já não era sem tempo. – Jen respondeu. – É para ir e voltar rápido, nada de ficar atrapalhando a Abby.

— Tá bem, mamãe.

— Aposto que vamos ter que resgatá-la lá de baixo. Abbs já estava aflita com a demora de Sophie em voltar aqui. – Tony comentou assim que as portas do elevador se fecharam.

Levou quase meia hora e uma Sophie de maria-chiquinha, avental branco, botas de plataformas, camisa de caveira, saia xadrez e coleira no pescoço apareceu na sala do esquadrão, para o susto de Jen, Kelly e o meu.

— Mas o que é isso? – Jen perguntou ao olhar a roupa da filha.

— Abby falou que só um teste.

— Teste para? – Foi Kelly quem continuou.

— O Halloween do ano que vem. Ela disse que vai precisar achar uma roupa que caiba em mim na época.

— Então você vai de gótica no halloween do ano que vem? – Henry perguntou.

— Não, gótica não. Vou de Cientista Forense. – Sophie respondeu na hora. E se Abbs estivesse aqui, teria ficado muito orgulhosa ao ouvir isso.

— Tudo bem, a fantasia vai ficar ótima, mas ainda falta muito tempo até a festa, então vamos tirando essa coleira e essas botas. – Jenny disse já desafivelando a coleira.

— Por que não posso ficar com as botas?

— Porque são altas demais e você pode cair. – Jen explicou.

— Mas mamãe, os seus saltos são maiores!

E esse era o embate que eu queria ver.

— Nós já conversamos sobre isso. Salto alto...

— Só depois dos dezesseis anos. – A ruivinha completou nada feliz.

— Isso mesmo, agora, onde estão os seus sapatos?

— No Lab da Abby!

— Então você vai voltar lá, entregar a fantasia para a Abby, agradecer, calçar os seus sapatos e voltar em menos de cinco minutos, ou eu vou te buscar e te colocar de castigo de vez.

— Sim, mamãe. – E Sophie saiu meio correndo, meio saltitando com as plataformas.

— Por que de vez? Ela está de castigo?

— Claro que está, Jethro! Essa pirraça de não querer conversar com você tinha que acabar uma hora ou outra.

Sophie não demorou a voltar e quando ela se sentou no chão, ao lado da mesa de DiNozzo, porque Kelly e Henry resolveram ocupar a minha enquanto eles decidiam onde queriam jantar, eu pude enfim dizer que as coisas tinham voltado ao normal.

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Entre almoços com a família (a de verdade e a estendida), reuniões no Capitólio e operações no MTAC, os dias foram passando, até que um convite apareceu na minha mesa.

O Baile de Aniversário dos Marines. E eu era obrigada a ir. Que ótimo, no dia do aniversário de Jethro, Sophie iria me matar. Ela estava querendo fazer algum tipo de surpresa para o pai, ainda não tinha decidido qual, e tinha que ser no dia do aniversário, nem um dia antes, ou um dia depois e tinha me intimado em ajudá-la com isso. E agora, pelo visto, era uma vez a festa que ela tanto queria fazer.

Estava encarando o tal convite quando o próprio aniversariante do mês resolveu invadir a minha sala.

— Quando é que você vai aprender a bater? A sua filha de CINCO ANOS, sabe que antes de entrar em qualquer lugar, deve-se bater na porta. – Disse para ele.

E como sempre, Jethro ignorou os meus protestos e me respondeu com outra pergunta:

— O que é isso? – Ele tentou, mas por trás eu percebi a nota de ciúme na voz dele.

— Depois fica reclamando que não sabe de onde a filha mais nova tirou todo aquele ciúme. – Brinquei. – E se for um cartão de algum admirador secreto? – Falei séria o encarando.

— Eu seria obrigado a ir atrás desse cara e ensinar para ele que com a minha noiva não se mexe.

— Sophie tem quem puxar, afinal. Contudo, não se preocupe, não é um cartão, é um convite.

— Quem está te convidando para onde, Jen? – Jethro perguntou se sentando na cadeira a minha frente, ficando emburrando e mal humorado mais rápido do que um piscar de olhos.

— A Corporação dos Fuzileiros, para o baile anual de aniversário. Que vai acontecer bem no dia do seu aniversário, Jethro.

Ele ficou calado.

— E quem você está pensando que irá fazer parte do seu detalhamento de segurança?

— Essa parte eu ainda não sei, mas tenho em mente quem será o meu acompanhante. – Sorri o mais docemente que pude para ele. Eu sabia o quanto ele detestava esse tipo de compromisso.

— Você quer me arrastar para um baile bem no dia do meu aniversário?

— Sim, com você por perto eu poderia sair mais cedo, com a desculpa de que a babá que está olhando a nossa filha só fica até às vinte e três horas.

— E quem vai ser a babá de Sophie?

— Kelly. Ela vem para o seu aniversário de qualquer jeito. E tem a Noemi também, isso não vai ser problema.

— E qual é o problema?

— Dizer para Sophie que nós temos um compromisso bem no dia do seu aniversário.

— Ela quer fazer uma surpresa para mim?

— Pode apostar que sim.

— Prefiro a surpresa da Soph. – Ele me disse.

— Eu não duvidava disso, mas Jethro, não me deixe sozinha no meio de um monte de gente que só vai estar ali para olhar a minha roupa e falar mal de mim pelas costas.

Ele se levantou de uma única vez e foi em direção à porta.

— Não vai me dizer o que você queria fazer? – Perguntei

— Não era nada importante, só vim te perturbar.

— E a minha resposta? – Pedi.

— Tudo bem, Jen. Você venceu.

— Sophie vai ficar muito feliz em poder te arrumar para esse baile. Vai ser o jeito dela de compensar por não poder te dar uma festa surpresa. – Falei.

— Sorte a minha. – Ele não pareceu muito empolgado com a notícia. – Tomara que ela demore com você e me esqueça.

— Isso é algo que não vai acontecer, Jethro. Não mesmo.

E ele saiu batendo a porta. Será que um dia eu vou me acostumar com toda essa falta de consideração com a porta e com a minha cabeça?

—----------------

 Dois dias antes do baile, logo depois da aula, Sophie e Kelly apareceram no NCIS. Por mais que Sophie não tivesse gostado do fato de que fora preterida pela Corporação dos Fuzileiros, ficou um pouco mais animada ao saber que poderia arrumar o pai e a mim para o baile.

Ela fez tanta questão, que eu dei permissão para que ela faltasse à aula no dia do baile. Eu sei, não era o certo, mas tadinha, era o primeiro aniversário do pai que ela passava com ele. Nos anos anteriores, depois que ela tomou consciência do que essa data significava, ela sempre me fazia celebrar o dia. Então, depois dela muito insistir, prometer, implorar, e ameaçar ficar de joelhos, eu concedi a ela a folga da escola, tudo para ficar ao lado do pai.

Assim que ficou sabendo do baile, Sophie bem que tentou, mas não conseguiu arrastar Jethro para fazer compras, assim, a questão “de qual roupa o papai vai usar” foi amplamente discutida entre as duas irmãs que não paravam de falar na cabeça de Jethro.

Kelly deu a ideia do uniforme, Sophie, por mais tentada que estive em ver o pai de uniforme completo (e eu também, é bom dizer), acabou não concordando.

— Papai é agente do NCIS agora. Não pode sair de uniforme por aí...  – Ela disse sem muita certeza

Kelly, por sua vez, retrucou:

— Uma vez Fuzileiro, sempre Fuzileiro.

E isso eram as duas discutindo sentadas na escada que dava para o quarto andar, na frente de todo o NCIS. Nem preciso dizer que Jethro estava odiando tudo isso. Já Tony e Abby estavam adorando fazer as apostas de qual das duas ganharia na guerra de opinião.

Depois das duas pesarem os contras e os prós, Jethro acabou por intervir e disse que se as duas fossem continuar a falar sobre que roupa ele iria usar, ele não iria mais.

— Mas papai... o senhor prometeu! – Sophie chiou.

Como resposta ganhou uma encarada que a fez ficar quieta e calada por mais de duas horas.

Logo depois do incidente, recebemos um caso. E lá se foi a equipe, deixando as duas sentadas na mesma posição encarando o elevador que se fechava, tudo porque Jethro disse a seguinte frase:

— É muito bom que as duas estejam exatamente nesse lugar quando eu chegar, e qualquer outro comentário sobre roupa hoje, e as duas estão de castigo.

Kelly tentou argumentar que já era velha demais para ameaças... esse foi o maior erro dela, pois Jethro apenas disse:

— Você o que, Kelly Gibbs?

E as duas irmãs decidiram ficar caladas e quietas sentadas na escada.

Duas horas depois, a equipe voltava, e Jethro tinha um estranho sorriso no rosto quando entrou na minha sala.

 - Onde estão as meninas? – Ele perguntou depois de não encontrá-las.

— Acho que na cafeteria, tentando comprar algo para que seu humor melhore. – Respondi.

— Acho que já melhorou.

— Me diga que você não brigou com nenhum repórter hoje, por favor?

— Nah, Jen. Acho que não vai ter mais baile amanhã.

Isso não era boa coisa, só tinha uma coisa que poderia cancelar o baile dos Fuzileiros.

— O que foi?

— Nosso caso, um casal de assassinos hospedado no hotel em que o baile vai acontecer. Não sabemos quem é o alvo, mas...

— Devido ao fato de que várias figuras importantes para a Segurança Nacional estarão presentes, o cancelamento é a melhor medida. – Completei o raciocínio.

Jethro só balançou a cabeça concordando.

— Você tem ideia do trabalho que eu vou ter para convencer o SecNav, o Alto Escalão dos Fuzileiros e o Departamento de Defesa disso?

— Meu trabalho é achar quem é o alvo e tentar impedir o assassinato. Seu problema é esse, Jen, a política.  – Ele me respondeu sorrindo.

— Você adora jogar isso na minha cara, não é?

— Só de vez em quando.

— Mudando de assunto, como você está planejando descobrir quem é o alvo? Quem você quer infiltrar?

— Se você não fosse a diretora, eu te convidaria para fazer isso ao meu lado, como as coisas mudaram...

— Tony e Ziva se disfarçam bem. Vão brigar como nós dois, contudo darão certo. – Disse me levantando.

— E você, vai fazer o que?

— Fugir, Jethro! Pegar a minha filha, entrar no primeiro avião e sumir dessa bagunça! – Falei sarcasticamente.

— Nem pense em fazer uma coisa dessas de novo! – Ele me alertou. – Eu te acho em qualquer lugar desse mundo. – Completou, me cercando entre a mesa de reuniões e ele.

— Estamos no local de trabalho, um passo para trás, Jethro. – Informei. – E não vou fugir, vou ficar dentro do MTAC por tempo indeterminado. Esse caso é algo que eu não posso ignorar. Toda e qualquer informação deverá ser passada para mim.

— Como quiser, Madame! – Jethro respondeu com um sorriso debochado.

— E não me chame de Madame. – Sibilei na sua direção antes de abrir a porta e dar de cara com Sophie que tinha dois copos de café nas mãos.

— Oi! Compramos para vocês! – Ela estendeu os dois copos com um sorriso no rosto.

— Nossa! Muito obrigada! – Me abaixei para ficar da altura dela e dar um beijo em sua testa.

— Na verdade, compramos café para tooooooddddoooo mundo. Não é Cynthia?

Olhei para a mesa de Cynthia e lá estava um copo também.

— Você também vai tomar? – Jethro pareceu alarmado ao pensar na filha com uma dose cavalar de cafeína.

— Não. Pra mim tem chocolate quente! – O sorriso dela era ainda maior.

— Por que isso não me surpreende? – Olhei para a baixinha.

— Por que eu amo chocolate?

Jethro segurou a risada e começou a guiar a filha para as escadas.

— Aonde você vai mamãe?

— MTAC.

— Vai demorar?

— Sim. Não sei quando eu vou sair daqui, então, quando for dezoito horas, eu quero você indo para casa, tudo bem?

Sophie voltou correndo até onde estava e parou me encarando.

— Não se esqueça que amanhã é aniversário do papai! – Me informou. – E a senhora precisa descansar para o baile!

— Não vou esquecer, Sophie. Agora, faça o que eu mandei.

— Tá bom. Eu faço! – Ela abraçou minhas pernas. – Bom trabalho. – Disse já voltando para perto do pai. E os dois desceram conversando as escadas.


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Notas finais do capítulo

E então? Quem é mais ciumento, Sophie ou Gibbs? Ou dá empate?
Ziva não tem muita noção do que fala, né? Imagina se a Sophie aprende a se defender, coitada da pobre alma que cruzar o caminho dela!
Sobre o restante, o caso que mencionei é o descrito no episódio "under covers" (S03E08) e sim, eu vou escrever sobre o baile que a Jenny vai porque eu nunca aceitei o fato dela ter levado o Ducky e não o Gibbs!
E aí, quem vai ganhar o embate, Kelly ou Sophie?
A resposta só na semana que vem!
Muito obrigada por lerem!!
Fiquem seguros e lembrem-se usem máscaras e higienizem sempre as mãos (e o celular também!!)
xoxo



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