Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 18
O Carma de Jethro


Notas iniciais do capítulo

Estou de volta!! Antes tarde do que nunca! o/o/o/
Eu sei que pareceu que as coisas iriam começar a ficar ruins, mas eu tive que trazer a Kelly de volta antes de entrar em um terreno perigoso!
Então, para quem estava com saudades dela, vem aí a primeira parte das cartas de Kelly.
Boa leitura!



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— E então, vocês estão de acordo com isso? – Will perguntou. Para ser sincera, eu nem lembrava mais que ele ainda estava neste quarto conosco.

Olhei em sua direção, minha latente dor de cabeça não me deixando vê-lo direito. Estreitei os olhos na sua direção e estava pensando em uma resposta bem sarcástica, mas desisti. Ele não tinha culpa sobre o que estava para acontecer dentro de pouco mais de vinte e quatro horas.

— Temos outra alternativa, Decker? – Foi Jethro quem respondeu por mim.

Foi aí que Will percebeu a besteira que tinha dito.

— Você sabe, Gibbs. Isso foi aquela espécie de pergunta retórica. Eu não... deixa pra lá. – Ele desistiu assim que encarou Jethro. Não sei se porque ele realmente percebeu que a pergunta foi feita em uma péssima hora, ou se foi pela encarada que ele recebeu de Gibbs.

Eu olhava de um para outro. Meu estômago se retorcia de nervoso. Algo me dizia que não seria fácil. Na verdade, eu tinha a sensação de que algo muito errado iria sair desse encontro.

Eu só não sabia o que era ou com quem.

— Você vai ser o nosso backup, Will? – Perguntei tentando evitar que uma evidente briga começasse dentro daquele quarto.

— Sim. Dessa vez eu estarei do lado de fora. Vocês dois vão entrar pelo portão que fica do lado da igreja. Eu estarei parado perto do portão dos fundos. Pelas informações coletadas, o encontro vai ocorrer perto do túmulo de um dos antigos comparsas de Zukhov.

— Entendo.  – Respondi sem animação.

— Espero que dessa vez, você realmente esteja lá, Decker. – Jethro grunhiu.

— Achei que tínhamos enterrado o assunto “Positano”. – Ele respondeu resoluto, se levantando da cadeira e encarando Gibbs.

Era possível cortar a tensão entre os dois com uma faca, enquanto um inconscientemente chegava mais perto do outro.

— Sim. Deixamos esse assunto naquela reunião em Marselha, há mais de três meses atrás. Será que podemos focar no que vamos fazer amanhã? – Pedi com a máxima paciência que tinha, afastando os dois, puxando Jethro para perto da cama e o sentando ali. Nesse arranjo, acabei por ficar de pé, exatamente à meia distância dos dois.

— Nossa missão amanhã é só vigilância? Nada de confrontação pelo que entendi até agora. – Disse me virando para Decker. Deixando Jethro cuidar da própria dor de cabeça.

— Até segunda ordem, sim. Mas...

— Não me diga que D.C. ainda acha que podemos usar algum elemento surpresa?! – Gibbs disse exasperado.

— Elemento surpresa, não. Mas agora entrou mais gente na jogada. De acordo com alguns contatos no Mossad, um navio libanês está em um porto da Grécia, somente aguardando ordens, para poder descarregar alguns armamentos e, por conseguinte, rumar para a Inglaterra.

— Mossad?! Estamos trabalhando com os israelenses agora? – Disse espantada.

— Foram essas as instruções que recebi. – Decker deu de ombros. – Mas, se quer a minha opinião, acho difícil de confiar neles.

— Certo. E devemos descobrir em qual porto está este navio? – Jethro, finalmente, tinha a cabeça na conversa.

— Não. Devemos tentar descobrir quem são estes negociantes. A informação vinda de Israel não conseguiu a identificação da célula.

— Missão um tanto complicada. Como vamos saber se na nossa frente está realmente o líder? – Ponderei mais para mim do que para os dois homens que estavam no quarto.

— Pense que é somente um reconhecimento. – Decker tentou, novamente, ver o lado positivo.

— Parece fácil demais. – Eu murmurei me sentando na cama. Algo tinha se acendido na minha cabeça. Um sinal de alerta.

— Sabe o horário exato? – Jethro perguntou.

— Informo amanhã. Coisas assim não acontecem à luz do dia. – Will se levantou e, antes de rumar para a porta, deixou duas coisas na mesinha de centro, bem em cima das duas pastas contendo os detalhes e inteligência da missão. – Divirtam-se. Parece que alguém não sabe ouvir um não. – Ele apontou para um envelope e um embrulho e saiu.

A porta nem tinha fechado. E tanto eu quanto Jethro levantamos em um átimo em direção à mesinha.

— Se tem alguém nesse mundo que tem um timing perfeito para mandar cartas, esse alguém se chama Kelly Gibbs! - Sorri quando vi o envelope destinado a mim.

— Eu acho que fiz um bom trabalho na criação dela. – Jethro se gabou um pouquinho.

— Vou te dar o benefício da dúvida neste caso, Jethro. Só porque estou muito contente com estas notícias.

Peguei o envelope e rasguei com cuidado. E, logo algumas folhas de papel caíram de lá. Definitivamente, isso aqui iria me distrair da sensação ruim que crescia dentro de mim.

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Alexandria, 30 de agosto de 1998.

Carta 05

Oi Jen!! (Eu acho que já posso te chamar assim, né?, Já conversei por telefone e já sei como você é!!)

Aliás, tirando o cabelo ruivo, você é completamente diferente do que eu tinha imaginado!! Sua aparência não condiz com a sua personalidade. Sério, e eu digo isso de um jeito bom. Quem te olha, pensa que você é incapaz de fazer mal a uma mosca. Mas pelo que pude aprender, a sua personalidade é totalmente o oposto!! Meu Deus! Você tem que me ensinar a ser assim! Agora, eu fico aqui pensando, quantas pessoas tentaram te julgar pela aparência e acabaram se dando mal? Sei que meu pai deve ter sido uma dessas pessoas... e o seu payback deve ser hilário, porque a pessoa deve ficar pasma!

Bem... eu tenho novidades.

Tá pronta? Tá sentada? E bem longe do meu pai?

Sabe por que eu tô fazendo esse interrogatório todo?

Porque eu e Henry finalmente saímos!! Não foi nada muito glamoroso, só um shopping e um filme. Bem inocente, o filme. Não tinha muita gente na sessão, então... bem, não me pergunte muito sobre o enredo, porque eu não lembro... sim... rolou uns amassos. Mas não passei disso!!!! Eu estou tão feliz!!!! Tipo aquela pessoa que não para de ficar cantando sozinha? Pois é, sou eu... Mer e Maddie acham que eu estou fantasiando muito para um primeiro encontro, mas quer saber, nem ligo! Foi o melhor finalzinho de verão que eu tive. As aulas começam dentro de dois dias. E, dessa vez eu vou entrar na escola mais feliz do que nunca.

Primeiro, porque só faltam mais dois anos para eu me livrar daquele lugar e daquelas líderes de torcida falsas.

Segundo, eu vou entrar no segundo ano com um namorado!!!

O único problema: Meu pai não pode nem sonhar, por enquanto... Até porque sei que você não deve ter trago o assunto à tona... nem eu saberia como dizer a alguém que eu sei que única filha dele está namorando. Mas se você descobrir um jeito, conta pra ele por mim... porque eu não tô com muita coragem para fazer isso não. Na carta dele eu até comecei a rodear um assunto parecido, porém fiquei só nisso... sou covarde mesmo.... nem comece a rir.

Agora um assunto muito importante:

Eu estive na porta do NCIS para estrangular o Diretor Chato de Galocha. Sério. Bem na porta. Estava eu, toda feliz, passeando pelos arredores de D.C., quando me vi na porta do Estaleiro Naval... E, Jen... eu quase derrubei os dois Marines que estavam de guarda e dei uma de louca e entrei igual a um carro sem freio naquele lugar para esganar o diretor... Sim... esse é o tamanho da minha raiva! Mas foi aí que eu lembrei que esse tipo de notícia chegaria muito rápido até o quintos dos infernos e no fim de mundo que vocês estão. Então eu desisti.

Bem, por isso e por outro fator: Eu não faço a mínima ideia de como esse diretor é. Então, de que adiantaria eu entrar lá se eu me visse perdida no meio do prédio, perguntando onde era a sala do dito cujo para que eu pudesse enforcá-lo? Nada, né? Então, eu foquei a minha raiva em outra coisa.

Entrei pra aula de defesa pessoal!

Isso mesmo! Tem duas semanas que eu sinto dores em TODOS os meus músculos! Todos eles.  Mas eu decidi que, seu eu quero seguir carreira na Marinha, depois que sair da faculdade, eu tenho que começar a fazer alguma coisa. Escolhi uma arte marcial israelense chamada Krav Maga. Tenho certeza que você conhece. Assim, eu estou nessa, na verdade, mais apanhando do que tudo, porém adorando. Isso é algo que meu pai vai ficar orgulhoso. Ou vai acabar de surtar.

Falando em surto do meu amado paizinho. Você contou para ele o que significava redecorar a casa no estilo Sherlock Holmes? Se contou, como ele reagiu? Igual ou mais hilário do que a reação com o sapato? Porque aquilo foi homérico. Eu ria tanto que comecei a chorar. Tadinho do meu pai... tá sofrendo na sua mão... fazia tempo que ele não era colocado na linha assim. Bem, quero dizer, das duas ex que ele tem, uma até que tentou, a Diane era absurdamente louca... possessiva... maluca de tudo, mas tinha lá o seu lado engraçado. Acabou que trocou o meu pai por um agente do FBI chamado Fornell, isso porque papai e Fornell são amigos...ou eram, ou são de novo, não sei, só sei que a Diane trocou o Fornell por outro e papai e ele voltaram a conversar. Essa conversa deve ser sobre como um chifre dói, ou algo parecido. (Não me julgue, falo mesmo!!) Já a Rebecca... céus que mulher fútil. E chata, essa aí não teve chance. Não ganhou nenhuma com ele. E o casamento foi para água abaixo com menos de um ano. Eu fiquei tão triste por ela... só que não, é lógico. Nunca mais vi essa coisa. A Diane de vez em quando eu tropeço nela na rua. Ela me olha de cima embaixo e murmura qualquer coisa como: “Tinha que ter os malditos olhos azuis do pai?”, e eu, como uma boa menina que sou, olho bem na cara dela e dou o meu sorriso mais angelical. Você sabe como é, né? A gente perde a amizade, mas não pode deixar de provocar....

Como você viu, Jen, eu sou um anjinho de candura. Não faço mal para ninguém. Nem penso coisas más de ninguém. É só não mexer comigo!!!!

Brincadeiras à parte, e fofocas também.... como estão aí no Fim do mundo? Não vou escrever onde para não comprometer ninguém. Arranjaram alguma coisa para fazer? Espero que sim.

Faltam dezesseis meses para isso acabar.... estou contando todos os dias.

E só mais uma coisinha. Se cuida. Sim, você. Sonhei com você outro dia. Não foi legal.... tinha um cemitério... credo.

Beijos e até a próxima carta.

P.S.: Ah, eu mandei uma coisinha para o meu pai. Me diga o que você acha!

Fui.

Kelly.

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Eu não acredito no que acabei de ler... ou melhor. Eu deveria ter ficado calada enquanto lia a carta, porque quando eu passei na parte do encontro e da confirmação do namoro, eu comecei a rir como se fosse eu, e não uma garota de 15 anos que eu nunca vi, quem estivesse começando o primeiro namoro.

Como eu disse, eu deveria ter ficado quieta. Mas não consegui. E meus sorrisinhos chamaram a atenção de Jethro. Diria que chamaram a atenção total dele, pois ele ficou me encarando, sem nem abrir o pacote que lhe era destinado.

— O que de tão engraçado Kelly está te contando? – Ele quis saber, sentado do outro lado do quarto.

Droga, eu deveria ter me trancado no banheiro para ler essa aqui.

— Para quem sempre disse não se importar sobre o que nós duas conversamos, você está muito curioso. – Tentei trocar de assunto.

— Normalmente não ligo, mas você está sorrindo igual a uma colegial, Jen.

— E daí. Sua filha tem senso de humor.

— Sim, Kelly tem senso de humor. Mas não foi uma piada que ela te contou. – Ele me analisava do outro lado do quarto. E eu rezava internamente para que ele continuasse ali, porque se ele chegasse muito perto, aqueles olhos azuis eram capazes de me hipnotizar...

— Então, como você já sabe disso, não precisa se preocupar. – Terminei o assunto e comecei a olhar na minha bolsa pelo meu bloco de notas e uma caneta. Eu precisava começar essa resposta urgentemente.

Na minha pressa de procurar pela minha caneta sumida, não escutei que ele tinha se levantado da cadeira e estava parado do outro lado da cama. Tentando ler o que a filha tinha escrito. A carta estava em meu colo, então, como um gato, ele subiu na cama e tentou ler o conteúdo. Quando senti a sua mão esbarrar na minha coxa, tomei um susto.

— O que você pensa que está fazendo? – Tirei a carta das mãos dele o mais rápido possível.

— Só quero saber a piada. – Ele usou de tudo poder de seus olhos em mim.

— Já disse que não tem nada demais. – Retruquei e tentei sair de perto dele.

Mas eu ainda estava com dor de cabeça. Muita. E não consegui fazer um movimento muito rápido.

— Você está parecendo uma colegial, Jen, daquelas que tem uma fofoca para contar para a melhor amiga. E essa fofoca geralmente envolve....

E aí ele parou.

Eu mordi meu lábio inferior.

Ele me olhou estarrecido. Suas feições perderam a cor. Ele ficou pálido. Depois, na mesma velocidade, seus olhos faiscaram, seu rosto assumiu uma cor vermelha. Mas ele não estava corando de vergonha. Não, aquilo era outro tom de vermelho.

E eu me lembrava do meu pai ficar da mesma cor quando me pegou com Michael dentro daquele carro.

Jethro fez a associação rápido demais. Mas, por mais que seu cérebro estivesse trabalhando a mil quilômetros por hora, sua boca não emitia nenhum som.

Graças a Deus que Kelly e Henry estão a muitos milhares de quilômetros daqui.

Jethro respirou fundo, suas narinas inflaram, e seus lindos olhos azuis estavam escuros. Escuros e transmitiam um desejo assassino.

Meu Deus! Essa garota nem é minha filha e eu vou ter que domar a fera do pai dela para tentar explicar o que é inexplicável. Afinal, todo mundo sabe o que é um namoro, não sabe?

Gibbs cerrou os punhos e me olhou.

— O quanto você sabe? – A voz era sufocada, quase um grunhido de um animal ferido.

Epa....

— Que ela está namorando um garoto da sala dela. O nome dele é Henry. E só.

— Só? – Ele sibilou.

— E que eles saíram para ver um filme. Uma sessão de tarde.

Ele levantou a sobrancelha na minha direção como se dissesse: “E?”

— Olha, Jethro, você conhece a mecânica do primeiro encontro, não conhece?

Ele não me respondeu.

— Não me faça dizer isso. Vai doer mais. – Eu o alertei.

Ele continuou petrificado do outro lado da cama, sua mão ainda apoiada na minha coxa. Então eu tive uma brilhante ideia. Ao invés de contar o que aconteceu, eu demonstrei. E ele me respondeu na hora. Acho que um pouco mais animado que um garoto de quinze anos, já que um garoto não tem essa pegada.

— Viu. Foi isso que aconteceu. – Eu disse com o maior dos sorrisos.  – Mas acho que não nesta intensidade.

— Isso?! – Ele disse rouco.

— Quis dizer o beijo, Jethro. O restante foi a sua dependência pela minha pessoa. – Me fingi de inocente.

— Você está me dizendo que a minha filha foi para o cinema e ficou beijando um garoto durante o filme.

— Não. Eu disse que a sua filha deu um beijo no garoto. Não aumente as minhas palavras.

— Palavras?!

— Ações. Tudo bem? Kelly está namorando. Foi ao cinema e trocou alguns beijos. Que mal faz? – Eu perguntei baixinho, bem perto da orelha dele.

— O problema, Jen, é um só: Estamos falando da minha filha. Minha filha e um garoto que não deve saber manter as mãos dele só para ele. Dentro de um cinema. Uma sala escura, Jenny.

— Vai me dizer que você nunca beijou ninguém dentro do cinema, Jethro? – Eu o olhei critica.

— Eu já tive quinze anos, Jen. E de onde eu vim, não tinha cinema, mas eu sei exatamente bem o que o garoto de quinze anos quer.

Quanto a isso eu não tinha respostas. Então só o encarei com a sobrancelha levantada. Mas foi aí que ele completou a frase.

— E para a sua informação, eu já fiz muito mais do que beijar alguém dentro do cinema.

Por alguns segundos eu fiquei apática. Mas então, tive outra ideia.

— Então, deve ser por isso que você está com tanto ciúme e tão preocupado. E, aliás, eu já ouvi uma história que dizia mais ou menos assim: “Aqui se faz, aqui se paga.” Então, Jethro, reza para que o Henry seja comportado. Mas tenho certeza que é, Kelly não teria esse dedo podre. – Dei um sorrisinho sarcástico na direção dele, peguei a carta, o bloco de notas e minha caneta e fui para a mesinha escrever a minha resposta.

— Você não parece se importar com o meu comportamento, Jen. – Ele, agora deitado na cama, com as mãos atrás da cabeça, me olhava com ironia.

— Eu deixei de ser a garotinha do papai há muito tempo, Jethro. Não confunda as coisas. – Tornei minha atenção à carta que iria escrever. Até que fui tomada pela curiosidade. E voltei a olhar para ele.

— Então... – fingi um falso nervosismo.

Ele entendeu como um convite ou uma tentativa de voltar à conversa do cinema.

— Diga. – Sua voz um ronronar suave.

— Não vai abrir esse pacote, não? – Joguei o embrulho na direção dele. E, para a minha completa decepção, ele pegou com uma única mão.

— Exibido. – Murmurei por baixo da minha respiração.

Como ele gosta de se exibir e inflar o ego já enorme, ele jogou o pacote para o alto e pegou com a outra mão. Eu o olhava sem o mínimo interesse na sua necessidade repentina de se mostrar como o quarterback bonitão da escola. Mas meu cérebro, que sempre conspira contra mim, forjou uma imagem de um Jethro mais novo, em um uniforme de jogador de futebol. E eu tive a certeza de que ele seria aquele garoto lindo e completamente inalcançável para garotas como eu.

E, com outro lance, ele pegou o pacote com a mão direita e o abriu. E eu tive que me segurar na cadeira. Pois, aquilo ali que ele segurava, era a prova viva de que, se estivéssemos de volta ao ensino médio, garotas como eu teriam, pelo menos, uma vitória em cima de garotos como ele.

Kelly me fez o favor de mandar um DICIONÁRIO para o pai.

Eu não acreditava no que eu estava vendo, e depois de não conseguir segurar mais a gargalhada, caminhei em direção a Jethro e tomei o Oxford English Dictionary, em versão de bolso, que ela tinha mandado, de suas mãos, foi quando eu vi a notinha, o post it que ela tinha colado.

“Um presentinho para o senhor vencer a guerra de palavras com a Jen.

Beijos,

Kelly”   

Essa garota tinha feito o que eu pedi para ela fazer. Ela mandou o dicionário para o pai. Ela é de outro mundo.

Jethro olhava para o objeto na minha mão, como se ele fosse a coisinha mais ofensiva que existisse no planeta. Já eu, eu estava gargalhando tanto, que comecei a chorar, em parte pelo riso, em parte porque a minha dor de cabeça havia piorado, já que Jethro resolveu que era uma excelente hora para dar um tapa na parte de trás da minha cabeça.

— Ei, por que você fez isso? – Indaguei zangada.

— Porque foi sua a ideia de Kelly me dar um dicionário. – Ele respondeu irritado.

— Pense pelo lado positivo. Agora, você tem algo para fazer. Além de arrumar o telhado daquela fazenda horrorosa.

Ele tomou o livro da minha mão e o olhou indignado.

 - Como ela pode fazer isso comigo? – Ele pensou alto.

Outra onda de risos escapou pela minha boca. E ganhei uma encarada como ameaça.

— Eu já te disse que a sua encarada não me mete medo, não disse, Papai Ciumento do Ano?

Então ele lembrou do purgatório que ele estava passando no dia de hoje.

— Você apagando do nada na cama; o namoro da Kelly e agora essa coisa. – Ele lançou um olhar mortal para o pobre e inocente dicionário que agora jazia deitado entre nós. – Será que eu quebrei algum espelho?

— Não, Jethro. Você não quebrou nenhum espelho. É só uma coisinha chamada “Vida” agindo. Não fique assim. – Dei um beliscão na bochecha dele e voltei para a mesinha. Kelly teria com o que se divertir quando eu contasse para ela o estado em que o pai dela se encontrava.

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Sérvia, 1998.

Oi Kelly!!

Primeiramente, eu nem sei bem por onde começar essa carta. Você me mandou tanta informação de uma única vez que eu estou tendo dificuldades para colocar todos os meus pensamentos em ordem.

Contudo, eu acho que você vai ficar feliz em saber que uma de suas maiores preocupações já não é lá uma preocupação. Seu pai já sabe do seu namoro.

Sim. Ele sabe. E ficou meio estarrecido com a notícia, e, muito provavelmente está passando por um momento de negação à essa altura, porém, creio que ele ficará bem, só não posso te afirmar quando. A reação dele para essa notícia foi tão hilária que eu queria ter podido gravá-la para você. Kelly, eu sempre soube que você é a garotinha do papai, e que seu pai tinha um ciúme de você. Mas fui surpreendida com o exagero da reação dele. Ainda bem que vocês dois estão separados por muitos quilômetros de distância, pois, se estivessem perto, ele, com certeza sairia para atirar no Henry.

Eu sei que vou ouvi-lo murmurar sobre isso pelos próximos meses, e que o humor dele será assassino, mas não ligo. Você transmite felicidade em suas palavras e isso é que é importante.

Sobre seus outros assuntos. Vou pontuar duas coisas:

Eu contei sim sobre o que significa “Redecorar a Casa no Melhor Estilo Sherlock Holmes”. Na verdade, eu queria fazer isso no lugar onde nós estamos ficando, só para ter algo para fazer. Lá não tem absolutamente nada para se fazer, então o tempo parece se arrastar. Quando eu acabei de fazer este pequeno comentário, seu pai me pediu para explicar. Eu expliquei da melhor maneira que pude; você foi logo inocentada da acusação de delinquente juvenil, já eu, ganhei o apelido de maluca. Toda essa conversa saindo depois de uns quinze minutos de silêncio total de seu pai. A parte boa foi que eu realmente me diverti com tudo aquilo, seu pai sem reação, tentando te imaginar como alguém que tem uma arma na mão e atirando nas paredes da própria casa. Ele se perguntou mentalmente o que ele havia feito de errado.

Ainda bem que você não conhece o Diretor Morrow. Por mais que ele tenha baixado esse decreto das cartas, ele é até gente boa, quando você conversa com ele em um dia bom. Assim, me pergunto, como você acha que iria sair viva de uma coisa assim? Só você mesma para pensar em algo tão louco. Fico aliviada de saber você desistiu disso.

Krav Maga? Aquela arte israelense que te deixa toda moída? É isso mesmo o que eu li? Você é igual ao seu pai mesmo. Ao invés de começar com algo mais fácil, para pegar um ritmo, você me escolhe uma luta dessas!! Estou aguardando o seu pai sair do transe em que ele está para saber qual será a reação dele. Será que será tão boa quanto à da notícia do seu namoro?

E, por fim, não quero você preocupada comigo não. Mesmo que sonhe com cemitérios e tudo mais. Sei que deve ter incomodado muito esse sonho, mas te garanto que estou bem, e nossa próxima localização vai começar a fazer o caminho rumo ao nosso país.

Deixei por último o seu presentinho surpresa.

UM DICIONÁRIO?! Eu estou rindo até agora, rindo tanto que seu pai saiu do transe para ficar me encarando mal-humorado. Com coisa que ele consegue me assustar com isso. Pois bem. Jethro deve estar tentando colocar fogo mentalmente no pequeno livro. E você está perdendo a cara de injuriado, incrédulo, machucado, raivoso e, principalmente, ofendido que ele está fazendo cada vez que ele lembra do dicionário ou olha para a coisinha – que diga-se de passagem, está em cima da cama, parecendo muito inocente para mim – como se um pobre OED pudesse ser a coisa mais horrenda e ultrajante do mundo.

Não sei o que ele vai escrever para você, se é que vai, já que ele parece um boxeador nocauteado logo no primeiro assalto de uma luta, mas não se preocupe, quando essa raiva, ciúme, ódio e, talvez um pouquinho de orgulho ferido passar, ele volta ao normal. Meu pai voltou – depois de quase seis meses – o seu também vai. E qualquer coisa, eu limpo a sua barra por aqui.

Bom ano escolar para você e só um conselho, por mais feliz que você esteja, não se esqueça das suas prioridades. Não deixe que um namoro a faça trocar o foco dos seus estudos e amizades!

Um abraço da sua maior fã,

Jenny.

P.S.: seu pai finalmente saiu do transe e está indo pegar a sua carta para ler, espero sinceramente que ele não cisme de atirar na pobre carta só para ter o que fazer!


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Notas finais do capítulo

Kelly vai matar o pai dela antes da hora, é o que eu digo.
Bem, e claramente, Jenny não está ajudando nem um pouquinho em tentar manter o Marine vivo por muito tempo...
Volto no próximo capítulo com a carta de Kelly para o Gibbs e a resposta dele... se é que ele vai conseguir formular uma resposta coerente!
Até lá e muito obrigada por lerem!



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