Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 2
Ausência Forçada


Notas iniciais do capítulo

Ok, estou de volta!!
Esse capítulo ficou um tanto quanto grande, mas eu gostei tanto dele que não tive coragem de dividi-lo em dois!!



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Era para ser uma missão fácil. Depois de um mês e meio escondidos e acampados em um sótão minúsculo, tínhamos todos os dados necessários para executar a ordem. Uma simples ordem. Eliminar os dois comerciantes de armas e líderes de cartéis de drogas. Deveria ser limpo e rápido. Sem testemunhas e sem vestígios. Dois tiros em cada um deles e partir o mais rápido para Marselha.

Como eu disse, deveria. Mas não foi.

De algum modo que Decker não soube me explicar, os dois comerciantes tinham um esquema de segurança que colocaria inveja no presidente. Mas era papel do Decker e não do Jethro ou meu saber disso. Nossos papéis foram bem definidos na reunião em Washington. Decker vigiaria todo e qualquer local de aproximação ou execução. Era o papel dele nos cobrir. Enquanto Jethro e eu tínhamos o papel de executores e também e infiltrados. Chegaria o ponto em que teríamos que entrar em contato direto com nosso alvos. 

Acontece que Decker se distraiu com uma garota italiana. A menina mal saíra da adolescência e William caiu de amores por ele. Se esse era o tipo preferido dele, problema. Acontece que ele tinha um dever. Nos proteger. Vigiar o perímetro e não se trancar no quarto dele do outro lado da rua e, bem... caramba! A missão foi cumprida, mas a que custo!!

Eu não consigo fechar os olhos, pois toda vez que pisco me passa toda a cena em câmera lenta... é como voltar a um passado não tão distante e não poder fazer nada para mudá-lo...

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— É a nossa deixa. – Ele falou baixo, mesmo só estando nós dois dentro do sótão. – Quando eu contar até três, vamos fazer a batida. Dois tiros limpos, Jen. Você tem certeza que pode fazer isso?

— Posso, Jethro. Não é como se eu nunca tivesse matado alguém antes. – Disse – Vamos logo. Quanto mais cedo terminarmos aqui, podemos pegar o trem que parte à uma e treze para Marselha.

Mas antes que pudéssemos chegar à escada, ele me lançou um olhar que era um misto de interrogação e raiva.

— O que foi dessa vez, esqueci de colocar alguma peça de roupa importante? – brinquei diante do seu olhar e me chequei, só para ter certeza. Estava tudo ali.

— Sapatos. – Ele falou simplesmente.

— Estão no meu pé. – Mostrei o pé direito para ele. E notei que seu olhar demorou mais do que devia em minha perna estendida.

— Sim. Mas isso não é sapato para uma missão. Vá calçar algo apropriado. – Ele disse sério.

Há trinta segundos eu podia jurar que ele estava absorto olhando a minha perna e agora isso!

— Eu posso fazer qualquer coisa usando salto, Jethro! Pare de ser chauvinista! Pelo amor de Deus! Desde que me encontrou pela primeira vez, você só soube criticar meus sapatos. – Disse passando por ele e descendo as escadas. – e para o seu governo – parei alguns degraus abaixo e fitei seu rosto – posso andar com estes saltos e não fazer nenhum barulho.

— Sabe correr com eles também, caso precise? Porque eu não vou te pegar no colo quando você cair por conta de seu teimosia, Shepard.

— Sim, posso correr com eles também. E você não imagina o quão rápido. – Eu tinha o dedo bem na ponta do seu nariz.

Ele não disse mais nada, apenas afastou a minha mão e passou por mim me encarando. Eu não preciso de uma babá, quis dizer a ele, mas ali não era o lugar nem o momento certo.

Quando chegamos ao nível da rua, seguimos lado a lado, mantendo nosso disfarce de recém-casados. Era um absurdo! Tínhamos até aliança. Toda vez que incorporávamos os pombinhos apaixonados eu queria rir. Nunca existiram duas pessoas que nunca poderiam ter nada entre eles como Jethro e eu! Mas era parte do plano, então aceitamos. Éramos um casal em lua de mel nas ruas e parceiros que brigavam pelas mínimas coisas dentro do sótão.  Ou seja, verdadeiros cão e gata que não aguentam mais por esperar o fim da missão e da parceria!

Então, algo mudou. Estávamos quase no ponto exato para a execução quando ouvimos um barulho. Vasculhamos cuidadosamente a área enquanto fingíamos nos beijar apoiados no muro, contudo não vimos nada. Buscamos confirmação com Decker, porém não tivemos resposta e essa falta de resposta significava que tudo estava certo. Mas não estava. William não estava em seu posto e por isso, não fomos avisados dos dois seguranças, no melhor estilo guarda-roupa, que estavam escondidos no final do beco.

Fizemos nosso showzinho como combinado. Quando os dois homens nos notaram e tentaram nos tirar do beco onde a negociação aconteceria, sacamos nossas armar e os matamos ali mesmo. Sem barulho, sem alarde e, até onde sabíamos, sem testemunhas. Contudo não foi bem assim. Os dois seguranças reagiram na hora e começaram a atirar na nossa direção. Às vezes, ser uma pessoa pequena tem suas vantagens. Apesar de as balas terem passado perto da minha cabeça e braços, não fui atingida. O mesmo não posso dizer de Jethro. Ele fora atingido três vezes.

Logo que corremos, uma bala passou de raspão pelo seu braço esquerdo quase me acertando também.  Quando alcançamos a rua principal, uma bala o atingiu na perna. E quando ele virou para revidar, foi atingido em cheio entre o peito e o ombro direito, mas mesmo assim acertou o segurança. Nessa hora eu, que também revidava aos tiros, acabei por acertar o outro segurança e, com uma força que eu não sabia que tinha, consegui arrastar Jethro até à porta que nos levaria o Sótão.

Somente quando conseguimos subir dois andares que pude, enfim, dar a devida atenção aos ferimentos de meu parceiro. Eram feios. Estavam sangrando muito. Ele precisava de um médico com urgência, mas eu não podia levá-lo a nenhum hospital. Ferimentos à bala têm que ser reportados para a polícia local para a devida investigação. Se isso acontecesse, nossa missão estaria prejudicada. Não me restava nenhuma outra opção a não ser chamar por Decker e, eu mesma, tratar de Jethro. Era um problema sem precedentes, mas não tínhamos outra saída...

Decker demorou o que pareceu uma eternidade para atender ao maldito celular via satélite. Quando o fez, ainda reclamou que eu o tirei daquela que ele estava considerando uma das melhores noites da sua vida.

— Você tem noção do que acabou de fazer, Decker? Era para você estar vigiando o perímetro, não ocupado com essa garota italiana. Jethro acaba de ser baleado. TRÊS VEZES! E a culpa é sua, pois você não estava lá para nos dar cobertura! Agora venha até aqui e me ajude a cuidar dele.

— Jenn..

— Eu disse AGORA!

Não deu nem um minuto e ouvi um muito ofegante Decker entrar pela porta clamando mil e uma desculpas.

— Não é para mim que você deve dirigir as suas desculpas, William. É para ele. – Apontei a minha cabeça na direção de Gibbs.

— O que aconteceu?

— Não se preocupe com isso agora. Se preocupe em me ajudar a salvá-lo. Ele está perdendo muito sangue!

Por mais que tentássemos, o sangramento do tiro próximo do ombro não passava. Eu já não tinha o que fazer para pará-lo. Foi quando eu me lembrei que nós tínhamos um médico de plantão para casos assim. Eu só precisava de um telefonema.

 – Fique aqui com o Gibbs, Decker. Eu tenho que ligar para o médico.

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E aqui estou eu. Sentada no pequeno sofá que também é a cama de Jethro, enquanto Ducky está fazendo todo o possível para tirá-lo daquela situação.

Já perdi as contas de quantas vezes eu ofereci para ajudá-lo. De quantas voltas pela minúscula sala já dei e de quantos copos de café sem açúcar eu já tomei. Eu só tinha uma coisa em mente. Leroy Jethro Gibbs tinha que sair dessa.

Enquanto eu ficava a beira de um surto de nervoso, Decker me fez o favor de dar uma voltinha e atualizar ao escritório central da nossa situação. E quando ele voltou. Trouxe consigo um bolo de cartas. Tinha pelo menos umas quatro. E eu sabia para quem eram e de quem eram.

Com a primeira parte da missão chegando ao fim, Gibbs não teve a oportunidade de escrever à filha. Não que ele tenha me contado o que escrevia ou o porque de fazer isso, mas era um hábito que ele tinha e que eu admirava. Gostava da forma que ele arranjou de manter contato com a filha, mesmo não podendo contar muita coisa. Mas ele não vinha fazendo isso, e tenho certeza que Kelly deveria estar preocupada com a falta de notícias. Tive vontade de sentar e escrever para ela, para, poder colocá-la mais tranquila, mas percebi que ela não me conhecia. Seria uma quebra de confiança e da privacidade de Jethro se eu tomasse essa liberdade.

Decker entrou e deixou os envelopes de qualquer jeito pelo sofá. Quando ele virou as costas e foi para a cozinha, eu os arrumei pela data da postagem. Deveria ser a ordem correta das cartas.

Ducky demorou mais três horas dentro daquele quarto e cada minuto as minhas esperanças de que ele saísse com vida diminuíam. Em fim, ele saiu. Não tinha a melhor das feições e me passou um sermão de cuidados que eu teria que ter com Jethro pelos próximos dias. Ele ficaria por ali para me ajudar, até pelo menos que ele acordasse e pudesse se mexer.

— Foi tão ruim assim, Ducky? – Eu disse em um sussurro.

 – A bala que acertou o ombro, sim. Ele deve ficar de repouso absoluto, Jennifer. Só assim poderá se recuperar complemente.

— Entendo. Por quanto tempo?

— Vai depender dele. Mas Jethro é um homem forte e teimoso. Vai sair o mais rápido que puder.

Apenas balancei afirmativamente minha cabeça. Eu teria que ter esperanças.

— Se você quiser ficar lá com ele. Acho que ele apreciaria a sua companhia mais do que a minha. – Ducky tinha um sorriso no mínimo curioso para mim.

— Não vou atrapalhar? – Eu tinha medo de que o mínimo movimento pudesse piorar a sua situação.

— Ele apreciaria a sua preocupação.

— Eu não estou preocupada.

— Apenas fique lá um pouco e tire a suas conclusões, Jennifer. Vá.

Eu esperei. Mas, por um lado, eu precisava vê-lo para ter a certeza de que ele sairia dessa. Então peguei as cartas e rumei para o quartinho.

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 Ele me pareceu tão frágil e indefeso quando o olhei pela primeira vez naquela cama. Tão diferente do homem forte e teimoso e tão ciente da sua presença que ele é. Por um momento pensei que era errado estar ali. Mas por outro... eu não tinha onde ficar. Então sentei em uma cadeira aos pés da cama. Longe o suficiente para não parecer uma maluca que queria invadir o espaço pessoal dele, mas perto o bastante para saber que ele estava bem e respirando.

E, entre ficar de vigília ao pé da cama e fazer os relatórios necessários da ação, dois dias se passaram.

Eu não saía do lado dele para quase nada, somente quando Ducky vinha checá-lo, por uma questão de espaço e privacidade e quando era estritamente necessário.  

Foi quando me peguei encarando suas feições. E enquanto eu o olhava, várias coisas passaram pela minha cabeça. Da minha própria vida e escolhas, até mesmo preocupação com a filha e com a vida dele.

Estes últimos pensamentos me assustaram. Desde quando eu me importava a esse ponto com ele e com essa garota de quem eu somente sabia o nome? Tudo bem, se preocupar com o parceiro era normal. Mas era normal chorar por ele? Porque eu chorei. Quando me vi sozinha na sala, eu chorei por ele. Eu me culpei pelo que aconteceu, mesmo sabendo que não era minha culpa. Mas mesmo assim eu me culpei. Temia que ele não saísse dessa, temia pela sua vida e pelo futuro da sua filha...

 E, aqui estava eu, com os olhos ardendo novamente. Não sei quanto tempo eu passei encarando as suas feições. Pensando na minha vida, e na vida que ele havia deixado do outro lado do oceano. Eu sou uma trouxa mesmo. Quem tem que se preocupar com ele é a esposa e a filha, não eu. Mas era impossível não querer ficar aqui e cuidar dele. Ele tem um campo magnético forte demais para que eu tente não gravitar em volta... 

Balancei a cabeça. Meus pensamentos estavam me levando a um caminho errado. Suspirei alto e passei as mãos pelo rosto.

— Foco, Jenny. – Vi-me falando para mim mesma. – Foca no seu plano de cinco pontos. Você tem uma meta. Não deixe que nada, nem ninguém, te distraia disso.

Fácil de falar. Difícil de fazer, ainda mais quando, quando... quando eu estou perdidamente apaixonada por esse homem que é um mar de mistério para mim! Eu estou oficialmente perdida. Por que isso tinha que acontecer comigo?? 

Suspirei alto mais uma vez, sorrindo do absurdo da situação. Foi quando notei que duas orbes azuis me fitavam curiosas, mesmo que ainda meio grogues.

— Você acordou! – E eu não consegui disfarçar o alívio em minha voz. – Precisa de algo?

— Em que você tanto pensava, Jenny?

De todas as perguntas e pedidos que ele poderia fazer, ele fez justamente aquela que eu não sabia como responder.

— Em tudo o que deu errado. Em tudo o que eu deveria ter feito diferente. – Não era uma mentira, era uma meia verdade.

Ele deu um meio sorriso em minha direção e me estudou mais um pouco. 

— Parecia outra coisa.

— Não era.

E mais uma vez ele sorriu misterioso. Já não estava entendendo mais nada.

— Você sabe que quando mente, você tem um tique?

— O que?!

— Eu sei quando você mente. Percebi isso assim que nos conhecemos. E você não está sendo totalmente sincera comigo, Jenny. Mas acho que não deve ser nada demais, estou certo?

Como ele descobriu o meu tique tão rápido? A única pessoa que sabia disso era meu pai. Nem meu noivo, ex-noivo, sabia. Mas ele sabia. E agora eu não tinha saída.

— Não é nada que você tenha que se preocupar, Jethro. Nada mesmo. Problemas meus. Mas que não vão te afetar.

— Acredito em você. – ele tinha uma voz ainda grogue, mas ainda me fitava com uma atenção incomum. – Tem mais alguma coisa para mim? Quanto tempo eu estou aqui? E como você fez isso? – Ele tinha um olhar curioso e assustado para a bandagem em seu peito.

— Você está fora do ar por dois dias. E não me dê todo esse crédito. Não sou capaz de extrair uma bala em um local como esse e ainda deixar a pessoa viva. Foi Ducky. Eu tive que chamá-lo. Temi que você não saísse dessa. – Eu fora sincera demais. – Quer que o peça para entrar e te explicar a situação?

— Não. Posso ficar com isso sem saber o que foi feito.

Meneei a cabeça em acordo.

— Bom, agora que você está acordado e alerta. Vou te deixar descansar. Qualquer coisa pode me chamar. E saiba que é repouso absoluto. Sem sair daí. – apontei para a cama.

— Mas aqui é onde você dorme!

— Eu estou no sofá. Não sou essa princesinha frágil que você pensa. – brinquei com ele. – Posso muito bem dormir no sofá. – não que eu tivesse feito isso, mas ele não precisava saber.

— Não, mas sofá não é lugar para você dormir. Sendo você uma princesa ou uma mulher que anda armada. – Ele veio com o discurso dele.

— Sem discussão. Você não pode sair daí. – Foi quando eu percebi que ainda segurava as cartas de Kelly. – E isso aqui, é para você. Sua encomenda semanal.

Ele fez menção de pegá-las, mas não conseguiu. Não podia esticar o braço e ainda estava tonto pelos remédios.

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Eu tinha acordado há algum tempo. Notei que tinha alguém no quarto. Não me surpreendi por ser ela. Desde o momento em que ela viu o ferimento pude ler em seus olhos que ela se preocupara. Se preocupara demais até. Mas se fosse o contrário,  eu estaria da mesma forma. E aqui estava ela. De início ela não percebeu que eu a observava, tinha um olhar distante e de tempos em tempos sorria. Um sorriso cansado e com um significado que somente ela sabia. E esse sorriso me intrigou. Mas ao mesmo tempo em que sorria, ela chorava. Seria por mim. Acho que não.

Então ela viu que eu estava acordado e a encarava. Por um segundo eu a vi ficar vermelha. Foi rápido, mas ela enrubescera, então perguntou se eu precisava de algo. Eu precisava saber o que estava na mente dela. O que a fazia chorar e sorrir ao mesmo tempo. Quem seria ele?

Mas ela não foi completamente sincera comigo.  Não mentiu, mas tinha algo que ela não me contara. Ah, Jenny, por quê? Será que você não sabe que eu sei quando mente? E eu falei para ela isso. E sua reação disse mais do que a mera pergunta que ela fez. Ela ficou tão vermelha quanto seus cabelos. Deu um mínimo pulo da cadeira, então voltou à mesma expressão de antes. Concentrada, pensando em algo. E isso me enlouquecia. Eu vinha aprendendo a lê-la, mas ainda não a lia por completo. Foi quando ela me pediu para não me preocupar. Que não era nada importante. E ela estava sendo sincera. Eu podia ver isso em suas feições. 

Foi quando lembrei que não fazia ideia de que dia era. E me surpreendi com a bandagem no meu peito. Fora ela?

Shepard ficou sem graça quando perguntei se fora ela quem tirara a bala. Não fora. E por um lado eu me decepcionei. Mas então ela me afirmou que não sabia fazê-lo, contudo chamara Ducky para resolver. Ela teve medo de que eu não conseguisse. E, eu gostei de saber que ela se preocupou comigo a esse ponto. Ele ofereceu chamar Ducky para me explicar a minha situação. E se ele entrasse, ela sairia, disso eu tinha certeza. E eu a queria aqui dentro. Sua presença fazia toda situação mais fácil, então disse que podia conviver com isso, era só mais uma cicatriz no final das contas.

E ela fez aquilo que eu não queria que ela fizesse. Disse que sairia e me deixaria descansar. Tinha que ser rápido para mantê-la ali do meu lado.

Então, quando ela me disse que não poderia me levantar, que estava em repouso absoluto, me dei conta de que já eram dois dias ali, onde ela ficara?

No sofá, ela respondeu. Sofá não é lugar para ela dormir. Como eu já deveria saber, ela protestou, disse que não era uma princesa. Mas continuava sendo uma mulher, e mulheres não dormem em sofá enquanto os homens estão na cama! Porém, ela bateu o pé, disse que ficaria bem. Mentirosa. Eu pude ver que era outra mentira. Onde ela passara os dois últimos dias? 

Foi quando ela mudou de assunto e me entregou alguns envelopes. As cartas de Kelly! Eu fiz menção de pegar, mas não consegui. Foi quando recebi a proposta mais inesperada...

— Quer que eu as leia para você? – Ela tinha os olhos vermelhos de quem andara chorando e o rosto mostrava claros sinais de que ela não vinha dormindo.

 –Não precisa. Eu tenho que respondê-las.

— Jethro.... -  sua voz era calma – você não pode escrever, pelo menos não por enquanto. Eu juro que não li o conteúdo, mas pelo pouco que você falou, são cartas da sua filha, e nos últimos dois meses você não escreveu nada, então ela deve estar desesperada, e você ainda não está bem o suficiente para encarar esse bloco de cartas. Não me custará nada lê-las, se você não se importar... – Eu lia sinceridade e preocupação em cada uma de suas palavras.

Suspirei. Por mais que não quisesse, a ideia dela era a única viável no momento. Meu braço direito está imobilizado, eu tinha outros dois ferimentos que não me permitiam muita mobilidade. Ela era minha única forma de acalmar minha filha que esperava por notícias do outro lado do oceano.

 – Tudo bem. Tá pronta? 

— Sim... estou.... 

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Eu não sei da onde essa ideia maluca saiu. Juro que fiquei assustada quando as palavras saíram pela minha boca, mas aí já era tarde, e não tinha como eu voltar atrás. E, após isso, esperei ansiosamente que ele disse não. Contudo não foi o que ele disse. Ele concordou! E, bem, estou prestes a entrar no mundo particular de Leroy Jethro Gibbs e sua filha Kelly. Às vezes eu falo demais....

— Posso ir?

Não seu porque perguntei, sabia que ele não me responderia!

 

“Alexandria, 16 de março de 1998.

Carta 04

Papai!!!

Faz quase um mês que te mandei a última carta! Meu Deus! Como fiquei aflita! Pensei que tinha acontecido algo. Eu sei que o senhor está ocupado. Está trabalhando, e que eu tenho que me acostumar com isso, mas é que... bem... é difícil não ficar preocupada, me desculpe.  Mas sou assim!

Muito obrigada!!!! Duplamente!!

Primeiro pelo anel que mandou! Como sabia que caberia? Anel é algo tão difícil de acertar o tamanho!! Mas eu o amei! Não vou tirá-lo do dedo. 

E segundo, obrigada por me deixar ir à festa, e sim, seguirei todas suas recomendações, Sr. “Pai Ciumento do Ano”!! AHAHAHA! Sua filhinha sabe se comportar e vai curtir a festa como uma filha de Marine deve curtir!! Não irei te decepcionar. 

Mas só te pergunto uma coisa: Quem está me vigiando por aqui? Não vai me dizer que o Fornell!! Falando nele, eu juro que odeio fofoca, mas o senhor acredita que a Filha do Mal, também conhecida como Diane, está traindo a pequena Tartaruga Ninja do FBI?   Vovó veio com essa no jantar. E meu queixo foi ao chão! Mas vindo dela, eu não fico surpresa! Graças a Deus você se separou daquela cobra cascavel! E eu não sei se sinto pena ou se rio da cara do Fornell....

Lembra que eu te disse sobre entrar na faculdade no próximo outono. Então, eu acabei por decidir que ainda não estou pronta para isso... é muito cedo... mas tenho boas notícias. Já decidi o que eu quero! Não vou dizer nada. Vamos ver se o senhor é realmente um bom investigador!

E, falando em investigadores, como estão vocês dois aí? Ainda vivos? Com todos os membros no lugar? A cabeça sobre os pescoços? Espero que sim! Afinal quero meu pai de volta da mesma forma que ele foi e quero continuar ganhando essas fotos lindas! 

E uma última coisa, será que um dia eu vou conhecer a Jenny?

Te amo muito e sinto a sua falta.

Kells

(Aquela que vai para a festa e tem o melhor pai do mundo!!)

P.S.: são quatro da manhã e não consigo para de pensar em uma coisinha, esse anel aqui não é nenhum grampo ou localizador não, né? O senhor não faria isso com a sua filha querida, não né? Faria? Papai me diga que não!!”

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Eu não acredito que ele falou sobre mim com ela! E ela ainda queria me conhecer! Não sei quem ficou mais sem graça com essa parte da carta, eu ou ele! Porém eu tinha que quebrar o silêncio.

— Você quer que eu passe para a próxima ou quer responder a esta carta?

Ele suspirou fundo e quando finalmente me encarou apenas disse:

— Ah Kells... sempre me colocando em situação difícil. E, Jen, não leve a sério o que ela escreveu. Ela é simplesmente uma gozadora de primeira quando quer.

— Não levei.  — Ele não acreditou. – Sério, Jethro. Ela é sua filha e isso aqui é a sua correspondência pessoal. Eu não tenho que tentar entender ou da minha opinião.

— Nem uma palavra para nada?

— Sinceramente?

— Sim.

— Quem diabos é essa Diane que ela parece odiar tanto?

— Ex-esposa.

— Não precisa dizer mais nada! – Eu disse rindo. 

E como se fosse a coisa mais natural do mundo, ele me acompanhou na gargalhada.

— Ela é tão ruim assim?

— Você não faz ideia.

— Preciso temer pela minha vida caso ela seja daquele tipo “sou ex, mas ainda sou ciumenta”?

Ele considerou a minha pergunta e a minha reação à situação. Eu simplesmente estava rindo de tudo o que eu acabara de ler. Cada palavra daquela garota soava sincera e, o mais importante, mostrava o quanto ela não se importava de se abrir com seu pai. Kelly deve ser uma garota e tanto.

— Nah! Vocês duas em um mesmo local? – Ele sorriu de lado. – Vai ser o fim do mundo!

— Como assim?!

— Considerando as personalidades de vocês duas? Tenho pena de quem ficar por perto.

Ele achou a sua piadinha particular muito engraçada. Mas eu estava completamente perdida. Contudo, fiz uma nota mental para evitar essa tal de Diane, sabe-se lá o que ela pode aprontar...

— Posso ir para a próxima carta?

— Creio que não ficará mais constrangedora que essa.

— Se eu estiver certa, Kelly é uma adolescente, certo? Então se prepare, pois pode ficar sim! – Eu realmente estava gostando de ver a cara de pavor que ele acabara de fazer quando eu brinquei com isso!

 

” Alexandria, 23 de março de 1998

Carta 05

Olá você, Sr. Sumido!

Pai! Tá tudo bem? Eu sei que é difícil manter contato, você me avisou na última carta que poderiam ocorrer atrasos, mas já faz mais de um mês que a sua carta chegou... e eu estou com um mal pressentimento. Sei que você acabou de revirar os olhos e levantar a sobrancelha direita para o que escrevi, mas é a mais pura verdade. Estou preocupara e ponto final.

Bom, com a sua falta de notícias, passo para o meu relatório semanal.

A festa da Mer e da Maddie já aconteceu. Sua filha chegou em casa às 10:02 da noite, e sua sogra, ou ex-sogra, não sei bem como nomeá-la, estava me esperando ainda acordada. Não tentei levar nenhum garoto escondido para dentro do quarto e me portei muito bem durante toda a noite. Não bebi, não fumei, somente curti com as minhas amigas o aniversário delas. A festa foi ótima. E eu adorei cada segundo. O ruim foi voltar para casa e não poder te contar imediatamente todas as coisas. Os momentos engraçados e os momentos de pagação geral de mico. Sim, teve o famigerado “Com quem será!” e a coitada da Mer não sabia onde enfiava a cara. Sabe, cantaram o nome do Johnny, um garoto pelo qual ela sempre teve um crush, e ela ficou tão vermelha, mas tão vermelha que poderia se camuflar na toalha da mesa. Já a Maddie, bem, ela não ligou. Ela nunca liga.... mas foi engraçada as reações dos envolvidos. Esse é um dos motivos pelos quais eu não gosto de festa... tem esses momentos que te constrangem para a eternidade!

Mas mudando de assunto, as provas de meio de semestre estão chegando e, pelo menos pelas minhas contas eu estou com uma média excelente, daquelas de orgulhar qualquer Marine. Será que você conhece algum pai? Minha agenda tá cheia até mais ou menos meados de abril, ou seja, só vou poder descansar mesmo nas férias de primavera, que, por sinal, continua com o plano inicial. Vamos todos para Stillwater! Preciso ter medo do seu passado, pai? E do da mamãe? Será que vou encontrar alguma foto constrangedora do anuário escolar de vocês lá? Ou será que vou descobrir que meu pai era o senhor popularidade? O quarteback pelo qual todas as garotas suspiravam? A mamãe? Será que era popular, ou passava despercebida como eu?  AHAHA! Vou descobrir o seu passado! E isso está me deixando ansiosa, de um jeito bom, é claro. Será divertido!

Papai, mande notícias, nem que seja só um bilhetinho... preciso saber se você está bem. Se tudo está correndo bem por aí. 

Um beijo e te amo.

Da sua filha que está muito preocupada.

Kelly”

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— Até que essa não tem nada de constrangedor. – Ele quebrou o silêncio mais rápido que é o normal dele.

— Se você diz... 

— O que eu perdi disso aí?

Eu ri da cara dele! Não era lógico! A filha dele tinha pavor do “Com quem será”, isso só acontece quando se tem aquela paixonite de adolescente que você tem medo de contar para todos, principalmente para o seu pai coruja. Mas eu não entregaria a garota. Por mais incrível que pareça, eu estava me afeiçoando à ela, somente pela forma como escrevia.

— Shepard? O que eu perdi?

— Sua filha especulando sobre o seu passado, Gibbs! Não vê o quão curiosa ela está? E te garanto que ela vai trazer todas as suas lembranças dolorosas do ensino médio de volta, assim que ela voltar de... como é o nome da sua cidade natal, mesmo?

— Stillwater.

— Isso. Agora eu te pergunto, você tem algo que mereça ficar enterrado sobre as paredes de lá?

Ele não respondeu de imediato. Pensou e pensou. Eu acredito que não, afinal, se ele era o quarterback da escola, ele era o cara. Daquele tipo que eu caia de amores quando estava no colégio, mas que ao mesmo tempo mantinha distância, pois suas namoradas eram perturbadoramente chatas e inconvenientes.

— Do Colégio? Não... Meu pai quem me preocupa.

Como ele não falou mais nada, eu deixei pra lá, contudo, esperaria pelas próximas cartas para saber mais sobre o senhor popularidade.

— Está pronto para a seguinte?

— Quantas ainda tem?

— Mais três! Você deixou de escrever por um tempo...

— Tenho escolha?

— Se essa aqui é a que ela desenterrou o seu passado, não, você não tem!

— Não fique se achando, Jenny. Você deve ter coisa pior! Sua carinha de menina certinha deve esconder um passado e tanto.

— Nada. Era a nerd que queria virar agente federal. E isso não soa tão legal no ensino médio quanto soa depois que se consegue o distintivo...

— Tem mais, tem muito mais aí – ele sorria. – talvez eu ainda descubra.

— Talvez sim. Talvez não. Vamos? – Disse mostrando a carta.

— Mudando de assunto. Não foi uma jogada inteligente...

— Não se esqueça, seu passado está nas minhas mãos! – Lancei um olhar vencedor.

— Um dia será o seu nas minhas mãos.

— Isso foi uma ameaça?

— Talvez sim. Talvez não.

Eu só o olhei. Ele tem o péssimo hábito de repetir as minhas palavras.

“Alexandria, 30 de março de 1998.

Carta 06

Papai!!! Isso é sério!

Já te mandei duas cartas, três se você contar com essa, e você não me mandou nem um sinal de fumaça! Pelo amor de Deus! Onde você está? O que está acontecendo? Eu preciso de notícias! Se o senhor não me responder eu vou dar um jeito de ir até a sede do NCIS e vou obrigar o diretor a me contar o que realmente está acontecendo! Eu não posso ficar sem notícias suas! Toda essa falta de comunicação está me deixando muito, mas muito preocupada. Não que o senhor fale muito, mas deu pra entender, né?

Olha aqui, se o senhor não me responder, eu escrevo para a Jenny! Eu não sei qual é o nome completo dela, mas creio que ela será capaz de me responder o que eu preciso. E se ela não fizer, eu juro que quando eu a encontrar vou dar uns bons tapas nela!!!

Eu não estou nada feliz com isso! Não mesmo! E não deveria te atualizar da minha vida! Mas, por outro lado, acho que todo esse silêncio não é por sua vontade...

As provas finalmente chegaram. Estou indo bem. Mesmo com toda essa preocupação com você! São ao todo duas longas semanas de provas, seminários e entrega dos ensaios que fiz. Me deseje, mesmo que mentalmente sorte. Sempre é bom. 

No mais, estamos começando os preparativos para a nossa viagem... Mas a esse ponto eu não sei se quero ir. Como posso ir parar longe de casa quando não tenho notícias suas? Não tem clima nenhum!!

Prometo escrever mais um carta antes de saber notícias suas. 

Da sua filha que está subindo pelas paredes de preocupação.

Kelly

P.S.: lembra na primeira carta que eu disse que a primeira coisa que faço todas as manhãs é pedir que você fique bem? Pois é, esse ritual continua. Acrescentei o nome da Jenny também, mesmo não a conhecendo, pois se ela ficar segura, ela pode te ajudar se algo acontecer, e se você estiver vem, pode fazer a mesma coisa.

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Essa garota é realmente especial! A preocupação genuína com o pai, a forma como ela levava a vida de forma responsável. Jethro a tinha criado bem. Mas parecia que algo estava faltando. Não sei, tive a impressão de que a mãe não estava presente. Mas não comentei nada.

— Acho que terei que agradecer a essa prece que ela faz toda manhã... – eu disse um tanto sem graça.

— Achei que você iria mandá-la ficar quieta sobre o fato de ela querer te bater.

— Pode parecer estranho, mas sei o que ela está passando. Meu pai, como eu já te disse, era do Exército, e vivia indo e vindo e eu só tinha a governanta para conversar. Às vezes, ele me escrevia, mas eu não tinha como responder. Então resolvi montar tipo um diário para que ele soubesse de tudo o que fiz. Quanto à Kelly, ela sabe que tem recursos para te achar, então ela vai fazer o possível e, muito provavelmente, o impossível para ter notícias suas. Sua filha te ama muito, Jethro. E é por isso que ela desabafou daquele jeito. Completamente compreensível.

Ele não disse nada. Ficou me olhando como se quisesse me perguntar algo. E eu sabia exatamente o que era.

— Ela morreu. Minha mãe e minha irmã. Eu era muito nova, tinha oito anos. Sei que saímos para visitar meus avôs maternos, eu estava dormindo no banco traseiro, não vi o acidente. Quando acordei, estava no hospital, meu pai com cara assustada ao meu lado. Ele não me disse nada. Não conseguiu. Mas de alguma forma eu sabia. Sabia que nunca mais veria nenhuma das duas...

— Eu sinto muito. 

— Foi há muito tempo...

— Shannon também morreu. A mãe da Kelly, minha esposa. Foi assassinada quando eu estava no Golfo. Kelly tinha oito anos na época. 

— Eu... dizer sinto muito não vai ajudar, mas sinto muito. Por você e por ela. Isso explica o fato de vocês dois serem tão próximos...

— Esse foi o motivo pelo qual eu entrei no NCIS. Queria ajudar outras famílias que passam pela mesma situação.

Eu apenas concordei. Sempre quis ser agente federal. Quando era mais nova, eu achava que era o melhor emprego do mundo. Que todos iriam me respeitar, afinal, além de trabalhar para o governo, eu também teria um distintivo e uma arma. Porém, depois de tudo o que aconteceu comigo, já não era esse o meu objetivo. E depois do que Jethro me disse, eu me senti a pessoa mais egoísta do planeta.

— Jen, você ainda tá aqui?

— Oi?! Sim! É só... quer a próxima? É a última do bolo. 

— Vá em frente.

—---------------

“Alexandria, 10 de Abril de 1998.

Carta 07

Pai,

Como eu já, essa aqui é última carta que eu mando antes de ir atrás de sei lá quem para ter notícias suas. 

Juro que estou tentando ser positiva. Sei que falta de notícias também significa coisa boa, afinal, se algo de ruim tivesse acontecido, alguém já teria aparecido na nossa porta. E é nisso que me agarro. Mas mesmo assim, tem sido difícil. Papai, eu tô com medo de ficar sozinha. Não posso te perder como perdi a mamãe. Não vou ser capaz de passar por tudo aquilo. Por favor, esteja bem. Me mande só um “olá, estou bem. Quando puder te mando uma carta maior.” 

Desculpa as marcas de lágrimas no papel, mas é só aqui que eu posso chorar de verdade, vovó acha que eu estou sendo boba, que você está tendo um caso com a Jenny e por isso deixou de escrever. Eu sei que não é isso. Sinto que algo aconteceu, que você não está bem. Mas ela acha que é exagero.

Mas eu vou esperar mais um pouco, ter fé que tudo está bem. Porque sei que você sempre cumpre suas promessas. E você prometeu voltar. 

Mudando de assunto. As provas acabaram e você pode parabenizar sua garota aqui! Só tirei nota alta. Minha média está toda acima de 93%. Quero outro presente por isso. Brincadeira. Era só para descontrair. Agora tenho duas semanas de descanso e vamos para a parte final do semestre. E eu sei que quando as férias de verão chegarem serão menos seis meses de sua missão. Os 24 meses passarão a ser 18!

Agora eu vou indo, era para eu estar arrumando a minha mala para Stillwater, mas tô te escrevendo essa carta. Amanhã partimos cedo. Espero que quando voltar, tenha alguma boa notícia.

Estou com saudades. Te amo.

Kelly

(Nunca duvide que eu vou descobrir o que aconteceu, hein Marine?)”

—--------

— E essa foi a última. – anunciei. 

Era estranho. Eu consegui me conectar com a preocupação da Kelly. Não somente com relação ao Jethro. Se depender de mim, ele sempre ficará seguro, mas com relação à preocupação dela com o pai. Em ter notícias. O elo entre ela e Gibbs era tão forte quanto o que eu tive com o meu pai. Nós duas seríamos capazes de fazer qualquer coisa por eles. Para deixá-los orgulhosos.

Enquanto eu pensava nisso, vi Jethro parar e pensar. Acho que depois de tantos pedidos de uma outra carta, ele estava considerando como responder a tudo.

— Posso te pedir um favor? 

— Claro!

— Você escreveria a minha resposta para a Kelly. Preciso respondê-la antes que ela pare no escritório atrás do Diretor Morrow.

Sem querer eu soltei uma risada um pouco alta demais e ele me olhou atravessado.

— Está rindo do que?

— Tentando imaginar a sua filha buscando por respostas diretamente com o Diretor. Se ela tiver 50% da sua atitude, ele vai estar em maus lençóis, porque ela só sai de lá depois que ela conseguir falar com você!

Ele me acompanhou na risada. Creio que estava imaginando a mesma cena que eu. Até que me surpreendeu.

— Vocês duas se dariam bem. São duas teimosas que tentam se impor mesmo não tendo toda essa altura.

— Você acaba de me chamar de baixinha?

— E por que mais você usaria esses saltos tão altos?

— Homens realmente não entendem a importância de um bom par de saltos! Nem vou me dignar a te responder, Jethro. Não vou!

— Olha aí... seria a mesma resposta que a Kelly me daria.

— E eu dou toda a razão. Preciso dizer isso a ela.

— Dizer o que?

— Que ela tem uma aliada contra você e sua falta de conhecimento pelo universo feminino!

— Ainda bem que tem um oceano e meio continente separando vocês duas.

— Isso pode não durar para sempre!

— Será que você pode começar a escrever?

— Olha quem está mudando de assunto agora!

Ele não retrucou, apenas me olhou torto.

— Como eu já te disse, sou filha de militar, esse seu olhar não me assusta!


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Notas finais do capítulo

Como eu disse, a série não contou muito sobre o passado da Jenny, então eu posso inventar o que bem quero! Mas uma irmã foi citada, por isso a coloco aqui. E achei importante que a Kelly e. Shepard tivessem uma tragedia em comum só para que a conexão entre as duas fosse de forma automática, mesmo elas não se conhecendo!
Agradeço por lerem!! Até o próximo!



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