Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 62
Jethro e Sophie


Notas iniciais do capítulo

Sim, finalmente temos pai e filha tendo um tempo só para eles!
Espero que gostem.
Boa leitura.



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Enquanto Jen tentava interrogar nossa filha eu fiquei observando, foram menos de duas horas junto com a equipe, e pelo visto, Sophie já tinha conseguido, não só conquistar a todos, como fazê-los voltar a serem crianças. Não que eles precisassem desse incentivo.

Contudo, algo que Kelly havia dito ainda me perturbava.

— O senhor não está com ciúmes?

Eu não sei se era ciúmes, eu não sabia definir o sentimento de ver que a menina dos meus sonhos de fato existia e estava ali. Eu ainda não sabia o que sentir.

Sim, com toda certeza ela era minha filha, não só pelo teste de DNA que Abby havia feito, mas pela cor de seus olhos e algumas pequenas manias que eram impossíveis de serem ensinadas.

E vê-la ali, completamente à vontade no meio da minha equipe, ao lado de Kelly e da mãe me dava uma estranha sensação de que nenhum dos sonhos que eu tive nos últimos anos eram somente sonhos. De alguma forma, meu subconsciente tentava me avisar de que Sophie era real.

E a vontade que eu tive de poder abraçar aquela garotinha novamente foi maior que tudo.

Como a equipe já havia ido, dei a desculpa de que Jen estava cansada e peguei Sophie no colo. Era inexplicável a sensação de carregar outra filha em meus braços, de saber que, mesmo mal a conhecendo, já a amava ao ponto de poder colocar a minha vida em risco para que ela fosse feliz.

Dentro do elevador, dei uma olhada para Jen e li a sua expressão. Agora era ela quem estava com ciúmes. Depois de cinco anos sendo a única a quem Sophie pudesse recorrer, ela agora tinha que divida-la comigo. E a feição dela me fez entender duas coisas que ocorreram no caso do Comandante Tanner.

Primeiro o comentário sobre eu sempre ter me dado bem com crianças. E segundo, a forma como ela tratou o garoto, não que ela tivesse sido indelicada ou tivesse maltratado o pequeno Zach, mas ela foi fria e distante. Jen, de alguma forma, ao me ver ao lado de Zach, de vê-lo no porão, me ajudando com o barco, tinha tomado as dores da filha. Ela, no fundo, deve ter desejado que fosse Sophie ali, ao invés dele.

E pensar que eu perguntei a ela se ela estava se oferecendo para ser a mãe de meus filhos...

Ao me ver olhando para Jen, Sophie se ajeitou no meu colo, apoiando a cabeça no meu ombro esquerdo, ficando, ela também, de frente para mãe e soltou:

— A mamãe tá bonita, não tá papai?

Jen ficou imediatamente corada com o comentário, Kelly começou a tossir, não sei se havia se engasgado ou se tentava esconder a gargalhada. Já eu encarei a pequena ruiva que me encarava de volta, com um sorriso.

— Não, Sophie, ela não está. Ela sempre foi.

Isso pareceu animá-la.

— O senhor também é muito bonito. – Ela me garantiu me dando um beijo na bochecha.

— Ih, pronto! Agora ela ganhou o Marine de vez! – Kelly comentou me dando um beijo também.

E as duas olharam para Jen, como que esperando que ela falasse algo. Jen nos encarou, porém antes que pudesse falar qualquer coisa, as portas do elevador se abriram e ela se pôs na persona da diretora.

Estávamos passando pelos Fuzileiros que fazem a guarda do prédio, quando Sophie me solta outra pérola:

— Papai, a mamãe e a Kells me disseram que o senhor é um fuzileiro...

— Sim, sou. – Não entendi onde ela queria chegar. Porém, se o sorriso que Jen tentava esconder significava algo, eu iria me arrepender de perguntar o que ela queria.

— Então... eu posso ver uma foto sua de uniforme? Eu acho tão bonito. – Ela me pediu.

Tive que procurar na memória onde estavam as minhas fotos de quando ainda estava na Corporação. Porém, Kelly foi mais rápida e respondeu à irmã:

— Deixa que eu te mostro, tenho que achar as fotos do baile que papai me levou. Eu o obriguei a usar o uniforme de gala!

Me lembrei da ocasião, foi alguns meses antes de Shannon morrer, Kelly chegou em casa com um folheto, dizia que na escola teria um baile só para as meninas e os acompanhantes seriam os pais.

Shannon me olhou sorrindo.

— Acho que você vai ter que aprender a dançar, Jethro. – Ela falou, me abraçando pelos ombros.

Kelly, que estava parada na minha frente, se balançava nos próprios pés e, de alguma forma, eu sabia, ela queria me perguntar alguma coisa, já que mordia o lábio inferior também.

— O que foi, princesa?

— Papai... – Ela me olhou nos olhos e disse muito seriamente. – O senhor me leva vestido com a sua farda de gala? Aquela bonita, preta e azul? – Ela não parou de me encarar enquanto não teve a resposta que queria.

— Sim, Kells. Eu te levo. – Respondi, e como agradecimento, Kelly pulou no meu colo e me abraçou apertado, dizendo que eu era o melhor e maior pai do mundo.

Duas semanas depois, estava eu, com o uniforme completo, dançando no salão da escola com a minha princesa.

— Pai... o senhor tá nesse mundo? – A mesma Kelly me trouxe de volta ao presente.

— Sim, estou. – Respondi e vi que as duas ruivas me olhavam curiosas, até que Sophie disse:

— Vish, mamãe, o papai também desliga, igualzinho à Kells.

Jen soltou uma sonora gargalhada e eu fingi que não tinha ouvido o comentário, pegando a ruivinha falante e a colocando dentro do carro.

— Não tem cadeirinha! – Ela me informou antes mesmo que eu a colocasse sentada...

Jen deu um sorriso na minha direção e foi se sentando no banco de trás e colocando Sophie no colo dela.

— Dessa vez, a senhorita vai no meu colo, mas não se acostume, isso é errado.

— Tá bom, mas esse vai ser o carro que vai me levar para escola? Porque se for, tem que ter a cadeirinha... – Sophie ainda falava, pelo visto, Jen tinha passado para a filha o seu senso de responsabilidade.

Kelly se sentou no banco da frente, quando olhei para ela, tinha um enorme sorriso estampado no rosto.

— Sabem de uma coisa? – Ela disse, se ajeitando e colocando os pés no painel do carro. – Todo mundo vai na minha formatura agora. Até o vovô Jack.

— Você convidou o seu avô? – Perguntei.

— Quem é vovô Jack? – Sophie perguntou para Jen.

— Bem... – Jen não sabia o que dizer, ela sabia que eu não tinha a melhor das convivências do meu pai, apesar de Kelly sempre ter convivido com ele, assim, ela buscou por mim no espelho para poder continuar.

— Vovô Jack é o pai do papai, Soph. – Kelly passou na minha frente. – E ele está doido para te conhecer pessoalmente.

Até o meu pai sabia da existência de Sophie e eu não.

— Está? – A ruivinha perguntou, olhando para a irmã. – Mas eu não conheço ele!

— Não tem problema, na final de semana que vem, você vai conhecê-lo. – Kelly garantiu.

— O Henry vai também? – Sophie continuou.

— Ela conhece o engomadinho também?! – Perguntei incrédulo.

— Conhece. Ele foi a Londres uma vez comigo...

— Henry tem medo da mamãe! – Sophie interrompeu Kelly com essa informação preciosa.

Então Jenny já tinha conhecido o garoto E tinha colocado medo nele. Eu gostei de saber disso.

— E sabe, papai. – Sophie chamou a minha atenção. – Eu falei para ele que se ele fizer a Kelly ficar triste, eu vou bater atrás da cabeça dele com muito mais força do que eu já bati!! – A ruivinha me garantiu.

A minha sorte era a de estávamos parados em um semáforo, assim eu pude olhar para trás e ver a feição séria da minha caçula.

— Muito obrigado por me ajudar a cuidar da sua irmã – Falei para ela.

— De nada! – Ela respondeu sorridente do colo da mãe. Kelly, ao meu lado, balançava negativamente a cabeça e Jen tentava a todo custo esconder a risada.

Quinze minutos depois, estacionei em frente ao prédio de Jen e, pela primeira vez me ocorreu que, na noite em que vim buscá-la para o jantar que comemorou a formatura de Kelly, quem eu havia visto atrás das cortinas tinha sido Sophie e não ela. E pensar que quando eu entrei naquele apartamento mais tarde, eu fiquei a metros de conhecê-la... Falando em Sophie, esta já estava impaciente no banco de trás para descer.

— Papai, o senhor vai ficar, não vai? – Ela me pediu assim que Jen a colocou de pé na calçada.

Jenny olhou para mim, me dando liberdade para decidir.

— Se você quiser. – Falei.

— Até parece que ela não vai querer! – Kelly falou bagunçando os cabelos mal cortados da menina.

— Sempre papai! Sempre! – Foi a resposta que recebi dela que já me puxava para dentro do prédio.

Notei, novamente, os dois seguranças, até então eles foram muito discretos, pois ninguém na agência sabia de Sophie até esta tarde.

Sophie nos guiou até o quarto andar, sempre na frente e nunca soltou a minha mão. A falação dela foi tanta, que assim que subimos o último degrau, a porta do apartamento estava aberta e a governanta de Jen nos esperava. Ou melhor dizendo, esperava a patroa e a garota, não os outros dois visitantes, a julgar pela expressão dela.

— NOEMI!! – Sophie gritou, apressando os passos. – Olha quem veio jantar comigo e com a mamãe! O meu papai e a Kelly!!! – Ela disse feliz. – Papai. – Ela olhou para mim. – Aquela ali é a Noemi. Ela faz um monte de comida gostosa e está em ensinando a falar espanhol. ¿No es verdad, Noemi? – Ela terminou em espanhol, me espantando.

Señor Gibbs! Boa noite! – Me surpreendi dela saber o meu nome, mas no fundo não deveria, ela deve ter ajudado Jen nos últimos cinco anos, além do que ela já conhecia Kelly. – Señorita Kelly! Señora! Boa noite! – Ela cumprimentou as outras duas. – Ahora, ¿por qué estas así, pequeña? ¿Que passaste com su pelo?— Ela se agachou na frente de Sophie e começou a analisar a pequena.

— Noemi, vamos entrar, temos muito o que te explicar. – Jenny pediu e depois que todos estávamos dentro do apartamento, fechou a porta, a hispânica ainda olhava atordoada para a patroa, e Sophie, vendo que as atenções estavam voltadas para a mãe, saiu correndo pela sala e entrou em um corredor.

— Ela foi sequestrada, cortaram o cabelo dela para me mandarem uma prova de vida. Por isso ela está assim. Quanto a Jethro, bem, já passava da hora, não acha? – Jen resumiu o dia em poucas palavras.

— Si. Ela vai ficar bem? – Noemi voltou ao inglês.

— Espero que sim. – Foi a prece de Jen que agora olhava a nossa filha que entrava correndo na sala onde estávamos com algo nas mãos. – Se prepare. – Ela me avisou. – Sophie vai te contar a vida toda dela agora. – Disse com um sorriso.

Olhei para meu lado e era possível ver a empolgação e a felicidade de Sophie em seus olhos.

— Papai, eu posso te mostrar uma coisa? – Ela me pediu.

Kelly deu uma risada e foi em direção à cozinha, perguntando à Noemi se ela poderia comer alguma coisa. Jenny estava arrumando as coisas dela e acabou por nos deixar sozinhos.

Olhei para a pequena ruiva ao meu lado, ela parecia ter um álbum de recortes ou algo parecido em suas mãozinhas.

— Claro que pode.

E Sophie me surpreendeu de novo, ela subiu no sofá, me puxou pelo braço, me chamando para me sentar ao seu lado e, assim que eu o fiz, ela se sentou no meu colo, abrindo um diário.

— Isso aqui, eu fiz para a mamãe quando ela tinha que ir viajar e ficava muito tempo fora. Assim eu não esquecia de contar nada para ela quando ela chegava. – Ela começou solenemente. – Mas aí quando eu terminei de contar para ela tudo, eu perguntei se poderia continuar a fazer isso, para que eu pudesse te contar quando te encontrasse. – Sophie me olhou, e seus estranhos olhos estavam um de cada cor.

E eu me perguntei internamente quanto tempo Jen ficou fora para que Sophie precisasse fazer isso.

— Esse aqui. - Ela apontou para um convite de uma peça de teatro. – É sobre a peça que eu fiz. Eu fui a fadinha! – O sorriso dela era enorme.

— Aposto que foi a fadinha mais linda.

— Eu era única com cabelo vermelho... – Fez um bico.

Só por isso já era linda. – Pensei.

— Aliás, eu era a única menina com cabelo ruivo na escola inteira... – Ela me afirmou. – E tinha gente que me chamava de foguinho, ferrugem... eu não gostava. Eu falei para a mamãe e ela me falou que era para igo.. ingui..

— Ignorar? – Perguntei.

— Isso! Mamãe me falou que era para fazer isso que ninguém mais ia rir de mim. – Ela balançou a cabeça na minha direção.

— E funcionou? – Perguntei. E inconscientemente apertei meu abraço em torno dela, como que a confortando por causa do que ela passou.

— Sim... depois de um tempo ninguém falou mais nada. Mas sabe? Eu não ligo, gosto do meu cabelo vermelho. É igual ao da mamãe e da Annia e da Moranguinho...

— Quem é Annia?

— Minha boneca de pano. – Ela me informou e voltou sua atenção para o álbum. Fiz o mesmo e encarei a página aberta, eu sabia o que significava aqueles desenhos, mas queria que ela me explicasse.

— E isso? O que é? – Apontei para um desenho de uma casa, um sol, uma árvore, um cachorro e um gato.

— Foi o primeiro desenho que fiz na escola. A Kells me disse que depois que eu aprendesse a desenhar, eu poderia me tornar agente do NCIS.

E Sophie queria ser agente do NCIS.... cada segundo era uma novidade diferente.

E ela foi passando pelos dias, o primeiro ano na escola, os tombos que ela tomava. Ela me contou até de um Ano Novo em que Kelly foi passar com ela.

— Essa foto aqui. – Ela apontou para a foto em questão, mãe e filha juntas, na frente da Torre Eiffel. – Foi tirada no meu aniversário de cinco anos. Quando nós chegamos em casa, eu pedi para a mamãe se a gente poderia vir para os EUA, no meu aniversário de seis. Agora não vai precisar mais! Já estamos aqui e toda a minha família tá aqui também, e tem muito mais gente! – Ela me sorriu feliz.

Peguei a foto e olhei. Tinha uma, em algum lugar do meu porão, que tinha Jen e Kelly juntas. E parece que Sophie podia ler meus pensamentos, pois logo em seguida ela falou:

— Eu quis tirar essa foto assim, porque a mamãe tem uma com a Kells... Agora ela tem uma foto comigo também e pode deixar no escritório dela. Um dia o senhor tira uma foto dessas comigo também? – Me pediu.

— Tiro. Só temos que ir para Paris.

— Mamãe ama Paris. O senhor viu no escritório dela a quantidade de foto de Paris? Só tem uma de Londres! – E foi só quando Sophie falou isso que eu percebi uma pequena particularidade.

Ela tem sotaque britânico. Minha filha tem sotaque britânico! A consequência de ter passado seus primeiros anos na Terra da Rainha.

— E por que você disse que só tem uma de Londres? Não gosta de Paris?

— Gosto, eu acho bonita. Mas gosto mais de Londres... lá tem palácios, tem o Big Ben, tem a London Eye... que é uma roda gigante imensa...  – Ela me mostrou com os braços o tamanho da roda gigante. - E tem parques, muitos parques! – Escutei ela dizer, enquanto me mostrava mais algumas fotos de Londres.

— E essas fotos aqui? De quando são? – Perguntei.

— Meu aniversário de quatro anos. Fomos esquiar na Suíça. O senhor acredita que a cair sentada na neve dói? – Ela colocou as duas mãos na cintura para dar ênfase a quão injuriada ela estava.

— Eu sei que dói. – Dei um beijo na cabeça dela.

— O senhor sabe esquiar?

— Mais ou menos.

— Mamãe sabe. Eu não esquio bem não...

— Parece que a mamãe sabe fazer de tudo... – Comentei só para ver a reação dela.

— Tem uma coisa que a mamãe não sabe fazer, mas eu sei que o senhor sabe! – Ela me garantiu, enfatizando o numeral um levantando o dedo indicador.

— É mesmo? – Eu tentei buscar na memória o que seria, mas nada me veio à mente.

— Sim. O senhor sabe construir barcos! Barcos de verdade. A mamãe só sabe fazer barquinho de papel!

Eu gargalhei com o comentário. E Sophie seguiu minha risada, rindo também. E nossas risadas chamaram a atenção das outras três mulheres da casa, que pararam um pouco mais longe para tentarem entender o que estava acontecendo. Eu ignorei os olhares espantados e pedi para minha caçula continuar.

— Tem mais alguma coisa que devo saber? – Perguntei.

Sophie mordeu o lábio e juntou as sobrancelhas, pensando a respeito.

— Sabia que essa não é a nossa casa de verdade? – Ela soltou.

— Não?

— Não é. Nós só vamos ficar aqui até que a nossa casa em Georgetown fique pronta. Tá quase. Meu quarto já tá pintado.

— Que cor que você escolheu?

— Rosa e roxo!

— Rosa e Roxo? Como assim?

— Tem três paredes rosas, mas é um rosa bem clarinho. E uma parede roxa. Esse roxo é bem escuro.

— E a sua cama?

— Ainda não tem... – Ela balançou negativamente a cabeça. – Tá vazio ainda... mamãe me falou que temos que comprar os móveis.

Isso me deu uma ideia...

— E o que você vai colocar dentro do seu quarto?

Sophie abriu um enorme sorriso e pulou do meu colo, fechando o álbum de recordações e me puxando pela mão.

— Vem comigo que eu vou te mostrar. - Ela saiu pelo apartamento me rebocando e me contando o que era cada cômodo, até que paramos diante de uma porta branca com estrelinhas coloridas.

— Esse é seu quarto?

— Sim. – Ela ficou na ponta dos pés para girar a maçaneta e abriu a porta. – Eu vou colocar tudo isso! – Ela me mostrou o quarto. E eu só pude observar todos os bichinhos de pelúcia, as bonecas, os livros e miniaturas.

— O que é aquilo? – Apontei para as miniaturas.

— São os presentes que a mamãe me trouxe cada vez que ela ia viajar... tem algumas das nossas viagens também. – Ela me trouxe o Arco do Triunfo. – Esse aqui. – Ela me mostrou uma fortaleza. – Foi a Tia Ziva quem me deu. Disse que fica no país onde ela nasceu, lá em Israel, mas não é mais assim, mas ela falou que a vista daqui de cima – ela apontou para a parte de cima da miniatura, é muito bonita! Um dia mamãe vai me levar lá!

Observei os lugares, Londres, Paris, Moscou, Berlim, Belgrado, Budapeste, Cairo, Israel, Madrid, Praga, Viena, Zurique, Milão, Marselha, Positano, Bruxelas... Não sabia quais Jen tinha ido sozinha, quais ela havia levado Sophie.

— Um dia eu vou viajar tanto quanto a mamãe! – Sophie me falou. – Ah! Tá vendo essas bonecas aqui? – Ela me mostrou duas. Uma boneca de pano russa que eu reconheci como sendo a que Callen comprou em Moscou, as palavras dele à época fazendo sentido somente agora: “Minha colega deu à luz a uma menina ruiva, e eu não dei presente nenhum para a garotinha...” foi a desculpa dele. A outra era uma Moranguinho.

— Essa Moranguinho aqui foi a Kells quem me deu, foi o primeiro presente que ela me deu! Junto com ela, a Kelly escreveu um bilhete para mim. – Sophie correu para outro álbum que estava em uma estante. – Aqui o bilhete.

— E você sabe o que está escrito aí? – Perguntei curioso.

— “Para a minha irmãzinha linda que ainda não conheço, mas que tenho a certeza de que será tão ruiva quanto essa bonequinha.” – Sophie leu sem problema algum e continuou. – Essa boneca de pano aqui, é a Annia, foi o Tio Callen quem me deu. Tem um tempão que eu não o vejo... – A ruivinha divagou abraçando a boneca. – Esse gatinho foi o Tio Duck, e esse ursinho aqui foi a Tia Mina! Tia Mina ficou em Londres... – Ela terminou.

— E de qual você gosta mais?

— De todos.

— Mas você não tem nada de que goste mais do que tudo?

Ela abriu um enorme sorriso e pulou na cama, correndo sobre o colchão até que se ajoelhou do lado do criado, e pegou dois porta-retratos.

— São meus favoritos. – Ela me entregou os objetos e eu não soube o que dizer. Em um tinha uma foto de Jenny, Sophie, Kelly e Noemi, ao fundo se via o Rio Tâmisa e uma parte da London Tower, claramente as quatro estavam em uma das cabines da London Eye. E a outra foto, era uma foto minha, que eu nunca vira, mas reconheci o local. Jen deveria ter tirado quando saímos para fazer o reconhecimento dos locais em Positano.

— Sempre ficaram do seu lado?

— Sim. Sempre ficaram! – Sophie confirmou com a cabeça.

Como Jenny havia me falado, ela realmente nunca escondeu de Sophie quem eu era.

— Foi por conta dessa foto que eu reconheci o senhor! E todo dia à noite eu pedia para as estrelas que eu pudesse te conhecer! E agora o senhor tá aqui! – Ela me abraçou apertado.

Coloquei os dois porta-retratos na cama e a coloquei em meu colo, dando uma olhada em todas as memórias que ela ainda tinha que me contar. Eu tinha muito para saber. Inclusive, uma coisa muito importante.

— Filha? – A chamei.

— Sim, papai? – Ela me olhou com o queixo apoiado em meu peito, seus olhos arregalados.

— Quando é o seu aniversário?

— Ainda tá longe! Estamos em setembro! O aniversário da Kelly que tá chegando! – Ela me informou.

— Eu sei... e quando a Kelly faz aniversário?

— Dia 30 de setembro. A mamãe dia 28 de outubro, e senhor dia 10 de novembro. A Noemi faz aniversário em maio, dia 8 e o Henry faz aniversário em julho, dia 29. – Ela recitou todas as datas sem nem parar para pensar.

— E você?

— Março. Kelly falou que é muito apropriado eu ser ariana, disse que combina com a cor do meu cabelo... mas eu não sei o que isso significa!

— Que dia de março, filha? – Por que ela demorava tanto para me passar a informação?

— Vinte e cinco!

Era uma data que eu jamais esqueceria. 

 - Sabe, papai, eu tenho que descobrir o dia do aniversário de todo mundo agora... eles têm que ganhar presentes!

— Eles quem?

— O Tony, a Abby, o McGee, o Jimmy... eu nem sei o dia do aniversário do tio Ducky nem da tia Ziva!! – Ela levou o dedo indicador à boca e parou como se estivesse pensando. E de alguma forma eu consegui visualizar Abby e Sophie preparando uma festa para cada um deles.

Eu ia responder alguma coisa, quando Jen bateu na porta.

— Desculpe atrapalhar a conversa, eu sei que você ainda tem muito para contar para o seu pai, mas vamos tomar um banho antes de jantar, ruivinha? – Ela perguntou.

— Tudo bem. Vamos sim. – Sophie respondeu, descendo do meu colo e indo para o guarda-roupas. – Pijamas, mamãe?

— Pode colocar, já está bem tarde.

— Eu não tô com sono.

— E quando você está com sono, Sophie? – Jenny a respondeu, levando a miniatura ruiva para o banheiro. – Já volto com ela, é porque se deixar, ela vai te alugar a noite inteira. – Ela se desculpou.

E por todo o tempo em que Sophie estava tomando banho, eu tentei descobrir um pouco mais sobre a minha filha. Dei uma olhada no quarto, nos desenhos que tinha ali, nos livros e desenhos animados. No fim, acabei abrindo o álbum de fotos. Jen tinha documentado tudo. Desde o primeiro ultrassom até os últimos dias das duas em Londres. E eram muitas fotos, de aniversários, halloweens, natais, viradas de ano. De viagens que as duas fizeram, de passeios. Ali tinha a foto dela vestida de fadinha para a peça da escola, mas uma das fotos mais bonitas, com certeza era dela vestida de Moranguinho.

— Essa é a minha preferida. – Kelly falou às minhas costas. – Jen me mandou essa sequência toda, ficaram no mural no meu quarto todo esse tempo. Tem uma que ela está vestida de Minnie, essa é linda também. – Kelly apontou para a foto em questão.

Sophie com vestido vermelho de bolinhas brancas, sapatinhos vermelhos e um enorme laço na cabeça. Eu tinha perdido muita coisa.

— Ela já está falando na fantasia do Halloween. Agora que ela e a Abby já se conhecem... o prédio inteiro do NCIS vai ser enfeitado! – Kelly falou

— Nem imagino do que ela quer se vestir.

— Ha! Eu não vou contar quais são as personagens preferidas dela. Vou deixá-la falar na sua cabeça. Eu estou quase certa de uma, mas Sophie adora surpreender! – Kelly continuou.

Nesse momento ouvimos o secador ser deligado, Jenny tinha acabado de dar o banho na pequena e ela saiu saltitando do banheiro, vestindo um pijama rosa claro cheio de estrelinhas brilhantes, até pular na cama ao meu lado e espalhando o perfume de morango e framboesa pelo ar, o mesmo perfume que senti no escritório de Jen. E foi só agora que vi o tamanho do estrago que fizeram nos cabelos dela. Estavam na altura dos ombros, mas completamente tortos.

— Amanhã eu vou ter que levá-la no cabeleireiro para acertar esse corte... – Jen disse como se lendo a minha mente e sabendo no que eu estava pensando. – Ela estava querendo deixar crescer para ficar...

— Igual ao da Anastácia! – Sophie me disse.

Quem era Anastácia? Eu não fazia ideia!

— Nossa pai, vou pedir para o DiNozzo te atualizar sobre esses desenhos! – Kelly falou ao ver a minha cara de perdido. – Ruiva, pega a capa do DVD!

Sophie foi até a estante do quarto dela e voltou com o DVD. E uma ruiva de olhos azuis estampava a capa.

— Aqui tá curto, mas é grandão. – Sophie me informou.

— Sei. – Eu não fazia ideia de que esse desenho existia. – É o seu preferido? – Perguntei.

— Depois do jantar vocês dois continuam essa conversa. – Jen nos cortou. - Ande logo, mocinha, coloque essas coisas no lugar e lave as suas mãos, te espero na mesa. – Jen ordenou e fez um sinal para que eu a acompanhasse.

— Por que você a cortou? – Perguntei quase ofendido, ela sabia do que a filha gostava, eu não.

— Você quer passar o restante da noite de sexta-feira assistindo o desenho de uma princesa russa desmemoriada? Porque é isso que ela vai pedir, e Jethro, eu já perdi as contas de quantas vezes nós já vimos esse desenho! – Jenny me explicou.

Com pouco Sophie chegou e se sentou do lado da mãe. Noemi passou umas duas vezes atrás dela e olhou feio para o cabelo, dizendo qualquer coisa em espanhol baixo demais para qualquer um ali escutar, mas estava claramente chateada por terem cortado os cabelos da menina.

O jantar foi quieto, e eu estranhei, ainda mais pelo tanto que Sophie já havia falado, porém notei que toda a agitação do dia estava começando a cobrar o preço, pois ela mal havia acabado de comer e estava esfregando os olhos e tentando esconder um bocejo.

— Hora de ir para a cama, mini me... – Jen falou, dando um beijo no topo da cabeça dela.

Vi que Sophie iria protestar alguma coisa, mas desistiu.

— Vamos escovar esses dentes... – Jen levou a filha no colo.

— Muita coisa para absorver, né? – Kelly me disse.

Sim, era muita coisa. E só agora a minha ficha estava caindo de verdade.

Eu e Jen tínhamos uma filha. Realmente tínhamos uma filha....

Não se passaram cinco minutos e Sophie veio para a sala onde estávamos, se despedir.

— Boa noite, Kells. – Ela deu um abraço e um beijo na bochecha de Kelly. – Boa noite, papai. Amanhã o senhor ainda vai estar aqui, não vai? – Ela me perguntou, parada na minha frente.

Kelly levantou a sobrancelha para mim e abriu um sorriso.

— É claro que vou, Sophie. Vamos dormir, agora? – A peguei no colo e a levei até onde Jen a esperava.

— Quer fazer as honras? – Ela me perguntou.

Sophie já estava quase adormecida no meu colo.

— Posso?

Jen só beijou a testa da filha e disse:

— Eu te amo e nunca vou sair do seu lado, ruiva. Boa noite.

— Te amo mais, mamãe. Boa noite. – Foi a resposta da sonolenta ruivinha.

 E eu entrei no quarto, a cama já arrumada, dois bichinhos de pelúcia em cima dela, um dragão e uma bola verde. Deitei Sophie entre as cobertas e a ajeitei. Não sabendo qual dos dois bichinhos ela gostava de abraçar, olhei para Jen que estava na porta, ela fez o sinal do dois, assim, coloquei os dois mais perto dela e dei um beijo no topo de sua cabeça, lhe desejando boa noite.

Esperei até que ela estivesse quase dormindo para me levantar, e foi quando Sophie me surpreendeu pela última vez naquele dia, ela pegou minha mão e me disse:

— Eu te amo, papai.

E depois se ajeitou no travesseiro e caiu no sono. Eu ainda fiquei um bom tempo parado ao lado de sua cama, olhando-a dormir, ainda sem acreditar no que ela havia falado.

— Eu também te amo, Ruiva. E é muito bom saber que você é mais do que um sonho. – Sussurrei antes de sair e encostar a porta, encontrando com Jen no corredor.

— E então?  – Ela me perguntou.

— Tem certeza de que ela só tem cinco anos?

Jenny sorriu e deu de ombros:

— Sou suspeita para falar, Jethro.

Dei outra olhada para o quarto onde minha filha dormia, e tive que me controlar para não voltar lá e ficar de pé durante toda a noite, vendo-a dormir...

— Ela não vai sumir, Jethro, amanhã, logo cedo, ela vai levantar perguntado por você, aposto meu cargo nisso. Acho que ainda temos algumas coisas para conversar, não temos?


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Notas finais do capítulo

Modéstia a parte, esse foi um dos capítulos que eu mais amei escrever... de verdade.
Muito obrigada a você que leu!
Volto assim que der!
Até lá!
xoxo



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