Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 51
Filhas


Notas iniciais do capítulo

Eu voltei mais cedo, não sei quantas pessoas estão efetivamente acompanhando a fic, mas em tempos de quarentena e quando tudo o que se fala são notícias que nos deixam para baixo, resolvi trazer mais um capítulo para poder passar o tempo de vocês!
Uma prévia, temos zivaismos, e temos Sophie sendo bem o pai dela quando se trata de palavras difíceis, temos Kate Todd sendo apresentada e Kelly, bem sendo a Kelly de sempre!
Boa leitura e fiquem seguros e em casa (quem puder), lavem as mãos e limpem o celular!



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Poucos dias depois do terceiro aniversário de Sophie, que desta vez não teve só adultos, pois ela convidou todos os amigos da escola, ou seja, eu tinha mais de 20 crianças bagunçando o meu apartamento em um sábado à tarde, correndo para cima e para baixo, gritando e falando ao mesmo tempo, Morrow me confirmou que as operações com o Mossad seriam transferidas. Depois de passar quase um ano indo e voltando do Leste Europeu com bons resultados – e viva, quero acrescentar que as habilidades de Ziva atrás de um volante pioram a cada dia. – eu estava sendo requisitada a atuar no Norte da África.

— Senhor, é permanente? – Perguntei assim que ele me informou.

— Não. O esquema é o mesmo das operações no Leste Europeu. Mas por que a pergunta, Shepard?

Respirei fundo. Acho que ele tinha esquecido.

— Bem senhor, eu tenho uma filha. E já foi bem difícil ficar longe dela indo e voltando dentro de um mesmo continente.

— E onde você quer chegar com isso?

— Se a operação for levar mais de um mês, senhor, eu prefiro ser transferida para o Norte da África e me estabelecer por lá. Não posso simplesmente ignorar o fato de que tenho uma filha e deixá-la sem me ver ou longe de mim por tempo indeterminado. – Acabei de me explicar.

— Cada ida sua para o Egito será de no máximo três semanas, Shepard. A presença do Mossad é forte nessa área do mundo, assim, eu só preciso que você colete as evidências para o NCIS e pode voltar para o que você faz em Londres. Você tem gerido esse escritório muito bem.

— Agradeço a confiança, senhor. – Falei da boca para fora. Algo nessa mudança de localização estava me deixando aflita.

— Você parte em três dias. Ficará três semanas e poderá voltar para a sua filha. Com quantos anos ela já está? – Ele fingiu um interesse.

— Acabou de fazer três. – Não consegui esconder o orgulho na minha voz.

— Espere até que entre na escola. – Ele tentou fazer graça.

— Ela já está. Resolvi matriculá-la mais cedo.

— Então ela vai poder se distrair na sua ausência, Shepard. Te vejo em videoconferência em três semanas. – E Morrow desligou.

Tive que ter muito autocontrole para não sair chutando as coisas. Será que ele achava fácil explicar para uma garotinha de três anos que a mãe dela passaria um tempo fora trabalhando e que esse tempo era maior do que um dia? Se ele acha, é porque nunca se importou em realmente criar os filhos.

Estava furiosa e querendo alguém para ser imolado pelas minhas mãos, quando uma mensagem chegou no meu celular.

Meu contato no Mossad já me dando as instruções devidas para o meu embarque, incluindo o nome que eu usaria.

— Para isso vocês não perdem tempo, não é mesmo? – Encarei o aparelho na minha mão e tive a estranha necessidade de querer queimá-lo, tamanho era o meu ódio.

Levei mais de cinco horas para explicar para Sophie, que estranhamente estava muito acordada, mesmo com a hora avançada, que estava indo viajar à trabalho.

— Mas mamãe, pra onde?

— Primeiro, é para onde. E segundo, é trabalho. Você não precisa saber.

Ela fez um bico e continuou a me observar a fazer a mala. Estranhando o fato de eu estar colocando coturnos e calças jeans ao invés dos terninhos, saias e camisas que normalmente uso.

— Eu não gosto dessas botas. – Ela apontou para o coturno.

— Também não sou fã. – Respondi enquanto procurava por uma coisa bem específica.

— O que a senhora tá procurando? – Minha menina era mais observadora do que eu imaginava. Olhei para ela e ela estava me fitando com a cabeça tombada, e um olho de cada cor. Quando viu que eu a olhava, me abriu um sorriso.

Eu ia sentir falta desse sorriso e das nossas conversas.

— Você viu aquele moletom azul?

— O que tem USMC escrito nele? – Ela me devolveu com outra pergunta.

— Olha quem já está reconhecendo as letras! – Fiz cosquinha na barriga dela. – E é esse mesmo. Onde está?

Sophie tentava sair do meu aperto, e cada vez que ela tentava eu fazia ainda mais cosquinhas nela.

— Eu me rendo! – Ela gritou e bateu com a mão três vezes na cama, como uma boxeadora que foi à nocaute.

— Então a senhorita sabe onde está? – Perguntei de novo.

Ela, ainda sem fôlego, só balançou a cabeça.

— Onde Sophie? – Parei e cruzei os braços, esperando que ela me respondesse.

— Tá comigo.

— E quem deixou você ficar com aquele moletom?

— Ele é quentinho. E fofo!! E eu gosto dele! – A ruivinha, mão leve, me disse.

— Pega ele lá, que eu vou levar comigo. – Ordenei.

— Mas é quase primavera. Ou já é, ela só esqueceu de começar aqui em Londres. – Sophie deu de ombros e eu percebi que ela estava adquirindo um leve sotaque britânico.

Menos de dois minutos depois, ela voltou abraçada com o moletom.

— A senhora me promete que me devolve quando voltar? – Soph perguntou com seus olhos arregalados.

— Esse moletom é meu, não tenho que te devolver.

— Mas a Kelly falou que o papai tem um desses, ou melhor tinha, esse é dele?

Por que Kelly tinha que falar tanto?

— Era, ele esqueceu comigo antes de voltar para os EUA.

— E a senhora vai devolver quando nós o encontrarmos, não vai?

— Mas é claro. Eu vou devolver sim. – Respondi e eu me senti mal por mentir assim para minha filha. A possibilidade de nos encontrarmos com Jethro é quase nula, e é menor ainda que eu tenha a chance de poder devolver esse moletom para ele.

Eu queria que Sophie fosse comigo até o aeroporto, queria poder ficar mais algumas horas perto dela, mas era inviável deixar para Noemi todo o trabalho de trazê-la de volta do aeroporto e ainda consolá-la pela minha partida. Diante disso, me despedi dela em casa e fui eu quem entrou em um táxi chorando. Chorei tanto que até o motorista me perguntou se tudo estava bem.

Eu tinha uma viagem de mais de seis horas até o Cairo, poderia chorar mais um pouco e depois me esconder atrás da máscara de agente federal fria que eu tão bem sei fazer.

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Já se passaram dezenove dias e eu não pude nem ligar para minha filha e saber se tudo estava bem, se ela estava indo bem na escola. A cada dia que passava eu ficava ainda mais nervosa de que isso talvez não fosse acabar.

— Pensando na sua filha ou no pai dela? – Ziva me perguntou do seu lugar perto da janela. Eu estava transcrevendo e traduzindo algumas conversas que tínhamos interceptado.

— Minha filha. – Respondi na pausa do áudio que ouvia.

— E o pai dela? Ele não pode cuidar dela? – Ziva estava genuinamente curiosa.

Eu sabia que um dia ela me perguntaria sobre ele. Ziva vinha dançando em círculos sobre esse tema desde nossa última missão juntas.

— Como vai Michael? – Desconversei.

— Você é boa para sair de uma enroscada. – Ela me apontou um dedo.

— É enrascada, Ziva. – A corrigi.

— Tudo bem, você me entendeu. E eu não tenho uma filha com Michael. – Ela me respondeu.

— Essa doeu. – Falei.

— Se arrepende de ter tido a sua filha?

— Me arrependo de ter deixado o pai dela. De tê-la jamais.

— Onde está o pai dela agora?

— Nos EUA.

— Ele.... – Ela começou e eu a cortei.

— E eu não vou responder mais nada sobre ele, Ziva, por favor. De Sophie eu falo, dele não.

— Entendo. Você ainda o ama, não é?

— Sim. – Respondi encerrando a conversa.

— Eu também amo o Michael, só não sei se ele gosta de mim do mesmo jeito.

— Pergunte para ele. É o conselho que te dou. – Falei.

— Acho que posso fazer isso, um dia... – Ziva deixou a frase no ar.

— Só não demore muito. – Disse. – Falando em demorar, mais quanto tempo temos que ficar aqui?

— Mais dois dias. Você pode ir embora primeiro. Nossas ordens é de irmos separadas para o aeroporto. Michael deve ser mais paciente do que Sophie. – Ela riu.

— Aposto que é.

E depois de vinte e um dias, eu finalmente voltava para casa.

Era uma tarde de quinta-feira feira quando aterrissei no Heathrow e fui para casa, pela hora, eu sabia que chegaria antes de Sophie. Estava morrendo de saudades da minha pequena e de medo por ter perdido alguma coisa de seu rápido crescimento.

Entrei no apartamento vazio, Noemi tinha ido buscá-la, levei minha mala para meu quarto e comecei a desfazê-la. O presente que tinha trazido para Sophie tinha, milagrosamente, chegado inteiro, depois de voo turbulento. Estava acabando de guardar algumas coisas quando ouvi a voz de minha filha no corredor.

— Então, Noemi, foi isso o que aconteceu na escola. Ninguém teve culpa do meu tombo, eu tropecei no meu próprio pé...

Me assustei, será que ela tinha se machucado?

— Assim que eu chegar, eu vou fazer o meu dever de casa e depois escrever para a mamãe contando do meu dia, não vou deixar passar nada! Você acha que ela vai ficar feliz de saber que eu vou ser a fadinha na peça da escola? – A voz dela agora mais alta, já que Noemi havia aberto a porta e ela já estava entrando na sala. Não resisti e tive que respondê-la.

— Mas é claro que a sua mãe vai ficar muito feliz e orgulhosa de saber que você vai ser a fadinha!!

Ela deu um pulo e, veio correndo na minha direção, jogando a mochila e a merendeira no chão. Uma cena muito parecida com a que Kelly havia feito no aeroporto ao ver o pai.

— MAMÃE!! MAMÃE! MAMÃE!! A SENHORA VOLTOU!!! – Ela pulou para me abraçar, se agarrando ao meu pescoço e eu a peguei no colo, abraçando-a muito apertado. – Eu estava com tanta saudade!! Mas muita saudade mesmo!! A senhora demorou!! – Ela falava de uma vez, sua voz abafada porque seu rosto estava espremido na base do meu pescoço.

— Eu aposto que eu senti mais saudades de você do que você de mim! – Dei um beijo na bochecha rosada dela.

Ela se afastou um pouco e me olhou nos olhos. Seus olhos hoje estavam azuis como os de Jethro.

— Acho que temos um empate, então. – Ela disse balançando a cabeça, e as maria-chiquinhas que Noemi tinha feito em seu cabelo, acompanharam o movimento.

— Tudo bem, temos um empate! – A trouxe de volta para um abraço apertado. – Olá, Noemi! – Cumprimentei a minha governanta e babá. – Muito obrigada por olhar a Sophie.

— ¡Bienvenida, señora!

— ¡Gracias! — Sorri de volta.

— Mamãe, a senhora sabe que eu estou aprendendo a falar espanhol com a Noemi? E Francês na escola? E que eu estou dançando balé também?

— Nossa, é muita novidade! Será que temos tempo para você me contar tudo?

— Sim!

— Mas eu ouvi alguém dizendo que tem para casa...

— Depois do para casa! – Ela falou, pulando do meu colo e indo direto pegar a mochila e correu para o quarto.

— Não quer minha ajuda? – Fingi estar ofendida.

Sophie voltou correndo e pegou a minha mão.

— Sempre, mamãe.

— E antes que a senhorita saia me puxando, pode me explicar esse joelho todo esfolado aí?

Ela parou de uma única vez e eu quase bati nela.

— Isso aqui? – Ela olhou para a perna. – Eu caí. Tropecei no meu próprio pé enquanto corria na hora do intervalo, quando vi, tava com o joelho e as mãos machucados. – Sophie me mostrou as palmas das duas mãos, completamente arranhadas.

— Já disse para não correr... – Eu a alertei.

— Eu sei, mas estávamos apostando uma corrida para ver quem chegava primeiro no alto do brinquedo.

— Que maravilha, hein?

Ela deu de ombros, tornou a pegar a minha mão e me levou para o quarto, onde passei o restante do meu dia ajudando Sophie com as tarefas e, depois do banho e da janta, me sentei com ela em meu colo na minha cama para que ela me contasse tudo o que eu havia perdido. E ela me surpreendeu, Sophie tinha feito um diário com tudo o que ela tinha feito, lógico, algumas das poucas palavras estavam escritas erradas, mas ela tentou não deixar nada para trás. Suas últimas três semanas resumidas ali.

Quando eu não entendia algo, ou ela achava que não tinha ficado bom, ela vinha e me explicada com mais detalhes, como o tombo de hoje, ou como ela conseguiu o papel de fadinha na peça da escola – Ela foi a única bailarina que parou de pé depois de um salto.

E para cada novidade, para cada coisa extraordinária que ela havia feito, eu a abraçava ainda mais forte, e tive que conter as lágrimas quando ela falou:

— Agora eu vou guardar esse diário para contar para o papai quando eu o encontrar. Acha que ele vai ficar tão feliz quanto a senhora quando eu falar para ele que eu sei dançar balé ou que eu fui a Fadinha?

— Tenho certeza de que vai. E Kelly e Ducky também.

— O Tio Ducky ligou ontem, ele já sabe. E pediu para dar as conglatu... congatu...

— Congratulações. – Tentei ajudá-la.

— Isso! Ele pediu para te dar isso, mas eu nem sei o que é isso! -  Sophie disse balançando a cabeça.

— Ótimo, onde está o seu dicionário?

— Lá no quarto. – Ela apontou para a porta.

—Vá lá e pegue. Vamos procurar o significado de congratulações. – Falei para ela e a ajudei a descer da cama.

Sophie voltou com o volume da letra C do OED.

— Agora procure a palavra. – Falei passando a mão nos cabelos ruivos dela.

— Como é que se escreve essa palavra? – Ela perguntou em dúvida.

Peguei o caderno com as palavras que Sophie tinha mais dificuldade em escrever e escrevi a palavra. Ela soletrou e passou a procurar no dicionário. Levou um tempinho, mas ela encontrou.

— Achei!! Tá aqui. – Ela me entregou o dicionário para que eu lesse o significado. Sophie já sabia ler muitas coisas, mas ainda tinha uma dificuldade em juntar as sílabas de palavras muito grandes.

— Está pronta?

—Sim!

— Então, congratulações é: substantivo feminino plural. Dirigir cumprimentos, através de palavras, a alguém pela conquista de alguma coisa: congratulações por mais esta conquista. Dirigir felicitações, parabéns, saudações e cumprimentos. Etimologia (origem da palavra congratulações). Plural de congratulação.— Acabei de ler a definição.

Sophie tinha a testa vincada.

— O Ducky estava dando os parabéns por que eu consegui o papel de fadinha? – Ela perguntou desconfiada.

— Isso mesmo!!

— Por que ele tem que falar tão difícil?

— Porque ele é o Ducky, e isso faz parte dele, sua bobinha! – Apertei a ponta do nariz dela.

— Se ele falasse mais fácil, eu não iria precisar ficar pegando o dicionário!

— Pare de ser emburrada igual ao seu pai e continue a me contar o que eu perdi.

Sophie recomeçou o seu relato, depois de um tempo, veio e se escorou do meu lado, apoiando a sua cabeça no meu peito, bem em cima do meu coração, menos de dez minutos depois, adormeceu. E eu fui incapaz de conseguir tirá-la de lá. Dormi abraçada com minha filha e matando a enorme saudade que estava dela.

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Um caso um tanto incomum apareceu na minha mão. Um Oficial foi morto dentro do Força Aérea 1. A cena do crime seria de quem chegasse primeiro até o local.

— Por que o FBI tem um jatinho e nós não temos? – Tony chiava a cada passo que dávamos até o portão de embarque.

— Porque estamos no fundo da cadeia alimentar.

— Estou esperando o dia em que alguém vai chegar e sacudir a árvore do dinheiro e vamos ter o mesmo orçamento que as demais agências. – Tony continuou a murmurar, agora ainda mais mal-humorado já que começaram a querer nos barrar.

— Qual é, somo do NCIS! – Ele falou para o guarda da ATF.

— Vocês são tipo o CSI?

— Só se você for disléxico. – DiNozzo tinha acabado de perder o humor.

E ficamos em um impasse, já que não estavam liberando nossos equipamentos para que pudéssemos embarcar.

Até que Ducky chegou e disse que nós estávamos com ele.

— Como ele fez isso? – DiNozzo saiu murmurando.

A cena de crime em si teve que processada em tempo recorde e para que fosse efetivamente nossa, tivemos que dar um jeitinho. Jeitinho esse que a Agente Especial Caitlin Todd do Serviço Secreto não gostou nenhum pouco. Verdade seja dita, ela não gostou de nada que fizemos desde o início. Azar o dela. Porém, quando a nossa investigação nos deu a pista de que alguém queria envenenar o Presidente, ela nos deu atenção, mas já era tarde para que ela salvasse o emprego.

Durante toda a investigação, Todd se mostrou curiosa com o que fazemos e tendo em vista o fato de que ela já era treinada e estava sem emprego, foi fácil de trazê-la para o NCIS.

DiNozzo ficou feliz, agora ele deixava de ser o novato da equipe.

Abby recebeu Kate muito bem e até mesmo Kelly, que apareceu um dia de surpresa, depois de meses sem vir para casa, gostou dela. e, em menos de vinte e quatro horas as três estavam planejando um dia só das garotas.

— Eu estou com medo disso! – Tony falou quando as três saíam para o elevador.

— E é muito bom ficar, DiNozzo. Nós vamos planejar o seu assassinato!! – Kate respondeu alto.

Tony deu uma outra olhada, buscando ajuda em Abby que só meneou a cabeça. Em Kelly ele nem tentava, já sabia a resposta só pelo tamanho do sorriso diabólico que ela estampava, restou ao agente italiano engolir e seco e tentar barganhar.

— Tem algo que eu possa fazer para tentar evitar que vocês três se juntem e tentem me matar?

As três, à um passo do elevador, se olharam e responderam juntas:

— Não!

— Chefe! Tem como fazer alguma coisa? Eu acho que elas querem me matar.

— Agradeça por nenhuma delas ser a sua ex-esposa, DiNozzo. – Passei perto dele e dei um tapa na cabeça dele.

— Por que esse? O que eu fiz dessa vez?

— Irritou as três.

— Mas eu não disse nada! – Ele se defendeu.

— E precisa? Pegue suas coisas e vá para casa.

— Posso esperar mais alguns minutos, elas ainda estão no estacionamento, vai que o carro de uma delas perde o freio perto de mim? – Ele se encolheu atrás da janela e ficou ali até que se sentiu seguro o suficiente para ir.

Eu teria que conversar com Kelly sobre a aversão dela ao Tony. Ele não tinha feito nada e ela não gostava dele.

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Estava na casa de papai pelo final de semana, definitivamente desligada de tudo e de todos, resolvi que era melhor assim, estava cansada de telefone, e-mails, mensagens, livros e gente falando ao mesmo tempo na minha cabeça. Assim, estava bem à vontade, de pernas por ar no sofá, na TV passando CSI, até que peguei o papai me encarando.

Isso nunca é coisa boa!

— Encarar é falta de educação. Pelo menos isso eu lembro de mamãe me ensinando! – Falei sem olhar para ele. No fundo eu estava mentalmente fazendo um exame de consciência para ver se eu tinha feito algo de errado nos últimos meses. Não achei nada, mas papai tem aquelas memórias de um terabyte que guarda tudo o que eu fiz de errado desde o dia em que nasci.

— Você pode me explicar o motivo de implicar tanto com o DiNozzo? – Ele soltou depois de quase três minutos sem falar nada.

Eu me engasguei. De tantos assuntos que ele poderia começar, justo DiNozzo!!

— Ele é chato. Fala pra caramba, além de ser irritante o quanto ele gosta de ficar encarando cada mulher que passa na frente dele.

— Essa desculpa é a que todo mundo usa, e no final apenas aceitam que ele não cresceu, Kelly. Tem mais coisa por aí.

É, realmente tinha. Mas eu não iria falar, nem por decreto, que já tinha percebido que papai tratava o Agente Sênior dele – pobre Kate aguentá-lo falando isso toda hora! – como se fosse um filho mais velho. E se eu abrisse a minha boca, o que iria sair da boca de meu pai era o fatídico: “você está com ciúmes, larga de ser criança”. Pelo menos foi isso que Henry disse antes de cair da gargalhada.

— Kelly? – Papai continuou.

— Não tem mais nada. A criança eterna ou melhor seria dizer a Síndrome de Peter Pan dele me irrita, fora isso tá tudo bem.

Papai não aceitou muito a minha desculpa, porque logo em seguida ele me olhou nos olhos, e eu tive que me controlar para não arredar para trás. Até que ele começou a rir.

— O que foi? – Juro que tinha me perdido.

— Você tem ciúmes do DiNozzo. – Ele disse direto.

— Não tenho não.

Dupla negação e ele sacou a mentira na hora e continuou a rir e eu fiz o que eu sempre faço quando sei que não tenho saída, eu ignoro a pessoa e começo a olhar na outra direção.

— Não sei qual dos dois é mais criança! – Ouvi papai dizer depois de um tempo.

E eu não gostei de ser comparada com o Tony.

— Nem comece a me comparar com ele. Eu cresci! – Afirmei e só percebi que eu soava como uma menina de cinco anos quando fechei a boca. Nem minha irmã de três anos falaria algo assim.  

— Tem certeza Kelly? – Papai falou e depois saiu da sala para fazer qualquer coisa na cozinha. Quando vi ele estava de costas para mim e concentrado em alguma coisa, mostrei na língua na direção dele.

— Um gesto muito adulto da sua parte.

E eu me enterrei ainda mais no sofá tampando a cara e grunhindo contra quem foi que cismou de colocar o DiNozzo no meu caminho.

Papai não demorou para voltar, eu ainda estava xingando nos outros idiomas que eu conhecia – mais três... – quando ele se sentou do meu lado ou pelo menos onde estava a minha cabeça tampada pela almofada e trocou de canal, assistindo qualquer esporte que estava passando.

— Tem mais algum motivo para você aparecer do nada aqui em casa, quase perto das férias? Além de ter se aliado à Kate na guerra contra o Dinozzo?

Ter até tinha. E eu estava tentando pensar na desculpa perfeita.

— Kelly... saia debaixo dessa almofada e responda a minha pergunta!

— Sim. Eu não vou passar o verão aqui. – Falei de uma fez. Dizem que dói menos assim.

Se antes eu tinha a atenção de meu pai, agora eu tinha o interesse dele.

— Você vai viajar com o engomadinho para onde?

Cinco anos de namoro e papai não se acostumou com Henry.

— Não é com Henry. As primárias para o Senado estão começando e como o pai dele vai concorrer, Henry vai passar o verão viajando e aprendendo a arte da política.

— A arte de enganar, você quer dizer... – Papai não se conteve.

— PAI! Por favor, já são cinco longos anos. Já pode parar com isso.

Ele não falou nada, apenas me encarou, queria a resposta para a primeira pergunta.

— Se o seu namorado não vai viajar com você, para onde você vai?

Olhei para ele, brinquei com a ponta do meu cabelo.

— Londres. – Falei de uma vez.

Era melhor não ter falado nada, ou ter falado depois que já estava lá. Eu sei, já era legalmente capaz e poderia fazer o que quisesse da minha vida, porém eu sempre gostei de me explicar, de avisar onde estava e com quem estava, chame isso de infantilidade, mas era só para tranquilizar o meu pai.

— E vai ficar onde eu acho que você vai ficar? – A voz dele estava perigosamente controlada.

— Sim. Só tenho lá para ficar. A menos que eu queira gastar uma grana preta e ficar em um hotel, mas se Jenny souber disso ela não vai gostar nadinha.

— Ela te convidou?

— Sempre falou que sou bem-vinda. E como serão as últimas férias que eu efetivamente vou ter por um logo tempo, eu quero ir passar um tempo em Londres, quem sabe não dá para dar uma esticadinha na França, ou até mesmo na Alemanha...

— Por que você insiste tanto em conversar com ela? – Papai perguntou.

— Talvez pelo mesmo motivo que o senhor não conversa com ela, pai. Já parou para pensar nisso? – Consegui controlar o meu tom de voz para não começar uma briga e ao mesmo tempo joguei a dica sobre o motivo, se ele fosse tão bom investigador assim, ele saberia.

Porém papai não estava no humor para briga, e resolveu ir para outro caminho.

— Quando você parte?

— Dentro de duas semanas. Passo o mês de julho e uma semana de agosto lá, depois volto e passo o resto aqui. - Achei uma divisão justa, já que tinha quase dois anos que eu não via a Sophie pessoalmente.

— Se quiser carona para o aeroporto, me avise. – Ele falou já a meio caminho do porão.

— Ok. – Minha resposta ficou vagando no ar, e nem sei se ele a escutou

Horas depois, resolvi descer até a caverna para ver se ele precisava de alguma coisa ou se queria ajuda com o barco. Quando cheguei no alto da escada, papai estava cortando alguma coisa e de tempos em tempos parava e ficava olhando para uma caixa que estava acomodada na parede oposta. Resolvi interromper sua contemplação, não queria ir viajar brigada com ele.

— Precisa de ajuda com isso aí? Seja lá o que isso for...

Ele saiu do transe em que se encontrava e olhou para mim.

— Sempre!

Eu desci mais animada, mas mesmo durante a nossa conversa – sobre nada em particular. – eu notei que ele ainda lançava olhares para a caixa.

O que tinha lá dentro?


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Notas finais do capítulo

Bem é isso! Espero que possa ter dado uma distraída em vocês!
Muito obrigada a quem está acompanhando, lendo e comentando!
Até o próximo capítulo!
xoxo



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