Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 45
Desencontros


Notas iniciais do capítulo

Voltei mais cedo com este capítulo porque sei que na terça-feira é feriado e ninguém vai querer ler isso aqui!
O título já diz muita coisa... Ah o maldito destino!
Boa leitura!



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Logo depois da ligação de Jen e da notícia maravilhosa que ela havia me falado, eu comecei a tentar introduzir o assunto com meu pai. Não vinha dando certo. Ele sempre, mas sempre, desconversava. Era até inacreditável.

Por mais nervosa que eu estava, eu precisava dizer, ele ainda estava com a ideia fixa de casamento.

E ter aquela chata de galocha da Stephanie como minha madrasta era tudo o que eu não queria!

Assim, estava tentando bolar um plano infalível para que a conversa acontecesse, quando a campainha tocou.

Corri para a porta, certa de que iria colocar para correr até as pequenas escoteiras por me atrapalharem a pensar.

Porém não precisei, era Henry.

— Você?! Eu deveria te passar a chave da casa, assim você não me interromperia no meio de um plano excelente!

— Olá para você também! – Ele me cumprimentou com um beijo. – O correio chegou! – Ele me estendeu as cartas. Eram várias! A grande maioria era para mim.

Cartas das universidades para as quais me inscrevi e uma de um endereço em Londres, o nome claramente reconhecível.

— Essa! – Eu exclamei feliz, dando outro beijo em Henry. – Essa aqui é a carta que pode mudar tudo.

Henry levantou as sobrancelhas para o envelope simples que eu segurava.

— Não me parece ser nenhuma carta de universidade.

— E não é! É de Jen! – Eu dei pulinhos.

— Você está conversando com a ex namorada do seu pai de novo? – Ele tinha um sorriso de triunfo no rosto.

— Sim, estou, já tem um mês. E pode parar com esse sorrisinho. Você estava certo e eu não vou falar isso de novo! – Falei para ele. E Henry, sendo Henry e estando bem longe do meu pai me abraçou e me levou para o sofá com ele, me sentando em seu colo.

— Então, o que há de tão importante na carta de Jenny Shepard? – Ele parecia genuinamente curioso quando apoiou o queixo no meu ombro.

Abri a carta com um floreio e tirei lá de dentro duas fotos.

— Isso! – Olhei feliz para os retratos.

— Quem é a pequena bebê ruiva e porque vocês duas compartilham a cor de um olho só?

— Essa, Henry. É a minha irmã mais nova, filha de papai e Jen e ela tem realmente um olho de cada cor!!!! – Sorri para a foto da pequena. Dava para ver que ela ainda estava na incubadora, mas parecia um bebê de tamanho normal para mim.

— Você tem uma irmã? – Ele me virou na direção dele.

— Sim. Ela nasceu tem um mês. Sabe aquela carta que você me mandou não queimar e eu queimei? Pois bem, era a carta de Jen me contando sobre a gravidez dela.

— Seu pai já sabe que tem outra filha?

— Isso eu não sei. Estou tentando bolar um plano para contar ou, pelo menos, preparar o terreno. Mas você conhece o seu sogro...

— Kelly, você faz ideia da bagunça que a sua família vai virar quando uma bebê, essa bebê, aparecer por aqui?

— O nome dela é Sophie e... eu ainda estou pensando nisso. Primeiro eu preciso que você me ajude a bolar um plano para que meu pai descubra sobre ela – apontei para a foto – e, então, nós partimos para a fase 2 que é nos livrarmos da Stephanie e trazer a Jen de volta.

— Nós?!

— Mas é claro. Você está a par de tudo. Não posso sair espalhando essa loucura por aí.

— Seu pai já não vai com a minha cara, se eu começar a me intrometer desse jeito na vida dele, ele vai me matar.

— Henry, ele vai te matar de qualquer jeito, basta ele sonhar até onde nós já fomos. Agora, coloca essa cabeça linda para pensar – beijei a cabeça dele – que temos que trazer essa linda bebê para D.C.! A bebê e a mãe!!

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Cheguei em casa e acabei por notar a presença de Henry lá dentro. Não gostei. Ele estava andando muito por aqui.

Kelly, por sua vez, estava fazendo o jantar, e a julgar pela disposição da mesa, ele ficaria para o jantar.

— Oi pai!! – Kelly cantou da cozinha. – Tenho boas notícias! – Ela apontou para a mesa de centro na sala.

Olhei para onde ela havia apontado. Tinha alguns envelopes em cima.

— Te garanto que é coisa boa! – Ela tinha um sorriso aberto e os olhos brilhando.

Dei os poucos passos até a mesinha, fazendo questão de pisar no pé de Henry e olhei para as cartas.

Eram quatro no total. Todas de Universidades.

Kelly dava pulinhos sem sair do lugar.

— Tem certeza de que quer que eu veja?

— Ah eu tenho! – Seus pulos ficaram ainda mais altos.

A primeira era John Hopkins. Abri o pesado envelope e li o conteúdo. Ela fora aceita para a faculdade de medicina, com bolsa parcial.

— Não se anime com essa, tem mais três. – Ela falou séria.

A segunda, de Georgetown. Outra aceitação com bolsa de setenta e cinco por cento.

Não precisei olhar para ela, para saber que ela queria que eu abrisse as outras duas sem nenhum comentário.

A terceira, Yale. Outra bolsa de setenta e cinco por cento.

A última e a que havia deixado minha filha mais feliz, se o fato dela começar a vir para o meu lado significava alguma coisa, era de Harvard. O sonho dela desde criança.

— Preciso abrir para saber que é a aceitação que você estava esperando?

— Abre!

— Abri, junto com a carta tinha outro envelope. Ignorei o envelope menor e li a carta de aceitação. No final me surpreendi, o convite estava escrito à mão e era oferecido à Kelly uma bolsa integral, desde que ela comparecesse a uma entrevista marcada para dentro de quinze dias.

— Kelly!

— Eu sei! E eu estou tão feliz!! – Ela correu para me abraçar!  - Acima das nuvens. Eu nunca esperei que poderia ganhar uma bolsa integral. Ainda mais em Harvard!!

Eu ainda tinha o outro envelope na minha mão, achei que já eram passagens, devido ao peso do papel. Ia abrir para saber qual o conteúdo, quando o nome da cidade me chamou a atenção.

Londres.

E eu conhecia aquela caligrafia. Só que dessa vez estava endereçada à Kelly.

Como Jen soubera de antemão sobre as aceitações de Kelly. Ainda mais ainda estando de licença?

Peguei o envelope e devolvi para Kelly.

— Esse é seu. Apesar de não entender o motivo de você ainda receber cartas assim.

— Acho que o senhor deveria abrir esse. De verdade.

Joguei o envelope na mesinha de centro, sem nem o olhar novamente.

— Então, Kelly. – Puxei minha filha para um abraço. -  Harvard? – Era o que ela sempre quis e eu estava feliz que ela conseguiria começar a realizar os sonhos dela.

— Eu sei!!!

— Meus parabéns, filha! Você fez por merecer.

Logo depois disso, ela serviu o jantar. Acabei por descobrir que Henry estaria em Columbia, Nova York. Teria uma boa distância entre eles. Porém, durante todo o jantar, meu olhar se dirigia para o envelope que eu joguei na mesinha.

O que Jen queria com aquilo?

E por que agora era só para Kelly?

A vontade de saber do que se tratava era maior, porém eu não faria isso. Eu sabia muito bem o que isso causaria. Eu precisava esquecê-la, contudo isso parecia além do impossível, já que a pequena garota ruiva e seus olhos verdes iguais ao da mãe, ainda me assombrava durante a noite.

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Levou dois meses, mas finalmente minha pequena estava de alta. Eu tinha que tomar vários cuidados com ela, mas de resto, a única notícia ruim que me passaram foi esta:

— Sinto muito, senhora, mas devido ao tiro e a como foi feita a cirurgia, sua filha será filha única. Você não pode mais gerar nenhum bebê.

Não é uma notícia que se absorve facilmente, mas Sophie estava no meu colo, ela era, literalmente, meu pequeno e único milagre. Olhei para seu rosto, agora mais cheinho, fofo, com duas bochechas que davam vontade de morder. E eu tive a certeza, não precisava de mais filhos, eu a tinha e, além do mais, não via como poderia gerar outra criança que não fosse dele. Mas ele não iria querer que eu fosse a mãe dos filhos dele! 

Então, depois dessa conversa, eu pude levá-la para casa. Nas últimas oito semanas eu tive bastante tempo de arrumar e desarrumar e tornar a arrumar o quarto dela. E ainda recebi uma encomenda muito especial, Kelly me mandou, ou melhor, mandou para Sophie, um presente.

Uma boneca Moranguinho. Junto com a caixa, uma nota:

”Para a minha irmãzinha linda que ainda não conheço, mas que tenho a certeza de que será tão ruiva quanto essa bonequinha.”    

Eu ri para o bilhete, e o colei em um álbum, quando Sophie fosse maior, eu leria todos estes bilhetinhos para ela.

E agora, era chegada a hora, minha filha estava em casa. Não sei porquê, mas tive a necessidade de apresentar toda a casa para ela. Eu queria que ela soubesse que o pai dela já esteve ali, que a irmã também.

— E este aqui, olha só! É o seu quarto! – Eu disse para a bebê que olhava para tudo com seus olhos curiosos. E o quarto onde instalei Sophie nada mais era do que o quarto que eu ocupei durante a estadia de Kelly conosco, naqueles quatro dias que me fizeram rever todos os meus planos.

Sophie, como era de se esperar, não teve nenhuma reação, a não ser abrir um enorme bocejo, estava quase na hora da soneca da tarde.

— Aguente só mais um pouquinho. Tenho que te mostrar só mais duas coisinhas: - fiz carinho a ponte do nariz dela e Sophie acordou. – Essa aqui é a Moranguinho, sua irmã, Kelly, quem te mandou! Ela disse que você vai ser parecida com ela! – Eu mostrei a boneca para a minha bebê – E este aqui, olha esse gatinho! Foi o tio Ducky quem te mandou! Ele falou que vem te visitar o mais rápido possível. – Quando eu acabei de falar, Sophie já estava apagada em meus braços.

Minha vontade era deixá-la dormir ali. Mas minha ideia foi logo abandonada quando Noemi entrou no quarto e me mandou colocá-la no berço.

— Não, Señora. Bebês dormem no berço. E não entendem o que você está falando. – Ela afirmou com uma risada.

Muito a contragosto eu coloquei Sophie no berço, mas fiquei parada na porta, vendo-a dormir. Tentando ver se ela já demonstrava qualquer semelhança seja comigo ou com o pai.

— Ela se parece com ele? – Noemi me perguntou baixinho.

— Em partes, ela nasceu com os olhos dele, mas um já trocou de cor... mas aquilo... – Eu apontei para como Sophie levou a mão até o rosto. – Aquilo é ele!

Noemi riu de novo.

— Ela ainda é muito novinha, mas eu posso apostar que os olhos dela serão a mistura dos seus com os dele, se aquela foto que vi mostra a cor real dos dele...

— Eu queria que ficassem azuis...

— Mas ela é teimosa igual a mãe e vai fazer o que quiser. – Noemi me deixou no quarto para fazer qualquer coisa.

— Teimosa igual a mim? Noemi você não conheceu o pai... Ele sim é teimoso!

Sai do quarto, deixando a porta encostada, eu tinha que declinar a última missão. Não poderia ir para a Rússia e deixar Sophie tão pequena aqui na Inglaterra.

Além de preparar o meu terreno para conversar com Jethro. Dentro de algumas poucas semanas ela seria liberada para voar.

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Minha vida tinha virado de ponta cabeça! Depois de receber as cartas e de passar na entrevista em Harvard, que diga-se de passagem, foi a coisa que me deixou mais nervosa até hoje, mais até do que apresentar Henry a papai, eu comecei a planejar como eu faria para papai ficar sabendo de Sophie.

Eu deixei as cartas na mesinha de centro da sala de TV, eu deixei algumas das fotos de Sophie mais à vista. E nada. Ele não fazia a menor questão de me escutar quando eu iniciava o assunto.

E, para cada vez que eu tentei, era um dia a mais que Stephanie passava aqui em casa.

Até que, por mais que eu tenha prometido a Jen que eu tentaria fazê-lo adiar o casamento, para que eles pudessem conversar, eu desisti. Eu desisti quando a Stephanie chegou com uma mala aqui em casa.

Ela entrou pela porta da frente e uma hora depois eu saía. Liguei para Henry, ele veio me pegar, quando estava para sair, acabei por brigar com meu pai, de novo.

— O senhor deveria me ouvir, de verdade. Se ainda tem a carta de Jen, leia-a. Ligue para ela. É o mínimo depois de tudo. Ela vem tentando conversar com você, pai. Ela engoliu o orgulho dela, quando você vai engolir o seu? – Perguntei.

A resposta de meu pai? Fechou a porta na minha cara.

— Ótimo! Depois não diga que não foi avisado! É o senhor quem tem mais a perder. Vai perder o crescimento da sua filha!! – Eu gritei, porém ele não estava mais ali, deveria ter descido para o porão.

— Vai para onde? – Henry me perguntou quando eu consegui parar de chorar.

— Tem combustível para me levar para Stillwater?

— Tem sim. Tem certeza de que não quer ir para o Texas comigo?

— Tenho. Você passa mais de um mês lá. Jen deve chegar em poucas semanas. Eu preciso estar aqui. Quero conhecer pessoalmente a minha irmã.

— Acha que seu pai ouviu a última parte?

— Torço para que sim. Sophie merece ter um pai, não que ele esteja agindo como um pai de verdade, mas mesmo assim...

E como ele tinha me prometido, Henry me levou até a casa do meu avô.

Vovô Jack ficou feliz da vida de conhecer o “neto”, não se importou nem um pouco de eu ter aparecido sem falar nada e, ainda mais acompanhada.

Como a distância é enorme, Henry acabou ficando para dormir. E na hora do jantar, entre uma conversa e outra, o assunto papai veio à tona. E eu não sabia se era o ódio que eu estava, se era o desespero ou se era tudo junto, acabei contando para vovô tudo. Desde a missão dele na Europa, a forma como eu sei que ele ama Jen, até o último acontecimento.

— Sim, vovô, o senhor tem outra neta! – Falei com um sorriso enquanto mostrava a foto de Sophie.

Vovô pegou a foto e ficou encarando.

— Acho que ela deve se parecer mais com a mãe, que é ruiva, a julgar pelos cabelos da neném. Você já a viu, Kelly?

— Não. Jen vem dentro de poucas semanas, vai conversar com papai. Dar a chance para ele participar da vida da filha.

— Teria como eu vê-la?

— O senhor vai encarar meu pai?

— Para poder conviver com as minhas netas? Sim.

— Pelo menos o senhor me apoia! – Dei um abraço nele.

No outro dia bem cedo, Henry foi embora, e eu sabia que só o veria dentro de dois meses.

Quando eu entrei para a loja de conveniência, vovô me disse:

— Você gosta mesmo desse menino e ele de você. Espero estar vivo para o casamento. Se esse anel bonito no seu dedo significar alguma coisa. – Ele apontou para o anel que Henry me dera no nosso primeiro dia dos namorados juntos.

— Isso aqui é ao um anel, vô. E eu tenho certeza de que o senhor estará vivo quando eu me casar, quero todo mundo lá!

  E foi nesse clima de contar para meu avô tudo o que eu sabia sobre Sophie, e ajudá-lo que as duas semanas minhas em Stillwater passaram.

Estava na longa e tediosa viagem de volta para casa, e me peguei pensando em qual seria a reação de papai quando visse Sophie. Ele ama crianças. Espero que ele saiba separar o que Jen fez da vida da minha irmãzinha de olhos coloridos!

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— Jethro! Sente-se – Morrow me convidou. – Nunca é boa coisa quando o Chefe é educado.

— Me chamou, Diretor? – Fui direto.

— Na verdade, sim. Ouvi dizer que você se casou? Meus parabéns!

— Sim. É verdade. Mas creio que não me chamou aqui para me dar as suas felicitações.

— Não. Tenho uma proposta. – Ele começou olhando para o porto.

— Estou ouvindo.

— Há três meses, uma das minhas agentes ganhou uma garotinha.

— Parabéns para ela. – Meu tom era para ser sarcástico, mas não poderia fazer isso, toda criança é sempre bem-vinda.

— Sim. E devido às circunstâncias do nascimento, a garotinha é prematura, minha agente teve que declinar a posição dela em uma missão de alta importância na Rússia. Ela estava escalada para trabalhar com o Agente Callen.

— E agora você quer que eu vá. – Não era uma pergunta.

— Se você estiver disposto. Mas com seu recente casamento...

— Eu aceito. Stephanie está sem emprego, ela poderá ir comigo. Quanto tempo?

— Seis meses.

Pensei no caos que estava na minha casa. Kelly tinha brigado comigo quando disse que iria me casar. Depois de gritar que eu era um idiota por pensar nisso, e, aproveitando que suas férias começaram mais cedo, tinha juntado suas coisas e ido para Stillwater. E eu precisava a todo custo abandonar aquele porão. Tinha tido outro sonho com a garotinha ruiva de olhos verdes.

— E sua filha? Kelly...

— Kelly vai para a faculdade no próximo outono.

— Entendo, e ela vai para onde? Se me permite saber.

— Harvard.

— Longe.

— A casa vai ficar vazia.

— E não é sempre assim? – Morrow me perguntou. – Foi o mesmo com meu mais velho há dois anos.

Dois anos... eu não estava aqui... junho de 98, Marselha, onde tudo começou de verdade. Obriguei a minha cabeça a me trazer ao presente.

— Quando é o embarque? – Me forcei a pensar para onde estava indo, e com quem.

— O Agente Callen já está em Londres recebendo o treinamento e a inteligência devidos. Você pode embarcar em uma semana, assim pode se despedir de Kelly.

— Certo.

— Você se encontrará com Callen em Londres, e de lá partirão para Moscou.

Eu iria voltar a Londres. Não era lá onde ela estava? Ainda de licença médica?

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Eu tinha tudo arrumado. Depois de três meses do seu nascimento, Sophie estava liberada para voar. Era hora dela conhecer a irmã mais velha e, se tudo corresse bem, o pai.

Kelly tinha tentado trazer o assunto à tona nas últimas semanas. Ela me garantiu que tentaria de todas as formas preparar o terreno. Isso ela tinha me dito há duas semanas.

E, desde então, silêncio. O que era bem incomum dela, ainda mais que agora podemos ligar uma para outra a qualquer momento,

Nossas ligações têm sido menos dramáticas e mais alegres. Kelly, lógico, teve que me contar sobre a primeira vez que Jethro conheceu Henry. Apesar de que ele não estava no melhor dos humores, ele conseguiu assustar o pobre rapaz ao ponto de o garoto ficar quase dois meses, sem sequer, passar na rua onde eles moram. Mas, com a confusão entre Kelly e Jethro, e o fato dele estar querendo se casar pela terceira vez, o garoto passou a ser figura presente na vida de Kelly – e na minha, uma vez que Kelly o colocou no telefone para conversar comigo e com Sophie!. 

E, pensando nisso, tinha arrumado minhas coisas e iria para os EUA, uma semana para tentar arrumar tudo, ou, pelo menos, dar a Jethro o benefício da escolha com relação à Sophie. Se ele acreditasse em mim, se ele me ouvisse e quisesse, eu não colocaria nenhum empecilho para que ele convivesse com a filha. Mas se ele escolhesse cortar todo e qualquer tipo de relação comigo e com Sophie, eu também estava preparada. Não me importaria em ser uma mãe solteira e agente federal ao mesmo tempo.

Estava esperando pelo meu voo no saguão do aeroporto. Sophie em meu colo, seus olhinhos curiosos varrendo todo o andar e parando ocasionalmente em algo – muitas vezes colorido ou muito brilhante – e ela começava a balbuciar e dar pequenos gritinhos de felicidade. Foi em um destes momentos, quando esperava meu café ficar pronto, que minha pequena ruiva de olhos coloridos – seus olhos tinham trocado de cor, ou pelo menos um tinha, ela agora tinha o olho direito azul, como os olhos do pai, e o esquerdo verde, como o meu. – que uma mulher se aproximou.

— Nossa, que bebê mais linda!! – Disse a ruiva com sotaque americano.

— Muito obrigada. – Peguei Sophie com mais jeito e olhei para minha bebê.

— Meu Deus! Ela deve ser a mistura perfeita dos pais! E estes olhos? Um verde e um azul! – Ela passou a mão pela cabeça da minha filha. Confesso que não gostei dessa proximidade, ainda mais sendo a mulher uma estranha completa.

— Sim... ela também lembra o pai, não é, pequena? – Arrulhei para minha filha.

— Espero, sinceramente, ter uma bebê linda como esta, com o meu marido. – Os olhos da americana brilharam de entusiasmo. – Sabe, estamos de mudança para a Rússia... espero ter o que fazer por lá. – Ela confidenciou.

— Bem... boa sorte para vocês dois. – Eu disse, mas prestei atenção na mulher, ela parecia meio deslocada e, principalmente muito avoada. Tive pena do homem que se casou com ela, a ruiva não era nada mais, nada menos do que uma sonhadora.

— Obrigada! E mais uma vez, parabéns pela filha linda! – Ela me saudou quando peguei o me café e me despedi com um aceno de cabeça.

Me virei e tentei me afastar o mais rapidamente da mulher. Mas não tão rápido. Quando dei por mim, ainda pude ouvi-la falando da minha filha com o seu marido.

— Mas, meu amor, você perdeu! A garotinha era tão linda! Ruivinha com um olho azul e outro verde.... sabe, o olho azul daquela bebê é exatamente igual ao seu.... – Sua voz foi ficando longe.

Eu sacudi minha cabeça em descrença, quem compara a filha de uma estranha com os olhos do próprio marido?

Antes que eu pudesse me ajeitar para esperar pelo voo, a companhia aérea chamou para embarque.

— Estamos com sorte, ruivinha. Vamos ser a primeiras a embarcar. E, lembre-se do que a mamãe falou, nada de chorar durante a viagem! Seja uma linda e comportada bebê! – Disse ao ouvido de Sophie. Se ela entendeu alguma coisa, estando com três meses de vida, eu não sei, mas como resposta, recebi um sorriso sem dente e um carinho no rosto!

Esfreguei meu nariz no dela, e Sophie soltou uma gargalhada, e parti para o portão. Tinha que carregar tanta coisa que achei que não daria conta.

— Passagens. – A atendente me pediu. Mostrei a minha passagem – Sophie não precisava, bem como meu passaporte de civil e o passaporte de Sophie. A mulher analisou a documentação.

— Autorização do pai da criança. – Ela ordenou.

Engoli em seco.

— Não consta o nome do pai na documentação dela, como você pode ver. – Eu informei.

A mulher me olhou torto, pelo amor de Deus! Início do Século XXI e uma mulher não pode ser mãe solteira?

— Me desculpe. É o hábito.

— Entendo.... – Troquei Sophie de braço, peguei os documentos de volta e me encaminhei para o avião.

— Onde já se viu, bonequinha? Será que você vai ter que andar com uma plaquinha no braço informando que o nome do seu pai não consta na sua certidão? Pessoas com mentalidade atrasada! – Eu fui conversando com a minha filha. Algo que causou estranheza para muitas pessoas, inclusive para o casal que se sentaria do outro lado do corredor.

Mas eu fiz questão de demonstrar que, apesar de ter um bebê de tão pouco tempo e estar sozinha, eu tinha o controle da situação. Eu me permito pensar assim desde o dia em que eu escolhi que teria a minha filha. Ela é minha, afinal de contas.

Preparei a nós duas para a decolagem, era a hora da verdade...

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Estava rodando pela casa, ainda em claro espanto.... ele não pode ter feito isso! Como ele teve a coragem?

Mas ele fez. Ele tinha me prometido uma conversa séria. Muito séria. E, do nada, quando eu volto de Stillwater, depois de passar duas semanas ajudando o vovô, ele não está aqui. E o pior, tem uma foto em cima da lareira.

Não uma foto dele, ou minha... ou uma das muitas fotos que Jen me mandou de Sophie.

Uma foto de meu pai de terno, e a sonsa da Stephanie vestida de noiva, na porta do cartório. Pela data escrita na parte da trás, tirada há menos de uma semana dias.

Ele tinha se casado com ela! Eu não acredito!!!

Eu pedi que ele esperasse. Esperasse até o outono, pelo menos. Não porque eu não estaria aqui, mas porque eu tinha certeza de que Jenny apareceria com Sophie até lá, minha irmãzinha ruiva de olhos estranhos estaria mais forte e já estava liberada para voar, então era questão de tempo até os dois terem A Conversa.

Contudo.... ele se casou e foi embora. Pela mensagem deixada, ele fora designado para uma missão na Rússia. E tinha levado a esposa mais recente.

Onde todos poderiam ver comprometimento de um agente federal, eu via um fugitivo.

Ele estava fugindo de memórias.

Ele estava fugindo da conversa.

Ele estava tentando viver em uma mentira, e foi para outro país junto com a substituta. Mesmo depois dele ter me garantido que não iria mais pegar nenhuma missão no exterior.

Eu estava fervendo de ódio! E parecia que o tempo estava concordando comigo, pois uma tempestade de verão estava começando, seus raios iluminando o céu e os trovões chacoalhando a casa. E no meio desse caos, eu fiz a única coisa que me deu vontade. Arremessei o porta-retratos e aquela foto ridícula do outro lado da sala, escutando, - com mais prazer do que seria necessário e permitido, - o vidro se espatifar na parede.

Fiquei parada no meio do cômodo, ainda em choque, ainda com raiva, amassando o bilhete de meu pai com a mão esquerda. As últimas palavras dele sendo gravadas em minha mente.

Dessa vez vai ser diferente Kells, você está indo para a Faculdade dentro de poucos meses, e não vai sentir a minha falta.

Como eu não vou sentir falta dele? Ele é a única família que tenho!!!!

— POR QUE PAI? POR QUÊ?? – Eu gritei para ninguém em particular.

Foi quando a porta foi aberta de supetão e uma voz que eu conhecia bem me chamou.

— Kelly? O que aconteceu? – E dois braços me envolveram em um claro abraço de mãe que eu precisava há muito tempo.

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 Por incrível que possa parecer, meus medos de que Sophie aprontasse um berreiro durante o voo de mais de meio dia, foi em vão. Assim que atingimos a altitude de cruzeiro e ela se acostumou com a pressão nos ouvidos, minha bebê se ajeitou em meu colo, colocando sua cabeça bem em cima do meu coração e dormiu. Dormiu praticamente o voo inteiro. E eu ri, o pai dela fazia a mesma coisa, era entrar dentro do avião e, depois da decolagem, Jethro apaga, só vindo acordar quando pousamos. E foi quase o que Sophie fez, ela só acordou quando estava com fome ou precisava ser trocada, ou seja, duas vezes. E logo que estava limpa e satisfeita, voltou a dormir.

Passar na alfândega do meu país foi fácil. Ninguém aqui me perguntou onde estava o pai...

E, tão rápido quanto pude, aluguei um carro, coloquei o bebê conforto de Sophie no banco traseiro e me dirigi para uma casa onde nunca tinha estado.

Não demorei para chegar até Alexandria, levei mais tempo tomando coragem para descer do carro e bater na porta. Mas eu tinha que me decidir logo, pois uma tempestade estava ameaçando cair, raios e trovões estavam começando a assustar Sophie que despertava no banco de trás.

Respirei fundo. Eu tinha chegado até aqui por ela.

— Então, Ruivinha, é hora... vamos. Tenho certeza de que a essa hora sua irmã já preparou o terreno.

Desci do carro, dei a volta, o vento começava a ficar forte. Peguei Sophie, ainda no bebê conforto e sua bolsa caso algo acontecesse. E andei o mais depressa possível até a porta.

Parei no batente, mas antes que pudesse bater a campainha, escutei a voz de Kelly gritando:

— Por que, pai? Por quê?

Logicamente imaginei o pior. Tirei a minha faca da cintura, e com um movimento que tinha aprendido com Jethro, destranquei a porta, peguei Sophie e entrei, batendo porta atrás de mim.

— Kelly?! O que aconteceu? – Perguntei assim que pude abraçá-la. A garota, que eu passei a ver como uma filha, estava aos prantos. Grossas lágrimas desciam em seu rosto e seus olhos estavam vermelhos.

Ela bem que tentou, mas não conseguiu falar nada. Deixei que ela se acalmasse, enquanto fazia pequenos círculos nas suas costas. Sentei a garota no sofá da sala e ficamos ali por um tempo.

Depois de uns quinze minutos, onde o silêncio da sala só era quebrado pelo som dos trovões, Kelly conseguiu falar.

— Ele... ele... papai foi embora. Foi para Rússia! – Ela disse triste e completou com um tom amargo – depois de se casar com a sonsa da Stephanie. – Ela fechou a mão com força, cravando as unhas nas palmas.

Eu congelei com a notícia. Jethro tinha conseguido seguir em frente tão rápido?

— Você tem certeza? – Disse baixo.

— Tenho! – Kelly se levantou correndo e, do canto da sala me trouxe um porta-retratos estilhaçado. – Olhe a prova!

Peguei a foto da mão dela deixando os cacos, longe do bebê conforto. Jethro e.... a mulher do aeroporto!

— Ele... seguiu em frente. – Eu murmurei.

— Não... ele fugiu! – Kelly disse de pé.

Dei outra olhada na foto. Meu coração se apertando. Eu estive a metros dele... se eu tivesse virado a cabeça... se eu tivesse ficado mais uns poucos segundos... eu o teria visto.

— Você o conhece tão bem quanto eu, Jen... me diga, ele está feliz nesta foto? – Kelly perguntou autoritária.

Dei uma maior atenção a ele. No terno, um que eu tinha comprado para ele em Paris, na sua postura, mais como um homem indo para a guerra do que alguém se casando. E então seu rosto, um sorriso estudado, mas nada comparado com os sorrisos que eu tinha visto. E, com certeza, seus olhos não expressavam felicidade, estavam frios e distantes.

— Não... ele não está feliz, Kelly. – Suspirei. – Mas...

— Mas o que? – Ela disse se sentando do meu lado, com a cabeça apoiada em suas mãos.

— Eu a vi. A esposa dele. No aeroporto de Londres. Ela veio brincar com Sophie...

Kelly levantou a cabeça em um átimo.

— A Stephanie chegou perto da Soph? – Ela praticamente sibilou a frase.

— Eu não fazia a menor ideia de quem ela era.... ela simplesmente começou a brincar com Sophie na fila, depois a elogiou. Quando tive a chance sai de perto.

— Você viu meu pai? – Ela perguntou esperançosa.

— Não. Ela tinha me dito que estava com o marido, mas não fiquei para vê-lo, quando me afastei, escutei ela falando com o marido sobre Sophie. Disse que o olho azul dela é da mesma cor do dele. – Eu recordei das palavras.

— Mal sabe ela que é verdade! – Kelly suspirou. – Mas você não teve nem um pouco de curiosidade para ver quem era?

— Não. Eu queria sair de perto dela, não gostei do olhar dela para a Ruivinha. – E, olhei para o bebê-conforto que estava no chão, Sophie dormia tranquilamente, alheia a todo caos que a rodeava.

— Meu Deus!! – Kelly gritou. – No meu desespero eu não a tinha visto aqui!! – E correu para direção da irmã, que, com o grito, acordou assustada e começou a chorar.

— Me desculpe, Soph... não queria acordar você! – Kelly sussurrou para a irmã. Mesmo assim, Sophie não cooperou e aumentou o berreiro.

— Deixa comigo, Kelly. Isso é fome, misturada com cansaço e um lugar estranho... – Eu disse.

— Tem algo que eu possa fazer? – Kelly perguntou ansiosa.

— Sim... a comida dela está na bolsa, pode esquentar para mim, enquanto eu a troco?

— Claro. Você pode usar o último quarto a sua esquerda, no segundo andar. – Ela me deu as coordenadas.

Subi as escadas e fui em direção à última porta. Quando abri, dei de cara com o quarto de.... Jethro.

Algumas coisas estavam fora do lugar, ele tinha saído às pressas para a Rússia. A missão que eu declinei, ele aceitou. Ele esteve perto de mim no aeroporto, e se eu não estivesse com tanta pressa para vê-lo, o teria encontrado no QG de Londres...

Eu não podia ficar aqui dentro... não mesmo, mas quando dei por mim, Kelly estava na porta do quarto.

— Foi jogo sujo te mandar para cá... – Ela admitiu olhando para os próprios pés.

— Sim... foi. – Eu respondi.

— Você o amou, Jen? – Ela soltou ao se sentar na cama.

Sophie não parava de chorar, não tinha jeito, teria que trocá-la e alimentá-la aqui mesmo.

— Não, Kelly, eu não o amei. Eu ainda amo Jethro. E muito. – Afirmei.

— Então? Por quê?

— Eu não tive escolha, quando... quando eu disse para ele que eu o amava, ele simplesmente me respondeu “Esse vai ser o dia.”, Kelly, isso me magoou tanto, eu não esperava que ele dissesse de volta, eu sei que a sua mãe ocupa grande parte do coração dele, ele a ama muito, e se sente culpado por ela ter morrido, e não superou como ela foi tirada dele e de você, mas eu não esperava que ele dissesse isso...

Kelly brincava com a mão direita da irmã quando me respondeu.

— Eu te culpei... mas no fundo, no fundo, eu sempre achei que tinha algo a ver com ele... todas elas foram embora...

Fiquei calada. Peguei uma Sophie mais calma e comecei a dar a mamadeira a ela.

— Podemos sair daqui? – pedi calmamente.

— Claro. Eu também não quero ficar por aqui. – Kelly disse e foi na frente. Dei uma última olhada pelo quarto, por mais que a esposa dele possa ter colocado alguns de seus pertences ali dentro, a grande maioria lembrava Jethro, e, posso jurar que tive um vislumbre de dois moletons dos Marines, um vermelho e um preto, que ele cansou de usar na minha presença, e que eu cansei de abraçar buscando pelo calor do corpo de dele. Ele tinha três. O terceiro, o azul, estava comigo, simplesmente pelo fato de ser azul... Fechei a porta e desci. Meu cérebro começando a trabalhar a mil por hora, o que eu tinha vindo fazer aqui?


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Notas finais do capítulo

Sim... eles quase trombaram no aeroporto! E sim, ele está em Londres e ela em Alexandria. Eu sou ruim mesmo!
Espero que tenham gostado do pequeno momento Kelly/Henry. Esses dois terão ainda bons momentos daqui para frente!
Muito obrigada por lerem!
Bom Carnaval para quem gosta!!
Até o próximo capítulo!
xoxo



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