Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 44
Meu Pequeno Milagre


Notas iniciais do capítulo

E estamos aqui para apresentar a mais nova personagem da história.Tem muita coisa acontecendo aqui, mas o mais importante é: Deem as boas-vindas à Sophie!
Ah, o capítulo está enorme, mas eu nem pensei em dividi-lo em dois, porque senão perderia a conexão.
Boa leitura!



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Já estava com oito meses de gravidez, e, por incrível que possa parecer, não me sentia desconfortável, tudo bem, eu tinha que ir toda hora ao banheiro, e meus pés não entravam mais nos meus amados saltos, mas esse era um preço pequeno a se pagar.

Oito meses carregando a minha melhor parceira de trabalho. E seis meses desde que eu mandei a carta para Jethro e Kelly contando sobre a “novidade”. E até hoje nenhum dos dois me respondeu. Me pergunto se chegaram a ler as cartas.

Bem, se eles leram ou não, eu não sei. E, às vezes eu chego a pensar que é até melhor assim. Não quero que Jethro se sinta obrigado a conviver comigo só porque fizemos essa bebê.

Eu não preciso dele mesmo. Sei que vou dar conta de criá-la sozinha. Bem, sozinha não... Noemi já está em Londres em definitivo e tem sido de grande ajuda.

Agora, com o quarto todo montado. Todas as coisinhas e roupinhas devidamente colocadas em seus lugares, eu só tenho que esperar que Sophie esteja pronta para vir para este mundo. Sei que isso pode demorar ainda quase dez semanas... mas não a culpo, aqui dentro ela está protegida e quentinha.

Principalmente quentinha, já que aqui fora está um verdadeiro gelo. Já é quase final do inverno, mas parece que ele não quer deixar Londres ter seus raros dias de sol.... nem dias de sol, nem noites sem nevoeiro...

E é em uma dessas noites de nevoeiro que eu estou. Presa dentro de um carro, sem poder ligar o aquecedor, observando um conjunto habitacional caindo aos pedaços. Tudo por uma foto, uma prova de que um traficante internacional de pessoas esteja morando aqui.

Acontece que algo parece errado. Tudo aqui parece gritar que algo vai sair do controle. Eu devo ter convivido com a paranoia de Jethro por muito tempo, pois estou nervosa. Olho para todos os lados e não vejo nada de suspeito ou anormal.

Sophie, mesmo dentro de minha barriga, também está inquieta. Está chutando e se mexendo mais do que o normal. Ou meu nervosismo a está deixando agitada ou ela herdou alguns dos poderes premonitórios do pai.

— Você também não está gostando nada disso, não é pequena? – Sussurrei em direção a minha barriga já acentuada.

Parecia besteira, mas eu conversava bastante com minha filha. Desde o dia em que decidi mantê-la aqui, não tem uma hora sequer que deixe de conversar ou cantar ou até mesmo contar uma história para ela. Como seremos só nós duas, acho importante que criemos esse vínculo desde já.

A resposta que minha bebê me deu pela pergunta que fiz, foi simplesmente um chute, daqueles bem dolorosos que acertam uma das costelas.

— Ei, esse doeu pequena!  - Eu esfreguei o local onde ela havia chutado e ainda deu para sentir o seu pezinho ali.

Mal via a hora de poder vê-la! Tê-la em meus braços, para poder contar os dedinhos das mãozinhas e dos pezinhos.

Mais uma onda de nervoso percorreu meu corpo. A mesma sensação que tive durante a operação na Sérvia. A ideia de que algo iria dar muito errado. Eu tinha a nítida impressão de que estava sendo vigiada, mas não conseguia ver nada ou ninguém. Me virei para ver se localizava o par de olhos na noite enevoada, e no mesmo instante Sophie tornou a se mexer. Com certeza essa tensão não estava fazendo bem para ela.

Foi quando eu ouvi o estampido. Não era um tiro de uma arma qualquer. Era uma arma grande, no estilo de atirador.

Não tive tempo para registrar muita coisa. Ouvi o vidro do para-brisa se estilhaçar. Senti algo passar queimando por minha pele e quando dei por mim, eu sangrava. A bala tinha atingido bem no meio de minha barriga. Bem onde estava a minha filha.

Diante da quantidade de sangue que perdia, eu só tive forças para ligar para o resgate. Na verdade, era um número exclusivo para agentes em missão de reconhecimento ou sob disfarce, ou seja, liguei para o mesmo hospital que salvara a minha vida há menos de dois anos atrás.

No terceiro toque uma voz com forte sotaque britânico atendeu.

— Número do distintivo e nome, qual é a sua emergência.

— Agente Especial do NCIS. – Ofeguei ao telefone - Fui atingida por projétil na localização desse telefone. Venham rápido. Tenho certeza de que minha bebê também foi atingida.

Não ouvi a resposta, pois desmaiei ali mesmo. Com um único pensamento correndo pelo meu cérebro. Salvem Sophie.

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 - Quem vamos salvar? Não tem como salvar as duas, senhor!

— E também não tem como operar a agente do NCIS sem que tiremos esse bebê!

Essa era a decisão mais difícil que um médico tinha que tomar. Ele não fora o responsável pelo pré-natal, não tinha nenhuma informação sobre o tempo exato de gestação, e, para falar bem a verdade, ele não gostou nem um pouco de saber que uma mulher grávida ainda estivesse em campo. Mas, como o Dr. Schimdt tentou colocar na própria cabeça, ele não mandava em nada no quesito quem iria para o campo, ou como. Ele só era responsável por tratar todo o qualquer agente ferido que chegasse a suas mãos. E aquela agente americana, ainda sem nome, era a sua próxima paciente. Ela e o bebê que ela carregava.

— Vamos fazer uma cesárea de emergência. Essa mulher já perdeu muito sangue. Tirem as medidas necessárias e tentem ao menos aproximar o tempo de gestação dela. – Foi a ordem dada pelo médico.

— Eu espero, sinceramente, que você seja forte o bastante para o que estamos prestes a fazer. – Foi o que Schimdt disse à agente.

A correria das enfermeiras era total. Algumas trabalhavam na mãe, outras mediam e tentavam aproximar quanto tempo ainda faltava para o bebê nascer.

Porém as coisas ficaram mais complicadas quando a pressão sanguínea da paciente começou a despencar.

— Essa cesárea será agora! – Foi a ordem gritada.

O procedimento começou. Ninguém em volta daquela mesa de cirurgia sabia dizer se a mãe e o bebê sairiam vivos dali. Mas, seguindo o juramento que cada um fizera, eles esperavam que sim.

Após minutos de agonia até que a anestesia fizesse efeito. Foi iniciado o parto. Não tinha como ser muito delicado naquela hora. O buraco daquela bala era enorme, e, se os exames preliminares estivessem corretos – o que normalmente estava – tanto mãe quanto o bebê foram atingidos.

Depois de longos minutos, o bebê, ou melhor, a bebê foi retirada do útero. Pelo seu tamanho, parecia que a gravidez era de oito meses. Mas não foi isso que preocupavam os médicos. Era a bala que estava alojada em seu braço direito.

Sim, como eles previam, o projétil tinha atravessado a mãe e também atingido a filha.

Uma análise meticulosa, depois que a menina foi devidamente limpa, mostrou que o ferimento não era grave e não a impossibilitaria de nada. Ela ficaria com uma grande cicatriz no braço, que poderia se passar por uma marca de nascença.

— Se está tudo bem com a bebê, dentro do possível, por favor a levem para a incubadora. Precisamos salvar a mãe, agora. – Foi a ordem dada por Schimdt, que agora, finalmente, estava trabalhando dentro da sua verdadeira área de atuação.

Não foi a mais fácil das cirurgias. O estado da paciente requeria extremos cuidados, e algo, dentro da cabeça do próprio médico, o obrigava a trabalhar com mais cuidado do que o normal. Aquela mulher era uma mãe, e, se levar em conta a falta de aliança ou qualquer outra joia que indicasse um casamento ou noivado, ele tinha quase certeza de que a menininha só tinha a mãe na vida dela.

Horas de trabalho, com um grande susto bem quando tudo parecia normalizado – o coração da agente parara por alguns segundos – a cirurgia finalmente terminara. E tanto o Doutor Schimdt quanto a sua equipe comemoraram. As duas pacientes estavam bem. Só precisavam de descanso e cuidados.

— Parabéns a todos que trabalharam comigo hoje. Foi uma situação completamente inesperada, mas que todos conseguiram contornar. – Ele agradeceu à equipe, mas antes de sair do hospital, ele resolveu passar na UTI neonatal, queria dar uma boa olhada na pequena menina que ele havia ajudado a trazer ao mundo.

E lá, bem no meio da incubadora, dormia profundamente a bebê. Ela tinha vestígios de cabelos castanho-avermelhado contudo, ele não tinha muita certeza se ficariam desta cor, tendo em vista a cor dos cabelos da mãe. Schimdt agachou para ficar à altura do equipamento e sussurrou, como se falasse com a garotinha:

— Se você não estivesse ali, tenho certeza de que sua mãe não sobreviveria. Sim, pequena, você mal chegou a este mundo, e já é uma heroína. Agora, lute. Lute por você. Depois de tudo o que aconteceu, você e sua mãe merecem ser felizes. – Dito isso, ele se levantou e foi embora. Certo de que não ouviria nenhuma notícia das duas nunca mais.

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Se Doutor Schimdt estava certo de que seu trabalho estava terminado, o mesmo não poderia se dizer das enfermeiras do hospital. Principalmente a mais velha por ali, Natalie Porter. Ela estava presente na cirurgia, foi ela quem pegou a menina no colo quando nasceu e, era ela a responsável por cuidar dela e deixá-la confortável.

— Que nome acha que darão a ela? – Charlote, outra enfermeira designada para a UTI neonatal perguntou.

— Não sei. Por enquanto ela é identificada assim. – E Natalie apresentou a etiqueta no bracinho da bebê.

— Mini Agente do NCIS? – A outra perguntou incrédula.

— O que mais posso fazer. A mãe não tem identificação. Apenas disse que era do NCIS. Então a filha é uma Mini Agente. – Foi a explicação dada pela mais velha.

— Sabe que gostei? Então, Mini Agente, vamos nos alimentar? Você tem que crescer rapidinho para poder ir atrás dos bandidos. – Charlote, abaixando a voz, disse em direção à pequena bebê.

— Não se apegue muito, Charlote. – Natalie avisou. – Às vezes, por mais fortes que pareçam, alguns não saem daqui no colo dos pais.

— Mas essa aqui vai. Eu tenho certeza. – Charlote disse para si mesma.

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 - Tá tudo bem pai? – Perguntei baixinho não querendo assustá-lo. Papai vinha andando em círculos pela casa à noite toda.

— Sim, Kelly. Agora volte para a cama. – Ele me ordenou sem nem olhar para mim.

— O senhor está rodando pela casa desde que chegou do NCIS. Aconteceu alguma coisa? – Era estranho que ele ficasse tão agitado.

— Não aconteceu nada, Kells.

— Então...

— Não tem um então. – Ele retrucou furioso.

— Sempre tem, pai. O senhor não fica assim há muito tempo! – Respondi no mesmo tom. E pressenti que terminaríamos a noite brigados.

— Não recomece com isso, Kelly Gibbs. Não toque nesse assunto! – Sua voz era fria.

Por “esse assunto” ele quis dizer Jenny Shepard. Ela era a única, junto com as memórias de minha mãe, que poderia deixá-lo assim.

— O que o senhor acha que aconteceu com ela?

Seu olhar em minha direção era assassino. Eu tocara no assunto. Depois de três meses, ou mais precisamente, desde que Jenny deixara aquela estranha mensagem na secretária eletrônica. Como sempre, ele se fechou em uma concha, e nada disse. Mas eu sabia. Algo tinha acontecido com ela. E a infalível intuição dele o dizia que era grave.

— Sabe de uma coisa? – Eu suspirei em derrota. – Se o senhor falasse sobre ela, sobre o que realmente aconteceu, seria melhor do que ficar calado, remoendo o passado e, tentando substitui-la por uma qualquer. – Eu disse áspera.

— Eu disse para você.... – Ele começou, mas eu o interrompi.

— Sabe pai. Eu também queria que ela viesse. Eu até sonhei com uma família de novo. Ainda mais depois de tudo o que ela fez por nós, depois do que ela fez no seu aniversário e na virada do ano, mas não deu. Ela, assim como todas as outras, foi embora. Contudo, eu começo a pensar que a culpa não é exclusivamente delas. Deve ter algo com o senhor também. Por que três! TRÊS?! É um tanto demais. Confesso que estava morrendo de ódio dela. Escrevi uma carta que, talvez, tenha sido exagero. Na minha ideia de família desfeita, ao ver o senhor chegar e se trancar nesse porão, eu só queria que ela fosse machucada, que sentisse um pouco do que eu estava passando. Mas eu deveria ter dado o benefício da dúvida a ela, e eu não dei. Acabei queimando a última carta e agora eu não sei o lado dela da história, os motivos dela. E, a única pessoa que pode me contar o que realmente aconteceu, não quer abrir a boca. Fica igual a um fantasma pela casa, andando durante a noite, ou então tem outras duas opções: se tranca no porão e vai construir um barco ou então traz a primeira ruiva que se parece com a ruiva que o deixou para dentro de casa e começa a falar em casamento.  – Parei para respirar. – Então, pai, ou o senhor conta, ou o assunto morre aqui. O senhor não fala ou pensa mais em Jenny e eu faço o mesmo. Nós dois ficamos assim, ou o senhor pode se ajudar conversando comigo, não precisa ficar com pudor sobre algumas coisas. Vocês dois são adultos, e eu posso imaginar o que aconteceu. Ou, fique calado, mas saiba de uma única coisa, eu vou buscar respostas, nem que para isso eu tenha que escrever para ela, sei que ela deve estar em algum lugar, e o malote do NCIS vai encontrá-la para mim. Então, qual será a sua opção, Marine?

Meu pai estava parado e estupefato no meio do porão. Eu nunca havia entrado no meio da vida particular dele, sim, ele se casou duas vezes, e eu, como filha, sabia o que acontecia, mas nunca dei a minha opinião sobre as namoradas/esposas dele. Cada um sabe a medida da sua dor. Mas nessa situação era diferente. Ele vinha agindo estranho desde que voltou. Há seis meses, ele saiu para beber e voltou com uma mulher que lembrava a Jenny. E, depois, começou a ter pesadelos. Eu o vi chorando, bêbado, sentado no canto do porão, conversando sozinho, olhando para um ponto fixo, como se tivesse alguém ali. Para depois, ele mudar radicalmente, e começar a falar em casamento. Ele iria se casar com a tal da Stephanie. Aquela coisinha chata e cheia de manias estranhas. E, a esse casamento, eu era contra.

— Não vou dizer mais nenhuma vez, Kelly. Não diga o nome dela, não fale sobre ela. E não comece com aquela conversa de que eu não devo me casar com a Stephanie.

Não disse. Vamos brigar.

— Acho engraçado. – Disse azeda.  – Eu não posso falar sobre uma pessoa de quem você não quer ouvir, mas serei obrigada a dividir esta casa com uma mulher que eu realmente odeio?

— Você é minha filha, e enquanto...

— Enquanto estiver morando aqui, terei que obedecer às suas ordens. Eu já ouvi esse blá blá blá! – Aumentei o tom de voz. – E sabe, pai, eu deveria ter ido para a faculdade nesse ano. Assim, isso aqui não estaria acontecendo. Mas falta pouco tempo. Mais seis meses e eu estou fora daqui! – Gritei e saí do porão.

— Não grite comigo assim! – Foi o eu ouvi da boca dele enquanto subia para o meu quarto. Mas, infelizmente, antes de conseguir fechar a porta, dei de cara com a minha futura madrasta. Não era a minha vontade de ser uma enteada petulante, mas eu já estava sem paciência com tudo isso.

— Olha quem chegou! – Eu disse com uma falsa alegria. – A mulher que nem se casou com meu pai ainda, e já tem que aturar ele pensando em outra.

Stephanie me olhou assustada.

— Sim, agorinha mesmo ele está lá no porão, pensando na única mulher, depois da minha mãe, que o fez feliz. Já você, - eu a olhei de cima embaixo. – Nada mais é do que uma substituta. Viva com isso! – Acabei de falar e subi as escadas.

A trouxa era tão boba, que demorou para fazer a associação do que eu disse. Me olhou incrédula, como se meu pai não fosse capaz de fazer isso com ela.

— E nem abra a boca para discutir comigo, eu ainda mando aqui mais do que você pensa. – E bati a porta do meu quarto. Eu tinha uma carta para escrever.

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Abri os olhos para me deparar com uma dor de cabeça enorme. Maior do que a que me deu na Sérvia, depois daquela ressaca. Fechei meus olhos com força e os abri devagar, tentando me adaptar à luminosidade, para, assim, descobrir onde eu estava.

Contudo, antes que eu pudesse me situar, lembrei do que me acontecera. Instintivamente levei minha mão à minha barriga. E entrei em desespero. Eu sentia um curativo, um enorme curativo e, por baixo dele, pontos. Que iam de um lado ao outro do meu baixo ventre. Mas eu não sentia a minha barriga de grávida. Eu não sentia a minha filha.

Alguns aparelhos começaram a apitar do meu lado, e duas enfermeiras entraram correndo. Eu não dei tempo que elas sequer respirassem.

— Onde ela está? Onde está a minha filha! – Senti grossas lágrimas descerem pelo meu rosto. – Eu preciso dela! – Gritei o mais alto que conseguia.

Meu desespero era tamanho que eu tentei levantar da cama, sendo contida por uma das duas mulheres que entraram. Ela tentava me alertar sobre alguma coisa relacionada aos pontos que tinha levado, eu não a escutava. Meu coração batia acelerado em meu peito, e minha pulsação ecoava em meus ouvidos.

Isso deveria ser justiça divina. Eu tentei matá-la seis meses atrás, e agora o que eu queria estava feito. Minha Sophie estava morta. Era como se tivesse arrancado o último pedaço do meu coração. A dor era tanta que eu não tinha palavras, não havia nenhuma palavra, em nenhum dos idiomas que eu sabia falar, que era capaz de expressar a minha dor.

Eu tinha deixado o amor da minha vida ir embora. E agora, minha única recordação dele tinha sido tirada de mim. Caí em um choro silencioso, até que uma outra enfermeira, mais velha, entrou no quarto, se abaixou ao lado da minha cama e, me pegando pelos pulsos, me fez olhá-la.

— A Mini Agente do NCIS está bem, senhora. Está crescendo e ficando mais forte a cada dia.

— Mini Agente do NCIS? – Balbuciei as palavras. Eu não estava entendendo nada que aquela mulher estava falando.

— Sua filha. Você foi atingida no abdômen. Chegou nesse hospital mais morta do que viva. Conseguimos fazer uma cesárea de emergência e tirar a sua filha, para então operá-la. Vocês duas estão bem e seguras agora.

Eu a olhava incrédula. Minha bebê. Minha maior recordação de tudo o que eu vivi em Paris. Minha Sophie tinha sobrevivido. Fora tirada antes da hora. Mas ela estava viva.

— Ela... – minha voz estava rouca e quase inaudível – Sophie está bem? Ela foi atingida?

— Sophie.... então é esse o nome dela? É lindo! – Foi o que a enfermeira Porter me disse. – Sim. Ela foi atingida, mas não é grave. Sophie terá uma cicatriz no braço direito, mas, se quer a minha opinião, sua pequena guerreira salvou sua vida, se ela não estivesse na posição em que estava, você tinha morrido na hora.

Não tive nada o que responder. Apenas sorri assentindo.

— Quando vou poder vê-la? – A necessidade de conhecer a minha filha era maior que tudo nesse momento.

A enfermeira olhou para o meu estado de pós surto e, cuidadosamente respondeu:

— Assim que você for examinada, senhora. Se tudo estiver bem, eu mesma te levarei até sua filha. Que, por sinal, é o xodó do berçário.

— Tudo bem. – Eu teria que esperar mais um pouco para ver se Sophie era a mesma garotinha dos meus sonhos.

— Não se preocupe, ela está bem. E sei que quer te conhecer também. – Foi o que a enfermeira me disse antes de sair do quarto.

Levou mais de uma hora para que um médico viesse me examinar. Depois de fazer mil perguntas sobre o motivo do meu coração ter disparado em um determinado momento, ele passou a examinar a sutura da cirurgia e do parto adiantado de Sophie. No meu desespero, nem notei que tinha arrebentado alguns pontos, que precisariam ser refeitos.

Quinze minutos depois, uma enfermeira entra com a tarefa de me recosturar. E ao ver a linha e a sutura, eu voltei no tempo, voltei para Marselha e para aquele minúsculo sótão, onde, depois de uma fuga alucinada, Jethro acabou por suturar o meu braço.

Eram outros tempos. Parecia até outra vida.

— Prontinho. Agora a senhora vai poder ver a sua filha.

E na menção à Sophie, eu voltei para o presente. Meu estômago se retorceu e eu me peguei nervosa. Era só uma bebê, mas essa bebê era o meu mundo e meu melhor presente.

Fui colocada em uma cadeira de rodas, teria que ir devagar com a recuperação, ao que me falaram, a cirurgia não fora das mais fáceis, e a enfermeira Porter me levou até a UTI neonatal. Por todo o caminho, ela me atualizou sobre a minha filha. Sobre como ela tinha nascido, o buraco de bala no bracinho direito dela, e como ela vinha reagindo ao tratamento.

No meu nervosismo, eu havia esquecido de um único detalhe. Ela estava dentro de uma incubadora, pois era prematura. Minhas chances de poder pegá-la no colo eram praticamente nulas.

Mais rápido do que eu teria previsto, entramos na UTI neonatal. E, pela primeira vez em minha vida me dei conta da quantidade de crianças que passam por ali. Sophie não era a única. Estava observando os demais bebês, e, com a imagem de alguns, meu coração se apertou. Foi então que paramos, e, ali, no meio da incubadora, enroladinha em cobertores cor-de-rosa, ainda pequenina, estava a minha filha.

— Olha, vou dizer para a senhora, a Mini Agente já devia saber que viria, pois é bem difícil que ela fique acordada. – Natalie, como ela pediu para ser chamada, me disse.

— Eu... eu vou poder pegá-la? – Perguntei hesitante.

— Não é o recomendado. Ela é muito novinha, mas devido ao fato de que você ainda não a viu, eu vou deixar. Por pouco tempo, ela ainda precisa ficar mais forte.

E então, ela abriu a incubadora e tirou Sophie de lá, me entregando aquele pequeno embrulho.

A primeira coisa que fiz foi beijá-la, eu não acreditava que ela estava ali. E, depois, contei os dedinhos dos pés e das mãos, em seu braço esquerdo, a pulseira de identificação, “Mini Agente do NCIS”, sorri para a ideia da enfermeira, mas não pude deixar de ver a ironia da situação, e se, no futuro, ela realmente virasse uma agente? Deixei essa linha de raciocínio de lado e olhei braço direito e vi o curativo, definitivamente ela teria uma enorme cicatriz ali. Apertei-a em meu abraço um pouco mais, não sabia se ela estava com dor ou não, mas eu queria que aquilo passasse, eu queria que a dor dela passasse para mim, eu era mais forte que que ela. Então, depois de agradecer por ela ser saudável dentro das circunstâncias, pude me atentar no seu rosto.

E, como se soubesse que eu finalmente a olhava, Sophie me fitou, e duas grandes orbes azuis claras me olharam de volta e eu perdi o ar. Ela tinha herdado os olhos do pai. A parte que eu mais amava em Jethro estava ali, gravada no rosto da minha filha. Dei um beijo em sua testa e foi só aí que notei, não era só nos olhos que ela era parecida com o pai, os cabelos eram castanhos iguais aos dele, iguais aos da irmã mais velha.

Tive que segurar o choro ao tentar imaginar a cena de Jethro, ou até mesmo Kelly segurando a minha pequena, mas era inútil brigar com as lágrimas agora.

— Não sei se você sabe, mas bebês, ainda mais tão novinhos, tendem a mudar a cor dos cabelos e dos olhos. – Natalie me disse.

E era verdade, eu mesma havia nascido loira, meus cabelos só ficaram totalmente vermelhos quando eu tinha um pouco mais de um ano, pelo menos foi isso o que me contaram.

Curiosa com isso, olhei para Sophie mais uma vez, realmente, seus cabelos eram de um tom de castanho avermelhado. Não tinha certeza, mas acho que, no final, ela seria ruiva como eu. Quanto aos seus olhos, eu torci internamente para que eles permanecessem daquela cor. Pois assim, eu poderia matar a saudade dele. Uma ruiva de olhos azuis. Sim, você era a visão do meu sonho, Sophie. Mais uma vez beijei a sua testa e comecei a conversar com ela, como eu já fazia desde que eu resolvi que eu a teria não importasse o que isso me custasse. Porém, cedo demais, Natalie me pediu para colocá-la na incubadora. Eu não queria deixá-la ali, mas era necessário para ela. A deitei com todo cuidado do mundo e, mesmo depois que o aparelho foi fechado, eu ainda fiquei ali olhando para o meu pequeno milagre.

Minha filha, para quem eu faria qualquer coisa. Até mesmo tentar contar pessoalmente ao pai dela sobre a sua existência.

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 Ele não poderia fazer isso! Outro casamento às pressas, para poder passar a dor? Não! Não mesmo.

No meu desespero, eu não saberia a quem recorrer. Meu avô? Sem chances, vovô é tecnofóbico igual ao papai. Minha avó? Ela só riria da situação. Minhas amigas? Não... tem coisas que a gente não conta...

Eu só tinha uma pessoa com que eu poderia desabafar. Não era muito, teria que ser por carta, mas eu precisava. Eu precisava saber o lado dela, de tudo o que aconteceu.

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Eu fui liberada do hospital uma semana depois. Sophie ficou. Eu poderia ir visitá-la quando quisesse, aliás, era bem-vinda para ficar o dia inteiro por lá.

Mas eu precisava fazer duas coisas primeiro. Acalmar Noemi que deveria estar de cabelo em pé com o meu sumiço, e avisar à única pessoa em D.C. que se importava com o nascimento de minha filha. Ducky. Sem contar o escritório. Estava oficialmente de licença maternidade.

Sim, eu Jennifer Shepard era mãe, solteira.

Meu pai teria me matado. Mas por Sophie, valia a pena qualquer sacrifício.

Quando entrei em meu apartamento, Noemi estava cercada de velas, santos e terços, a religião, sempre presente na vida dela estava fazendo o seu papel de calmante.

— Señora!! Señora! – Ela veio correndo em minha direção. – O que aconteceu?

— Muita coisa, Noemi. – Me sentei com cuidado no sofá. – Mas em resumo, fui atingida por uma bala. Bem na barriga, onde estava Sophie.

Foi então que ela notou a falta de uma barriga de grávida.

— La niña! Onde ella está? – No seu desespero, ela começou a mesclar os idiomas.

— Ela nasceu. E está em uma incubadora. Está ficando mais forte a cada dia, mas vai demorar para poder vir para casa.

Noemi se benzeu com o nome do pai e agradeceu aos santos por minha filha estar viva.

— E você? – Perguntei. – Além de rezar, é claro. – olhei para o altar que ela havia construído.

— Fiz tudo o que era para fazer. Não saí muito, ainda não aprendi a voltar. Mas vieram entregar o seu correio. Tem uma carta estranha... – Ela se levantou correndo e voltou com a correspondência.

Contas, uma carta do NCIS de D.C. e outra de...

— Kelly? – Eu sussurrei o nome. Achei que ela nunca mais iria querer me escrever. E, ao lembrar das suas últimas palavras e do silêncio depois das cartas que mandei, eu quis ignorar essa. Porém, algo dentro de mim dizia o contrário. Dizia que tinha algo de errado com a garota.

— Quem é Kelly? – Noemi perguntou curiosa.

— A filha de Jethro. – Disse sem olhar para a minha fiel governanta.

— Filha do pai da Sophie? Señora, ele é casado?

— Não, Noemi. Ele é viúvo, e divorciado duas vezes. Jethro é... complicado, mas eu o amo mesmo assim... – Suspirei de saudade.

— Então leia o que a filha dele tem a dizer! Agora! – Ela me ordenou, como se eu tivesse oito anos e estivesse me recusando a comer os brócolis do meu prato.

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 Alexandria, 25 de março de 2000.

Oi Jenny.

Eu devo começar te pedindo desculpas, eu passei de todos os limites na última carta há oito meses.

Me desculpe pelas palavras. Eu... estava chateada, com raiva. Realmente com ódio de você. Depois de tudo o que você fez por nós, depois de tudo o que nós conversamos, você se foi. Meu pai chegou sozinho. E eu te odiei por desfazer um sonho meu.

Mas hoje, hoje eu vejo que talvez a culpa não seja toda sua. Meu pai tem culpa também. Eu não sei o que ele fez ou falou, não sei os seus motivos para ter partido, mas quero saber. Eu preciso saber.

Jen... Ele vai se casar com uma ruiva... ele vem falando em casamento há um tempo. Ele quer te substituir. Ele me proibiu de falar o seu nome... ele não quer saber de você.

Quando as suas cartas chegaram, com selo de Londres, eu achei que ele poderia ter ido atrás de você... mas foi quando essa conversa louca de casar começou. Eu não sei o que ele fez com a carta dele. Eu queimei a minha. E me arrependo do que fiz. Depois teve o seu telefonema no Natal. Fomos passar o Natal na casa do Ducky, quando chegamos tinha a sua mensagem na secretaria... Eu me lembro de ter começado a escutar a mensagem, mas papai surgiu do nada e tirou a fita da minha mão e sumiu para o porão.

E hoje, bem... ele está estranho, andando como um animal acuado. E eu o conheço muito bem para saber que ele está sentindo que algo ruim vai acontecer... e é com você. E foi aí que as coisas ficaram ruins.

Nós brigamos, feio.

Não que estejamos em paz. Desde que A substituta 3 entrou em nossas vidas, as brigas são constantes. Às vezes brigamos só porque um olhou torto para o outro... Mas essa... Jen. Essa eu gritei com ele. Falei coisas que estavam há um tempo engasgadas. Eu precisava, sabe? Eu precisava que ele soubesse como eu me sinto sobre tudo isso. Diferente dele, eu preciso falar. Eu preciso ser ouvida.

E acabou na briga.

Eu não posso falar sobre você, mas tenho que aturar a intrometida dentro de casa.

Ponderei todas as minhas opções, Jen. E você é a única que pode me ajudar. Não te peço para aparecer aqui em Alexandria e resolver as coisas com ele. Não peço para voltar para ele. Te peço que continue sendo a amiga que eu tinha durante as missões de vocês.

Eu te peço que, por favor, me escute! Não me abandone. Eu preciso de uma mãe... e, eu vi isso em você... sei que é nova para ter uma filha da minha idade, mas... eu vejo em você a figura materna que eu perdi. Você não é a minha mãe, nem de longe age ou fala como ela, mas é o mais próximo de uma mãe que eu tive nos últimos nove anos.

Vou entender se você não me responder. Vou entender se nada sair da sua boca. Mas eu queria tanto que você me respondesse....

Me desculpe mais uma vez, mas eu só confio em você para me ajudar agora.

Beijos,

Kelly.

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Ah, Kelly! Por que esse cabeça dura está fazendo isso com você? Por que Jethro tem que ser tão masoquista?

Reli a carta, passando a mão pela data e parando na parte que ela diz que sou uma figura materna para ela...

Se ela tivesse lido a outra carta, ao invés de queimá-la duvido que teria me descrito assim.

Eu sabia o número dela... tinha anotado o telefone da casa de Jethro quando liguei para ela... mais de um ano atrás...

Me levantei com cuidado, e fui pegar o número, dentro da caixa das memórias que eu não queria esquecer, mas também não queria ver.

E ali estava. Eu torci para que ele não atendesse.

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 Eu mal havia pisado em casa frustrada com tudo e com todos, tinha uma semana que eu não conversava com o meu pai, tinha uma semana que a maldita da Stephanie estava direto por aqui. Se sentindo a dona da casa, quando o telefone tocou.

Lancei a minha pior encarada em direção ao aparelho, desejando que ele desligasse. Mas a pessoa do outro lado era insistente, e isso me lembrou das ligações que recebi quando papai estava em missão com Jen...

No automático, atendi antes que deligasse.

— Alô.

Ouvi um suspiro de alívio do outro lado, seguido das seguintes palavras:

— Oi, Kelly. Sou eu, a Jenny. – Ela disse hesitante.

Olhei de um lado para outro, desesperada. Ele não poderia saber disso!

— JENNY?! Meu Deus! Você recebeu a minha carta!! Eu... e você ligou!! Eu não acredito! – Ela tinha ligado para conversar comigo, não é?

— Sim, Kelly. Recebi a sua carta. Já a li também. – Ela soou cansada.

— E é tudo verdade eu não converso com ele há uma semana. Ele não me encara, mas eu vi que ele já comprou o anel.

— Eu sinto muito por isso. Sou culpada por tudo o que está acontecendo com você. – Ela continuou.

— Como eu te disse, Jen. Não quero que você volte para ele, mas eu queria que permanecêssemos amigas....

— Você nunca deixou de ser a minha amiga, Kelly. Nunca. – Ela disse convicta.

E eu chorei.

— Mesmo depois da carta? Jen eu...

— Mesmo depois da carta. – Ela me cortou. – Kelly, você estava chateada, brava, com ódio de mim e estava protegendo o seu pai, que é a pessoa mais importante para você. Você precisava desabafar, e foi o que fez. Suas palavras não foram nada mais do que a verdade, creia em mim. – Ela terminou em um suspiro chateado.

— Não... você não é aquilo. Não pode ser, está me ligando de não sei onde, só para... – foi quando eu notei, ela soava tão cansada, tão diferente da Jen risonha e brincalhona que eu conheci. – Onde você está?

Mais uma vez ela suspirou, dessa vez gemeu em dor.

— Em Londres, no mesmo apartamento que você visitou. Estou lotada aqui.

— Mas você não está bem! Posso ouvir na sua voz...

— Eu tenho que te atualizar de qualquer jeito... você merece saber...

— Saber o que? – Estava curiosa.

— A carta que te mandei e você queimou, o telefonema no Natal. Eu fiz o que fiz, tentei entrar com contado com o seu pai e com você, porque vocês merecem saber... – Ela respirou fundo. – Kelly, quando eu mandei a carta, eu estava grávida. Queria que vocês soubessem.

— GRÁVIDA? – Gritei de volta. E foi quando notei o tempo do verbo. Estava. – Jen... o bebê? – Eu entrei em pânico.

— Sua irmã nasceu no dia em que você me escreveu essa carta. A sensação, a intuição do seu pai é forte, Kelly. – Pude ouvir o sorriso na voz dela.

— Irmã? Eu tenho uma irmãzinha de uma semana?

— Sim, você tem... e, pelo menos por enquanto, vocês duas tem os mesmos olhos...

Mentalmente eu tentei imaginar a garotinha... minha irmãzinha... mas aí outra coisa me veio à cabeça.

— Jen... eu não quero brigar, mas você sabia que estava grávida quando.... é que a conta não fecha, de julho para março...

— Não, Kelly. Eu não sabia, descobri depois. E a conta não fecha porque Sophie é prematura. Está na incubadora, não foi liberada ainda. – Na parte final eu senti a dor dela por ainda ter a filha do lado.

 - Minha irmãzinha se chama Sophie? Que lindo nome!! E como ela é? – Eu precisava de toda informação que ela pudesse passar – Você já a segurou? Ela vai ficar bem? Jen, você já montou o quarto dela? Quais cores você usou?

— Calma, Kelly, respira! – Ela tinha pegado a mania do meu pai. E eu fiz exatamente o que ela me mandou. – Bem, - ela continuou. - Sophie tem o cabelo castanho-avermelhado, olhos azuis iguais aos seus, é pequenininha, mas bem forte, e já nasceu salvando a minha vida.

— Castanho-avermelhado? Será que será ruiva? Aposto que sim! – Uma imagem de uma garotinha ruiva correndo escada abaixo no porão do meu pai se formou na minha cabeça.

— Até agora é assim, mas crianças muito pequenas podem trocar a cor dos olhos e cabelos. Eu vou te contando e te mandando as fotos, pode ser? – Jen disse feliz.

— Claro! Sempre amei as suas fotos! Agora, o restante das perguntas.

— Eu já a segurei sim. Ela é saudável, a incubadora é para que ela possa se desenvolver ainda mais. E o quarto dela está montado. Tons bem clarinhos, mas com outros fortes, principalmente rosa e roxo. Tem mais alguma ideia?

— Não... mas quero conhecê-la.

Jenny fez silêncio. Suspirou fundo e disse:

— Seu pai tem o direito de saber que ela existe. E Sophie tem o direito de ter um pai. Pretendo ir à Washington assim que ela estiver liberada. Não vou forçar a presença dela ao Jethro, só vou contar, e quando eu estiver aí, você será mais do que bem-vinda para ir vê-la!

Meu pai... uma bebê... eu precisava contar para ele!

Escutei o telefone celular de Jen tocando.

— É o fim da nossa ligação, não é? – Perguntei,

— Sim, meu chefe está na linha. Te ligo assim que puder. Anote este número, e você pode ligar quando quiser, Noemi, minha governanta, pegará o recado para mim, Kelly. E, acabo de notar que não conversamos sobre o que você queria...

— Não tem problema, você me deu uma notícia muito melhor! – Eu sorri. Sim, parecia que, se eu conseguisse conversar com o meu pai sobre a bebê, metade dessa loucura estaria terminada. – Tchau Jen! Nos falamos a qualquer hora!

—Tchau, Kelly. E sempre que precisar, pode me ligar! De verdade, sempre estarei aqui para você. – E ela desligou.

Não demorou muito e meu pai chegou. Eu ainda estava com o telefone na mão e o olhava com espanto.

Eu tinha uma irmã!!!

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 - Kelly? – Chamei por ela, que parecia estar no mundo da lua. – Kells?!

Ela piscou e voltou para o presente.

— Ah, oi pai! – Disse sem graça.

— O que você está fazendo com esse telefone na mão?

— Bem... recebi uma ligação estranha... muito o que processar. – Ela respondeu misteriosa.

— Quer falar sobre? – Eu estava tentando ter uma conversa normal com ela depois de uma semana sem nos falarmos.

— É uma conversa que você não vai querer ter, pai. Mas deveríamos, qualquer dia. Quando estiver pronto para falar sobre um passado bem recente, me avise. – Ela colocou o telefone no gancho e subiu para o quarto.

Meu estômago se fechou, Kelly queria conversar sobre Jen... justo no dia em que li no arquivo dela que ela havia sido hospitalizada e ainda não tinha tido alta.

Eu fiz meu caminho para o porão. Tinha que guardar uns papeis por lá... o arquivo de Jen.

Olhei mais uma vez para a foto que jurei nunca mais olhar. E ela não fazia justiça à beleza de Jenny. Era uma mera imagem. Mas, nos últimos meses eu tive a necessidade de fazer isso, de ver o arquivo dela todos os dias. Eu não a tinha mais ao meu lado, tinha que esquecê-la para o meu próprio bem, mas não conseguia, algo mais forte do que eu me compelia a vigiar os passos dela. E assim eu o fiz, como um guardião, eu me atualizava toda semana. Eu sabia onde ela estava, não o que estava fazendo, mas pelo menos me dava a sensação de que ela estava se cuidando. Que ela estava viva.

Até hoje. Até ver que ela está no hospital. Não descreviam os motivos, mas conhecendo Jen, não era pouca coisa. Com ela nunca é. Tomei um gole de Bourbon enquanto encarava a palavra maldita.

Hospitalizada – em licença temporária.

— O que você aprontou dessa vez, Jen?  - Lancei um olhar para a caixa onde eu havia guardado o casaco, as fotos, a chamada telefônica e as cartas. Todas as duas. Me perguntava se o casaco ainda teria o perfume dela...

— Não ouse me deixar sozinho nesse mundo, Jen. Você não vai morrer hoje. Eu não te permiti morrer.


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Notas finais do capítulo

Bem é isso! Sophie está entre nós e eu espero sinceramente que vocês gostem dessa personagem da mesma maneira que eu estou amando criá-la!
Até o próximo capítulo na semana que vem...
xoxo



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