Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 22
Regra 01 – Nunca ferre com um parceiro


Notas iniciais do capítulo

A melhor coisa em fazer um universo alternativo é poder inventar algumas situações e tirar os personagens da bolha que a série nos mostra. Bem, nunca nos mostraram a Jenny antes de ser diretora, mas supondo pelas histórias e insinuações, ela deveria ser bem mais solta do que como diretora. e pensando nisso, eu trouxe esse capítulo aqui. Se divirtam, tem muita interação Jenny e Gibbs!



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— Acho bom você respirar fundo... – Jen apareceu a minha direita com um copo de Bourbon, para mim e uma xícara de chá para ela. Como ela conseguiu trazer os dois sem entornar, eu não seu explicar.

— O que você acha que estou fazendo? – Perguntei assim que tomei um gole da bebida.

— Amaldiçoando o pobre garoto que você não conhece, mas que deixa a sua filha feliz! – Ela estendeu a sua xícara de chá em minha direção. – Qual é? Vamos brindar à Kelly!

— Com chá, Jen? – Perguntei descrente.

— É a única coisa que posso beber. Você sabe disso! – Sua resposta veio ofendida e com um dar de ombros.

Eu sabia sim. Com a quantidade de remédios que ela ainda tinha que tomar, Ducky não deixou que ela tomasse nem café.

— E então? À sua filha? Que ela tenha uma vida feliz, responsável, mas que também saiba aproveitar os bons momentos? – Jen fez o brinde.

— À Kelly! – Eu bati meu copo em sua xícara e tomei mais um gole. – Esse foi o brinde mais estranho que já fiz.

— A gente se adapta às circunstâncias, Jethro, um dia será um de verdade. – Ela disse convicta.

— Se você está dizendo...

— Eu não vou ficar presa a essas muletas pelo resto da minha vida, Gibbs. Dentro de pouco tempo eu vou voltar a usar meus saltos e a beber café! – Era tão fácil fazê-la estourar e deixa-la com as bochechas vermelhas.

— Não me lembre desses saltos. – Grunhi por baixo de minha respiração ao pensar em Kelly usando aquele par de sapatos para sair ao lado do namorado... no carro dele!

— Ela é responsável, Jethro. Você a criou bem! – Jen disse massageando meus ombros.

— E ele?

— Confie nela. E você não vai se arrepender! – Ela me disse. – Agora, mudando um pouco o foco, ou tentando fazer você pensar em outra coisa. Como vão os preparativos para achar o navio libanês? – Ela me encarou com expectativa.

 - Nada bem... não me entendo com Decker!

— Não sei porque, mas eu gostei de ouvir isso! – Shepard disse toda feliz, enquanto pegava o notebook e colocava em seu colo, pronta para começar a analisar os arquivos que tínhamos recebidos.

— Vai trabalhar agora?! – Olhei descrente para ela.

— Essa é a única coisa que posso fazer. Esse buraco na minha coxa está me impedindo de fazer quase tudo... então, de alguma forma tenho que passar o tempo, não?

— Você tem razão, vamos ver se você é melhor na parte de inteligência do que Will. – Comentei.

— Pelo menos não vou me distrair com o primeiro que passar! – Ela riu assim que acessou os dados do computador. – Vou procurar os nossos amigos libaneses através das câmeras dos portos do sul da Inglaterra e ao longo do Tâmisa até chegar a Londres. Se algum deles foi visto, poderemos saber mais detalhes do navio.

— E quanto tempo isso demora? – Eu definitivamente não tinha paciência para qualquer coisa ligada à tecnologia.

— Depende... são muitas câmeras, deve levar de algumas horas a alguns dias. Por quê?

— Porque quanto mais tempo demorar isso, mais tempo vamos levar para descobrir onde eles estão.

— Quer tentar do antigo método? À paisana? – Jen levantou as sobrancelhas em surpresa.

— Não foi assim que fizemos em Marselha? – Eu não entendia o motivo da surpresa dela.

— Eu e você nos passamos por um casal, Jethro, tínhamos até alianças!! Por isso ninguém ligou para a nossa presença perto do porto. Você está pensando em se passar por um casal com Decker? – Ela tinha os olhos divertida.

— Não comece... – eu a adverti.

Mas não pareceu fazer efeito, pois ela caiu na gargalhada....

— Eu não estou vendo aonde está a graça.

— Desculpa, eu não consigo não ver a cena.... ou seria melhor dizer, esquecer a imagem que está na minha cabeça. – E ela ria de chorar.

— Que imagem?

E ela deu aquele sorriso de lado, seus olhos faiscaram com um brilho travesso e sua sobrancelha direita se levantou. Todos os sinais de que eu não gostaria da resposta estavam ali.

— Vocês dois de mãos dadas. – E ela jogou a cabeça para trás e deu mais uma sonora gargalhada.

— Eu não quero mais ouvir isso! – Protestei na direção dela e sai da sala.

— Mas foi você quem perguntou, Jethro! Venha aqui, vamos ver se vocês dois combinam em alguma coisa! – Ela ainda brincava.

— Shepard!

— E ele não tem esportiva nenhuma! – Ela me arremessou uma almofada. – Tudo bem, eu paro... mas foi engraçado. Admita!

— Não teve graça. – Eu voltei ao meu lugar e coloquei a perna machucada dela no meu colo e comece a massageá-la.

— Você realmente não gosta do Will, né? – Jen perguntou ainda sorrindo. Seu rosto corado da recente explosão de riso.

— Não é que eu não gosto dele... ele é gente boa... mas quando se tem uma outra pessoa para se dividir a missão, ele é facilmente esquecido. – Disse por fim.

— Nossa. Fiquei até lisonjeada.  – E isso era verdade, pois as bochechas dela ficaram de um tom vermelho mais forte. - Mas não se esqueça, aqui em Londres, é ele o seu parceiro.

— Mas você vai estar na minha cabeça, me controlando.

— Como se você ouvisse algo que eu digo! – Ela levou as duas mãos para o alto.

— Só o que me interessa.

Seu olhar na minha direção era mortal.

— Vou fingir que não sei o que é... e nem comece com esse papo, estamos os dois em quarentena...

— Você está, eu não! – Disse como se não me importasse.

— Ótimo. E como você vai fazer? Sozinho? No banho? – Ela acariciou a minha perna com a perna boa dela.

— Vamos trocar de assunto? – Eu pedi.

— Se você insiste... um banho frio sempre ajuda, tá?

— Jen...

— Eu estou tentando trabalhar aqui.... você quem fica jogando conversa fora. – Ela deu de ombros.

Essa mulher vai me deixar maluco!

—---------------------------  

Estava presa nesse apartamento enquanto Jethro e Will iam até o escritório do NCIS em Londres para pegarem as últimas atualizações e “recomendações” vindas da sede.

Eles na rua... em Londres... eu presa, sem poder andar direito, dentro do apartamento. Desejando ardentemente poder fazer parte da ação novamente.

Estava pulando de um lado para outro com as muletas quando Jethro abriu a porta, não muito feliz. Aliás, ele não teve um pingo de piedade da pobre coisa.

— Jenny! O que foi que o Ducly disse? Você está de repouso! – Ele entrou xingando.

— Pelo amor de Deus, Jethro, você sabe muito bem que eu sou péssima em ficar esperando... O que aconteceu no escritório? – Disse me sentando no sofá ao lado dele. E, por precaução, ele deixou as muletas bem longe de mim enquanto colocava a minha perna encima de uma almofada em seu colo.

— Morrow quer um relatório seu. Completo. Sobre o que aconteceu na Sérvia. – Ele disse rápido e rasteiro.

— Eu não me lembro de muita coisa.  – Falei por fim.

— Como não, Jen? – Ele estava exasperado. Na verdade, era a primeira vez que conversávamos sobre o tiroteio.

— Não me lembro. Eu não notei o capanga atrás de mim. Ele não fez barulho. Tudo o que consigo me lembrar é da dor. E ponto.

— Você pode fazer melhor do que isso, Shepard. Sua memória é excelente. Seus relatórios são impecáveis. Você lembra sim!

É, eu me lembrava. De tudo. De vê-lo sair da posição inicial e perder o capanga que estava perto de mim. Eu me lembro de baixar a guarda acreditando que o infalível instinto de Gibbs poderia me salvar de qualquer coisa. E nessa fé cega nele, eu me concentrei nas fotos, em ver o que realmente acontecia na negociação. E isso eu havia transcrito perfeitamente bem no meu último relatório. Mas eu não poderia relatar o erro dele. O meu erro. Pois isso colocaria a nossa parceira em risco. Como ele confiaria em mim, se eu, na primeira oportunidade que tinha de poder contornar uma situação ruim, o jogaria para os leões?

— O que eu me lembro, eu já escrevi. Não há mais nada a ser falado ou mencionado. – Respondi o mais calma possível.

Ele não comprou a minha resposta, e abaixando os olhos na minha direção, ele me encarou sério, decidido.

— Repita estas exatas palavras, olhando diretamente para mim. – Sua voz estava coberta de uma raiva muito bem escondida.

Respirei fundo e repeti a mesma frase.

— Mentirosa. – Ele sussurrou bem perto do meu rosto.

— Jethro! – Eu estava definitivamente ofendida com isso.

— Eu sei quando mente, Jen. Eu vejo nos seus olhos a mentira. Literalmente. – Ele disse ainda me fitando intensamente.

Droga... eu tinha me esquecido que ele sabe do meu segredinho.

— Eu não vou escrever mais nada. Morrow que se contente com o que tem. – Disse por fim. Queria estar com total mobilidade para sair correndo daquela sala. Como não estava, tive que me contentar em virar o rosto.

— Por que está fazendo isso? Você não teve pena do Will com o acidente de Positano. – Ele disse por fim, recostando o pescoço no encosto do sofá.

— Positano não foi um acidente, Jethro. Will simplesmente negligenciou toda a operação por conta de uma garota. E você saiu muito ferido. Com ninguém para te ajudar.

— Você estava lá, você fez tudo e isso que importa.

— Em Belgrado, nós erramos. Erros de principiante. Você confiou que eu não baixaria a guarda e eu acreditei que, acontecesse o que acontecesse, você me cobriria, mesmo nós dois estando a uma distância considerável um do outro. Nosso erro. Mas eu não posso falar do meu, sem comprometer você.

— Me comprometer? Jen, você esteve quase morta! – Ele gritou ao levantar do sofá de supetão. – E eu vi passar por seus olhos uma dor e um desespero que eu só tinha visto no dia em que eu acordei no hospital e ele, sem pensar, tinha me beijado como se fosse o nosso último beijo.

— E o mesmo quase aconteceu com você em Positano. Jethro, entenda, são circunstâncias diferentes. E não temos ninguém para provar que o que estou dizendo é verdade ou não.

— Você vai escrever o que se lembra e enviar para D.C. – Ele ordenou.

— Você não é meu chefe. Não me ordena a fazer nada. E, não. Eu não vou reportar mais nada. – Usei o mesmo tom de voz mandão dele.

— Você tem que fazer! – Ele se levantou e parou a centímetros do meu rosto. Eu podia sentir a sua respiração na minha pele.

— Nunca ferre com um parceiro! – Eu disse por fim, encarando-o.

— O que? – Ele se afastou confuso.

— Você ouviu, Jethro. Nunca ferre com um parceiro. Eu nunca entregaria um parceiro quando nós dois temos culpa. Aliás, eu não entregaria nunca. Isso é parceria. Um sempre cobre a sujeira do outro. – Eu explodi.

— Nunca ferre com um parceiro. – Ele disse pensativo.

— É... e o que você... – eu o olhava espantada. O que estava passando na cabeça dele?

— Regra número 01. – Ele sussurrou.

— Como é? – Eu estava perdida no, já confuso, raciocínio de Jethro.

— Regra 1. Nunca ferre com um parceiro.

— Você tem uma regra com estas exatas palavras? – Como poderia? Meu pai me dizia isso quando criança. Podia escutar sua foz grossa e rouca falando comigo daqui, “Aconteça o que acontecer, Jenny. Nunca, jamais, enquanto você estiver trabalhando em equipe, entregue um parceiro. Em qualquer ramo de trabalho, confiança é o primeiro pilar. Se você sair falando o que não deve, nunca será capaz de construir um relacionamento com ninguém. Seja no trabalho ou na vida.”

— Agora tenho. – Ele disse com um sorriso.

— Você vai...?! – Eu estava estupefata.

— Você me deu as palavras. Agora tenho a minha primeira regra.

— Como você não tinha uma regra 01?

— Tenho várias, mas eu as numero conforme eu acho que são importantes.

— E vai colocar essa como a primeira das suas regras?

— Sim.

Eu o olhei espantada, como que nós saímos de uma provável briga para isso?

— Se você está falando. Então, usando a sua mais nova e importante regra, eu não vou escrever outro relatório.

— Vai começar a jogar as minhas regras contra mim?

— Teoricamente, quando você for anotar essa, por favor, dê o devido crédito à dona.

— Não.

— Que ótimo! Isso é plágio! – Eu o acusei.

Ele revirou os olhos.

— Eu não preciso anotar, eu sei exatamente quando e como as regras foram criadas.

Eu não tinha palavras para isso. Anotei a minha regra, colocando um asterisco ao lado e indicando que essa era minha. Minha lista ia aumentando a cada dia.

— Ok, depois desse relatório, que será ignorado, mais alguma coisa vinda de D.C ou de qualquer aliado?

— Não. Estão todos no escuro. Não sabem onde o navio está.

— Entendo. Mas eu tive uma ideia.

— Que é?

— E se o navio, que nós nunca vimos, tiver sido descarregado em alto-mar, para não chamar suspeitas?

— E os traficantes estariam transportando em barcos menores. – Jethro continuou.

— Viu porque precisamos mais do que nunca da tecnologia? Um carregamento desses não fica desacompanhado por nada desse mundo!

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 A ideia de Jen poderia funcionar, então, ela, com a ajuda de Will começou a rastrear os homens das fotos tiradas em Belgrado. Não seria um trabalho fácil, até porque não era certo que algum destes homens apareceriam em Londres. Ou, quando apareceriam, estariam com o rosto descoberto.

E, tendo isso em mente, começamos a fazer algumas rondas às margens do Tâmisa. E essa era a parte engraçada.

Jen, como ainda não tinha alta médica, mesmo após duas semanas, ficava no apartamento – que ela não podia reclamar porque era muito mais do gosto dela do que do meu – enquanto eu e Will saíamos para ver se conseguíamos algum reconhecimento. E toda santa vez que eu chegava perto da porta, ela começava com uma falação sem sentido.

— Que triste. Sendo trocada pelo Wil...

— Não comece com isso de novo, Shepard.

— Tá vendo. Então é verdade, já virei até “Shepard”! – Ela fez uma cara de desesperada.

— Vai ficar fazendo gracinha ou vai trabalhar? – Disse sem humor.

— Vou ficar chorando pelos cantos, porque fui trocada. – E ela fez um perfeito tremer de lábios como se realmente fosse chorar.

— Como se não bastassem os dramas que Kelly faz, agora tenho que aturar os seus? – Voltei para perto do sofá, onde ela estava sentada.

Pelo visto, era isso que ela queria, porque abriu o maior dos sorrisos.

— Agora eu estou satisfeita!

— Posso saber o motivo?

— Claro, Jethro. Ao menor sinal de que eu poderia começar a chorar, você, instintivamente veio para perto de mim. Isso prova que eu não fui trocada pelos Will em todos os sentidos. – E ela abriu um sorriso diabólico.

— Pelo amor de Deus, Shepard. – Eu falei, já cansado da brincadeira dela. Algo que ela parecia não ter se cansado ainda.

— Sou Shepard de novo... – e lá veio o beicinho.

— Chantagista. – Eu disse e fui para porta, deixando-a trabalhar sozinha.

— Mas eu não ganho nem um beijinho? Jethro! Eu estou de licença médica!

Saí, batendo a porta, sem olhar pra ela. Mas, ainda pude ouvi-la gritar de dentro do apartamento:

— Seu mal-educado. Eu só queria um beijinho! E eu sei que você está me ouvindo! Mas faça isso mesmo. Eu vou arrumar outro parceiro também. Um bem bonito e mais novo, só pra te fazer inveja!

Tive que começar a rir do falatório dela. Mas tive uma ideia melhor. Eu sabia que a essa altura ela já estava concentrada nas câmeras de segurança, então abri a porta devagar, e caminhei sem fazer barulho até onde ela estava. Então parei bem atrás dela e disse:

— Melhor do que eu? Só de você arrumar um cachorro!

Foi o que bastou para que ela desse um pulo e quase arremessasse o notebook na minha cabeça!

— Jethro! Quer me matar de susto?

— Não foi você quem pediu um beijo?

Dei um beijo em uma muito surpresa Jenny e sai, dessa vez eu só voltaria mais tarde!

— Até que para isso vale o susto. – Escutei ela dizer enquanto eu fechava a porta.

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— Como o Will consegue ficar horas na frente do computar só vendo tediosos relatórios e informativos de inteligência? Isso aqui está me matando. – Falei... bem, comigo mesma, já que não tinha mais ninguém nesse apartamento.

Se isso não me matar, pelo menos vai me deixar doida... mais do que já sou.

Olhei ao redor - o dia, que prometia ser bonito, acabou por ser o típico dia londrino, feio, com tempo fechado e aquela chuva fina que te molha até os ossos, principalmente quando o outono já está querendo virar inverno. – e suspirei, meus olhos já estavam cansados de tanto encarar a tela em busca de alguma pista. Nas câmeras ao vivo, pude notar uma ou duas vezes Will e, de relance, Jethro. E quando vi isso, pude até imaginar o sermão que ele passaria para Decker, sobre como ser cuidadoso, evitar as câmeras de segurança e, observar possíveis observadores.

Meu Deus! Eu já estou pensando igual a ele! Onde mais isso vai parar?

Me permiti uma pequena pausa, já tinha um bom par de horas que nada acontecia, então achei que seria melhor dar uma esticada na perna e permitir a circulação do sangue. Cheguei à janela, e tudo o que vi foi a intensa neblina e chuva fraca. Os dois deveriam estar ensopados!

Da janela do quarto andar onde me encontrava, conseguia ver a movimentação das pessoas. Ingleses iam e vinham, com as golas de seus casacos e sobretudo levantadas para impedir da chuva e o frio. Estiquei o meu pescoço e pude ver também uma ponta da Torre Elizabeth, ou como é mais conhecido, o Big Ben.

Não era a minha primeira ida a Capital Inglesa, mas estava me sentido enjaulada presa há quase 15 dias. Na Sérvia havia sido a mesma coisa...

Eu só queria poder estar em campo, mesmo com esse tempo horrível. Vi minha própria carranca pelo reflexo no espelho e resolvi voltar ao trabalho. Precisava ocupar a minha mente o mais rápido possível.

Contudo, antes que pudesse chegar perto o suficiente do notebook, um som de alerta soou alto. Era algum resultado do reconhecimento.

Olhei para o homem em questão e tentei buscar em minha memória, se ele já tinha aparecido imagens, não consegui me lembrar de nada recente. Só de seu rosto naquele cemitério na Sérvia.

Olhei onde ele estava. Ao que tudo indicava, era o píer Oito. Bem perto de onde eu havia visto Will há duas horas atrás.

Como bem Jethro havia falado, eu iria ficar na cabeça deles, nem tanto assim, já que tinha me esquecido completamente de colocar o headset.

— Espero que não tenham sentido a minha falta! – Os saudei da maneira mais leve que podia.

— Olha quem finalmente resolveu se juntar aos mortais! A Rainha do Quarto Andar! – Will brincou com a minha cara.

— Tenho informações. O reconhecimento facial achou um de nossos amigos libaneses.

— Já não era sem tempo. – foi Will quem tornou a falar.

— Píer oito. E isso foi a pouco tempo atrás. – Eu disse.

— Já vamos voltar. – Jethro falou por fim. – Tem alguma ideia de qual barco?

— É o que estou olhando. Mas ainda não... E.

— E, o que, Shepard? – Gibbs realmente não estava em um bom humor.

— Eu acho que isso é uma emboscada. – Falei por fim.

— E por que você pensa assim? – Will pareceu curioso.

— Pelo simples fato de que eu só vi um dos homens, e naquele cemitério em Belgrado tinha, no mínimo 10 libaneses. E, além do mais, quem nos garante que Zukhov não avisou que possíveis agentes do NCIS não apareceriam? E mais uma coisinha, esse cara apareceu justamente no píer onde eu consegui te ver claramente, Will, por pelo menos duas vezes.

— Vamos voltar.

— Voltar, Gibbs? Estamos nesse porto há horas, estamos ensopados e eu estou morto de frio... voltar justo agora que temos uma pista é perder um dia de trabalho! – Decker protestou alto.

— Shepard pode estar certa. Já temos as câmeras, sabemos em quais dos portos eles podem aparecer. Vamos vigiar de longe, até que tenhamos mais pistas de que o carregamento vai ser entregue aqui.

— Então vamos abortar por hoje?

— Agora, Decker! – Jethro praticamente sibilou no intercomunicador.

E o dia de vigilância externa estava encerrado. Pelo menos para eles.

Eu, mais do que nunca, ficaria grudada no computador, à procura de qualquer vestígio de nossos alvos.

—------------------------

— Você tem certeza que encerrar a operação mais cedo hoje foi uma boa? – Jen tinha um olho no computador e outro em mim ou seria no copo de café que eu segurava?

— Tenho. Você disse a coisa certa! – Respondi a ela.

— Isso é um milagre! Você disse que eu estava certa. – Ela abriu um sorriso e molhou os lábios com a ponta da língua. Aquilo era tentador demais.

— E, então, como estamos com essa vigilância? – Para provar para mim mesmo para onde o olhar dela apontava com tanta concentração, balancei o copo de café, e ela o seguiu como um gato segue o voo de um pássaro.

— Até agora só apareceu mais um. Outro libanês, esse com uma ficha bem longa na InterPol. – Ela continuava seguindo o copo de café...

— Quer para com isso! – Eu gritei

— Parar com o que?  - Ela disse assustada.

— De seguir o meu copo de café!

— Mas Jethro... tem quase um mês que eu não tomo café! – Ela tentou pegar o copo da minha mão.

— Ordens médicas, Jen. Fique bem longe do café. – Sorri em direção a ela e bebi um gole generoso.

— Se você sabe que eu não posso beber, porque você tem que beber na minha frente? – Ela protestou igual a uma criança, com os olhos verdes arregalados.

— Porque eu posso beber café. E não vou parar porque você não pode. Falando nisso, onde está o seu chá? – Fingi procurar pela inseparável xícara que ela carregava para cima e para baixo.

Ela deu um sonoro suspiro de frustração e não me respondeu. Ficou murmurando algo que eu não entendi.

— É feio ficar xingando as pessoas. – Cutuquei mais um pouco. Ela estava começando a ficar com as bochechas vermelhas, não iria demorar para estourar. Ainda mais estando sem cafeína.

Jen se concentrou ainda mais no computador a sua frente e me ignorou completamente.

Quando eu pousei o copo de café bem na frente dela, simplesmente escutei.

— Não é possível! – Ela tinha os olhos apertados em claro sinal de fúria.

— Qual é, Jen, é só uma brincadeira... – Eu protestei da sua reação exagerada.

— Não estou falando do seu copo de café estúpido, Jethro. Você não faz ideia de quem acabou de desembarcar no píer oito!

Cheguei perto dela para poder olhar a tela. E ninguém mais do que o líder da célula tinha descido com todo aparato de segurança quase no coração da velha Londres.

— Abdul Samar. – Que, segundo a inteligência do Mossad, era um dos homens mais procurados no Oriente Médio.

— Você sabe o que ele é capaz de fazer, não sabe? – Jen me disse com receio.

— Com certeza. Seus “trabalhos” são conhecidos no mundo todo. Assim como seu ódio ao Ocidente. – Eu respondi.

— Nossa missão acaba de ficar ainda mais perigosa. – Jen disse finalista.

— Ele nunca foi nosso alvo. Deve ser um alvo dos israelenses. – Disse me sentando no sofá e encarando a tela.

— Assim espero. Não quero sair correndo atrás dessa gente... – Jen disse e começou a fazer o relatório para encaminhar para D.C..

Eu esperava que Morrow dissesse que esse cara não era nosso problema.

Por que se fosse... eu tinha certeza que não voltaríamos para casa tão cedo.


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Notas finais do capítulo

Sim! Eu coloquei a Jenny como a dona regra nº1! Pelo que vemos na série, as regras de Gibbs foram tiradas de algumas pessoas, nunca disseram quem é a inspiração para a primeira.. então eu criei! Bem do meu gosto, é verdade, mas eu não tô nem aí.
Muito obrigada por lerem.
Até o próximo que já está escrito e, bem, digamos, vai ter aquele momento Jibbs que vivem me pedindo!



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