Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 61
Essa Garota É Um Verdadeiro Problema


Notas iniciais do capítulo

Só um pequeno comentário antes de vocês lerem o capitulo, Kelly também tem lá os ataques de ciúmes dela!! Além de ser a mais emocionada de todas!
Boa leitura!



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Depois de alguns minutos, Kelly tinha terminado de cuidar dos machucados da Pimentinha.

Era estranho pensar nisso. Tinha uma criança na sala de autópsia, uma menina que tinha sido sequestrada e que nós a resgatamos, mas não era uma vítima qualquer, essa menina era filha do Chefe e da Diretora. Da mulher que quando chegou mudou até a forma de como Gibbs trabalhava.

Eu sempre desconfiei que os dois, bem... eu estava certo de alguma forma, cheguei até a imaginar que eles poderiam ter tido uma criança juntos, devido ao que Kelly havia comentado, porém, ver que a minha teoria era verdade... chegava até ser coincidências demais, e eu também não acreditava em coincidências. Porém, o mais impressionante era como essa garotinha tem um poder tão grande de atrair toda a equipe para perto dela.

Eu nunca fui fã de crianças, mas Sophie era diferente. Não sei o que ela tinha, todavia foi até fácil me sentir responsável por ela. Foi fácil me apegar a ela e querer que ela ficasse segura.

— Eu estou sentindo cheiro de assado, Tony. – Ziva sussurrou no meu ouvido.

Olhei para a israelense que tinha os olhos vidrados na pequena ruiva que agora estava impaciente para sair da autópsia.

— É queimado, Ziva. E só para começar, desde quando conhece a Sophie? – Indaguei.

 - Ela tinha três anos e alguma coisa, e, no dia em que eu a vi pela primeira vez, tinha um olho azul e outro verde. E, assim que viu a mãe, correu para abraçá-la. Depois ficou me encarando... uma olhada que hoje eu sei, foi herdada do Gibbs!

— Você e a Diretora são amigas há muito tempo, então...

— Tínhamos acabado de voltar de uma missão infiltrada no Cairo. Quase morremos. Eu acabei por salvar a vida da Jenny. Quando chegamos à Londres, eu não tinha onde ficar. Em agradecimento, ela me convidou para ficar na casa dela até fosse seguro que eu voltasse para Israel. Foi quando eu conheci a Sophie. – Ziva abriu um sorriso. – Ela era uma criança linda. A mais linda que já vi. – Ela me olhou. – Quando Jenny abriu a porta do apartamento, ela veio correndo, gritando “mamãe” em sua vozinha de criança. Um sorriso imenso no rostinho bochechudo.

Tentei encaixar a cena. Não conseguia imaginar a Diretora em um papel desses, abraçando uma criança, mas no fundo, eu nunca a conheci de verdade, ainda.

— O vínculo entre Jenny e Sophie é muito forte. Nada é capaz de separar essas duas. – Ziva continuou. – Aliás, não só entre Jenny e Sophie, mas entre Jenny e Kelly também.

Parei para pensar. Era verdade, desde que Jenny assumira a diretoria do NCIS, a presença de Kelly aumentou por aqui. Antes ela vinha de vez em quando, agora é praticamente toda a semana.

— Agora me diga, você não gosta de crianças. Por que ficar igual a uma águia tomando conta do Pingo de Gente?

— Pingo de Gente? – Eu ri para o apelido. – Não sei. Ela é.... - Sophie agora brincava com Palmer sobre a cor do curativo. Jimmy tinha oferecido um vermelho para combinar com o cabelo dela. Sophie ainda não tinha escolhido e estava levando Kelly à loucura.

— Ela é cativante. E faz qualquer coisa para te deixar de bom humor. – Ziva terminou a minha frase. E eu a olhei descrente. – Acredite em mim, Tony, ninguém fica triste ou mal-humorado perto dela.

E parecia ser verdade, Sophie agora tinha o pote de curativos no colo, fazia uma cara de dúvida e fingia pegar um ou outro. Até que soltou uma pérola:

— Timmy... – Ela chamou. E todos olhamos para ela, curiosos. – Vem aqui, por favor.

McRessabiado deu um passo à frente e perguntou se ela queria alguma coisa.

Sophie disse que sim. E colou um curativo verde nas costas mão dele. Ela tinha um sorriso sapeca estampado e McGee olhava incrédulo para o curativo, como se não acreditasse que a garota tinha feito aquilo com ele.

— Tooooonnnnyyyyyyy. – Ela cantarolou o meu nome. – Tia Ziiiivvaaaaa. – A ruivinha continuou.

Andamos até onde ela estava e, mal chegamos perto, tivemos nossos braços estampados com curativos. Ziva ganhou um laranja, eu, um azul. Depois foi a vez de Jimmy, que saiu com um amarelo no cotovelo. Abby ganhou dois, um preto e um vermelho fazendo um X em seu joelho. Kelly não escapou e saiu com um, cor de rosa, no braço. Quando Sophie terminou de colar o curativo em Ducky (um branco), ela disse muito zombeteira.

— Ixi, Kells. Só ficou o roxo!!!! Vai ter que ser esse!

— Tudo bem... mas precisava colar um curativo em todo mundo? – Kelly ralhou com ela.

— Não, mas foi divertido. – Ela balançava as pernas feliz.

— Você sabe que a Jen não vai gostar de saber disso, né?

Sophie deu uma olhada em todo mundo e disse:

— Ela não vai nem perceber!

Essa garotinha brincava muito com a sorte!

— Kellssss..... – Sophie disse depois que Kelly já a tinha descido da mesa e ajudava Ducky a limpar tudo.

— Lá vem você... – Kelly disse em um suspiro. E todos nós nos ajeitamos para escutar a bomba.

— Será que a gente pode ir visitar o laboratório da Abbs? Fui lá um dia, mas tava tudo desligado... – Ela pediu com um beicinho.

Kelly nem teve tempo para responder, Abby deu um pulo e correu para a porta, e eu, em dois tempos, coloquei Sophie sob os meus ombros e rumamos para o elevador.

— Tony, desce a Sophie das suas costas e volte aqui!! Eu ainda não terminei de ajudar o Ducky! – Kelly mandou.

Sophie gargalhava feliz com a brincadeira.

Antes que eu respondesse, escutei Ducky dizer:

— Vá logo com eles, Kelly. Aqui já não tem mais nada para fazer. Vá ficar com a sua irmã antes que qualquer outra coisa separe vocês duas.

Kelly veio correndo em direção ao elevador e parou na minha frente:

— Nunca mais faça isso. Ela é minha irmã e está sob a minha responsabilidade. – Ela sibilou para mim e me olhou como o Chefe olha.

— Próxima parada, meu lab!! – Abby cantarolou quando as portas fecharam.

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— Bem-vinda ao meu laboratório, Sophie! – Abby disse para minha irmã.

Aquilo tudo parecia surreal demais. Ainda não tinha processado o que tinha acontecido. Sophie, a equipe, meu pai, Jen... todos no mesmo prédio.

Papai e Jen. Eu não sei se quero saber o que está acontecendo lá em cima ou se não quero saber. Tenho medo de que eles não se entendam. Que papai não entenda as razões de Jen. Que Jen não o deixe se explicar. Eu temo que eles tenham perdido a capacidade de se entenderem tão bem.

Forcei meus pensamentos para o presente. E, por um segundo me arrependi. Aquilo ali não era o prédio de uma agência federal. Era uma creche.

Abby resolveu fazer alguma coisa para mostrar para Sophie como as máquinas de seu laboratório funcionavam. Seja lá qual geleca era aquela, o resultado era que elas resolveram testar em Tim e Tony e os dois acabaram ficando verdes....

— Nós somos os alienígenas da Área 51 e viemos te pegar! – Tony começou a correr atrás de Sophie.

Tim por sua vez estava fazendo o mesmo. Ziva entrou na onda e começou a fingir que caçava os alienígenas. Abby tinha virado a mãe de todos os verdinhos e jurava que se encostasse em alguém, essa pessoa era um marciano a partir daquele momento. E Sophie corria de um lado para o outro fugindo de Tony e Tim, gargalhando alto.

Não sei quando foi, mas do nada a geleia gosmenta e verde começou a voar para todos os lados e Tim foi o primeiro a declarar guerra de geleca.

Não demorou muito e tudo e todos estávamos cobertos de verde.

— Somos todos marcianos!! – Abby gritou.

Dei uma olhada desolada para a minha roupa branca... E torci para que aquilo não deixasse nenhuma mancha.

— Esquenta não, Kelly. Não mancha, na verdade sai com um paninho! – Abby disse demonstrando como tirar aquela geleca da roupa.

Já tinha passado tempo suficiente para que os dois tivessem a conversa. E eu esperava que a situação não estivesse tão crítica assim.

— Soph, vamos subir? Já está mais do que na hora de você voltar para casa.

— Só mais um pouquinho... – Ela pediu.

— Você não quer conversar com o papai, não?  - Perguntei, mas eu sabia a resposta. Sophie sempre foi doida para conhecer o pai e vivia me enchendo de perguntas sobre ele.

— QUERO!!  - Ela saiu correndo em direção ao elevador. Mas Ziva bloqueou o seu caminho.

— Zeeee-vah! – Ela chiou igual ao Tony. O que o deixou todo feliz.

— Antes vamos tirar essa geleia verde de você, ou todos nós vamos perder nossos empregos. – A Oficial do Mossad falou e Sophie acatou no mesmo instante.

Estávamos quase todos limpos. E ainda iriamos ajudar Abby com o laboratório, quando Tony chegou perto de mim.

— Há quanto tempo você sabe que tem uma irmã? – Seu olhar não era de um curioso qualquer, mas sim de um interrogador treinado.

— Desde que ela nasceu.

— Mas o Chefe não sabia....

— Não?! – Me surpreendi com essa resposta.

— Não! – Ele disse mais espantado do que eu. – O que te faz pensar que ele sabia?

— Meu Deus!!! – Eu me senti culpada. – Eu deveria ter falado com ele....

— Kelly, você não está fazendo muito sentido. – Tony chamou a minha atenção.

— Deixa para outra hora, tá? Não sei se posso explicar tudo em uma versão resumida de cinco minutos...

Tony me olhou de cima embaixo, como que aquiescendo sobre o que eu disse.

— Eu vou cobrar... – Ele disse e voltou sua atenção para a minha irmã e Tim, que faziam uma mini-guerra com o restante da geleia.

— Vocês dois podem ir parando! Hora da limpeza e não da diversão... – Ele nem conseguiu terminar, pois Tim acertou a cara dele com uma bola verde e Sophie riu tanto que acabou caindo sentada no chão.

E dessa vez eu me senti culpada. Eu briguei com o meu pai por conta das duas esse tempo todo, mesmo que ele não soubesse que elas eram o assunto, e agora isso. Ele nunca soube. Ele simplesmente não teve coragem - ou seria estômago? - de abrir as cartas de Jen, de escutar a voz dela... era demais até para ele.

Mas, se eles se amavam tanto, por que ele nunca foi atrás dela por uma explicação? Por que nunca mais se falaram?

E eu tinha arruinado tudo com a minha dedução errada. Que grande filha/enteada/irmã mais velha que sou

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— Eu já pedi desculpas pela bolada de geleca, Tony. – Tim tentava se defender pela milionésima vez.

Todos os outros ocupantes do elevador reviraram os olhos enquanto, mais uma vez, eu culpava McGee por ter ficado com a sobrancelha verde. Até que escutei Kelly conversando com Sophie...

— Eu não te disse que o Tony era um chato, Sophie? – Kelly cochichou no ouvido da irmã.

— Ele não é chato. Ele pulou no buraco para me tirar de lá! – Sophie me defendeu e me abraçou pela cintura.

— Eu não acredito! – Ziva disse incrédula.

— Isso não tá acontecendo! – McGee disse tristemente,

— Sim. Está! – Eu disse com um sorriso imenso e coloquei Sophie sentada em meus ombros, de novo, o que a deixou feliz da vida.

— Sophie acabou de defender o Tony. – Abby disse tristemente.

 - Foguinho, - Kelly a chamou – Você tem que ficar do meu lado!

— Mas o Tony não é chato! – Soph retrucou enquanto saíamos do elevador em direção à sala do esquadrão.

Eu não sei o que esperava, talvez um corpo estendido no chão, ou gritos vindos do quarto andar, mas tudo estava tranquilo demais.

E isso pareceu perturbar Kelly também.

— Algo não está certo. – A Chefinha murmurou do meu lado.

Olhei interrogativamente para ela. Kelly deu de ombros e tentou tirar Sophie dos meus ombros.

— Anda, Ruiva, desce daí. – Ela esticou os braços como que para pegar a irmã.

— Acho que não! – Não pude ver o rosto dela, mas acho que ela tinha aberto um sorriso diabólico em direção à irmã mais velha.

— Sophie!!! – Kelly chamou. E algo no tom de voz urgente dela me dizia que ela temia que algo tivesse acontecido. Algo muito errado.

— Tooonnyyyyy! – A pequena me chamou. E eu não resisti. Aliás, essa garota é irresistível. E não é invenção minha, até mesmo a Ninja do Mossad se derrete por ela.

— Deixa ela fazer o Tony de escravo, Kelly. – Ziva disse.

— Ele não é meu escravo, né Tony? – Ela bateu na minha cabeça para chamar a minha atenção.

— Não, não sou. – Afirmei para ela.

— Ele é o meu segurança particular! – A Pestinha falou feliz.

— Esses dois juntos não vão prestar! – McChateação começou.

— Por que não, McGee? – A ruivinha quis saber. Ela tinha o queixo apoiado na minha cabeça e balançava as pernas, seus pés batendo em mim.

— Nunca é bom que alguém dê tanta atenção a ele. – Kelly respondeu. – Agora Tony, desça ela dos seus ombros.

— Kelly!!!! – Eu e Sophie clamamos juntos.

Mas como eu estava de costas para a escada, não tinha notado que duas pessoas a desciam. E eram justamente os pais da garotinha que estava sentada feliz em meus ombros. O Chefe e a Diretora. Eles não tinham se matado afinal. Estavam calmos demais para o meu gosto.

— Acho muito bom você colocar a Sophie no chão, DiNozzo! – O Chefe disse.

Eu me virei de uma vez e quase derrubei a garota. Mas Sophie nem ligou, apenas soltou:

— Mas daqui eu consigo ver tudo, papai!!! Tô bem no alto!

McGee prendeu a respiração. Abby segurou a gargalhada. Ducky e Ziva apenas se olharam, como que se já esperassem essa reação da menina. Kelly revirou os olhos.

Notei que o Chefe abriu um sorriso ao ser chamado de “papai”. Essa garota pelo visto faz milagres. Ou não, já que ele também sorri muito para Kelly...

— É, a senhorita está no alto, mas não vai ficar aí. Agora desce! – Jenny ordenou.

— Tá bom.... Tony, por favor.... – Ela pediu.

Cheguei com ela na beirada da minha mesa e a coloquei de pé lá. Sophie não estava no ponto mais alto, mas ainda podia ver todos quase na mesma altura.

— Eu disse no chão. – Jenny não deu chances para a filha.

Sophie encarou a mãe e eu podia jurar que era a versão mirim e não tão assustadora da encarada do pai. Tive que segurar a risada.

— No chão.  – Ela disse assim que pulou da minha mesa – quase caindo de cabeça, e se não fosse o Chefe para segurá-la, Ducky teria que costurar a testa da garota.

Jenny tornou encarar a filha, que olhava com muito interesse para todos e para a sala em si, agora abraçada à perna do pai, como se aquilo fosse a coisa mais normal de se fazer e como se ela fizesse isso desde sempre. E, quando ele olhou meio espantado para como a filha estava abraçada com ele, ela abriu o maior e mais lindo sorriso que eu já vira. Sophie conhecia o pai não tinha duas horas e, com um abraço e um sorriso já dominava o Marine rabugento. Essa garota vai ser um perigo!!!

 E foi aí que eu percebi.

Essa garota era um verdadeiro problema.

Como é que a Diretora iria explicar para o Secretário da Marinha que tinha uma filha com um subordinado dela? E como é que ela conseguiu esconder essa menina do pai dela por tanto tempo? E o mais importante, como ficava a relação entre ela e Gibbs depois dessa revelação? Porque é mais do que lógico que o Chefe vai querer ser o pai da Sophie e ela, já dá para notar, vai querer o pai na vida dela.

Eram muitas perguntas, mas nenhuma resposta. Pois quando Abby tomou fôlego para despejar as mil e uma perguntas que tinha, Sophie deu um jeito de surpreender a todos:

— Tia Ziva, - ela começou – você encontrou o bilhetinho que eu deixei para você?

Todo mundo encarou Ziva. Que ela já sabia da existência de Sophie não era novidade. Agora, que ela tinha tido contato com a ruivinha, isso era novo.

— Mas é claro.... achou que eu não ia perceber? – Ziva sorriu genuinamente para a pequena.

— Na verdade, achei que a mamãe fosse tirar ele daí... – Sophie disse séria, ainda ao lado do pai. E eu pude notar por uma fração de segundos que Jenny ficou desconcertada. E o Chefe tinha uma sobrancelha levantada como que admirado com o fato de a filha já ter andado por nossas mesas. Ah, eu já amo essa menininha!

Mas, de novo, a ficha caiu.

— Peraí! – eu parei a conversa das duas. – Esse bilhete é aquele que você estava lendo quando...

— É Tony. O mesmo bilhete! – Ziva me respondeu.

— E por que eu não ganhei um?! – Olhei para Sophie. Ela me olhou de volta, espantada.

Recebi um tapa na cabeça. Achei que tinha vindo do Chefe – que estava mais calado do que o normal. – Mas não, veio de Kelly.

— Tony, seu lesado! Por acaso você já conhecia a Sophie antes de hoje? – Ela perguntou completamente irritada.  

Sophie na mesma hora olhou para Kelly e me defendeu. Eu, finalmente, tinha alguém para me defender de todos aqui.

— Já falei para não brigar com o Tony!! – Ela saiu de perto do pai e parou de frente para Kelly e cruzou os braços. Copiando perfeitamente a pose da mãe.

— É! Escute a sua irmã mais nova.... – Eu comecei e Kelly pareceu ficar ainda mais irritada... – você está com ciúmes?! – Eu joguei na cara dela.

Kelly ficou vermelha. Muito vermelha. Da cor do cabelo da irmã.

— Cala a boca.... – Ela sibilou.

— SIM!!! – Eu ri na cara dela! – Você está com ciúmes da Ruivinha me defendendo. E, também, porque ela deixou um bilhetinho para a Ziva! – Eu apontei.

Se Kelly pudesse tinha me matado ali, naquele momento.

— DiNozzo! – Ela alertou.

— Qual é, Kelly! Aceite. Sua irmãzinha aqui. – Apontei para Sophie que me olhava com um sorriso. – Também gosta de mim.

Ziva sibilou algo em hebraico. E Sophie me cutucou, pedindo que eu abaixasse.

— Acho melhor você completar essa frase, Tony! Ou a Tia Ziva vai te matar... com um clipe de papel!

Olhei para Ziva, Soph tinha razão.

— E da Ziva também. Você não tem mais nenhuma exclusividade sobre ela. – Eu ri do meu triunfo. Mas não esperava por essa reação.

Kelly, na mesma hora, pegou o grampeador na mesa do pai e arremessou...

— KELLY!!!!!!! – Foi tudo o que eu ouvi.

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Não demorou nem cinco minutos e o chato do Tony já estava acordando.

— Boa noite, Bela Adormecida. – Ziva brincou com a cara dele.

DiNozzo, por sua vez, estava meio aéreo. Ainda não tinha localizado onde estava.

Eu, pelo menos, estava um tanto quanto encrencada.

Papai e Jenny olhavam para mim com uma cara de espanto. Sophie me olhava com raiva, mas estava mais preocupada com o estado do agente sênior.

— Ele vai ficar bem. – Ducky disse para tranquilizar a pequena. – Foi só uma pancada.

— Não foi culpa minha! Não tudo, pelo menos.  – Me defendi dos olhares acusadores de Abby e Sophie.

Depois que arremessei o grampeador na direção dele, Tony deu dois passos para trás e esbarrou na lixeira, vindo a cair e bater a cabeça no chão.

Resultado: Tinha desmaiado e levado cinco pontos. E eu estava sendo taxada de vilã.

Mas tudo era culpa dele, se ele não tivesse aberto a boca, isso não teria acontecido.

O problema era que era verdade. Eu realmente estava com ciúmes. Até hoje, Sophie só conhecia a mim, ao Ducky e a Ziva. E como Ducky e Ziva estavam trabalhando com o meu pai, eles nunca tinham tempo para visitar a minha irmãzinha. E isso resultava em: era eu quem convivia mais tempo com ela. Eu era a preferida.

Até que hoje... bem, ela conheceu todo mundo. E pareceu se dar bem com todos. Em especial com Tony. Justo com ele, que faz as vezes de filho mais velho do meu pai aqui na equipe, o que já me deixava furiosa...

Abby, a gente nem conta, todo mundo gosta dela, até demais.

E, depois fiquei sabendo do bilhetinho. Sophie nunca me deixou bilhetinhos... mas esteve aqui no NCIS e deixou um para Ziva!!!

Eu devia estar com cara de adolescente emburrada quando papai chegou perto de mim:

— Você pode me explicar o que aconteceu aqui, Kells? – Ele disse baixinho me abraçando pelos ombros.

Eu olhei para todo mundo em volta de Tony. E depois para papai. E ele pareceu entender a minha cara, já que abriu um sorriso enorme.

— Ela é novidade. Mas posso apostar tudo o que tenho que você é a preferida, só pela forma como ela correu quando te viu. – Ele piscou para mim.

— Mas justo o DiNozzo? – Eu sussurrei. Papai já conhecia o meu ataque de ciúmes com o agente italiano desde o dia em que ele apareceu pela primeira vez... não que eu tenha confirmado as suspeitas dele em voz alta.

— Uma criança atrai a outra, Kelly. – Foi o que ele me respondeu com um sorriso.

— Disso eu não posso discordar... Mas.... Tudo estava melhor quando ela não conhecia a equipe... – murmurei mais para mim.

— Estava?! Eu não a conhecia... – A voz de papai veio quebrada e carregada de culpa enquanto ele olhava Sophie que agora estava perto de Jen, pedindo colo.

— Bem... o senhor... é... – Eu me embolei. – O senhor não está com ciúmes? Mal a viu!! – Eu desconversei.

O sorriso cansado dele foi a minha resposta. Sim, ele estava, mas ele sabia que para ele não seria tão fácil. Por mais que Sophie soubesse sobre ele, essa era uma relação que teria que ser construída aos poucos, afinal ele era o pai dela. Tony, Ziva e cia seriam, no máximo, os tios emprestados que a mimariam e tomariam conta dela. O papel de pai era mil vezes mais importante e difícil.

— Ela te ama. – Eu disse sem pensar. – Jenny sempre falou de você para ela. E ela vivia me enchendo de perguntas sobre você, principalmente depois que se mudou para cá.

— Eu sei.

— Sabe? – Olhei para ele, assustada.

— Ela me reconheceu.

— E como foi? – Eu sempre sonhei com esse encontro, e não estava lá quando aconteceu.

— Tudo o que eu não esperava. – O sorriso dele era enorme enquanto ele relembrava o momento. – Mas poderia ter sido em outras circunstâncias.

— Sophie é uma caixinha de surpresas. – Eu disse. – Ela sempre tem uma reação que ninguém espera!

— Notei.

Isso não te lembra ninguém? – Joguei verde. Eu precisava confirmar uma teoriazinha, principalmente depois que vi a forma como os dois desceram as escadas, eu podia jurar que até em um determinado degrau, a mão de meu pai descansava nas costas de Jen, e ela, por sua vez, tinha um sorriso no rosto que imitava o dele...

Ele levantou uma sobrancelha na minha direção e depois olhou para onde Jen estava, de pé, com cara de cansada, observando todo mundo fazer as vontades de Tony e como Sophie já se sentia em casa no meio daquele pandemônio todo, já que agora ela estava sentada na mesa de Tim conversando com a Ziva e Abby. As três bolando um plano para zombar do Tony de alguma forma.

Observei novamente o olhar de meu pai. E, depois de algum tempo, vi que Jen olhou na direção dele.

AI MEU PAIZINHO!!! Eu já tinha visto aquela troca de olhares. Foi há um tempinho, em Londres. Mas era a mesma coisa!!!!!

— Pai.... – Eu chamei. E ele compreendeu o que eu queria dizer quando olhou para mim e meus olhos arregalados.

— Depois nós conversamos. – Ele respondeu no meu ouvido e me deu um beijo na bochecha.

— PAI! – Eu disse um pouco mais alto e atrai a atenção do restante da sala.

De costas para o restante, ele me pediu para ficar quieta.

Mas como ficar quieta depois do que eu tinha notado?! Eu precisava falar com alguém. Abby sabia do que se tratava esses dois. Ela tinha que surtar comigo!

— Kells? Tá tudo bem?? – Foi Sophie quem ficou mais alarmada e veio correndo na minha direção, porém todo mundo me olhava. Papai interceptou os passos da minha irmã, a pegando no colo – meu Deus eu não acreditava que estava vendo essa cena!!! – e, mais uma vez, me pediu silêncio. O mesmo pedido que os olhos de Jen diziam, mas aquele sorriso só confirmava o que eu já tinha visto.

Eu fiquei muda. Sem reação. Juro que meu cérebro parou.

— Papai, a Kells tá bem? – Ouvi minha irmãzinha perguntar preocupada, ela tinha um braço ao redor do pescoço dele, e, o outro estava sendo analisado com muito cuidado por papai, como se ele quisesse que os machucados já tampados ali, passassem para ele.

— Tá sim, Ruiva. De vez em quando ela desliga desse jeito. – Ele brincou com ela e deu um beijo em cima do curativo roxo. E a minha irmã retribuiu o carinho, beijando a bochecha dele e o abraçando ainda mais apertado.

Ó céus!!!! Isso não estava acontecendo?

Estava?

— Kelly... respira. – Foi a voz de Jen quem me trouxe para a realidade, já que ela agora estava parada do meu lado e me olhava com cuidado.

— Eu... – parei e encarei todo mundo. – Eu tô... é que... eu esqueci que tenho que arrumar um monte de documentos para a formatura e para depois que eu sair da faculdade! Além de que tenho que entregar os meus últimos relatórios.... Só dor de cabeça! – comecei a balbuciar feito uma desorientada.

Jenny segurou a risada, ela me conhecia bem para saber que eu estava enrolando. Papai, por sua vez, fingiu me olhar ofendido, como se eu devesse estar com tudo pronto, afinal, me formava na próxima semana. O restante da equipe se solidarizou todos eles sabendo como é correr contra o tempo. E Sophie, ela, bem...

— Por que você não finge que esqueceu? Você já tá quase saindo de lá mesmo! Ninguém vai notar! Muuuuitoooo mais fácil! – Ela cantarolou no colo do meu pai, como se tivesse dado a solução mais fácil para o meu problema.

Bem que eu disse que ela tinha reações inesperadas... mas essa ganhou de todas as outras!!

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Depois dessa demonstração de total falta de vergonha da cara da minha filha, decretamos o final do expediente. Afinal, a equipe merecia descansar e eu queria poder ficar ao lado de Sophie, apesar de ela parecer estar reagindo muito bem a tudo, hoje foi um dia completamente fora dos padrões.

Mas, foi só quando todos estavam se preparando para sair, depois que Jethro conseguiu fazer Abby desistir de sair para jantar como uma grande família, que eu notei uma coisa:  Todos eles estavam com curativos. Do mesmo estilo do de Sophie.

Eu peguei o braço da minha filha e dei uma conferida, Kelly tinha limpado e esterilizado o machucado, ali estava tudo perfeito, mas, e os outros, ninguém ali tinha...

— Alguém pode me explicar por que todos vocês, incluindo o Ducky, estão com curativos?

Se eu tivesse falado que todos eles estavam demitidos, a reação teria sido completamente oposta, pois quando eu acabei de fechar a boca, os três agentes da MCRT, junto com Ducky, Palmer, Abby, Kelly e a própria Sophie ficaram calados. Tão calados e quietos que se uma agulha caísse no chão, eu ouviria.

Eu tinha uma ideia de quem foi que fizera isso, porém eu queria provas. Então, peguei uma Sophie que tentava se esgueirar para trás de Ziva e Tony, a coloquei em meu colo e encarei seus olhos azuis.

— Você sabe de alguma coisa, Sophie?

Ela arregalou os olhos e ficou calada.

— Acho muito bom a mocinha me dizer, ou eu vou ter que dar o seu Mushu e o seu Mike Wazowski para as crianças carentes? – Ameacei.

Ela me olhou ofendida, estes dois bichinhos de pelúcia são os preferidos dela. Sophie abriu a boca para falar, mas desistiu. Algo a impedia, e eu percebi ser lealdade. Ela estava com medo de falar e acabar encrencando os demais.

— Sophie, estou esperando. – Eu disse.

Ela, solenemente, disse:

— Regra número 1.

E isso bastou para que todos olhassem espantados para ela, principalmente Jethro que não fazia a menor ideia de que eu havia ensinado as regras dele para a nossa filha.

— Como é? Repete. – Ordenei.

— Eu já disse, mamãe. Regra número 1. Nunca ferre com um parceiro. Eu não vou dizer nada, a menos que a senhora me prometa que não vai fazer nada com ninguém, nem com os meus bichinhos!

— Por que você colou curativos em todo mundo, Sophie? Pode me explicar? E para o seu conhecimento, é só você quem está encrencada aqui!

Ela me olhou ainda mais espantada, e mordeu o lábio, pensando na melhor resposta.

— Porque... eu não sei... só sei que colei... foi engraçado. E o da Abby combina com a roupa dela!! – Ela apontou para o joelho da Cientista. – E o do Ducky também!!

Eu olhei para Ducky, ele tinha um sorriso condescendente no rosto, como se me dissesse, “ela é uma criança, Jennifer”.

— Eu falei para você não fazer bagunça lá embaixo. – Adverti.

— Mas não fiz. Só colei os curativos...

— É Diretora, foram só os curativos. Nada demais. – Tony confirmou. E eu achei isso muito estranho. Então passei a encarar os demais. Ali ainda tinha algo...

Foi quando eu notei, Tony tinha resquícios de uma gosma verde na sobrancelha. Abby tinha a mesma coisa pregada na bota, McGee tinha no colarinho da camisa. Em Ziva, a mancha estava na manga da camisa que ela usava. Até a roupa branca de Kelly tinha uma mancha verde, mesmo que pequena.

— O que mais aconteceu lá embaixo?!

— Já tá tudo resolvido. Não foi nada, Diretora. A Sophie e todos nós nos comportamos muito bem! Não é gente? – Abby disse em um fôlego só.

— Kelly... – Dessa vez foi Jethro quem a chamou. – E essa mancha na sua roupa?

Todos os culpados olharam para Kelly na mesma hora. E quando Sophie se virou eu pude ver uma geleca verde presa no seu cabelo mal cortado.

— O que é isso? – Perguntei mostrando aquela coisa.

Sophie olhou para Kelly. Kelly olhou acusadoramente para Tony. Tony por sua vez, sibilou algo na direção de McGee. McGee olhou para Abby que, olhou para Ziva pedindo por ajuda. Resumindo, todos culpados.

— Foi uma guerra de geleca... – Sophie disse por fim. – éramos ET’s enquanto a Ziva nos caçava...

— Guerra de geleca?! – Perguntei espantada.

— Mas já tá tudo limpinho! Não tem uma coisinha suja... – Abby me garantiu.

— A sobrancelha DiNozzo está suja, assim como o cabelo da Sophie. A roupa de Kelly e a sua bota estão verdes. Tem certeza de que tudo está limpo, Abbs? – Jethro perguntou e todos os mencionados resolveram se limpar.

— O meu lab tá limpo... isso eu tenho certeza!

— Pelo menos isso está limpo! – Jethro continuou encarando as filhas que estavam achando muito mais interessante o porto lá fora.

E, para escapar de um sermão do chefe, o restante da equipe resolveu ir embora. Com curativos coloridos e geleca verde complementando o visual.

Minha filha tinha ficado noventa minutos dentro desse prédio, e já tinha conseguido virar tudo de ponta cabeça. Eu não quero nem imaginar se ela tiver que passar um dia inteiro aqui!


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Notas finais do capítulo

Se Kelly não é a maior shipper de Jibbs eu desconheço outra pessoa. Sim, a pobrezinha fez de tudo hoje, foi médica da irmã mais nova, babá, irmã ciumenta e ainda teve que dar um pequeno surto para completar.
E sim, terão mais cenas de Gibbs e Sophie, aguardem só mais um pouquinho, essa desse capítulo foi só uma prévia!
E sim, nada passa batido pelo olhar da diretora, muito menos pelo de Gibbs... tá tudo encrencado!
Obrigada por lerem! E não fiquem tímidxs, podem comentar à vontade!
Até o próximo!
xoxo



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