Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 53
Eu Senti a Sua Falta, Jen.


Notas iniciais do capítulo

Não vou dizer nada. O título do capítulo fala por si só.
E sim, essa é a frase que Gibbs diz para a Jenny no episódio "Kill Ari, Part 1"
Boa leitura!



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A minha volta ao escritório foi ao mesmo tempo uma coisa boa e uma péssima ideia. Eu estava cansada de não ter o que fazer em casa, Sophie tinha aulas, portanto eu fiquei sozinha grande parte do dia, tendo em vista que ela agora começava efetivamente nas aulas de idiomas, fora na aula de judô - ela iria aprender a se defender a todo custo - e de balé. E uma péssima ideia porque eu temia ser enviada para qualquer outro tipo de operação e não voltar viva.

Estava sentada no Centro de Ameaças, aguardando o Diretor Morrow entrar ao vivo, quando minha mente vagou no meu desespero quando pensei que não voltaria a ver a minha filha e ao mesmo tempo pensei em Jethro, ele deveria ter passado por isso a cada vez que era enviado para algum país quando ainda estava na ativa e depois quando veio para as duas operações na Europa.

Pareceu a eternidade e Morrow entrou ao vivo.

— Jennifer, é bom ver que está bem, dentro do possível.

— Obrigada senhor. Estou melhorando ainda.

— Não é dentro de uma semana que determinadas feridas se curam.

— Não mesmo, senhor.

— Bem, mas não foi para ficarmos de conversa fiada que te chamei, Shepard. Tenho uma excelente oferta para você.

Um arrepio percorreu a minha espinha. Da última vez que ele falou isso, quase fui morta alguns meses depois.

— Quero te promover à Vice-Diretora Internacional do NCIS. O cargo é lotado em Londres e, tendo em vista que você e sua filha já estão adaptadas à cidade, não vejo como você pode recusá-lo. Você viajará um pouco, mas só quando algum dos escritórios do exterior der problemas, mas não estará ativa no campo. Poderá coordenar as operações diretamente do Centro de Ameaças, porém terá uma carga horária de trabalho mais extensa, que, com jeito, poderá ser feita de casa, caso precise. O que acha?

Era uma oferta boa demais para recusar. Poder trabalhar em casa, era a maior das vantagens, e as viagens não seriam mais longas do que uma semana. Eu poderia ficar mais perto da minha filha.

— Posso considerar por um instante, senhor?

— Te dou vinte e quatro horas, Shepard. Caso não aceite, terei que te transferir de cidade e outra pessoa assumirá o seu lugar.

— Terá a minha resposta dentro de vinte e quatro horas, senhor. Muito obrigada pela a confiança.

Trinta e seis hora depois dessa conversa, eu era empossada como Vice-Diretora Internacional do NCIS.

Faltava um passo para voltar para casa, agora.

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— Eu sei que te devo um monte de agradecimentos! – Foi assim que saudei Kate quando a encontrei para tomar um café.

— Primeiro eu quero saber se mãe e filha estão bem. – Ela foi direta.

— Sim. Jenny está em Londres, e está ao lado de Sophie. As duas indo bem. – Informei.

— Isso é ótimo. Agora, cadê a foto da menina?

Tirei da bolsa a última foto que tinha de Sophie e entreguei para Kate. Ela ficou encarando a foto por um tempo e depois apenas disse:

— Por que você não me contou que ela é sua irmã? – Kate disse surpresa.

— Como você?

— Vocês duas tem uma certa semelhança, mas ela tem o olhar bem parecido com o de Gibbs. Se a pequena Sophie é sua irmã. Quem é a Shepard para seu pai?

— É complicado.... – Tentei cortar o assunto.

— No dia que um assunto que envolva Gibbs não for complicado, Kelly, eu troco o meu nome.

— Os dois tiveram um relacionamento enquanto estavam trabalhando na Europa. Não sei o motivo de Jenny ter deixado papai apenas com uma carta, mas ela o fez. Quando ela descobriu que estava grávida, quase três meses depois de deixá-lo, ela tentou avisá-lo, porém, papai parece querer ignorar a existência da filha. Assim, Jenny vem criando Sophie sozinha, eu sempre que posso, vou visitá-la em Londres.

— E como essa mulher, que é nova demais para ser a sua mãe, acabou se tornando essa figura materna para você?

— Nós conversávamos por cartas durante o período em que eles estavam na Europa, um dia ela resolveu que eu deveria ver o meu pai no aniversário dele, e eu fui, foi quando eu a conheci. Mas Jenny sempre me passou a confiança de que seria uma pessoa com quem eu poderia me abrir e procurar ajudar quando precisasse.

— Nossa. E seu pai nunca a procurou?

— Até onde eu sei, não.

— Ele não sabe da filha ou quer ignorá-la?

— Eu acho que é a segunda opção, ele me proibiu de falar sobre Jenny com ele. Deduzi isso.

Kate franziu a testa e ficou pensando por um tempo.

— Eu acho que você deveria conversar com ele novamente. Eu tenho quase certeza de que seu pai não sabe da filha mais nova. – Kate falou convicta. E eu fiz uma careta. - Eu poderia apostar com você, mas seu pai é imprevisível, assim, quando conversar com ele sobre a sua irmã, me avise. – Ela se levantou, porque o celular começara a tocar, era o próprio Gibbs ligando. - Tenho que ir. Mas a gente se fala.

— Tchauzinho Kate! – Paguei a conta e saí. – Será que Kate conseguia ler a reações de meu pai tão bem a ponto de saber se ele leu ou não a carta?

Só o futuro vai me dizer.

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 - Por que essa cara de quem perdeu alguma coisa, Kelly? – Abby me parou na entrada do NCIS, logo depois almoço. Com a minha nova grade curricular, eu tinha folga em dias estranhos, assim, ter vindo passar os três dias de folga, depois de ter trabalhado e estudado em regime de plantão de cinco dias, era a melhor das opções se eu quisesse manter a minha sanidade.

— Eu só perdi cinco noites de sono, Abby. – Falei para ela e Abby me estendeu o seu CAF-POW!

— Isso melhora. Principalmente para quem tá derrubado de sono.

Olhei para a bebida extremamente cafeinada e doce.

— Acho que vou passar, estou vivendo de café há uma semana, isso não vai ser bom para mim.

— Se você diz! – Abby deu de ombros e tomou um gole generoso da bebida. – Ah, não sei se seu pai te contou, temos um novo membro na nossa família.

— Sério. Aquele Marine mal-humorado não me disse nada! Quem é?

— Tim McGee. Você vai gostar dele. É o oposto do Tony. Um gênio da computação. – Abby começou a tagarelar no meu ouvido enquanto subíamos para o andar da sala do esquadrão.

E tudo o que ela disse sobre o novato ser o oposto do Tony era verdade, pois assim que as portas se abriram, tanto DiNozzo quanto Kate estavam de pé, perto da mesa do novo recruta, falando as regras de meu pai na cabeça do coitado. Quando terminaram, deram um tapa duplo na cabeça dele.

— Por que fizeram isso? – Abby chiou e foi ver se McGee estava bem.

— Para ensinar ao Novato que não se mexe com o café do Gibbs! McNerd aqui conseguiu não só enfurecer o Chefe como derrubou todo o café dele no próprio Gibbs. Você pode imaginar como Gibbs está agora? Ele já estava de péssimo humor e agora tá mil vezes.... – Tony não terminou a explicação pois tinha acabado de notar a minha presença.

— Ah, oi Kelly. Quanto tempo! Não te vemos desde a virada do ano... Tudo bem na faculdade? – Ele desconversou.

— Oi Tony. Kate. – Cumprimentei os dois. – Você deve ser o Tim McGee, né? Sou Kelly. – Estendi a mão para o mais novo integrante do Manicômio.

— Kelly. A Kelly? – McGee me olhou assustado. – A filha do Gibbs?

— É McGee, ela é a minha filha. Algum problema? – Papai saiu de qualquer lugar para apavorar ainda mais o pobre agente.

— Não, senhor, nenhum. – Ele falou até gaguejando.

Fiquei morrendo de pena dele, ainda mais se eu levar em conta os sorrisos de deboche no rosto de Tony e de Kate.

Papai ordenou que todos eles fossem trabalhar. Abby levou McGee para o laboratório dela e DiNozzo e Todd foram no apartamento da vítima fazer qualquer coisa. Ficamos nós dois lá.

— Dia difícil, parece que o Novato derrubou o seu café? – Brinquei com ele depois que roubei a cadeira do Tony para mim.

— Você não tem ideia, filha.

— Acho que eu posso deixar o dia um pouco melhor. – Entreguei o café que tinha comprado.

Ele me agradeceu com um sorriso.

— Você também não tem uma cara muito boa... – Observou depois de algum tempo.

— Cansada. Muito cansada. Sei que vai ser assim daqui por diante, mas até eu me acostumar...

Não quis dizer a ele que estava com a cara fechada porque era o quarto aniversário da Sophie e eu ainda não tinha conseguido dar os parabéns para a minha irmãzinha. Acho que Jen deve tê-la levado para algum lugar sem sinal de telefone.

— Não quero ser aquele que traz as péssimas notícias, mas vai piorar mesmo.

Me afundei na cadeira e tentei trocar de assunto.

— Por que o senhor tem que quase aterrorizar o pobre do McGee? O coitado quase não conseguiu formular uma frase de tanto medo. Tony e Kate estão adorando tirar sarro da cara dele!

— Você não viu nada, Kelly. As coisas ficam muito piores do que isso. – O sorriso no rosto de meu pai me indicou que ele também aprontava com o novato.

— Que Deus tenha piedade do McGee. Ou que ele consiga sair daqui o mais rápido possível.

— Isso não vai acontecer. – Papai e garantiu.

— Ah, não? E como o senhor sabe disso? – Questionei.

— Eu só sei! – Ele disse todo convencido e me jogou uma barra de chocolate que ele tinha dentro da gaveta. Isso me fez rir, papai sempre tinha uma escondida para mim.

— Dúvida de mim, Kelly?

Parei e encarei o meu pai...

— Acho que McGee está apavorado demais até para conversar com o senhor. Imagina se for para pedir demissão! Acho que ele vai preferir morrer com um tiro na testa a dizer essas palavras. – Saí pela tangente.

— Esperta você. Não me respondendo diretamente.

— Pelo menos não fiquei calada. – Brinquei com ele e dei uma mordida no chocolate que ele tinha me dado.

E nós dois ficamos ali, jogando conversa fora, até que eu notei que tinha uma busca sendo realizada no computador.

— Quem é esse? – Perguntei e apontei a cabeça para o monitor,

— Ainda não sei.

— Mas se ele está ocupando uma tela da sua mesa, pai, deve ser alguém que realmente te deixou furioso. O que ele fez? – Me levantei e fiquei encarando o rosto do homem na minha frente. Não gostei do que vi, ele tinha cara de ser um mentiroso habilidoso e uma pessoa com um péssimo coração.

Ele invadiu o NCIS há algumas semanas, fez Ducky, Kate e Gerald de reféns na autópsia e deu um tiro em Gerald.

— E ele fugiu?

— Sim.

— Mas como, se ele estava dentro do prédio?

— Ou nós o deixávamos sair ou ele matava a Kate.

Olhei horrorizada para meu pai.

— E o senhor nem pensou em me contar sobre isso? Kate é minha amiga! E o senhor sabe que vejo o Ducky como meu avô!! Como o Gerald está?

— Uma bala no ombro. Vai ficar afastado por um tempo. Ducky tem um novo assistente agora. E eu não te contei, porque não houve maiores danos. – Papai encarou a foto do homem na tela do computador e fechou os punhos.

— Não houve maiores danos... a Kate e o Ducky poderiam ter morrido. Como o diretor não fez nada?

— Ele estava ocupado na reunião semanal com os demais escritórios. Quando acabou, a situação estava controlada.

— Eu diria descontrolada, se vocês estão procurando por ele até hoje... Ele é assim tão perigoso?

— Um terrorista, Kelly. E com essa gente não se brinca.

Lembrei de Jen e do que aconteceu com ela no ano passado. Ela saiu viva por pouco, espero que por aqui as coisas sejam diferentes.

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 - Mamãe eu vou cair!!! – Sophie dizia quando eu a soltei.

— Não vai não. Olha para frente e mantenha a postura reta, como você faz no balé! – Orientei a minha pequena que estava esquiando pela primeira vez.

— Eu.vou.caiiiiir. Ai!!! Quem falou que a neve é fofa? – Ela reclamou quando caiu sentada.

— Sophie, para de fazer drama. A Kelly é quem é a rainha disso. Anda, vamos tentar de novo.

Era o aniversário de quatro anos dela. Dessa vez ela não quis festa, pediu para ficar comigo, assim, dei uma merecida folga para Noemi, que viajou para ver a família dela e peguei minha filha e fomos nos divertir nos Alpes. Bem, eu estava me divertindo, Sophie estava caindo. Já tinha caído não sei quantas vezes do ski.

— Não tem outra coisa mais fácil não? – Ela me perguntou.

— Se a mocinha está falando em patinar no gelo, saiba que isso vamos fazer depois. Agora você tem uma missão. Ficar de pé e conseguir esquiar.

Eu já tinha abandonado os meus skis há tempos, só para poder ajudar Sophie a ficar de pé nos seus. E cada vez que ela conseguia ficar de pé, era uma gargalhada garantida, pois logo em seguida vinha o outro tombo.

— Mamãe, eu não tô gostando.

— Só porque caiu algumas vezes já quer desistir, nada disso. Vamos lá. - Dei a mão para ela e dessa vez ela conseguiu se levantar de primeira.

— Agora observe, para parar você tem que cruzar os skis assim. – mostrei com os dela, para que ela visse o ângulo certo.

— Tudo bem. Acho que sei parar. E para sair do lugar.

— Duas opções. Ou você dá o empurrão com isso, mostrei os bastões para ela, como se você fosse remar, ou...

— Ou o que.

— Eu posso te empurrar, para baixo todo santo ajuda. – Brinquei com ela e Sophie arregalou seus olhos na minha direção.

— Eu vou com os bastões. – Ela disse um tanto incerta.

— Então me espera que vou me equipar e nós vamos juntas. Devagar primeiro, beleza.

Sophie balançou a cabeça e ficou parada igual a uma estátua, com medo até de respirar.

— Pronta? – Perguntei assim que parei do lado dela.

— Eu vou conseguir esquiar bonito assim igual a senhora?

— Eu também comecei caindo, filha. E não foi nem um ou dois tombos. Foram vários. Até aprender demora. Mas você vai pegar o jeito.

— Então, tá. Vamos.

Começamos devagar, mais um ski cross country do que deslizar na neve, só para Sophie se acostumar. À medida que ela ia ficando confortável com todos os equipamentos e como proceder para ficar de pé, íamos aumentando a velocidade. Até que...

— Mamãe isso é muito bom!! – Ela gritou enquanto deslizava em uma pequena descida.

— Reduz a velocidade, está indo muito rápido.

— Tá bom...

E ela até foi bem, se não fosse uma pedra no caminho. Ela bateu na pedra e caiu sentada.

— Dessa vez eu não tive culpa! Foi a pedra! – Ela falou já ficando de pé.

— Claro, foi a pedra. Ela é a culpada. – Concordei com ela, rindo das tentativas dela para se levantar.

Ficamos mais algumas horas ao ar livre, quando a neve começou a cair mais forte, tive que usar de todas as táticas de persuasão que conhecia para colocar a pequena para dentro.

— A neve vai estar aqui amanhã e depois de amanhã, vamos entrar para que a você possa tomar um banho bem quentinho e depois vamos jantar. Aposto que tem gente que ainda quer conversar com você.

— Kelly!!

— Sim, e conhecendo a sua irmã, ela já deve estar completamente enlouquecida nos EUA.

— A Kelly é exagerada. – Sophie me disse com um sorriso.

E assim passamos a nossa semana, entre skis, patins no gelo, guerra de bola de neve e até mesmo um snowboard. Sophie tentou esse também, e, assim como eu, foi um vexame.

Quando voltamos para Londres, Sophie nem tinha entrado em casa e já foi falando:

— Mamãe, no próximo ano podemos ir ou para Paris, ou visitar a Kelly? Acho que vai ser legal, o que a senhora acha?

— Kelly já está na fase final do curso dela, se nós formos para os EUA, corremos o risco de não podermos vê-la. Já Paris é logo ali. O que acha de tirar uma foto no topo da Torre Eiffel?

— Sim!!! Mas um dia poderemos visitar a Kelly, né?

— Conversando com ela, creio que sim.

— A senhora é a maior e melhor mãe do mundo!!!! – Sophie subiu no sofá para me abraçar e me dar rum beijo na bochecha.

—  E a melhor mãe do mundo está mandando a filha ir desfazer as malas, vamos andando que já na segunda você volta para a escola.

— Tô indo! – Minha ruivinha saiu correndo pelo apartamento, arrastando a mala dela.

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Eu via no rosto de cada um da equipe e via no rosto de Kelly quando ela vinha me ver. Todos achavam a mesma coisa, era obsessão. A caçada do invasor da autópsia era a minha obsessão pessoal.

Levou meses até que Ducky tivesse uma dica de quem era aquele bastardo. Dali até McGee conseguir refinar os perfis de busca pelo reconhecimento facial foi rápido.

Complicado foi passar por todos aqueles rostos dia-a-dia. Até que o resultado veio.

Ari Haswari era o nome dele.

Uma pesquisa rápida e vi que não éramos os únicos com interesse em Haswari. Não, ele era uma peça de xadrez importante para CIA, FBI e sabe-se mais quem na sopa de letrinhas.

Acontece que todas estas agências o tinham em um pedestal. Ele estava ajudando o país, como um informante.

Acho que eu era o único que realmente enxergava quem esse informante era. Ele tinha entrado no NCIS, tinha me desfiado, tinha zombado de mim, machucado um dos meus e ameaçado Kate. Se dependesse só de mim ele estaria morto há muito tempo.

Contudo não dependia e eu tinha que pensar em um meio de conseguir pegá-lo.

Poderia demorar, porém, mais dia, menos dia, ele estaria morto.

Essa era a única saída para esse jogo.

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Enquanto papai enlouquecia pelo terrorista que o havia desafiado, eu caminhava para o meu último ano na faculdade. Parecia que tinha sido a pouco tempo que Jenny tinha vindo comigo e eu tinha chorado à noite toda querendo ser criança de novo.

Quatro anos já haviam se passado. Faltava mais um. E a partir daí eu tinha um outro desafio para cumprir. Minha residência em neurologia e neurocirurgia seria feita na Marinha. Eu queria focar na ajuda das centenas de homens e mulheres que foram defender nosso país e voltaram precisando de ajuda.

Quando mencionei isso para Henry ele me olhou meio torto e me perguntou por que eu não seguia com essa mesma especialização, mas na iniciativa privada.

Minha resposta veio na lata.

— Soldados não voltam da guerra ricos, muitas vezes voltam precisando de mais ajuda do que quando foram. E eu poderia ajudá-los na hora em que mais precisassem. Teria um bom salário. Poderia me manter.

Henry tinha batido o pé e disse que salário de médico nas forças armadas não é lá isso tudo e eu ainda seria enviada para cumprir turnos em navios e no exterior.

E lá fomos nós para a nossa segunda briga. Sim, em seis anos de relacionamento brigamos duas vezes, em 98 e agora. Joguei na cara dele que não precisava de luxo para viver, meu pai tinha me criado muito bem, primeiro com o soldo de Fuzileiro, depois com o salário de Agente Federal. Nada tinha me faltado, nunca. E eu poderia me manter assim.

Lembro que no final da briga – que foi ouvida por todo quarto andar do dormitório, - Henry saiu batendo a porta, entrou no carro e deve ter voltado para NY. Não liguei para saber se ele chegou bem e ele nem me avisou.

Problema dele. Eu tinha os meus planos e ele sempre soube disso. Não deixaria a minha carreira, o meu sonho, só porque alguém, que é o conselheiro da carreira política do pai dele, disse que não pegaria bem para um político ter uma esposa que trabalhasse nas Forças Armadas e viajasse muito.

E foi aqui que eu quis voar no pescoço dele. Ele queria a esposa troféu? Aquela que só serve para duas coisas, ficar bonita na foto e dar à luz aos filhos do político?

Ele não teria isso. Minha mãe foi uma dessas esposas que ficaram em casa, criando a filha, esperando o marido voltar de cada turno no exterior, sempre com um sorriso no rosto e pronta para fazer o que lhe fosse pedido.

Fale o que quiser, que eu sou cabeça dura ou que passei muito tempo perto da Jenny.  Eu só sei que não deixaria os meus sonhos de lado, o meu sonho de poder ajudar a quem precisa, por conta de uma opinião de um chato de galocha de um conselheiro político.

A vida é minha e dela eu tomo conta.

E espero que Henry faça isso com a vida dele também. Porque se alguém for ditar cada passo que ele for dar, cada medida que ele tem que tomar pelo resto da vida dele, eu não sei se o meu amor por ele é forte o bastante para ser obrigada a ser engessada ao lado de uma pessoa fabricada para a mídia, para o partido e para os eleitores.

Eu quero o meu Henry, aquele que eu conheci no Ensino Médio, não um fabricado.

E essa briga já tinha acontecido há duas semanas. Eu não dei o braço a torcer e Henry, até hoje, também não.

Dei uma olhada rápida para o relógio na parede, em cima da estação das enfermeiras, faltava uma hora e meia para que meu plantão de setenta e duas horas terminasse. E nesse eu já tinha feito de tudo. Uma última ronda, checando os pacientes e uma boa dose de reza e sorte para não aparecer ninguém que requeira cuidados muito demorados e eu estava liberada para poder ir dormir pelos próximos dois dias.

Bem, estes eram os meus planos, que foram para água abaixo quando coloquei o pé para fora do Hospital. Henry me esperava do outro lado do estacionamento encostado no carro dele.

Tinha a opção de ignorar a presença dele ali e ir andando até o ponto de ônibus, a noite estava quente e tinha bastante movimento na rua. Contudo, nós precisávamos conversar.

Assim como tinha feito no dia da briga e como vinha fazendo, eu não dei o primeiro passo. Esperei que ele viesse até mim. Ele veio pedir desculpas, então que faça isso direito.

E ele entendeu o que eu estava fazendo.

Desencostou do carro, pegou algo que estava lá dentro – e eu rezei para que não fossem flores ou chocolates. – e veio na minha direção.

— Kelly. – Ele falou quando ficou bem na minha frente.

— Olá, Henry.

Ele respirou fundo. Para um político em treinamento ele estava nervoso de verdade.

— Eu entendo o que você quis dizer na noite em que brigamos. – Ele começou. – E, para falar bem da verdade, você nunca escondeu o seu desejo de se juntar às Forças Armadas, mais precisamente à Marinha e é o meu dever te apoiar, assim como você nunca julgou o fato de que eu vou seguir a mesma carreira do meu pai, você até me ajuda com os discursos, seja escrevendo ou me ajudando a ensaiá-los.

Eu olhava para ele, esperando para ver aonde ele queria chegar com isso.

— Eu também sei que você nunca se importou com o que eu sou, ou filho de quem eu sou. Você sempre se importou com quem eu sou e não com o que eu tenho. Aliás, esse foi o motivo da nossa primeira briga. – Ele deu de ombros. – E o que você me disse sobre não me deixar ser controlado por um bando de conselheiros sanguessugas é a mais pura verdade. E eu não sei onde estava com a cabeça quando segui a sugestão de um deles para que você virasse a esposa modelo. Você sempre me disse que o seu exemplo de mulher forte era a Jenny, e agora a Kate, duas mulheres que não se importam com o que as pessoas falam, elas simplesmente seguem o coração delas. E você vai fazer a mesma coisa. Eu não vou te impedir. – Ele parou e me encarou.

Eu perdi o ar, eu não estava acreditando que ele estava terminando comigo depois de um turno dos infernos no hospital. Que ele estava terminando comigo bem na frente de um monte de desconhecidos, no meio da rua. Meus olhos se encheram de água, eu queria virar a mão na cara dele, mas não encontrava forças.

— Como eu disse, eu não vou impedir, não posso fazer isso com a mulher que me apoia tanto. Eu quero e se você deixar, vou estar do seu lado enquanto você faz o treinamento e a residência. Vou te levar até o porto ou aeroporto quando você tiver que ir para o exterior e vou estar lá te esperando quando você voltar. Porque eu percebi, Kelly, nestas duas semanas em que não nos falamos que... que eu não sei viver sem você. Não mais. Assim, eu só tenho um pedido para te fazer.

Meu coração parou quando a mão dele alcançou o bolso interno do paletó caro que ele usava. Eu não conseguia controlar as lágrimas quando ele se ajoelhou na minha frente.

— Eu ainda não conversei com o seu pai e eu pretendo fazer isso, porém, antes, eu gostaria de saber se você aceita se casar comigo, Kelly Gibbs? Não é para ser agora, ou no ano que vem, eu só quero saber se você quer ser minha esposa. E nós dois vamos decidir o nosso futuro do jeito que queremos, sem que ninguém se intrometa.

Eu estava sem palavras ao olhar para ele, ajoelhado na minha frente, com um anel estendido na minha direção. Eu sabia que tinha que dar uma resposta para ele, que ele estava esperando por isso, mas tudo que eu conseguia fazer era sorrir e chorar. Henry me olhou apreensivo, como se nestas duas semanas eu tivesse sido capaz de esquecê-lo ou de trocá-lo por qualquer outro cara.

— Eu... o que você acha? É claro que eu aceito! – Respondi entre o choro e a felicidade. E dei um beijo nele, um beijo daqueles de cinema, e todo mundo que estava em volta parou para ver e aplaudiu quando nos separamos e ficamos nos olhando com as testas coladas.

 - Eu te amo demais, Henry! – Falei e depois escondi meu rosto no pescoço dele, pois várias pessoas aplaudiam e outra assobiavam em nossa direção.

— Eu também te amo, Kelly. – Ele falou e deslizou o anel no meu dedo. Era uma joia linda, nada extravagante, porém eu tinha a certeza de que era cara.

— É lindo. – Falei emocionada.

— Fico feliz que tenha gostado.  – Ele disse com um sorriso.

— Quem te ajudou? – Perguntei desconfiada, porque até o tamanho foi perfeito.

— Eu tive que fazer uma ligação para Londres e outra para o Estaleiro da Marinha.

— Jenny e Kate te ajudaram?

— Kate com o tamanho. E Jenny com o modelo. Eu não sabia que ela poderia ser tão brava. Quando eu disse que tínhamos brigado, ela me passou o maior sermão que eu já ouvi.

Eu comecei a rir. Já tinha duas madrinhas para o meu casamento!

— Se você ficou com medo da Jenny, com quem você conversou por telefone e que está há um oceano de distância, como vamos fazer com o meu pai? – Perguntei dando a mão para ele enquanto ele me guiava até o carro.

— Acho que quanto mais cedo, melhor, não? – Ele disse.

— Depende, você está com pressa para casar? – Perguntei.

— Não.

— Podemos deixar o noivado entre nós, sei que nem Kate, nem Jenny vão contar para ninguém, aí nós podemos planejar, você pode conversar com papai depois da formatura, até porque eu tenho a certeza de que ele vai reagir como se você estivesse me pedindo em casamento só porque estou grávida... o que você acha? Podemos manter segredo por um ano e depois soltamos a bomba?

— Se é o que você quer, Kelly. Eu não me oponho. Mas e o anel?

— Eu posso usá-lo em outro dedo, papai já está acostumado com este aqui – mostrei o anel que Henry me dera no nosso primeiro Dia dos Namorados. - Posso deixá-lo no lugar deste aqui e dizer que é novo, outro presente. Ninguém vai desconfiar. - Afirmei.

Henry fez questão de fazer a mudança por ele mesmo. Mostrando assim que confiava no eu estava fazendo.

E eu esperava que desse certo, pois eu realmente tinha medo do que papai fosse falar quando nos dois contássemos sobre o casamento.

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É impressionante como um ano pode passar rápido. Há um ano estava na Suíça para o quarto aniversário de Sophie. Meses depois recebi uma das ligações mais inesperadas da minha vida. Henry tinha me ligado e pedido conselhos do como poderia se desculpar com Kelly depois de uma briga e, de quebra queria pedi-la em casamento e precisava de um anel e como eu era a pessoa mais próxima de uma mãe que ela tinha, ele realmente queria saber o que eu achava sobre tudo isso.

Sete dias depois da ligação, Kelly me liga, a felicidade era ouvida em sua voz, ela tinha dito sim. Acontece que iriam esconder o noivado por um ano até que ela se formasse e os dois preparassem o terreno para contarem para Jethro.

No Ano-Novo ela veio passar conosco. Me falou que Jethro estava dando nos nervos dela por conta de um terrorista que ele estava caçando, assim ela veio para Londres, Henry, lógico, veio junto, e foi hilário ver Sophie interrogando o futuro cunhado. Mas nada superou quando eles foram embora. Sophie se despediu de Kelly como ela sempre fez, e quando foi a vez de se despedir de Henry, minha pequena mandou que ele se ajoelhasse na frente dela, Henry obedeceu e depois de dar um tapa na parte de trás da cabeça dele – um movimento típico do pai que ela nunca conheceu e nem sabe que ele faz – ela falou muito séria:

— Se a Kelly ficar triste por conta de você, eu vou te bater muito mais forte, tá?

Henry arregalou os olhos e olhou na minha direção. Eu dei de ombros, não tinha pedido para Sophie fazer aquilo. Kelly começou a rir.

— Tá vendo, isso aqui foi só a prévia do que vai acontecer em Alexandria. Papai vai ser mil vezes pior. – Ela ria, para então, se abaixar e abraçando Sophie, dizer – obrigada por me proteger irmãzinha. Eu vou fazer o mesmo por você quando for a sua vez.

Eu revirei os meus olhos. E mandei que os dois entrassem para a sala de embarque ou eles perderiam o avião.

De Janeiro à Março foi um pulo. Não parei por um segundo, e nem Sophie. Só tinha tempo efetivo para minha pequena nos finais de semana, que eram sagrados e eu não trabalhava. E assim o aniversário dela chegou. E cumprindo a promessa que fizera a ela, estamos em Paris.

Já fomos em todas as armadilhas de turista existentes e agora estamos aguardando a nossa vez para poder tirar uma foto em frente à Torre Eiffel. Como ela havia pedido, ela teria a dela sozinha e uma foto comigo, para então, nos duas subirmos ao topo.

Lá em cima não foi diferente, ela pediu colo e começou a olhar a paisagem.

— Mamãe, é igual aquele quadro que a senhora tem no seu escritório!! – Ela observou. O quadro em questão era o mesmo que eu havia arrematado em um leilão anos atrás, aqui mesmo em Paris.

— Eu sei. É bonito, não é? – Nós duas conversávamos em francês e, mesmo assim, atraíamos a atenção de várias pessoas.

— Ao vivo é mais bonito do que no quadro! – Ela confirmou e eu via como os seus olhos brilhavam ao olhar para a cidade que se estendia sobre os seus pés. Sophie amava Paris da mesma forma que eu. Aliás, eu amava muito mais, pois foi essa cidade que proporcionou que eu pudesse ser a mãe dessa pessoinha que estava em meus braços hoje.

Nossa viagem não foi longa, só dois dias, mas foi tudo o que nós duas precisávamos. Nosso momento anual entre mãe e filha.

Chegando em casa, eu perguntei para ela.

— E no ano que vem, vamos para onde?

Ela parou e me disse séria:

— Podemos ir para os EUA. Eu sei que sou americana, mas nunca fui lá.

— Aonde nos EUA? É um país muito grande.

— Onde a senhora morava?

— Georgetown.

— Para lá! E eu quero conhecer a Casa Branca.

— Tudo bem, iremos para lá.

Na semana seguinte duas coisas aconteceram.

Primeiro, Ziva David apareceu para uma visita. Disse que tinha algo especial para Sophie.

— Eu vi que você faz coleção de monumentos ou presentes de vários lugares do mundo. – A israelense começou a falar, assim que entregou o presente para uma muito alegre Sophie. – Assim eu acho que você poderia gostar desse.

Sophie agradeceu à Ziva mais uma vez. Era incrível como ela gostava da jovem oficial.

Quando o presente foi aberto, Sophie ficou encarando para a miniatura em suas mãos, até que leu a inscrição na base.

— Fortaleza de Masada.

— Essa é uma representação de como essa fortaleza era em 50 d.C.

— Isso fica em Israel? – Sophie perguntou maravilhada.

— Sim, fica, só que hoje não é mais assim, mas a vista daqui de cima. - Ziva apontou para o alto da Fortaleza. – é uma das mais bonitas do mundo.

— Mamãe, podemos ir para Israel um dia? – Sophie me perguntou sem tirar os olhos da miniatura.

— Quando você estiver de férias, podemos ir.

— Obrigada Tia Ziva!! Eu amei. Vou colocar do lado das outras que tenho!! – Sophie abraçou Ziva mais uma vez e depois saiu correndo para o quarto, para guardar o presente ao lado das outras miniaturas que ela tinha.

— Não precisava fazer isso. – Falei para Ziva.

— Achei que ela iria gostar. E estava certa.

— Obrigada. Vai ficar por muito tempo em Londres?

— Na verdade não. Só passei aqui para entregar o presente para o Pingo de Gente. Tenho que conexão para pegar.

— Ela não vai gostar que você já está indo.

— Prometo não levar quase um ano para vê-la.

Sophie voltou correndo e queria arrastar Ziva para ver a sua coleção.

— Não posso ficar mais tempo, Pingo de Gente. Prometo voltar outra hora e você pode mostrar não só a sua coleção, como poderemos ir na London Eye, o que você acha?

— Mas você não ficou nada aqui comigo, Tia Ziva!

— Eu sei. Mas eu vou voltar, tudo bem? – Ziva a abraçou e se despediu em hebraico da minha pequena.

— Shalom – Sophie disse de volta.

O segundo acontecimento foi uma ligação de Morrow. Ele me avisara que meu nome estava entre os três selecionados que agora estava nas mãos do Secretário da Marinha.

— Posso saber para que, senhor?

A risada dele me pegou de surpresa.

— Para o cargo de Diretora, Jennifer. Eu estou indo para a Segurança Nacional. Precisam de sangue novo para chacoalhar as coisas por aqui. – Ele disse e desligou o telefone.

Diretora. Eu estava sendo cotada para o cargo de Diretora. Em D.C. Eu poderia voltar para casa depois de sete anos?

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Todo o suspense de Morrow durou por mais um mês, no final de abril eu recebi a ligação que mudaria a minha vida e a da minha filha.

Dentre os três nomes que o Secretário da Marinha tinha em suas mãos, ele acabara escolhendo o meu. O Diretor continuou falando os motivos da escolha, mas eu não escutava. Ainda estava tentando absorver a notícia. Era bom demais para ser verdade.

Por fim, voltei a terra a tempo de escutar que nos próximos dias eu iria treinar a minha substituta. Willows. Não era um treinamento, era a parte mais fácil.

Mina estava nas alturas com a promoção inesperada. E como todos gostavam demais dela, o clima no escritório era de comemoração.

— Eu realmente vou precisar te treinar nas próximas semanas? – Perguntei para uma muito animada Willows.

— Acho que não. Eu dou conta. E se não der, eu ligo para Washington e peço ajuda para a Senhora Diretora do NCIS! – Ela falou brincando.

Senhora Diretora, isso soou tão estranho. E eu detesto ser chamada de Senhora, mas madame é muito pior.

— E como você vai fazer com Sophie? O ano letivo ainda não acabou sei que ela só tem cinco anos, mas... – Mina me perguntou.

— Vou pedir para adiantarem as provas finais dela. A essa altura não tem mais nada para ensinarem mesmo. Faltam vinte dias para as aulas acabarem.

— E a mudança? – A loira se sentou na cadeira à minha frente e começou a conversar, só agora se dando conta de que a promoção dela significava a minha saída.

— Isso pode ser um problema. Tenho uma casa em Georgetown que eu não vou há sete anos, não faço ideia de como aquele lugar está. Muito provavelmente vou alugar um apartamento por um tempo até a casa ficar habitável.

— Esse é um plano válido. Como planeja contar para Sophie?

— Eu vou simplesmente dizer que vamos voltar para casa. Ela me pediu para visitar os EUA no próximo aniversário. Creio que ela vai ter que escolher outra viagem.

— Acha que você vai dar conta de criar e educar a Sophie e comandar o NCIS?

— Fiz coisa muito pior quando ela era um bebê. Vou conseguir. Além do mais, lá eu tenho conhecidos, vai ser mais fácil.

— Torço para que seja e para que Sophie se adapte o mais rápido possível. Ela nasceu e passou cinco anos aqui, tem até sotaque britânico...

— É a americana mais inglesa que existe. – Eu caí na gargalhada.

— Eu vou sentir falta daquela coisinha ruiva. Das perguntas fora de hora, das frases de efeito. Sua filha vai ser uma peça quando crescer. E espero que seja uma agente do NCIS.

— Se dependesse só de Sophie, ela já era uma agente.

— Se quiser deixá-la aqui em Londres, eu me encarrego de treiná-la. – Willows brincou.

— Nem pensar. Nem de brincadeira eu deixo a minha miniatura para trás.

— Tudo bem, mamãe coruja. Agora vai para casa contar a novidade para a sua filha. E por favor, traga ela aqui para se despedir.

Peguei minhas coisas e levei tudo o que era meu ali. O quadro que comprei em Paris, os porta-retratos, minhas agendas. Assim que fiz a última viagem até o meu carro e deixei a última caixa no porta-malas me senti realizada. Tinha cumprido mais uma meta do meu Plano de Cinco Passos, mesmo com uma grande mudança no meio do caminho.

Contar para Sophie foi a parte mais fácil, ela ficou em êxtase em saber que iria conhecer o país ao qual ela pertence.

— Mamãe! – Ela começou depois de ficar correndo pelo apartamento. – Eu me lembrei de uma coisa.

— Se lembrou do que, miniatura.

— Eu vou estar no mesmo país que o papai! Será que agora ele vai poder ir me ver?

E esse era um ponto que eu ainda não tinha pensado. Tinha ficado tão animada em voltar para casa que me esqueci completamente que eu voltava como a chefe de Jethro, e que teria que encontrá-lo todo dia.

— Mamãe? – Sophie me chamou quando eu não respondi à sua pergunta.

— Vamos ver isso depois, pequena, primeiro precisamos arrumar todas as nossas coisas em caixas e despachá-las para Georgetown.

— Mamãe, onde vamos morar?

— A mamãe tem uma casa nos EUA, mas tem muito tempo que eu não vou lá, a última vez que fui, você nem era nascida. Assim, tem muita coisa para reformar, até que a casa fique pronta para nos receber, eu vou alugar um apartamento para nós.

— Podíamos ir morar com a Kelly! – Sophie disse simplesmente.

— Ela mora em outro estado. A mamãe precisa de um lugar que seja perto do Estaleiro.

— E quando nós estivermos morando lá, eu vou poder te visitar também enquanto a senhora estiver trabalhando?

— Esse trabalho da mamãe vai ser mais complicado, então não posso te prometer nada.

— Tudo bem. Eu vou começar a guardar as minhas coisas. A senhora me promete que as minhas miniaturas não vão quebrar?

— Se você guardar tudo direitinho, não vai não.

E Sophie saiu pulando para o quarto para começar a guardar as coisinhas dela. E era muito bom ela ser rápida lá, porque eu tinha que desmontar praticamente o apartamento todo.

Duas semanas depois, levei Sophie para se despedir do pessoal do escritório. Quando cheguei lá, tinham feito uma festa de despedida para nós. Foi um momento agridoce. Era bom saber que todo o meu trabalho tinha sido recompensado, mas por outro lado era ruim demais deixar todos eles para trás e ver que alguns já tinham mudado sua postura para comigo. Eu deixei de ser a Jenny e passei a ser a Senhora.

Depois de muitas lágrimas por parte de Sophie, eu ainda tinha que passar na escola onde ela estudara para pegar os seus documentos de transferência, bem como seu boletim.

Eu nem sei o porque me preocupei com ela, quando pedi para adiantarem as provas. Era nota máxima de cima a baixo.

Passamos o restante do nosso último dia em Londres turistando. Sophie queria tirar foto de todos os lugares que ela amava. Assim, Big Ben, London Eye, Palácio de Buckingham foram algumas das paradas. A foto mais bonita foi, com certeza a que ela estava parada em frente ao relógio mais famoso da cidade, e essa seria a que eu carregaria comigo.

Na manhã seguinte, com todos os nossos pertences embalados em caixas já enviadas para os EUA, embarcamos para casa. Noemi era a pessoa mais feliz, Sophie ainda estava com medo de que perdessem suas preciosas coisinhas e eu não conseguia parar de pensar que teria que encarar Jethro depois de seis anos. Aquela noite de Natal na frente do meu prédio não conta.

Sophie apagou logo na primeira hora de voo e presumi que continuaria dormindo até que chegássemos. Noemi, que morre de medo de avião, ia rezando um terço, e eu tentava dormir, mas algo me dizia que teria problemas logo na minha chegada.

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Ari tinha aparecido. Depois de meses de caçada, o canalha tinha aparecido, queria roubar um protótipo não tripulado para poder atacar um porto assim que o Porta-Aviões atracasse. Seu intento seria matar não só os cinco mil marinheiros a bordo, como também os familiares que os estariam esperando no cais.

No último momento, conseguimos detê-lo. E Kate, seguindo à risca o que lhe havia sido determinado, tinha pulado na frente de uma bala por mim.

— Esse seu trabalho de proteção acaba agora, Kate.

— Concordo Gibbs.

DiNozzo fez uma piada sobre Kate não poder ir ao Pilates no próximo dia e tudo parecia bem.

Parecia, pois em um piscar de olhos, ouvi o zumbido de uma bala e quando foquei, Kate estava caída. Uma bala tinha entrado no meio de sua testa e saído do outro lado.

Eu tinha certeza de que fora Ari quem a matara.

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— Mamãe, o que eu vou ficar fazendo aqui enquanto a senhora trabalha? – Sophie me perguntou, sentada na minha cama depois que tinha me ajudado a escolher a minha roupa para o meu primeiro dia como Diretora.

— Ajude a Noemi, vá ler um livro, brincar um pouco.

— Posso andar de bicicleta lá fora? – Ela balançava as perninhas quando me perguntou.

— Se eu ainda sei reconhecer o tempo por aqui, creio que vai chover, mas até que comece, sim, você pode. Peça à Noemi para ficar de olho em você e a obedeça quando ela te mandar entrar.

— Eba!!! – Ela pulou da cama e veio me abraçar, me dando um beijo no rosto. – A senhora está bonita!

— Obrigada. Mas tenho que dar crédito para a minha estilista pessoal, sabe? Ela tem muito bom gosto para escolher as minhas roupas. – Abracei a pequena ruiva de volta e comecei a fazer a cosquinhas na barriga dela.

— Para, mamãe! Para!! – Ela pedia.

— Só paro se você me der outro beijo e outro abraço!

Sophie nem me deixou terminar a frase. E, a pegando no colo, levei-a para a cozinha.

Não vou negar, estava nervosa. Talvez mais nervosa em reencontrar Jethro do que em assumir a função de Diretora, assim, a única coisa que consegui engolir foi o café.

Quando dei por mim, alguém batia na porta do apartamento. Meu detalhamento de segurança. Teria que me acostumar com isso. Me despedi de Noemi, que me abençoou em espanhol e de minha filha, que mesmo ainda de pijama e pantufas, fez questão de descer até a porta principal e me ver entrar no carro.

— Tchau mamãe!! Bom trabalho. – Ela se despediu dando pulinhos.

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Kate estava morta e o desgraçado do Ari não tinha deixado nenhuma pista concreta que o identificasse como sendo ele o assassino.

Ele sabia que só a minha convicção não bastava para acusá-lo, ainda mais quando todas as agências pareciam querer protegê-lo.

Abby, McGee e Tony estavam trabalhando à exaustão, querendo pôr o culpado pela morte da amiga na cadeia. E Ducky estava fazendo a pior parte do trabalho.

Kate já havia parado uma bala por mim, não precisava ter levado uma segunda.

Estava pensando no que Ari queria provar, enquanto voltava da minha pausa para o café, quando ouvi outro disparo.

Direto dentro do Laboratório de Abby.

E agora eu sabia o que Ari queria. Queria matar todas as mulheres que faziam parte da minha vida e me provar que eu era incapaz de protegê-las.

Por sorte, Abby estava bem, Tony tinha conseguido tirá-la da linha de fogo. Com Abby segura, eu tinha que colocar outra pessoa em segurança.

Kelly.

Ela ainda não sabia de Kate, mas eu não poderia esconder a notícia por muito tempo. E precisava que ela ficasse em segurança, e o único lugar seguro para ela era aqui dentro do Estaleiro. A minha sorte, ou azar, era que minha filha tinha avisado que estava vindo para D.C..

Depois de que me certifiquei de que Abby estava bem, liguei para Kelly.

— Oi papai? – Ela atendeu no segundo toque, sua voz grogue de sono, foi só aí que notei que o dia estava amanhecendo.

— Onde você está?

— Entrando na rua de casa. Por quê?

— Deixe suas coisas em casa, e venha direto para o estaleiro, preciso de você aqui.

— Pai, o que aconteceu? O senhor está me assustando.

— Kelly, só faça isso.

— Tudo bem, me dê uma hora. Preciso de um banho. – E ela desligou. Uma hora era muito tempo. Estava quase indo buscá-la quando fui informado que Morrow queria me ver no MTAC.

Olhei em direção à sacada do quarto andar. Minha intuição me avisando que Morrow iria me dizer algo mais importante do que simplesmente pedir uma atualização sobre o assassinato de Kate.

Subi as escadas de dois em dois degraus, abri a porta do MTAC. Fui surpreendido pela quantidade de pessoas lá dentro. Parecia que uma operação de alto risco estava sendo executada. Passei no meio de todas aquelas pessoas que não estavam falando em inglês e senti um perfume conhecido, mas não dei atenção.

Morrow estava sentado na última fileira de cadeiras, achei incomum, geralmente o Diretor se senta na frente.

Ele me pediu uma atualização, falei o que tinha. Perguntou se tinha provas.

Isso eu ainda não tinha. Mas eu pegaria esse bastardo, vivo ou morto.

— Bem, Jethro, isso não é mais problema meu. Estou saindo. Me ofereceram o cargo na Segurança Nacional.

— E quem vai ocupar o seu lugar, senhor?

Ele me olhou engraçado.

— Eu?

— Jethro, por mais que eu goste de você, eu não daria um tiro na cabeça dessa agência.

Fiquei sem entender.

— Não estou certo, Diretora? – Ele falou mais alto e, duas fileiras na nossa frente, uma mulher se levantou.

E eu a conhecia. Eu a conhecia muito bem. Quando ela se virou na minha direção, foi impossível não repassar cada um dos momentos que vivi ao lado dela na Europa.

— Diretora Shepard, ele é seu problema agora. – Morrow avisou e se retirou.

— Olá Jethro! – Ela me saudou como se eu não a visse há uma semana, e não há seis anos. – Algum problema em receber ordens de uma mulher?

Eu não esperava por essa. Não mesmo. Ela tinha voltado. E era a minha chefe. E ali, parado, olhando para ela, eu soube, eu a tinha perdoado há muito tempo.

— Não, Jen. Nenhum problema. – Estava frente a frente com ela e aproveitei para poder vê-la melhor. Por um lado, era a mesma Jen que eu conhecia, agora com roupas mais formais, por outro, tinha algo de diferente nela que eu não pude distinguir o que era.

— Vamos cortar o papo de que você não mudou nada e irmos direto ao ponto?

— Por que começar a mentir um para o outro agora? – Respondi.

— Ótimo. – Ela me sorriu. - Você tem um problema nas mãos.

— Você era uma excelente agente, Jen. Principalmente disfarçada.

— Jethro... – Ela me alertou. E era fácil dizer que ela entendeu o que quis dizer. Eu ainda era capaz de lê-la.

Ela deu um passo para sair do MTAC e dei passagem e a segui.

Jen começou a falar sobre a investigação e disse que eu precisaria de provas concretas contra Ari.

— Nenhum babaca de calças apertadas irá me impedir de pegar esse canalha, Jen. E isso inclui você. – Falei me virando na sua direção e fui surpreendido pela expressão dela.

Rosto corado, olhos brilhando de fúria. Ela mal tinha chegado e eu já a tinha deixado furiosa.

— No trabalho é Diretora Shepard ou Senhora. – Ela me alertou naquele tom que não permitia discussões.

— E fora do trabalho? – Perguntei e vi que ela vacilou ali. Era o que eu precisava.

— Não haverá “fora do trabalho”, Agente Gibbs.

— Isso é uma pena. Eu realmente senti a sua falta, Jen. – Olhei no fundo dos olhos dela e vi que tinha algo mais ali, algo que ela ainda não falara comigo. Continuei a descer as escadas. - Venha eu preciso ir a um lugar e você irá comigo.

Ela me acompanhou desconfiada. Seus passos mais lentos por conta dos saltos altos, reduzi minha passada para que ela ficasse do meu lado, e mais por costume do que tudo, descansei minha mão em sua lombar enquanto esperávamos o elevador.

— Aonde você está indo, Jethro?

— Preciso buscar Kelly. Ari também vai atrás dela se eu não tomar cuidado. E você vem comigo.

— Kelly era amiga da Agente Todd e você não sabe como vai contar para ela que Caitlin está... – Jen parou. Eu sabia que ela entenderia sem que eu me explicasse.


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Notas finais do capítulo

Muita coisa para absorver, né?
Não queria matar a Kate, mas não sabia o que fazer com ela e Ziva juntas, perto de Tony...
Sim, Kelly está noiva e não contou para o papai... momentos memoráveis estão para chegar.
Falei que não demoraria 40 capítulos para que Jenny e Gibbs se reencontrassem, mas não prometi que ele saberia de cara sobre Sophie.
E sim, Sophie está no mesmo país que o pai... se segurem que a montanha-russa só está dando a partida!
Muito obrigada a quem está lendo! E não, não vou pedir desculpas pelo tamanho desse, vou usar a Regra #06!
Até o próximo capítulo!
xoxo



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