Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 29
Um erro, um plano, um resgate, uma briga


Notas iniciais do capítulo

Demorei mais do que devia...
Primeiro porque tive uma ideia louca e precisei escrever - The Jibblets já está postada -; segundo, estou com um bloqueio imenso com essa parte de Paris. Eu sei que no show é a parte mais citada, eles já contaram o que aconteceu - dentro e fora das quatro paredes - mas eu quero focar em outra coisa que não seja no que aconteceu dentro do quarto!
Então, eu estou tentando inventar uma história que leve a tudo o que já sabemos... assim, se demorar para postar, já sabem o motivo.
Dito isso, boa leitura!!



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Nosso primeiro mês em Paris serviu para dois propósitos: Descobrimos que o submundo do tráfico de pessoas é ainda mais vil do que muita gente pode sequer pensar e que Zukhov está mais escondido do que nunca.

— Ninguém, absolutamente ninguém viu ou ouviu falar de Zukhov nesta cidade. – Jen disse tirando sua peruca preta e sentando frustrada do meu lado.

— E Svetlana? – Perguntei.

— Ótima pergunta. Outro fantasma. Como eles sumiram em tão pouco tempo? – Ela suspirou.

— O NCIS e o Mossad terem apreendido o carregamento deve tê-los assustado. Vão ficar quietos por um tempo até terem certeza de que não estamos mais atrás deles.

— Espero que não dure a eternidade. Pois D.C. quer uma atualização e não temos nada. Decker também não tem nada.

— Ducky disse que tem um contato na polícia que pode saber de alguma coisa.

— Na polícia francesa?! Jethro, podemos confiar neles?

— Espero que sim. Também não sei o que esperar sobre isso...

— Sabe quando vai ser o encontro?

— Ducky ainda está organizando tudo, mas já nos avisou para ficarmos alertas.

— Não sei... colocar um médico no meio de tudo isso? – Jen disse apreensiva.

— Se não temos outra escolha.

— Ou temos, podemos esperar, sabe Jethro, por que arriscar a vida da única pessoa que sabe salvar a nossa quando precisamos?

— Jen, vai dar certo!

— Quero muito acreditar nas suas palavras, Jethro. Quero mesmo.

— Não tem como nada dar errado nisso.

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“Não tem como nada dar errado nisso!”

Como eu fui acreditar nas palavras dele? Como eu fui ser burra e estragar tudo? Meu Deus!! Eu sabia que não dava para confiar na polícia francesa, eu sabia que algo estava para dar errado.

Eu só não sabia que seria eu quem fosse estragar tudo.

Não sei o que me deu, a única certeza que tive é a de que vi uma arma, apontada diretamente para Jethro, e eu entrei em pânico. Simplesmente imagens de Positano, Marselha e Belgrado passaram como um flash na minha cabeça, toda a dor, toda a preocupação, todo o desespero. E, então, eu fiz.

Eu atirei no policial. De longe, sem nem ao menos fazer um barulho. E, em um piscar de olhos ele estava morto, na calçada, aos pés de Jethro. E o que aconteceu depois?

Caos.

Jethro olhou em minha direção, eu pude ler a decepção nos olhos dele. Mais adiante eu podia ouvir as sirenes dos carros de polícia.

Ele não tinha para onde correr ou se esconder. Muito menos Ducky. Já eu, era simples, escondi minha arma dentro do bolso interno do sobretudo, levantei a cabeça, e segui o meu caminho como se nada de ruim tivesse acontecido.

Passei na frente de Jethro, seu olhar decepcionado e incrédulo na minha direção, e eu pude ler exatamente o que se passava na cabeça dele: “No que raios você estava pensando quando puxou aquele gatilho, Shepard?”

Eu vi, de longe, ele e Ducky sendo colocados no carro. Algemados, levados para a Delegacia de Polícia mais próxima. Meu próximo movimento definiria o futuro da missão.

Não bastasse a extração de emergência na Sérvia, agora eu era responsável pela prisão do meu parceiro e do médico da equipe. Morrow vai querer a minha cabeça.

Pensei rápido, as chaves de nosso carro estavam com Jethro, mas eu já o vira roubar carros o suficiente para aprender, não só a abrir, como fazer uma ligação direta.

Foi o que eu fiz.

Em poucos minutos estava a três carros de distância da viatura onde eles estavam. Os policiais dirigiam como loucos pelo trânsito congestionado de Paris. E eu ia ao encalço deles.

Depois de quase vinte minutos de passeio, eles pararam em uma das muitas Delegacias da cidade.

Observei de longe os dois serem tirados do carro. Vi a cara de cada um deles. E então, mais nada, eles foram levados para dentro e eu fiquei sozinha para pensar em um plano.

— Você foi burra o suficiente para puxar o gatilho, agora seja a inteligente e os tire de lá! – Eu mesma me xinguei.

Dei uma olhada ao redor, não havia muito o que fazer por ali, era uma zona que eu ainda não tinha conhecido da cidade, a única coisa que sabia era que o Sena não estava muito longe. Nem o Parque do Prazeres, tendo em vista a quantidade de prostitutas que estavam sendo levadas para a mesma delegacia onde os dois agora estavam.

Desci do carro, dei uma boa olhada na delegacia, era pequena, no máximo duas celas. Uma para homens e outra para mulheres. E por mais incrível que possa parecer, acho que têm mais mulheres que homens presos nesta...

Não era o plano perfeito, mas teria que servir. Sair de carro daqui é praticamente querer ser preso novamente, então vou ter que improvisar uma outra rota. E o Sena vai me dar essa rota.

Andei até o rio e fiquei olhando os barcos, ou iates ou qualquer que seja o nome que Jethro falaria que aqueles barcos possuem.

Um chamava a minha atenção, um veleiro, no tamanho ideal para fugir dali, com uma cabine onde eu poderia esconder os dois. Ninguém estranharia um veleiro nas águas do Sena.

Com o plano formado, voltei até nosso apartamento, me arrumei o melhor que pude para parecer com uma prostituta que fica no Parque dos Prazeres, vesti um sobretudo para poder esconder o meu disfarce, e dirigi até um certo ponto, onde deixei nosso carro escondido próximo do cais, onde nosso pequeno passeio de barco terminaria.

Andei sem chamar a atenção pelas ruas próximas à delegacia, quando estava próxima ao parque, larguei o casaco em um lugar onde poderia pegá-lo logo que fugisse com os dois, e fingi ser uma das muitas mulheres que usavam o parque como lugar de trabalho.

Pelo que tinha observado, a polícia fazia a ronda de hora em hora, e a próxima viatura vinha, eu precisava ser presa se quisesse tirar os dois de lá.

E não deu outra, dentro de quinze minutos eu estava sendo arrastada para dentro da mesma Delegacia onde Ducky e Jethro estavam, como uma boa prostituta francesa – ou pelo menos seguindo o que as duas outras mulheres que foram presas comigo estavam fazendo – comecei a xingar e a brigar, alegando que eu não estava fazendo nada demais.

Como eu desconfiava, realmente só havia duas celas. A que eu estava prestes a ser levada e a outra onde os dois estavam, acompanhados de mais dois homens completamente bêbados. E aqui entrava o meu plano, eu tinha oferecido um bom dinheiro para as outras duas garotas fazerem o favor de seduzirem os guardas, e, eles não me decepcionaram, logo estavam levando as duas para os fundos para se divertirem e eu, pobrezinha de mim, fiquei sozinha na sala.

Em poucos segundos consegui me livrar as algemas, achei a chaves das celas e, bem, respirei fundo, pois sabia que tinha alguém que estava realmente furioso com o que eu havia feito mais cedo.

—  Andem logo, aquelas duas não têm cara de que aguentam muito tempo não. – Falei para os dois.

— Jennifer? – Ducky disse assombrado ao ver meu figurino.

— Oi Ducky! – Dei um sorriso amarelo. – Vamos indo, tenho que tirar vocês daqui antes que o terceiro policial desse lugar chegue.

Eu evitava a todo custo olhar para Jethro, sabia que ele me xingaria, iria querer explicações sobre meus atos de mais cedo – e sobre essa loucura aqui também – então preferi adiar a encarada mortal para quando estivéssemos seguros em nosso apartamento.

— Posso saber o que você planeja fazer agora, Shepard? Ainda mais vestida assim?

— Estou tirando vocês dois daqui. – Sibilei de volta, ainda sem olhá-lo.

— E para onde vamos, minha querida? – Ducky perguntou.

— Três ruas abaixo, um veleiro. Entrem nele. É o único do cais. – Respondi.

— Você roubou um veleiro? – Jethro estava incrédulo.

— Ainda não, eu vou roubar, mas ele está lá nos esperando. – Disse com certeza.

Antes de sairmos, fui até o arquivo da Delegacia e peguei as duas pastas em que constavam os dados de Ducky e Jethro. Isso tinha que sumir o mais rápido possível.

 - Posso saber como você pretende não chamar a atenção de ninguém com essa roupa, Shepard? – Jethro tentava a todo custo chamar a minha atenção.

— Fácil, - virei uma esquina e, no canto onde tinha deixado, meu sobretudo me esperava. Vesti o casaco comprido e olhei para Jethro pela primeira vez: - Melhor assim?

Ele meneou a cabeça dizendo que sim, mas li em seus olhos outra coisa.

Andamos a passos apressados até o cais.

— O veleiro de madeira clara com detalhes em branco. – Indiquei.

— De quem é isso? – Ducky me perguntou.

— Não faço a menor ideia, Ducky. Mas estou pegando emprestado. E assim, com os dois bem escondidos na cabine, consegui manobrar o barco e nos tirar de perto da Delegacia.

Depois de uns vinte minutos de viagem, chegamos ao cais onde desceríamos.

— Acabou a viagem, meninos. – Falei para os dois.

— E daqui vamos a pé? – Jethro ainda não tinha me perdoado pelo incidente de mais cedo.

— O carro está escondido a duas quadras daqui.

— Você esqueceu as chaves. – Gibbs disse sarcástico.

— Ainda bem que eu sei arrombar um carro e fazer ligação direta, não é mesmo? – Respondi no mesmo tom.

— Agora não é hora nem lugar para isso. – Ducky interveio. – Temos que ficar em segurança primeiro, depois vocês discutem o que deu errado no dia de hoje. – Ele terminou descendo do veleiro.

— Vão, eu vou limpar o leme. – Disse e comecei a limpar toda a cabine, só por precaução.

Quando cheguei perto do carro, Jethro já estava ao volante com Ducky no banco da frente. Daqui para frente ele assumiria a liderança da fuga.

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Ela tinha passado de todos os limites hoje. Primeiro atirou sem ao menos ter certeza do que estava acontecendo. Depois passou na minha frente como se não me conhecesse, sendo que eu e Ducky estávamos sendo presos por culpa dela.

E, ficamos sem notícias por quase quatro horas. Fomos devidamente fichados e estávamos esperando a transferência para uma delegacia maior quando uma prostituta apareceu na minha frente.

Tive que olhar duas vezes para ter certeza.

Ela tinha se passado por prostituta para poder ser presa e nos tirar dali? Shepard é mais louca do que eu previra.

Mas lá estava ela, com uma roupa, maquiagem e até uma peruca que indicava a “profissão” dela. Mas em seus olhos eu via determinação.

Eu não sabia como ela tinha conseguido entrar naquela área da Delegacia, ou o que ela teve que fazer para conseguir essas chaves. Só sabia que estava furioso com ela. E queria muito poder xingá-la. Mas ali não era o momento.

Ela, além de nos tirar dali, ainda teve o sangue frio de ir atrás das nossas fichas e pertences.

 Uma hora entra em pânico, na outra consegue lembrar de todos os detalhes....

Pensei que teríamos um carro nos esperando, mas não. Ela não fez isso. Ao invés, resolveu que seria uma boa hora de pegar emprestado um veleiro.

Tenho que admitir para mim mesmo, toda essa fuga me impressionou. Ela conseguiu pensar nos mínimos detalhes para que pudéssemos sair de lá sem chamar atenção. E, logicamente, eu não admitiria isso para ela. Jamais.

E, para evitar a tentação de tentar arrancar o pescoço dela fora de hora, mandei Ducky se sentar no banco da frente ao meu lado. Eu ainda não sabia o que faria com ela

Poucos minutos se passaram desde que entramos no carro – arrombado e com uma ligação direta – quando ela apareceu, se equilibrando nos saltos altos, embrulhada em um sobretudo e, tentando andar sem chamar atenção, o que era em vão, pois não teve um homem que não olhasse para ela.

Assim que ela notou que Ducky ocupava o lugar que normalmente é dela, Jenny deu um sorriso frio em minha direção e se sentou atrás de Ducky, evitando o meu olhar pelo espelho retrovisor interno.

Dei voltas desnecessárias para poder deixar Duck no seu local, só para garantir que não havia ninguém nos seguindo. Quando ele desceu, apenas disse em nossa direção:

— Cuidado com o que vão falar hoje. Erros acontecem, e vocês dois sabem muito bem disso. – Foi o conselho que ele deixou. – E não se esqueçam, vocês não estão em suas casas e não podem brigar seriamente, pois o disfarce de vocês é o casamento, como bem prova essas alianças que vocês carregam. – Ele se virou e entrou na casa.

Jen não fez menção de ocupar o lugar ao meu lado. Ao invés disso ficou sentada no banco de trás, encarando a paisagem.

— Essa é a hora em que você começa a se explicar. – Eu disse depois de algum tempo.

— Essa é a hora em que você presta atenção no trânsito e me esquece. – Ela retrucou no mesmo tom.

— O que eu vou fazer com você depois de hoje, Shepard?

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— “O que eu vou fazer com você depois hoje, Shepard?” – A frase de Jethro ficou pairando no ar enquanto ele rumava para o apartamento.

O que ele queria que eu dissesse? Pedisse desculpas? Claramente não, já que pedir desculpas é sinal de fraqueza e tudo mais.

Eu também não estava feliz, nem comigo mesma, nem com ele. Tudo bem, ele até tinha o direito de ficar furioso, mas não de passar dos limites. Eu fiz a sujeira, eu mesma limpei.

Ou melhor, ainda não posso garantir que ele não esteja na alça de mira da polícia francesa, mas pelo menos já está quase livre.

Caímos em um pesado silêncio. A calma antes da tempestade, que eu sabia que viria. E eu, por algum motivo inexplicado, estava nervosa. Por que a opinião dele importava tanto para mim?

A minha evidente recusa de querer me explicar teve um efeito negativo nele, sua fúria aumentou e com isso, a velocidade com a qual ele dirigia também. Assim, chegamos em tempo recorde ao nosso destino. Ele desceu do carro batendo a porta e entrando de uma vez no prédio. Eu fiz o meu caminho devagar, pois eu sabia que quando eu abrisse a porta, daria de cara com ele sentado na poltrona, me olhando fixamente, sua postura, seu olhar ordenando uma única coisa: minhas explicações.

E eu sei o que resultaria de tudo o que eu não estava pronta para falar, uma briga enorme e monstruosa.

Sem pensar, estava brincando com a aliança no meu anelar esquerdo e me pus a pensar que, se isso fosse um casamento de verdade, provavelmente não sobreviveria ao que estava para acontecer.

Contando passos, cheguei ao andar e parei em frente a porta, minha mão descansando na maçaneta, respirei fundo e tentei me recompor. Eu tinha que estar no mesmo nível de calma e frieza que estava quando coloquei meu plano para funcionar.

Arrumei a minha postura indicando que estava pronta para a guerra, contive minhas emoções e girei a maçaneta.

Como eu previra, lá estava ele, sentado na poltrona, me encarando com aquele par de olhos azuis, os mesmos olhos que já transmitiram tantas emoções para quem sabe lê-los, agora estavam frios, exalavam ódio e, acima de tudo decepção.

Vai ser uma longa noite.

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Ela fez quanta hora pode para entrar no apartamento, não sei se testando os meus limites ou se ela estava pensando na explicação que me daria ou na desculpa esfarrapada que ela poderia dar.

Quando ela finalmente abriu a porta, eu estava a um milésimo de segundo de me levantar da poltrona e trazê-la à força para dentro. Contudo, seu olhar estava frio, até mesmo distante, ela estava pronta para a guerra

Não, Shepard, você não quer entrar em um embate comigo, quer?

Sim, ela queria, pois me encarava seriamente ainda no batente da porta. Tenho que admitir, ela é corajosa, por muito menos que isso, muitos já saíram correndo de mim. Mas ela?! Não! Jen ficou parada me encarando, me desafiando, testando meus limites e a sua sorte.

— O que deu em você hoje, Shepard?

Fiz questão de pronunciar o sobrenome dela bem devagar. Sabendo que a esta altura da missão, ela já estaria tão acostumada com a forma pela qual eu a chamo, que não gostaria de voltar ao início de tudo.

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 - “O que deu em você hoje, Shepard”?

Shepard... então era assim que ele queria isso? Tudo bem. É assim que ele vai ter.

— O que deu em mim, Gibbs? Sinceramente, se você não viu aquela arma escondida com aquele policial, você deveria procurar um oftalmologista. – Soltei ainda na porta. Estava ponderando se entrava e rumava direto para o quarto ou se parava ali e o encarava diretamente.

Eu não previ que as minhas palavras fossem ter um efeito tão forte nele.

— Mas é claro que eu notei. E saberia me defender caso ele viesse a usá-la. – A voz dele era fria.

— Não pareceu, pois estava a centímetros da sua cara e você ficou parado como se nada estivesse acontecendo.

Nós dois estávamos separados pela sala, mas era fácil de sentir a fúria dele em mim.

— Ducky tinha a situação sob controle. Você deveria ter confiado nele! Não foi isso o que combinamos?

Ele tinha um ponto. Fora este o combinado, mas eu... eu entrei em pânico, não que eu fosse falar isso para ele.

— Eu confio no Ducky, mas como eu te disse, não confio na polícia francesa. – Foi a resposta que dei.

Jethro não engoliu a minha desculpa. Não era uma mentira, mas não era uma verdade. E era isso que ele estava buscando quando olhou no fundo dos meus olhos.

— Você tem noção do que fez? Ao menos isso você sabe o que significa?

— Eu errei. Ponto. E fiz o meu melhor para livrar tanto você quanto Ducky da cadeia. E agora vocês estão livres. Minha bagunça está arrumada. – Sibilei e tentei passar por ele para poder me livrar do meu disfarce. Mas ele agarrou o meu braço e me levou para muito perto dele.

— Sim, você errou. E eu quero saber o que te levou a fazer isso? Você não erraria por nada, não com tiro certeiro que deu. – Ele me encarava, nossos rostos quase se tocando.

E nesta posição, com a pergunta que ele havia feito, era impossível de mentir. Ele saberia na hora. Porém eu não queria expor o quão preocupada com ele eu fiquei.

— Será que você pode me soltar, além de estar me machucando, quero poder me livrar dessa fantasia. – Tentei desvencilhar o meu braço do seu aperto de ferro, sem sucesso.

— Como você perdeu o controle na rua, mas teve a frieza o suficiente para bolar um plano e nos tirar da cadeia?

A resposta fácil. Ele.

— Posso ir? – Tentei, em vão, mudar de assunto.

— Como, Shepard?

— Como eu já te disse, eu tinha estragado tudo, estava arrumando a minha bagunça. Ou era isso ou toda a nossa missão estaria comprometida!

— Você não está falando toda a verdade. COMO?  - Ele gritou.

— Será que você pode parar de bancar o super-herói, o agente que não erra? Erros acontecem. Eu errei. Já admiti isso. Quer que eu faça mais o que? Implore pelo seu perdão? Pois saiba que eu não vou fazer isso! – Respondi bem na cara dele.

Jethro deu um passo ao lado e bloqueou a minha passagem. Dei um passo atrás e o encarei, ele apenas estendeu a mão e segurou meu queixo entre o polegar e o indicador e me disse:

— Por que você fez aquilo, Jen? O que você viu?

E por mais que eu quisesse me manter firme, eu acabei por ceder.

— Eu entrei em pânico. Vi a arma e, chame de fraqueza, de qualquer coisa que quiser, mas eu temi por você. Não quero ter que passar por todo o desespero de Positano de novo. – Falei de uma única vez e me vendo liberta do aperto dele – ele soltou meu queixo quando eu disse que temi por ele – fui direto para o quarto e fechei a porta, eu precisava de um tempo para mim, depois dessa confissão.

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Depois de muito insistir ela acabou cedendo. E quando me respondeu, foi como se algo me desse um choque.

Entre todas as possibilidades, ela temeu por mim?

O que ela tinha na cabeça? Será que até hoje ela não aprendeu nada? Ela não notou que temos que deixar os sentimentos de lado e focar na missão?

Mas não. Ela tinha que se preocupar justamente com a minha segurança. E isso me remetia a um ponto. À Sérvia, quando eu não fiz o mesmo por ela.

Fiquei parado, encarando a porta do quarto. Eu sei que ela precisava de um tempo para poder voltar a realidade, tirar aquele disfarce de prostituta e voltar a ser a Jen que eu conheço.

Contudo, eu não poderia deixá-la sozinha.

Abri a porta para encontrá-la sentada na cama, abraçando os próprios joelhos, com cara de quem estava chorando.

— Jen... – Eu tentei falar, mas a cena em si me assustou.

— O que você está fazendo aqui? Não sabe o que uma porta fechada significa, Jethro? – Ela disse com raiva e se trancou no banheiro, não antes de dizer – e não tente arrombar essa porta! – Disse antes de batê-la.

Tudo o que eu queria falar, que eu queria ouvir, ficou para depois. Vê-la com olhos vermelhos era novidade para mim. Ela, em momento nenhum, se mostrou como uma mulher que tinha pena de si mesma, que, por algum motivo, começasse a chorar, mas ali estava ela. E eu não sabia o que fazer.


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Notas finais do capítulo

A cena da fuga no veleiro foi meio adaptada, mas eu sempre quis escrever sobre essa cena e como a Jen estragou com um pedaço da missão, isso porque as duas cenas são citadas na série!
Sei que parece muito fora da personagem a Jen chorar, ela que sempre foi forte, contudo, ela é um ser humano e tem sentimentos e eu vou explicar isso no próximo capítulo. Prometo.
No mais, obrigada a quem está lendo e acompanhando!!
Até o próximo!
XOXO



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