Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 28
Bienvenue à Paris


Notas iniciais do capítulo

E chegamos em Paris. Uma parte da missão desses dois.
Tenham uma boa leitura.



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— Tem certeza que está tudo aí? – Jen me perguntou ansiosa.

— Absoluta. Já revisei esse apartamento duas vezes. Não tem nada sendo deixado. – Garanti a ela.

Nossa ida para Paris tinha sido antecipada então, tivemos que fechar tudo em tempo recorde. Não que tivéssemos muito o que levar, mas nunca é bom sair às pressas.

Eu e ela iríamos partir nessa noite, chegaríamos de trem na Cidade Luz. Já Ducky e Will chegariam uma semana depois, de avião. Todos os avisos, as informações e detalhes de como teríamos que atuar nessa parte final estariam nos esperando na nossa nova casa. Um apartamento no Quartier Latin, seja lá onde isso for.

Depois de tudo arrumado, nós dois nos sentamos na sala apenas para esperar o tempo passar.

— Londres foi a primeira cidade pela qual passamos e que ninguém saiu ferido. – Jen disse pensativa do meu lado.

Olhei para ela, ninguém tinha saído ferido, mas chegado.

— Não me olhe assim, Jethro... você entendeu o que eu quis dizer! E não precisa me lembrar do porquê viemos parar aqui... – Ela continuou com um muxoxo.

Eu a abracei apertado, me lembrando do desespero que senti enquanto ela estava inconsciente no hospital e, ela, inconscientemente, levou a mão onde ela tinha sido baleada.

Estávamos em um silêncio confortável, na verdade eu estava em silêncio, já que Jen tinha cochilado em seu travesseiro favorito, ou seja, no meu ombro, quando o telefone tocou, assustando Jen.

— Deixa que eu atendo. – Falei para ela. – Você não vai ter condições de ser educada mesmo...

Ela me encarou com ódio e depois olhou para o telefone. Se o olhar dela soltasse adagas, tenho certeza que o aparelho tinha sido despedaçado.

Eu mal tinha tirado o telefone da base quando ouvi uma voz bem familiar gritar:

— EU QUERO OS DOIS NO TELEFONE, AGORA!

Kelly tinha feito uso do número que ela anotara.

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 Minha verdadeira intenção era ligar no dia em que eu cheguei de viagem, acontece que eu cheguei morta! Era jetlag, cansaço, tristeza por ter deixado os dois lá em Londres, que a única coisa que eu consegui fazer foi desmaiar na cama.

Assim, eu só tive tempo no segundo dia. E estava torcendo para que eles ainda estivessem lá. Eu tinha que agradecer pela viagem, pelos passeios e pelos presentes. Principalmente o último.

Então, assim que o telefone foi atendido, eu precisei gritar:

— EU QUERO OS DOIS NO TELEFONE, AGORA! – Até porque não tem mais graça conversar só com um deles.

— Mas o que aconteceu, Kelly? – A voz de meu pai foi a primeira que eu ouvi. Eu devia ter previsto que ele se desesperaria.

— Nada aconteceu. Tudo está em ordem, pai... mas é que é mais fácil assim! – Eu garanti.

O suspiro de raiva que ouvi vindo dele, significava que ele estava realmente com raiva e que, se eu estivesse perto dele, iria escutar.

— Você está precisando de alguma coisa? – Dessa vez foi Jen quem falou.

Ótimo, os dois estavam lado-a-lado.

— Na verdade, também não... mas estava com medo de não encontrar mais vocês por aí...

— Foi por pouco. – os dois responderam juntos.

— Então tive sorte... eu queria ter ligado ontem, mas não consegui. A cama me pegou de jeito.

— A cama? Sei... não foi a preguiça não, Kelly.

— Cansaço, pai! – Me defendi.

— E você já conseguiu arrumar tudo por aí?

— Sim e não, Jen... tô aproveitando para olhar o que não uso mais e doar para quem precisa...

— Bela atitude. E então, o que é tão urgente, que você precisa de nós dois ao mesmo tempo do outro lado do telefone? – Papai me perguntou.

— Eu quero agradecer pelo melhor final de semana dos últimos sete anos da minha vida! Dessa vez sem chorar...

Os dois ficaram em silêncio.

— Oi?! Vocês estão aí?

— Sim, filha.

— Bem, é agradecer por isso, pela viagem e pelos presentes. O último era totalmente inesperado, mas ajudou a fazer da viagem menos triste...

Jen sorriu.

— Afinal de contas, o que era?

— Um álbum, com toda as fotos que a Jen tirou. – Eu disse feliz e olhei para o presente que descansava na minha cama.

— Eu não vi as fotos.... – Papai disse e posso jurar que isso foi para Jenny.

— Até os negativos estão com a Kelly, Jethro, para a total segurança dela... – a ruiva respondeu.

— Ainda vai ter que esperar para poder ver as fotos, pai!

— Notei isso...

— Então... foi para isso que liguei, estava com saudades e queria agradecer. De verdade. Nunca mais vou esquecer essa viagem!! E.. se algum de vocês tiverem uma outra ideia louca como essa e quiserem me colocar no meio para poder fazer uma surpresa, meu passaporte está sempre em mãos!!

— Acho que agora nem tão cedo Kelly.... a data coincidiu com uma rara folga nossa. – Jen me disse. – Mas seria muito bom ter você por aqui de novo.

— Seria muito bom ir viajar de novo!

— Sei... como se a senhorita não tivesse mais nada o que fazer, não é?

— Bem.. ter eu tenho, e por falar nisso, nunca pensei que dois dias fora da escola iriam me acumular tanta tarefa... credo! Mas, tipo assim, se quiserem e estiverem livres, quem sabe nas férias de primavera, né? Eu ia adorar conhecer Paris....

Os dois gargalharam do outro lado da linha.

— Ah, qual é? Eu tô falando sério!! Eu quero ter o meu passaporte com um carimbo de cada país do mundo! – Respondi indignada.

— Então vai precisar de mais de um passaporte para isso. – Jen disse, o resquício da gargalhada ainda presente na sua voz.

— Jen, por favor, vê se não dá ideia... – Papai pediu.

— A ideia não foi minha, Jethro, eu só estou falando a verdade e você sabe disso!

Papai suspirou alto. E trocou de assunto, ou melhor, voltou em outro assunto:

— Kelly, na sua próxima carta, eu quero ver as fotos.

— Ih... sério?

— Mas é claro que sim, mocinha!

— Tem alguém aqui que é muito curioso... – Jen brincou, e eu sabia exatamente como estava o rosto de cada um deles neste momento!

— E nem pense em seguir o que a Jen te disse para fazer, ouviu bem? – Ele continuou, para a alegria da ruiva que ria alto agora.

— Tudo bem, só porque o senhor pediu com jeitinho...

— Jeitinho?! Nossa, desse aí eu nunca tinha ouvido! – Jenny falou.

— E adivinha quem é a culpada por isso, Jen? – Papai disse.

— Não faço a menor ideia... quando descobrirem me avisem. – Eu podia jurar que ela tinha piscado para o meu pai nesse momento.

— Tudo bem... nada de brigas... eu mando algumas fotos para o curioso... e problema resolvido! – Tentei ser a diplomática.

— Dessa vez está do lado certo, Kells. – Papai garantiu.

— Mas é a garotinha do papai mesmo! – Jen gozou a minha cara.

— Eu tô tentando ser a pacificadora aqui! Uma ajudinha caia bem, ok?

—  Tudo bem, não está mais aqui quem falou!

— Só você mesmo, Kelly, para conseguir fazer essa aqui voltar atrás...

— Sou uma milagreira, papai... Santa Kelly! – Eu comecei a rir da besteira que tinha acabo de inventar.

 - Santa, sei... – Ele continuou.

— Mas voltando, e terminando essa ligação, antes que a conta venha astronômica... eu realmente só queria agradecer e dizer que cheguei viva em casa. E, por último, dizer que temos uma partida de boliche para ser jogada... saber quem é o melhor da casa!

— Ih, Jethro, isso soou muito como uma intimação... ai de você se não for!

— Quando voltarmos, discutimos isso, Kells.

— Tudo bem... está anotada. Eu não vou esquecer... não importa o que aconteça!

— Isso vai ser muito bom de ver! – A ruiva disse.

— Realmente só ver, porque jogar que é bom..., hein Jen? – Eu tive que provocá-la.

— Eu não poderia ser a melhor em tudo, Kelly. Às vezes é educado deixar os demais brilharem.

— Quanta modéstia, Jen!

— Não há de que, Jethro!

— Eu também agradeço... eu acho... só digo que quando eu crescer quero pensar exatamente assim! – Eu falei para eles.

— Pelo amor de Deus, não! Uma já está de bom tamanho!

Dessa vez Jen riu com gosto da cara do meu pai!

— Bem... eu tô adorando a conversa, mas antes que essa conta de telefone saia da minha mesada, eu infelizmente tenho que ir... ou seja, estou desligando esse telefone porque sou forçada... papai te amo, até sei lá quando... Jen, muito obrigada pela viagem!! Vejo vocês no próximo ano! Vou esperar na base aérea, e, se tudo der certo, busco vocês de carro.

— Pode até me esperar lá, filha, mas pode ir de táxi...

— Kelly, desse jeito você mata o seu pai do coração! Vai devagar com a notícia!

— É para ele ir se acostumando com a ideia, Jen.

— Desse jeito ele não se acostuma nunca!! Ele te proíbe de pegar o carro dele!

Papai a essa altura, estava calado.

— Ele tá vivo?

— Respirando ele está... – Jen me respondeu. – Mas não se mexe desde que você mencionou dirigir o carro dele. Será que o belisco?

— Se ele não me responder, sim, belisca ele! Pai?! Tá aí?

— Sim, Kelly. E não precisa de me beliscar, Jen. – Ele disse ainda meio distante, mas prece que os beliscões continuaram.

— Eu disse o que disse, mas eu ainda não tenho carteira... pode ser que nem tenha quando vocês voltarem...

— Kelly...

— Então... não preocupa não... o senhor ia voltar dirigindo de qualquer maneira. E eu tô falando demais... acho melhor me despedir...

— Sim... começou a não fazer sentido.

— Eu notei... Bem.. tchau pai.. até a próxima. Te amo.

— Tchau filha. Também te amo.

— Tchauzinho Jen! Me liga se tiver outra ideia doida!

— Tchau Kelly. E ligo sim. Anotei o número! Até a próxima. E a próxima partida de boliche.

E eles desligaram... e como era ruim voltar para a minha triste realidade de estudante cheia de coisas para fazer e longe da família.

Papai é doido. Ele fica falando que uma Jen já está de bom tamanho. E eu fico pensando, se aqueles dois realmente têm algo, na verdade, eles TÊM! Só ficaram com vergonha de demonstrarem na minha frente. Imagina se acontece algo e eu ganho uma irmãzinha... Aí papai iria ter que lidar com duas Jens, ou pelo menos uma e meia, mas, mesmo assim, eu consigo imaginar uma ruivinha correndo por essa casa e deixando o meu pai com mais cabelos brancos ainda!!

Será que esse sonho seria possível?

—----------------------------

Uma ligação de Kelly era tudo o que nós dois precisávamos antes de partirmos para Paris. Ela fez com que fechar o apartamento e mudar para outra cidade – a qual espero ser a última – fosse mais fácil, já que alguém já estava fazendo planos para nos receber na volta.

Ou melhor, receber o pai. Eu tenho que parar de me meter no meio dessa família.

— Essa ligação me lembrou uma coisa. – Jethro me tirou dos meus devaneios.

Olhei para ele, o que será que viria agora?

— Como você conseguiu organizar a vinda da Kelly para Londres? E como você conseguiu o número da minha casa?

— Sua ficha no escritório de Londres. Foi de lá que tirei o número. Quanto ao resto, ela ficou tão empolgada com a ideia que a avó dela nem se importou.

— Você conversou com a minha sogra?! – Ele pareceu mais assustado do que tudo.

— Joan Fielding? Sim. Ela foi bem sensata ao telefone.

— Minha sogra, sensata? Estamos falando da mesma pessoa?

— Espero que sim. Mas voltando, ela não colocou nenhum empecilho pela vinda da Kelly. Disse que era até bom, que ela parava de ficar resmungando que estava com saudades do pai e nem estava tendo tempo de escrever para ele...

Jethro me encarava horrorizado.

— Jethro... ei...  

— Eu ainda não acredito que você conversou com a minha sogra.

— Até parece que ela iria me morder, Gibbs. Foi por telefone.

Ele pareceu se conformar.

— E quanto a passagem? Era muita coisa para arrumar em muito pouco tempo.

— Kelly já tinha passaporte, arranjar o visto foi fácil, conheço uma pessoa que trabalha na embaixada... quanto ao voo, a primeira classe não é a primeira que lota...

— Kelly foi para Londres de primeira classe?!

— Foi... por quê?

— Você não acha que está mimando a minha filha demais, não?

— Não... só quis garantir que ela viesse confortável... até porque ela estava viajando sozinha e a primeira classe tem mais espaço e menos gente em cima de você...

— Como vai ser quando você tiver filhos, Jen? Vai fazer todas as vontades deles também?

— Eu não pretendo ter filhos, Jethro. Não tenho esse... como eu posso dizer? Eu não sei como ser mãe! Não fui criada por uma, então não tenho em quem me espelhar...

— Ninguém nasce sabendo ser mãe ou pai, Jen. Isso só se aprende depois que se tem um bebê que depende de você.

Olhei para ele, será que ele não tinha entendido? Eu não queria filhos. Eu não posso ser mãe.

— E você daria uma excelente mãe, é só não mimar as crianças.

— Incrível... você já vem falando no plural, como se fosse uma coisa certa! – Eu balancei a cabeça em negação.

— Um dia você vai entender isso. Tenho certeza. – Ele me garantiu e se ajeitou para dormir com um sorriso no rosto.

— Tenho absoluta certeza que não, Jethro. – Sussurrei para mim enquanto olhava a paisagem do interior da França pela janela do trem.

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 E, estávamos em Paris. Nossas coordenadas eram para seguir direto para o apartamento, onde nossos disfarces, toda a inteligência e os últimos detalhes nos esperavam.

Na estação, logo Jen encontrou o carro que seria o nosso meio de transporte.

— Desse não tem como você reclamar... – Ela disse me lançando um sorriso.

— Sabe o endereço?

— Mas é claro... só não sei se você sabe chegar lá... – Ela me provocou.

— Como se você já tivesse vindo a Paris...

— Mas eu vim... essa deve ser a minha, deixe-me ver, terceira vez aqui!

Olhei incrédulo para ela.

— Tudo isso?

— Ora, Jethro, todo mundo tem uma cidade que combina consigo. A minha é essa, Paris. – Ela disse com um sorriso enorme.

— Se você está dizendo...

— Não acredita? Um dia você vai achar a sua! – Ela falou entrando no carro.

Depois de algum tempo dentro do carro, olhei para o lado e vi que Jen não estava no melhor dos humores.

— O que eu fiz agora?

— Precisava passar tão rápido perto dos monumentos mais famosos? – Ela disse emburrada.

— Você não está aqui como turista! – Respondi de uma vez.

— E eu sei disso, só que eu não sei se teremos a oportunidade de vê-los de novo, custava ter reduzido a velocidade?

— Eu só estava seguindo o fluxo de veículos... – me defendi.

— Sei... ultrapassando até na contramão é seguir o trânsito mesmo.

— Foi só uma vez, o sujeito estava a vinte por hora.

O olhar que recebi vindo da ruiva que sentava ao meu lado me disse que ela estava realmente furiosa agora.

— A rua... – Ela disse depois de algum tempo.

— O que tem?

— Você acabou de passar pela rua onde fica o apartamento. – Sua voz ainda de mau-humor.

— Por que não avisou antes? – Pisei no freio e ela me encarou.

— Avisei, mas o piloto de Fórmula 1 não sabe andar devagar...

Encarei-a.

— Sério, Shepard? Vai começar a reclamar de como eu dirijo agora? Em Londres você não reclamou.

— Em Londres, você tinha que ser discreto para que nossos alvos não te vissem.

Ela tinha um ponto, mas eu não a deixaria ganhar. Então me mantive em silêncio e manobrei o carro até a rua onde seria a nossa casa por um tempo.

Parando em frente ao prédio só pude perceber uma coisa, o local era chique, a vizinhança também.

Quem D.C. queria que fingíssemos ser agora?

—---------------------  

Depois de quase ser morta por umas duas vezes, finalmente estávamos no apartamento. E eu via perfeitamente bem que poderia chamar esse local de casa.

Depois de ficarmos em dois lugares de procedência e localização muito duvidosa, nos deram um local realmente acima dos padrões.

E toda essa beleza, essa mobília cara e localização privilegiada me levaram a pensar em uma única coisa: nossos disfarces serão muito mais complexos agora.

E não deu outra. Assim que entramos na sala de estar do enorme apartamento, na mesinha do telefone, dois envelopes esperavam por nós.

Peguei-os e entreguei o de Jethro a ele. Abri o meu para me deparar com documentos, cartões de banco, passaporte, muito dinheiro e uma breve descrição de quem eu seria a partir de agora. Melissa Fleming, uma americana rica que resolveu se juntar ao tráfico de pessoas e armas. Nesse trabalho, conheceu o “marido”, Robert Lelland Spears. Minha aparência a mesma que eu já tinha, somente mudando a cor do cabelo, uma peruca preta era o que eu usaria.  Ela tinha contatos por toda a América, leste europeu e estava tentando contatos no oriente médio e França para poder comprar armas e repassá-las para as milícias da América do Sul.

Dessa vez eu não seria apenas a esposa troféu, eu estava no jogo também.

Sentei na poltrona mais próxima e reli o arquivo em minhas mãos. D.C. estava confiando cegamente na nossa capacidade de infiltrar e assumir novas identidades.

A nota final no meu arquivo era clara, o último ato, depois de desbaratar o esquema de Zukhov.

Eliminar Svetlana Cherminiskaya. Tiro limpo, sem rastros.

— Está tudo bem, Jen? – Jethro me perguntou depois de um tempo.

— Sim. Eles... – parei para poder respirar fundo. – me colocaram como uma ativo agora.

— Isso é bom, nossos papéis serão equilibrados agora.

— E me deram um alvo, Jethro. Eu vou ter que executar uma pessoa.

— Você nunca matou ninguém assim, não é?

— Não. Nunca. Já matei antes, mas todas as vezes para me defender, nunca a sangue-frio. – Confessei para ele.

— Isso não é para hoje, Jen. Você tem muito tempo para se acostumar com a ideia.

— Assim espero.  – Respondi fracamente, meu estômago dando voltas só de pensar em tirar a vida de uma pessoa sem ser provocada.

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Por toda inteligência que temos agora, bem como nossas novas identidades, nossa primeira missão é conseguir infiltrar dentro da rede de tráfico de pessoas. Pelo que nos foi passado, Zukhov tinha dividido a administração dos negócios com a esposa. E era por isso que Jen agora também agia como negociadora, estávamos dividindo para conquistar.

Só tínhamos um problema, Jen nunca tinha matado no estilo execução. E eu não tinha a menor ideia de como ensiná-la a fazer isso. Pois o primeiro alvo é sempre o mais difícil e aquele a quem você nunca esquece.

E assim nossa primeira semana em Paris passou, estávamos sondando locais e tentando forjar alianças para então, entrarmos de vez nesse submundo.

Com toda paciência e cuidado, fomos finalmente convidados para um jantar, onde as mercadorias seriam exibidas. Nossos papeis claros, nada de entregarmos mercadorias, apenas observaríamos.

— Drogas, armas, pessoas... o que mais essa escória pode tentar fazer? – Jen disse revoltada chegando na sala.

— Eu não sei... cada dia que passa eles inventam mais.

— Mas é claro... se não tivesse consumidor final, eles não existiriam.  Por que não pegamos os consumidores também?

— Quer fazer um escândalo? Você viu as pessoas que estavam naquele lugar dois dias atrás. – Disse para ela.

— Eu vi... e me pergunto o motivo dos ricos e milionários saírem impunes.

— Você já disse a resposta. – Afirmei para ela.

— E tudo se resume a dinheiro e a poder. – Jen disse com uma voz de desgosto e se sentou no chão, lendo os últimos arquivos da inteligência que Decker tinha mandado.

— Vai ser uma noite interessante, essa de hoje. – Eu falei para ela quando mostrei as fotos de alguns participantes da “festa”.

— Quem diria... até parece que vamos a alguma reunião de políticos e empresários super ricos do que a venda e comercialização de pessoas. – Jen pegou a foto de minha mão e a analisou. – Sabe de uma coisa, pessoas assim não têm que morrer, eles têm que ser expostos para todo o mundo globalizado e depois presos, sem nenhuma chance de terem conforto. Terem uma vida infeliz até o último de seus dias.

— Concordo com você, mas estes não são nossos alvos. Toda e qualquer prova contra eles, será entregue para a polícia francesa.

— Espero que ainda haja justiça. Porque eu não sei se posso tolerar o pensamento que pessoas assim possam andar livres nas ruas.

—--------------- 

— Algum sinal do russo? – Jethro me perguntou ao pegar a minha mão me guiar para uma pista de dança.

— Não vi ninguém. E espero que ele não apareça hoje. Esqueceu que ele me viu na Sérvia? Apesar de não ter ideia de que sou uma agente infiltrada, ele pode estragar nossos novos disfarces. – Respondi dando uma outra olhada ao nosso redor.

—  Nossos disfarces podem ser destruídos a qualquer minuto, Jen. Basta uma palavra, uma ação errada e nós dois estaremos... –

— Mortos.  – Eu completei a frase quando ele acabou de me girar ao som da música.

— Sim. – Sua voz saiu mais dura do que o normal.

— E então, como foi nas masmorras? – Perguntei curiosa, mas ele não me respondeu, apenas me olhou nos olhos e eu pude ver todo o ódio dele com toda essa situação.

— Não somos super-heróis, Jethro, mas poderemos fazer justiça a essas pessoas.

— Eram garotas, Jen. Da idade de Kelly, algumas mais novas. Elas são filhas, netas, irmãs de alguém... – A voz dele coberta de ódio.

O abracei apertado.

— São crianças, e eles... eles dão lances absurdos para as que são virgens. É...

— Desumano, cruel. Nojento. Revoltante. – Respondi por ele. Minha mente vagando não só nas meninas que eu nunca vi, mas tinha o dever de proteger, bem como nas famílias. Eles nunca mais veriam as suas menininhas. E elas? Se conseguíssemos sermos rápidos, será que poderiam salvá-las?

— Elas nunca mais vão ser as mesmas. Eles roubam a vida delas. Não tem como voltar atrás e fazê-las esquecer. – Jethro completou o meu pensamento.

Olhei para ele curiosa. Como ele podia saber exatamente o que eu estava pensando?

— Que cara é essa? – Ele perguntou por fim.

— É... eu só estou espantada como você completou o que eu estava pensando...

— Era isso que te deixou em outro planeta?

— Era. – Um calafrio percorreu meu corpo. – Eu não consegui não pensar nelas, nas famílias.

Nessa hora um dos mais influentes compradores passou por nós e cumprimentou Jethro. Ele somente acenou com a cabeça, mas eu sabia que ele estava com vontade de matar o sujeito.

— Ei, calma, Jethro. Lembre-se do motivo de estarmos fazendo isso.

— Ele comprou uma menina de oito anos, Jen. Oito! – Jethro sibilou e me apertou ainda mais.

— Creio que essa festa já acabou. Podemos ir, antes que eu ou você façamos algo que acabará com a possibilidade de derrubar tudo e todos aqui. – o puxei pela mão até a porta, onde dois recepcionistas nos entregaram nossos casacos e um vallet trouxe nosso carro.

Jethro agradeceu ao rapaz e entramos no carro. E, diferentemente de quando chegamos, ele não teve presa de voltar para o apartamento. Na verdade, ele deu uma volta por Paris inteira, antes que decidisse que era hora de irmos para casa.

— Remoer tudo isso sozinho, não vai te fazer bem... – disse a meia voz quando chegamos ao apartamento.

Ele se encaminhou para o bar e encheu um copo com Bourbon. Depois voltou na minha direção e sentando-se bem próximo de onde eu estava apenas disse:

— Tem coisas que não tem como conversar, Jen. São inacreditáveis demais até para quem viu. – Ele caiu em um silêncio.

E eu tentei me explicar, o que raios leva uma pessoa a comprar uma criança? Uma adolescente? Uma mulher? Como eles se atrevem a comprar um ser humano como se fosse uma mercadoria qualquer que estará sempre ao seu dispor?

O mundo, às vezes é nojento demais.


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Notas finais do capítulo

Só um adendo, Robert Lelland Spears e Melissa Fleming são os codinomes usados na série... graças à 11ª temporada fiquei sabendo disso.
Espero que tenham gostado.
Obrigada por lerem.
Até o próximo!



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