Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 54
Adeus Kate


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês que estão de quarentena!!
Prontas para verem Sophie sendo fofa?
E sim, tem momento Jibbs pq eu não resisto!
Boa leitura!



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Eu não sabia o motivo de ter seguido Jethro. Quando dei por mim estava no banco do carona e ele voava pela cidade até Alexandria.

De tempos em tempos ele me lançava um olhar, eu fingia não ver. Por mais que eu quisesse começar uma conversa agora, eu tinha que me manter focada. Eu não poderia simplesmente ignorar o fato de que ele escolheu não conhecer Sophie e voltar para ele como se isso nunca tivesse acontecido. Eu tentava pôr na minha cabeça e explicar para mim mesma que eu só estava fazendo isso por Kelly. E, no fundo, pela Todd também. Afinal, ela ajudou Kelly quando eu fui feita refém no Cairo.

— Faz muito tempo, Jen. – Jethro começou do nada.

— Sim.

— E eu até hoje...

— Por favor, Jethro. Se nós vamos falar do passado, e nós temos que falar, é melhor fazermos em outra hora. Dentro desse carro, com você no meio de uma caçada louca a um terrorista não vai dar certo.

— Por que você se foi? – Ele falou me encarando, quando paramos em um semáforo.

— Se você quer tanto saber, por que nunca foi atrás de mim? Por que não respondeu ao meu telefonema? Ou as minhas cartas? – Respondi olhando-o nos olhos.

Ele desviou o rosto e apertou o volante.

— Eu não quero brigar com você Jethro, não agora. E muito menos não no meu primeiro dia nesse cargo. Feche o caso, dê uma conclusão para a família de Kate Todd e para a sua equipe, depois nos falamos.

A resposta que recebi dele foi só a velocidade do carro aumentando.

Logo estávamos parando na frente da casa dele. E eu não sabia se me fingia de sonsa por não conhecer o local ou se simplesmente ignorava a encarada que ele me dava.

— Eu sei que você já esteve aqui. Foi você quem levou Kelly até Harvard. Vocês tiveram que passar por aqui antes de ir para Massachusetts.

Dei de ombros e esperei que ele destrancasse a porta. Não precisou, não estávamos nem a dois passos da porta quando Kelly a escancarou e nos olhou estupefata.

— Papai. Jen? O que... – Ela olhava de um para o outro e não conseguia acreditar no que estava vendo.

— Olá, Kelly. – Eu a saudei, assim que consegui me aproximar da porta. Ela, como sempre, me deu um abraço de urso e quando viu que o pai não estava em nenhum lugar visível, me perguntou.

— Onde está a pequena? – Kelly mordia o lábio.

— Em casa. E como você está escondendo esse anel dele?

Kelly deu uma olhada para o anel de noivado e depois continuou:

— Ele falou dela? De Sophie?

— Nem uma palavra. – Disse baixo, porém ouvi os passos de Jethro no segundo andar. – Eu preciso conversar com você...

— Quando você voltou? Vai ficar por quanto tempo? – Kelly me bombardeava de perguntas, enquanto ia para a cozinha, e eu a seguia.

— Cheguei há dois dias, ainda estou arrumando as minhas coisas, vim para ficar, Kelly.

Kelly parou no meio da cozinha e me fitou.

— Para ficar. Ficar mesmo. Vocês vão morar aqui nos EUA?

— Sim. Eu assumi um cargo aqui.

— Qual cargo?

Tentei desconversar, eu não era o assunto. Kate tinha que ser o assunto.

— Jen é a nova Diretora do NCIS.

Eu pude ver a reação de Kelly em câmera lenta. Ela soltou a xícara de café, correu para mim e me abraçou, porém continuava pulando, e só me restou pular junto.

— DIRETORA? Sério? Você chegou no topo? Eu não acredito!! Vocês.. é.. ela... você deve estar tão feliz!! – Kelly se embolou e quase soltou o nome da irmã.

— Sim, Kelly, isso é verdade, porém não é por causa da minha promoção que estou aqui.

E o sorriso que ela carregava desapareceu. A garota parecia pressentir o que viria.

— O que aconteceu? – Ela parou de pular e começou se balançar nos próprios pés.

Eu a guiei até uma das cadeiras que compõem a mesa e a sentei ali, me escorando ao seu lado, de frente para ela.

— Lembra que você comentou comigo sobre o terrorista que Jethro estava caçando?

— Lembro. Era basicamente a mais nova obsessão de papai, depois daquele veleiro lá embaixo.

— Ele o encontrou. Conseguiu impedi-lo de explodir um porta-aviões. Porém...

— Quem se machucou? McGee? Tony? Kate? – Ela olhou para nós dois. – Foi a Kate. Onde ela está? Eu teoricamente já me formei, só falta a cerimônia. Eu posso ir vê-la. – Kelly se levantou e começou a caminhar para a escada.

Tive que pará-la, segurando seu ombro.

— Kelly, a Agente Todd...

— Não. Por favor, não diga isso! – Ela começou a chorar. – Por favor!

— Eu sinto muito, Kelly. Sei que vocês eram amigas. – Eu a abracei, consolando-a.

— Não. Não. Não. Me diga que é mentira. A Kate não! – Agora ela soluçava.

— Infelizmente é.

— Por que o senhor não fez nada? Não é isso que o líder da equipe faz, protege os subordinados? – Kelly estourou com o pai.

— Kelly, não foi culpa do seu pai. Ele não teve como protegê-la no alto daquele telhado. – Eu tentei contê-la antes que ela começasse a atacar o pai.

— Foi o Ari Haswari não foi? Ela me disse que ele a estava perseguindo. Por favor, peguem esse cara e o façam pagar. Kate não merecia morrer. Não mesmo. – Ela me abraçou ainda mais forte.

— Kelly. – Pela primeira vez, Jethro falava. – Pegue as suas coisas, eu tenho que tirar você daqui.

— Por quê? Ele está atrás de mim agora?

— Ari matou Kate, tentou matar Abby. Posso apostar que ele está nos vigiando agora.

— Tudo bem. – Ela respondeu. - Vou pegar a minha bolsa e um casaco. disse subindo as escadas.

— Não precisava assustá-la, Jethro.

— Até Kelly sabe que Ari é o culpado, Jen. Por que você duvida de mim?

— Eu não duvido de você Jethro, acontece que para prender esse cara, temos que ter provas irrefutáveis de que foi ele. Vamos dizer que Ari tem muita gente que o protege e eu não quero brigar com as agências irmãs.

Agências irmãs? De onde você tirou isso?

— Sou uma feminista esquizofrênica Jethro, isso por trabalhar com chauvinistas como você.

E depois dessa ficamos nós dois em um silêncio estranho. Jethro ainda me olhava como se tentasse descobrir o que estava diferente em mim. E eu tentava evitar o olhar dele, olhando para fora.

Quando Kelly desceu, ela ainda chorava.

— Venha. – Chamei-a e a abracei, primeiro porque ela realmente estava precisando de conforto, segundo porque assim era mais fácil de protegê-la caso Ari tentasse algo.

Jethro abriu a porta para a filha entrar, eu acabei por acompanhá-la no banco de trás. Não queria deixar que ela sofresse sozinha.

— Como está a equipe? – Kelly perguntou depois de algum tempo.

— Não estão bem. Ninguém está. – Jethro a respondeu.

Quando chegamos no estaleiro, eu tinha uma visita. Ziva David.

— Você vai ficar bem? Eu preciso conversar com a Oficial David. – Perguntei a Kelly.

— Vou. – Kelly passou pelas duas primeiras mesas e se sentou naquela que presumi ser de Jethro.

— Shalom, Ziva. O que posso fazer por você?

— Shalom, Jenny. Preciso que você não permita que matem Ari. Ele não é o culpado.

Olhei para Ziva. Ela não parecia muito convencida de suas palavras.

— Nenhuma ação será tomada até que todas as evidências sejam coletadas. – Apelei para a diplomacia. Pelo canto do olho vi que Jethro conversava com quem presumi ser DiNozzo. Eles falavam de mim.

— Ari é inocente.

— Todos são inocentes, Ziva, até que se prove o contrário. E isso é o que estamos fazendo aqui.

— Aquele ali, de pé, ao lado do Agente DiNozzo é o Gibbs?

— Sim.

— As filhas têm os olhos em comum com o pai. – Ela falou com um sorriso.

— Nem tente colocar Sophie ou Kelly nesse meio, Ziva. Eu não aceito chantagem! – Ameacei.

Ela recuou um pouco.

— Posso conversar com ele?

— Poder você pode, agora se ele vai te ouvir, isso já não sei dizer.

Ziva foi na direção de Jethro e tentou argumentar com ele, logicamente ele não a ouviu e eu tinha certeza de que ele mandaria DiNozzo atrás dela.

— Cuidado com o que você vai fazer, Jethro. Ziva é a oficial superiora de Ari. E muito influente no Mossad. – Alertei e me voltei para Kelly, porém o olhar de DiNozzo estava me incomodando.

— Pois não, agente DiNozzo? – Me virei e encarei o agente mais novo.

— Nada, senhora. Eu... – ele desceu o olhar para minhas pernas.

— Para você é Diretora Shepard e cuidado com os seus pensamentos. – Falei fria e consegui arrancar uma risada de Kelly que estava ao meu lado me acompanhando para minha sala.

— Vocês duas se conhecem? – Ele pareceu surpreso.

— Sim. – Kelly disse. – E eu não vou responder a nenhuma pergunta sua quanto a isso.

— Você também não me ajuda, hein, Chefinha? – Ele chiou.

Tudo o que eu vi foi a mão de Jethro batendo forte atrás da cabeça dele.

— Essa doeu. – Kelly sussurrou para mim.

— O que eu fiz? – Tony perguntou injuriado.

— Não irrite Kelly e não fique olhando para a Diretora. – Jethro avisou.

— Ela é sua namorada, Chefe?

Esse eu não vi, mas ouvi e tenho certeza que doeu mais que o primeiro tapa.

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A investigação continuou. Nada ligava a Ari, e como Jen disse, precisávamos de provas. Quando a noite chegou, pedi que todos ficassem no prédio. Lógico, Jen tinha que ser a única a me contradizer.

— Não posso, Jethro. Tenho um jantar com o pessoal da CBS e uma entrevista para o The Morning Show.

— Cancele a entrevista, Jen. Por favor. Ari quer todas as pessoas que trabalham comigo, essa entrevista só vai aumentar a sua visibilidade.

 Ela pareceu considerar por um momento.

— Tudo bem. Eu vou adiar, mas eu preciso ir. Não posso ficar aqui. Perguntei para Kelly se ela quer ir comigo, mas ela preferiu ficar no prédio. Está dormindo na minha sala. Ducky deu um calmante a ela, deve dormir até que o dia amanheça – Ela me informou. – Boa noite, Jethro.

— Noite, Jen.

Ouvi o elevador chegar e ela cumprimentar Ducky quando entrou.

Eu peço que todos fiquem no prédio e tudo o que eles fazem é sair.

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Cheguei em casa mais exausta do que imaginava que chegaria, e mal tinha pisado na porta quando fui recebida por uma espoleta ruiva.

— MAMÃE!!! A senhora demorou!!! – Sophie me saudou pulando em mim.

— Olá para você também! Como foi o seu dia? – Beijei a sua cabeça.

— Que perfume é esse? Mistura estranha, café, madeira e aquela coisa que a senhora bebe de vez em quando.

— Por que a senhorita não me conta como foi o seu dia? – Desconversei.

— Andei de bicicleta lá fora, tinha um cara de terno que ficou de olho em mim o tempo inteiro.... entrei quando Noemi mandou. Depois eu ajudei com o almoço e com a cozinha, aí eu li um pouco e depois fiquei desenhando... e como a senhora demorou para chegar eu já jantei... mas posso ficar na mesa te fazendo companhia.

— Obrigada pela consideração. Agora deixa a mamãe tomar um banho e depois nós vamos conversar mais enquanto eu janto, pode ser?

— Tudo bem. – Ela concordou e pegou a minha bolsa e meu casaco para pendurar. – Onde deixo isso? – Ela falava da pasta com os arquivos do NCIS que eu ainda precisava assinar.

— Pode levar para o meu quarto, deixe no criado.

— Sim senhora. – Ela saiu meio carregando, meio arrastando a pesada pasta.

— Boa noite, Noemi. A ruivinha deu trabalho?

— Nenhum. Fez exatamente o que falou.

— Ótimo.

— E como foi com o pai dela? – Minha governanta me questionou

— Estranho e familiar ao mesmo tempo.

Enquanto eu jantava, Sophie me perguntava sobre tudo, sobre as pessoas que encontrei, sobre o prédio, minha sala, qual era a sala mais estranha – respondi ser o MTAC, porque não tinha janelas – que lugar eu gostava mais e se todos foram legais comigo – minha menina estava preocupada se as pessoas iriam me tratar bem como os amigos de Londres faziam. Ou seja, Sophie fez o interrogatório completo e depois finalizou com:

— Mamãe, que dia eu vou poder conhecer o prédio e todo o pessoal?

— Nós já conversamos sobre isso! – Ralhei com ela.

— Eu tentei, vai que a senhora tinha mudado de ideia...

Já estava em minha cama, Sophie, que ainda não tinha se acostumado com o seu novo quarto, estava deitada e ressonava com a cabeça em meu colo, enquanto eu lia os relatórios e os assinava, quando o meu telefone tocou.

— Shepard.

— Preciso de uma parceira para essa noite. - A voz de Jethro ressoou forte do outro lado da linha.

Quase me engasguei, quem ele achava que eu era?

— Não tem mais nenhuma mulher para quem você possa ligar? – Sibilei. Dei uma conferida em Sophie, ela ainda dormia.

— Nenhuma que possa me dar cobertura.

Eu vi vermelho, será que ele sempre iria usar de frases com duplo sentido quando estivesse perto de mim?

— Qual é, Jen! Preciso de ajuda.

Respirei fundo.

— Onde você está?

— Parado, na frente do seu prédio.

Como ele sabia o meu endereço? Claro, ele olhou o meu arquivo. Porém ainda não acreditava nele. Tirei Sophie do meu colo, ela reclamou enquanto eu a colocava na cama e ajeitava o travesseiro e as cobertas. E dei uma olhada pela janela.

E lá estava ele, escorado no carro, me dando tchauzinho, como se soubesse que eu iria verificar a presença dele.

— O que você realmente quer?

— Estou sem pessoal, Jen. Preciso da minha parceira de volta se quiser pegar Ari. Vamos lá, se vista e desça aqui.

Céus, eu não poderia acatar os pedidos dele toda vez!

Olhei para a nossa filha dormindo na minha cama, dei uma outra olhada para ele.

— A menos que tenha mais alguém aí com você... – A voz dele tinha um tom de ciúme.

— Não tenho. – Respondi sincera.

Eu sabia que Soph iria dormir por toda a noite, a manha dela era para não dormir sozinha, mas era só pegar no sono que não tinha problema.

— Me espere.

— Não leve uma hora para escolher a sua roupa, Jen. Isso não é um jantar. É uma tocaia.

— Eu sei, Jethro. – E desliguei o telefone.

Me troquei o mais rápida e silenciosamente que consegui para não acordar minha filha. Pedi para Noemi checá-la de vez em quando e, depois de pegar a minha arma e distintivo e dispensar o detalhamento de segurança, estava atravessando a rua para encontrá-lo.

— Não se acostume com isso. – O alertei.

— Vai me dizer que não está gostando? – Ele perguntou antes de arrancar o carro.

— Para onde vamos? – Estava prendendo o meu cabelo e tentando não estar muito alerta quanto a presença dele tão perto de mim.

— Para a casa onde Ari está.

— Jethro, eu já te falei, Ziva está cuidando dele.

 - Sua amiga acaba de entregar um passaporte falsificado para ele, Ari vai fugir. – Ele me garantiu.

— Eu faria a mesma coisa por você se você estivesse sendo acusado de homicídio, Jethro.

— Você gosta muito dela, não é mesmo? – Ele retrucou me analisando.

— Eu devo a ela. – Respondi sincera.

Jethro só me olhou.

— Ela salvou a minha vida, há dois anos.

Ele parou o carro alguns metros antes da casa. Ficamos lá, sentados, sem nada para fazer.

— Nem acredito. Eu aceitei o cargo de diretora há menos de vinte e quatro horas e já estou de volta às ruas.

— Admita, Jen, você gosta disso.

Olhei para ele incrédula.

— Preferia estar na cama. – Respondi sem pensar.

E o sorriso que ele deu me disse tudo. Eu, mais uma vez, tinha sido mal interpretada.

DORMINDO.— Tive que completar.

— Isso me lembra Marselha, agosto, aquele sótão, nós dois sem nada para fazer a não ser ficar vigiando aquele.... – Eu tive que calá-lo com a minha mão.

— Eu sei do que você está falando, Jethro. – E caí na besteira de olhar os olhos dele. Ele estava realmente em Marselha.

Ele viu algo que eu não tinha visto.

— Me passe os binóculos.

Fiz o que ele pediu e fiquei esperando pela explicação, finalmente conseguindo sair daquele sótão. Ele não falou nada e eu tive que conferir por mim mesma.

— Atirador. – Gritei bem a tempo, mal tínhamos nos abaixado e uma bala atravessou o para-brisa e ficou cravada no encosto onde, segundos atrás, estava a minha cabeça.

Jethro, acelerou o carro e começou a perseguir o atirador, o tempo todo sua mão direita sobre a minha cabeça.

O carro subiu na calçada, descemos, metros na nossa frente o atirador corria, ele se virou e só fez a menção de atirar, nem pensei duas vezes, mirei e atirei. Jethro também.

— Achei que Ari fosse mais velho.

— Esse não é ele.

Tínhamos um enorme problema.

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— Agora você acredita em mim? – Perguntei para Jen enquanto voltávamos para o apartamento dela, depois que limpamos e analisamos a cena do tiroteio.

— Não era o Ari, deixe que todas as provas sejam periciadas e que Ducky faça a autópsia, não tire conclusões precipitadas, Jethro. – Ela ainda tentava manter a calma. – E eu nunca duvidei de você como profissional.

Parei na frente do prédio dela.

— Boa noite! – Ela se despediu. – Te vejo pela manhã. – Sua mão já na maçaneta para sair do carro.

Não resisti e tive que segurá-la um pouco ali dentro. Ela arregalou os olhos e tentava ler o meu próximo movimento. Se eu quisesse algo teria que ser rápido.

Tomei a iniciativa e a beijei. Ela, assustada, de início ficou parada, porém bastou alguns segundos, e suas mãos estavam em meu pescoço, enquanto eu a trazia para mais perto de mim.

Comecei a pensar que poderíamos nos acertar, quando ela encerrou o beijo. Me olhou nos olhos e disse:

— Desculpe. Eu... eu preciso ir. – Ela se virou de uma só vez, seu cabelo batendo em meu rosto e deixando um rastro de perfume para trás.

— Jen... – A chamei, descendo do carro.

— Jethro. Nós temos que conversar primeiro. – Ela falou, mas não tirou os olhos de meus lábios.

— Eu sei. – Tentei prendê-la entre meus braços, mas ela foi mais rápida e abriu a porta, entrando no prédio.

 - Até daqui a pouco, Jethro. – Jenny deu um passo para frente e me deu um selinho, fechando a porta.

Eu sabia que o “não para fora do trabalho” iria cair mais cedo ou mais tarde, porém, ali ainda tinha algo, Jen escondia algo de mim.

Voltei para o estaleiro com a sensação de que mais cedo ou mais tarde eu descobriria o que era.

Quando cheguei, peguei McGee dormindo sobre o teclado, Tony estava sentado, com os pés na mesa, e Abby dormia embaixo da minha mesa, abraçada com o hipopótamo de pelúcia. Subi as escadas para o escritório de Jen, abri a porta devagar, Kelly dormia profundamente, me sentei em uma das poltronas e resolvi que poderia dormir também.

Fui acordado horas mais tarde, pelo cheiro de café fresco e o perfume de Jen.

— Bom dia, Jethro. – Ela me entregou um copo. Experimentei. Jamaicano, preto e sem açúcar.

— Bom dia, Jen. Quantas horas?

— Não são seis da manhã. Deixe que ela durma. Não acordei o resto da equipe, mas deixei o café para eles lá.

— Comprou o de Abby também?

— A moça da cafeteria da esquina me informou o que ela toma, está na sua mesa. – Ela deu de ombros e se sentou na mesa.

 - Como vamos fazer com Ari?

— Pretendo entrar em contato com o Mossad. Pelo que vi na tela do computador do McGee, o menino que quis explodir a minha cabeça era um dos Oficiais, assim, se a ordem vier de cima, Ziva terá que cooperar.

Assenti.

— Quando é o funeral da Kate?

— Hoje à tarde, em Indiana. SecNav emprestou o jato para nos levar. Temos a parte da manhã para resolver essa bagunça.

— Vamos resolver. – Falei e fui saindo do escritório dela para acordar o restante da equipe.

— Se importa se Kelly for conosco? – Perguntei antes de sair.

— O nome dela já está no manifesto de voo, Jethro. Assim que ela acordar, vou pedir que o motorista a leve ao meu apartamento, ela poderá tomar um banho, comer algo e ficar longe dessa bagunça. Vai ser duro para ela.

Eu ri, Jen tinha assumido o papel de mãe de Kelly sem ninguém pedir.

— Obrigado.

— Sempre que precisar. – Ela me respondeu, já se voltando para a papelada.

Depois que Jen conseguiu conversar com o Diretor do Mossad, Ziva David cooperou com tudo, e eu percebi que ela sabia de algo mais.

— Ari sabe sobre a minha primeira esposa? E sobre o que eu fiz?

— Sabe.

— Então você vai me ajudar.

Esperei que todos embarcassem para Indiana e voltei para casa. Sem ninguém aqui, seria mais fácil de resolver o problema.

 Ari se entregou, contou que matou Kate, que tinha a clara intenção de matar todas as mulheres da minha vida, e isso incluía Kelly. Quando ele apontou o meu próprio rifle na minha direção, Ziva atirou. Um tiro preciso, no meio da testa dele. Ele morreu da mesma forma que matou Kate.

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Jenny tinha me mandado para a casa dela assim que eu acordei. Bati o pé falando que não ia, porém não teve jeito, ela ligou para alguém e pediu que o carro ficasse pronto.

Quando desci, querendo conversar com papai, nem ele ou a equipe estavam à vista.

— Eles foram atrás da última pista, Kelly. – Jen me disse do alto das escadas.

— Eu ainda não acredito que ela se foi. – Estava prestes a começar a chorar de novo. – Sabe, ela desenhava como ninguém, não sei se você já viu o desenho que ela fez para Abby, ela como um morceguinho, eu aposto que tem vários aqui... – Disse já começando a vasculhar a segunda gaveta dela. Procurei até que encontrei o caderno de desenhos. Folheei e vi cada um dos desenhos que ela havia feito, tinha o McGee com cara de assustado, Tony sentado com as pernas na mesa e óculos escuros no rosto, falando ao telefone, tinha meu pai sério em uma cena de crime, Ducky e seu inseparável chapéu. E para meu espanto tinha um meu, na verdade, eram dois meus, o outro, ela fez uma cópia da foto que eu havia mostrado a ela, eu e Sophie lado a lado, sentadas em um banco em algum dos parques de Londres.

— Ela soube de Sophie? – A voz de Jenny não era mais alta do que um sussurro.

— Só ela sabia. Eu tive que contar depois que ela conseguiu a informação de onde você estava há dois anos...

Jen só balançou a cabeça.

— Me pergunto como nenhum dos três viu isso... – Olhei para o último desenho.

— Talvez não quiseram ver... – Jen me respondeu simplesmente. – Vamos o carro está te esperando.

— Vai me levar para casa?

— Não, para a minha casa. Você precisa descansar e assim que eu terminar aqui, eu vou lá te pegar. Seu pai pegou essa roupa para você. – Jenny me entregou uma bolsa onde eu sabia estava um vestido preto.

— Obrigada. – Falei, peguei o caderno de desenhos de Kate e levei comigo. Jen me olhou interrogadoramente.

— Vou entregar para os pais de Kate.

— Se você diz... – E ela me levou até o carro, dando instruções a Stanley que me levasse direto para a casa dela.

Eu chorei o caminho todo e graças a Deus, Stanley era uma pessoa tranquila e não me fez perguntas. Quando chegamos, olhei para o prédio, eu podia jurar que Jen tinha uma casa...

— É no último andar. Só bater na porta. – O motorista me informou.

Antes mesmo de entrar no prédio, notei que havia dois agentes do lado de fora. Detalhamento de segurança para a Diretora e sua filha.

Subi os degraus contando passos, logo a porta do único apartamento do andar se fez notar, bati sem muito entusiasmo, mas alguém lá dentro estava eufórica.

— Mamãe, é a senhora? – Pude escutar a corrida de Sophie pelo piso de madeira. Resolvi fazer surpresa e fiquei quieta.

A porta foi escancarada para revelar uma ruivinha de pouco mais de um metro de altura e cabelos totalmente bagunçados.

— KELLS!!! É VOCÊ!!!! – Ela gritou sem vergonha alguma de seu estado de quem tinha acabado de sair da cama e me deu um abraço.

— Oi, Sophie! Quanto tempo! – Devolvi o abraço, ia tentar pegá-la no colo, mas ela já estava pesada demais.

Ela então, soltou o abraço e me puxou pela mão, já ansiosa por me mostrar o apartamento.

— Achei que a sua mãe tinha uma casa aqui? – Perguntei depois que consegui cumprimentar Noemi.

— Tá arrumando. Vamos ficar aqui até que esteja pronta. – Ela me confirmou e então parou me encarando. – Por que você está triste? Por que você está chorando, Kells?

Tive que engolir o choro de novo.

— É porque eu perdi uma amiga muito querida.

— Aconteceu alguma coisa com a Maddie ou com a Mer? – Ela tombou a cabeça ao me perguntar.

— Não, elas estão bem, uma outra amiga. O nome dela é Kate.

— A Kate que ajudou a achar a mamãe? – Sophie agora tinha uma carinha curiosa, seus olhos, hoje verdes, me olhavam como se tentassem ver se podiam me fazer mais feliz.

— Sim, essa Kate. E eu nunca vou poder te apresentar para ela...

— Então ela virou uma estrelinha e está brilhando lá em cima junto com o vovô Jasper e a sua mamãe, a tia Shannon?

— Sim, ela virou uma estrelinha.

— Não fica triste. A mamãe me disse que mesmo que nós não podemos ver a estrelas durante o dia, elas estão lá em cima. A Kate tá lá agora e tá vendo tudo aqui embaixo. Você pode me apresentar para ela. – Minha irmãzinha me falou, me levando para a janela do que presumi, era o quarto dela.

Ela tinha a melhor das intenções com isso, e eu me senti bem, na sua inocência de criança, ela soube lidar com a morte muito melhor do eu.

— E sabe, Kelly. – Ela falou assim que me colocou sentada no assento que ela tinha na beirada da janela. – A Noemi me falou que se a gente rezar por todo mundo que virou estrelinha, eles vão ser os nossos anjos da guarda. Assim, não fica triste, a Kate agora, além de estrelinha que brilha, é um anjo também.

— Vem aqui, ruiva. – Chamei Sophie e ela subiu no meu colo e eu fiquei abraçada com minha irmãzinha que como ainda estava com cara de sono, logo dormiu. Eu acabei por me ajeitar nas almofadas e dormi também, certa de que não só Kate, mas também a minha mãe, olhavam por mim lá de cima.

Não sei que horas eram, só sei que quando dei por mim, Jenny me acordava.

— Hora de se arrumar, nosso avião parte em duas horas. – Ela disse, tirando Sophie do meu colo. – E você, ruiva, vamos dando um jeito de acordar também. – Ela falou com Sophie que tinha se esgueirado para a cama.

— Quantas horas?

— Onze da manhã.

— Todos vão?

— Ele vai mais tarde. – Jen respondeu ao que eu queria saber sem tocar no nome de papai.

— Pegaram o....

— Ele tem um plano, vai dar certo. Agora vai se arrumar.

Eu acabei por tomar conta do quarto de Sophie e, enquanto eu me arrumava para um dos piores locais que alguém tem que ir, escutava minha irmãzinha dando pitacos na roupa que a mãe escolhia.

Não demorou e o segurança que nos escoltava bateu na porta.

Me despedi de Noemi e vi que Sophie descia as escadas atrás de Jen.

— Ela vai também? – Perguntei assustada.

— Não, ela só gosta de me trazer ao carro. – Jenny me respondeu, abrindo a porta para mim.

— Tchau, Moranguinho. Até mais tarde.

— Tchau Kelly. – Ela me deu abraço apertado e correu para a mãe. – Mamãe, a senhora não vai demorar não, né?

— Não, Sophie, à noite vou estar em casa. – Jen deu um beijo na testa da filha e entrou no carro. Stanley esperou que Sophie estivesse dentro do prédio para poder arrancar.

Chegamos no aeroporto para encontrarmos toda a equipe lá, todos de roupas pretas, Tim e Tony tinham uma faixa preta sobre o distintivo.

— Oi Kelly. – Abby veio me receber com a sombrinha aberta e a carinha de choro. Nós duas tínhamos perdido uma amiga.

— Oi Abby.

Vi que Tony achou estranho que eu, mais uma vez, estivesse ao lado da Diretora. 

O piloto nos deu a informação que decolaríamos em dez minutos. Todos entraram e se sentaram onde quiseram. Minha intenção era a de me sentar perto de Jen, assim eu achava que choraria menos, mas Tony foi mais rápido que ela e se sentou do meu lado.

— Só uma pergunta.  – Ele começou assim que viu que todos estavam distraídos o suficiente.

— Diga.

— Você conhece a Diretora Shepard?

— Sim.

Ele levantou a sobrancelha.

— Ela é a ex esposa número 2?

— Não, Jen, ou Diretora Shepard para você, é a ex parceira de papai em uma missão na Europa.

Eu soube o que Tony queria saber antes mesmo que ele me perguntasse.

— Eu não sei nada sobre isso. – Menti descaradamente, e eu vi nos olhos verdes de Tony que ele sabia que eu mentia.

Abby veio para mais perto e queria saber as novidades também. Todos dois curiosos com a presença da Diretora Ruiva e como nós duas nos conhecemos.

— Me diga, por favor, que eles foram namorados. Todo mundo sabe que o Gibbs tem uma queda por ruivas. – Abby me pediu.

Eu não falei nada, mas meu silêncio foi interpretado como um sim.

— Formam um belo casal. – Abby soltou baixou, dando uma espiada por sobre o ombro, na direção de Jenny que estava sentada no fundo do avião, conversando com Ducky.

Se ela achava que eles formavam um belo casal, ela não imaginava como era a filha que eles tinham...

— Você acha que é possível... – Abby recomeçou.

— Não sei. Meu pai é muito teimoso.

— Isso eu sei resolver. – A gótica falou com um sorriso. – Imagina que filhos lindos?

Desviei meu olhar para as nuvens do lado de fora.

Tony percebeu o meu movimento e estava prestes a começar a me interrogar, quando o piloto avisou que já estávamos aterrissando.

O velório de Kate foi tudo o que eu conseguia me lembrar como esse tipo de cerimônia é. Amigos e parentes falaram sobre memórias antigas, descreveram uma Kate que não chegamos a ver. Abby foi dar o seu depoimento, e esse foi o único que eu não chorei, pois ela escolheu celebrar a vida de Kate e não sua morte, assim contou como ela viveu os últimos dois anos.

A cerimônia já estava no fim quando papai finalmente chegou. Ele me deu um beijo na têmpora e perguntou como eu estava indo.

— Não posso dizer que bem, nunca mais vou falar com ela. – Respondi sincera.

Ele reduziu o passo para ficar ao lado de Jenny.

— Ari? – Ela perguntou.

— Morto. Ziva está levando o corpo dele para Israel agora.

— Oficialmente?

— Eu o matei.

— Bom. E acreditaram?

— Até agora sim.

Parei de prestar atenção no que diziam, eu tinha a minha parte, Ari Haswari estava morto e Kate vingada.

Parei na frente do caixão onde ela estava, a bandeira americana estendida por cima. Deixei a rosa vermelha e me despedi da minha amiga.

— Obrigada por tudo, Kate. Descanse em paz. Um dia nos veremos de novo. – Falei. Depois segui para onde os pais e irmãos dela estavam. Ofereci minhas condolências e entreguei o caderno de desenhos à Sra. Todd.

— Kate iria querer que você ficasse com isso. – A mãe dela me disse. – À propósito, ela gostava muito de você, disse que você tem um futuro brilhante pela frente.

Fiquei encabulada com o comentário.

— Eu também gostava muito dela. Todos nós gostávamos. – Afirmei. – E obrigada pela lembrança. – Apontei para o caderno.

— É para que você nunca se esqueça dela.

Abracei a Sra. Todd, nunca vi uma pessoa que precisava tanto de abraço como ela e ela me agradeceu o carinho.

— Eu sinto muito. – Falei assim que desfiz o abraço.

E deixei a família de Kate lá. Queria ter feito mais, porém não sabia o que...

Ao longe escutei que Abby colocava uma típica música de Nova Orleans para tocar. Ela celebrava Kate do seu jeito.

Parei novamente virada para o caixão.

— Descanse em paz, Kate. – Falei e me virei para a saída. Para encontrar papai e Jen me esperando. Me esgueirei no meio do dois e papai passou um braço pelos meus ombros, me guiando para fora do cemitério, com Ducky, Tony e Tim nos escoltando.

Era hora de voltar para casa e encarar que Kate não voltaria mais para o NCIS.


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Notas finais do capítulo

Eu sempre desconfiei que depois daquela tocaia os dois deram um amasso dentro daquele carro... ainda mais depois que Gibbs relembra Marselha...
Sophie é uma coisinha preciosa e... spoilers de capítulos vindouros... Abby e Tony não vão deixar Kelly em paz!
Fiquem em casa (quem puder), higienizem as mãos e o celular também!
xoxo



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